sábado, 16 de abril de 2016

SÍNTESE BÍBLICA – Profeta Joel

            Os livros proféticos que compõem a primeira parte da Bíblia Cristã, que chamamos de Antigo Testamento, e que também se constitui na Bíblia Hebraica, não foram organizados de forma cronológica, mas foram colocados em uma ordem lógica. Desta forma temos os profetas que produziram mais material escrito (Isaías a Daniel) denominados de Profetas Maiores e depois na sequência temos doze profetas que deixaram menos material escritos (Oséias a Malaquias) denominados de Profetas Menores. Portanto, a única distinção entre eles é somente a quantidade de material escrito que deixaram e jamais a qualidade e valor de suas mensagens proferidas.
            Nestas sínteses haveremos de seguir uma ordem cronológica, esclarecendo de antemão que é uma proposta dentre tantas outras possíveis de serem estabelecidas, diante da enorme dificuldade de datar alguns destes escritos. Mas creio que mediante uma pesquisa acadêmica consistente é possível nos aproximarmos muito das datas originais quando essas mensagens foram anunciadas.
            Uma última observação geral é que todos os livros proféticos foram produzidos no período histórico quando a nação israelita já estava dividida em dois reinos: Israel era o Reino do Norte, cuja capital era Samaria; Judá era o Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém.

Profeta Joel
           
Joel nasceu em Judá (Reino do Sul) e muito provavelmente tenha ouvido ou tomado conhecimento do profeta Elias e suas contundentes mensagens dirigidas ao rei Acabe e mais precisamente à rainha Jezabel, que haviam introduzido e proliferado, por toda nação, o famigerado culto ao deus Baal. E com certeza acompanhou o ministério profético de Eliseu que o sucedeu. Estes dois profetas de Judá tornaram-se o protótipo de oficio profético bíblico. E foi espelhando-se nesses antecessores que Joel proclama sua mensagem advinda da parte de Deus para os moradores de Judá.
            Sua famosa visão da praga de gafanhotos (2.2), compartilhada também por Sofonias (1.14-16), que sobreviria sobre a nação desobediente, tornou-se símbolo da manifestação do juízo divino, e apontava desde então para o vindouro grande e terrível “Dia do Senhor” (cf. Is 2.10).
            Diversos estudiosos localizam o ministério profético de Joel entre 835-796 a.C., durante o reinado de Joás, inicialmente tutelado pelo sumo sacerdote Jeoiada (2Rs 11.1 – 12.21; 2Cr 22 a 24). Corrobora esta data o fato de que diversos profetas fazem citação da mensagem de Joel (Am 9.13 e Jl 3.18; Is 13.6, 9, 10 e Jl 1.15; 2.1, 10; Sf 1.14, 15 e JI 2.1, 2; Ez 47.1 e Jl 3.18; Ob 17 e Jl 2.32). Ainda um último argumento para definir a data dessa profecia está no fato de que Joel registra como inimigos da nação os fenícios (3.4), os edomitas, e os egípcios (3.19), mas não faz nenhuma referência aos assírios ou aos babilônios, o que pode indicar que ele escreveu antes destas potências terem exercido seu domínio sobre a região, de maneira que ele pode ser colocado entre os primeiros profetas, como contemporâneo de Oséias e Amós.
Há pouco informação pessoal sobre o profeta, o que é uma característica da maioria dos escritos bíblicos, pois mais importante do que o porta-voz é a mensagem e aquele que lhe comunica a mensagem a ser proclamada. Seu nome Amós é um nome comum, amplamente difundido entre as tribos de Israel, mas teologicamente importante quando considerado em sua etimologia “Yahweh é Deus” tornando-se também o indicativo da vocação e da mensagem do profeta. Seu pai chama-se Petuel [Deus liberta] (Jl 1.1)[1] e suas diversas referências a Sião, Judá e Jerusalém (2.15, 23, 32; 3.1) indicam que era morador e exerceu seu oficio profético em Judá.
Sua mensagem aponta para uma perspectiva escatológica. Ele de forma peculiar e poeticamente bela parte de uma catástrofe muito natural naquela região e época no Oriente – a invasão de gafanhotos – para ilustrar o juízo eminente que estava por vir sobre a nação judaica rebelde e apostata no que concerne à Aliança que Deus havia estabelecido com ela. Para o profeta a devastação inigualável produzida pelas hordas de gafanhotos, pois deixavam a terra totalmente assolada, era o retrato perfeito do que haveria de ser para Judá e as demais nações ao redor o que ele denomina de o “Grande e Terrível Dia do Senhor” (Jl1.15; 2.1, 2, 11 e 31). Quando a graça e o amor não são suficientes para motivar o povo de Deus à obediência e conformidade com o padrão estabelecido quando da Aliança, resta somente o último recurso da manifestação de Seu juízo sobre eles, para que se arrependam e convertam-se à Deus.
Esse “Dia” escatológico é um período de tempo não delimitado e que posteriormente será retomado por Daniel (9.24-27) e também referido por Jesus (Mt 24.29-30); Pedro (2Pe 3.10-13) e João (Ap 7 ss.).[2] Sua mensagem pode ser dividida em duas partes: (1.1-2.17) exortação quanto ao julgamento eminente de Deus, um apelo ao arrependimento e a consequente promessa de restauração; (2.18-3.21) alerta que a praga de gafanhotos, por mais horrível e devastadora que pode ser, não é nada comparada ao julgamento de Deus que está por vir se não se arrependerem. O profeta afirma que esse tempo de juízo de Deus não será somente sobre Judá, mas também sobre todas as nações do mundo, pois todos terão que comparecer diante de Deus.

Esboço Básico
1.    A primeira divisão da profecia (1:1-2:27)
a.    Arrependimento: o profeta pede que o povo se desperte, chore e lamente (1:5-12)
b.    Função dos sacerdotes: conclamar o povo para um arrependimento nacional (1:13-14). Então o profeta menciona a tese da sua mensagem, o dia do senhor está perto (1:15).
c.    Alerta Geral: a trombeta deve ser tocada em Sião, para que o povo seja alertado de que o dia do senhor já está próximo (2:1-2).
d.    Conversão Genuína: o povo é convidado a converter-se ao Senhor de todo coração; a rasgar o coração, e não as suas vestes (2:12-14).
O Senhor sempre estará disposto a exercer sua compaixão, mediante um arrependimento sincero e se compromete a remover os gafanhotos, suprir suas necessidades e retirar seu opróbrio de diante das nações.
2.    Segunda divisão da sua mensagem (2:28 – 3:21)
a.    O derramamento do Espírito do Senhor; os sinais do dia do Senhor; o livramento dos fiéis de Jerusalém; o julgamento divino das nações, e as bênçãos divinas de Judá.
b.    Nos versículos 28 e 29, o Senhor promete derramar do seu Espírito sobre todas as idades e todas as classes do seu povo.

Joel segue o modelo dos profetas contemporâneos, olhando sempre com esperança para o futuro. Nas descrições das circunstâncias históricas das duas partes da mensagem percebe-se a unidade do livro.

Estatísticas:
O livro de Joel é o 29º livro da Bíblia; 7º dos livros proféticos [Isaías-Malaquias]; 2º dos 12 profetas menores [Oséias-Malaquias]; contém 3 capítulos; 73 versículos; 2.034 palavras.

Cronologia[3] Histórica
A elaboração de uma cronologia dos fatos históricos da bíblia é sempre um exercício difícil, pois nem sempre os acontecimentos são demarcados com indiscutível exatidão. Mesmo com o avanço expressivo da ciência arqueológica há muito