Os
livros proféticos que compõem a primeira parte da Bíblia Cristã, que chamamos
de Antigo Testamento, e que também se constitui na Bíblia Hebraica, não foram
organizados de forma cronológica, mas foram colocados em uma ordem lógica.
Desta forma temos os profetas que produziram mais material escrito (Isaías a
Daniel) denominados de Profetas Maiores e depois na sequência temos doze
profetas que deixaram menos material escritos (Oséias a Malaquias) denominados
de Profetas Menores. Portanto, a única distinção entre eles é somente a
quantidade de material escrito que deixaram e jamais a qualidade e valor de
suas mensagens proferidas.
Nestas
sínteses haveremos de seguir uma ordem cronológica, esclarecendo de antemão que
é uma proposta dentre tantas outras possíveis de serem estabelecidas, diante da
enorme dificuldade de datar alguns destes escritos. Mas creio que mediante uma
pesquisa acadêmica consistente é possível nos aproximarmos muito das datas
originais quando essas mensagens foram anunciadas.
Uma
última observação geral é que todos os livros proféticos foram produzidos no
período histórico quando a nação israelita já estava dividida em dois reinos: Israel
era o Reino do Norte, cuja capital era Samaria; Judá era o Reino do Sul,
cuja capital era Jerusalém.
Profeta
Joel
Sua
famosa visão da praga de gafanhotos (2.2), compartilhada também por Sofonias
(1.14-16), que sobreviria sobre a nação desobediente, tornou-se símbolo da
manifestação do juízo divino, e apontava desde então para o vindouro grande e
terrível “Dia do Senhor” (cf. Is
2.10).
Diversos
estudiosos localizam o ministério profético de Joel entre 835-796 a.C., durante
o reinado de Joás, inicialmente tutelado pelo sumo sacerdote Jeoiada (2Rs 11.1
– 12.21; 2Cr 22 a 24). Corrobora esta data o fato de que diversos profetas
fazem citação da mensagem de Joel (Am 9.13 e Jl 3.18; Is 13.6, 9, 10 e Jl 1.15;
2.1, 10; Sf 1.14, 15 e JI 2.1, 2; Ez 47.1 e Jl 3.18; Ob 17 e Jl 2.32). Ainda um
último argumento para definir a data dessa profecia está no fato de que Joel
registra como inimigos da nação os fenícios (3.4), os edomitas, e os egípcios
(3.19), mas não faz nenhuma referência aos assírios ou aos babilônios, o que pode
indicar que ele escreveu antes destas potências terem exercido seu domínio
sobre a região, de maneira que ele pode ser colocado entre os primeiros
profetas, como contemporâneo de Oséias e Amós.
Há pouco informação pessoal
sobre o profeta, o que é uma característica da maioria dos escritos bíblicos,
pois mais importante do que o porta-voz é a mensagem e aquele que lhe comunica
a mensagem a ser proclamada. Seu nome Amós é um nome comum, amplamente
difundido entre as tribos de Israel, mas teologicamente importante quando
considerado em sua etimologia “Yahweh é Deus”
tornando-se também o indicativo da vocação e da mensagem do profeta. Seu pai
chama-se Petuel [Deus liberta] (Jl 1.1)[1] e suas diversas
referências a Sião, Judá e Jerusalém (2.15, 23, 32; 3.1) indicam que era
morador e exerceu seu oficio profético em Judá.
Sua mensagem aponta para uma
perspectiva escatológica. Ele de forma peculiar e poeticamente bela parte de
uma catástrofe muito natural naquela região e época no Oriente – a invasão de gafanhotos – para ilustrar
o juízo eminente que estava por vir sobre a nação judaica rebelde e apostata no
que concerne à Aliança que Deus havia estabelecido com ela. Para o profeta a
devastação inigualável produzida pelas hordas de gafanhotos, pois deixavam a
terra totalmente assolada, era o retrato perfeito do que haveria de ser para
Judá e as demais nações ao redor o que ele denomina de o “Grande e Terrível Dia do Senhor”
(Jl1.15; 2.1, 2, 11 e 31). Quando a graça e o amor não são suficientes para
motivar o povo de Deus à obediência e conformidade com o padrão estabelecido
quando da Aliança, resta somente o último recurso da manifestação de Seu juízo
sobre eles, para que se arrependam e convertam-se à Deus.
Esse “Dia” escatológico é um
período de tempo não delimitado e que posteriormente será retomado por Daniel
(9.24-27) e também referido por Jesus (Mt 24.29-30); Pedro (2Pe 3.10-13) e João
(Ap 7 ss.).[2]
Sua mensagem pode ser dividida em duas partes: (1.1-2.17) exortação quanto ao
julgamento eminente de Deus, um apelo ao arrependimento e a consequente
promessa de restauração; (2.18-3.21) alerta que a praga de gafanhotos, por mais
horrível e devastadora que pode ser, não é nada comparada ao julgamento de Deus
que está por vir se não se arrependerem. O profeta afirma que esse tempo de
juízo de Deus não será somente sobre Judá, mas também sobre todas as nações do
mundo, pois todos terão que comparecer diante de Deus.
Esboço
Básico
1. A
primeira divisão da profecia (1:1-2:27)
a. Arrependimento:
o profeta pede que o povo se desperte, chore e lamente (1:5-12)
b. Função
dos sacerdotes: conclamar o povo para um arrependimento nacional (1:13-14).
Então o profeta menciona a tese da sua mensagem, o dia do senhor está perto
(1:15).
c. Alerta
Geral: a trombeta deve ser tocada em Sião, para que o povo seja alertado de que
o dia do senhor já está próximo (2:1-2).
d. Conversão
Genuína: o povo é convidado a converter-se ao Senhor de todo coração; a rasgar
o coração, e não as suas vestes (2:12-14).
O Senhor sempre estará disposto a exercer sua
compaixão, mediante um arrependimento sincero e se compromete a remover os
gafanhotos, suprir suas necessidades e retirar seu opróbrio de diante das nações.
2. Segunda
divisão da sua mensagem (2:28 – 3:21)
a. O
derramamento do Espírito do Senhor; os sinais do dia do Senhor; o livramento
dos fiéis de Jerusalém; o julgamento divino das nações, e as bênçãos divinas de
Judá.
b. Nos
versículos 28 e 29, o Senhor promete derramar do seu Espírito sobre todas as
idades e todas as classes do seu povo.
Joel segue o modelo dos
profetas contemporâneos, olhando sempre com esperança para o futuro. Nas
descrições das circunstâncias históricas das duas partes da mensagem percebe-se
a unidade do livro.
Estatísticas:
O livro de Joel é o 29º livro da Bíblia; 7º dos
livros proféticos [Isaías-Malaquias]; 2º dos 12 profetas menores
[Oséias-Malaquias]; contém 3 capítulos; 73 versículos; 2.034 palavras.
Cronologia[3]
Histórica
A elaboração de uma cronologia
dos fatos históricos da bíblia é sempre um exercício difícil, pois nem sempre
os acontecimentos são demarcados com indiscutível exatidão. Mesmo com o avanço
expressivo da ciência arqueológica há muito que ignoramos da época Patriarcal
(Genesis), dos primórdios de Israel e seu estabelecimento em Canaã
(Êxodo-Rute). A partir da Monarquia (Davi) a cronologia começa a ter maior grau
de exatidão e conciliação com a História geral da época.
Uma cronologia dos profetas
encontra as mesmas dificuldades acima mencionada, pois raramente o redator da
mensagem estabelece marcos cronológicos indiscutíveis, mas abaixo indicamos uma
cronologia mais conservadora e indicando quando necessário outras opções
abalizadas.
Cronologia Profetas
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História a.C.
|
História Geral a.C.
|
|
O Reino Unido
|
Período
Média da Assíria[1]
(1273 – 1076)
Tukulti-
Ninurta I (1244 – 1208)
- Promoveu um saque à Babilônia
(1235)
Tiglate-Pileser
I (1115 – 1076)
- Ampliou os domínios assírios
até o Líbano, mas após sua morte o império declina.
Renascimento
do Império Assírio (1076 – 750)
Este ciclo é o apogeu do poder
Assírio quando domina a Mesopotâmia, a Síria, a Fenícia, a Palestina
(Israel), o Egito.
Adad-nirari
II (....) assume
o trono dos assírios e inaugura uma dinastia que se preocupa com o
fortalecimento do reino, preparando as bases para o estabelecimento de um
poderoso Império Assírio, que viria a se concretizar cerca de 200 anos mais
tarde.
Assurbanipal
I (883 – 859)
- grande expansão ao sul e ao
oeste da Mesopotâmia
Salmaneser
II (859 – 823)
- a partir da batalha de Carca,
em 853, dominou diversas áreas a oeste, inclusive Israel.
|
|
Reinado de Saul (1050 – 1010)
Reinado de Davi (1010 – 970)
Reinado de Salomão (970 – 931)
|
||
O Reino
Dividido
|
||
JUDÁ
(Jerusalém)
Reino
do Sul
|
ISRAEL
(Samaria)
Reino
do Norte
|
|
Roboão (931 – 913)
Abias (913 – 911)
Asa (911 – 870)
|
Jeroboão I (931 – 910)
Nadabe (910 – 909)
|
|
Josafá (870 – 848)
|
Baasa (909 – 886)
Elá (886 – 885)
Zinri (885)
Onri (885 – 874)
Acabe (874 a 853)
[Profeta
Elias]
|
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|
Acazias (853 – 852)
[Profeta
Eliseu]
|
|
Jeorão (848 – 841)
Acazias (841)
Atalia (841 – 835)
Joás (835 – 796)
[Profeta
Joel]
|
Jorão (852 – 841)
Jeú (841 – 814)
Jeoacaz (814 a 798)
|
|
Amazias (796 - 781)
Uzias (781 – 740)
[Profeta
Isaías]
|
Jeoás (798 – 783)
Jeroboão II (783 – 743)
[Profeta
Jonas]
[Profeta
Amós]
[Profeta
Oséias]
|
|
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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BÍBLICA – Josué
SÍNTESE
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[1] A Septuaginta e a Peshita traduzem por
Betuel (cf. Gn 2.7-9).
[2] Esse espaço não possibilita a discussão
dessa profecia.
[3] A palavra portuguesa “cronologia” vem
da grega khro·no·lo·gí·a (de khró·nos, tempo e lé·go, dizer ou contar), isto é,
“o cômputo do tempo”.
[4] Os
assírios eram um povo semita estabelecido, originalmente, no norte da
Mesopotâmia, na região do alto Rio Tigre. Nesta época, sua principal cidade era
Assur e eles alternavam períodos de independência com outros em que eram
rebaixados a um mero estado-vassalo.
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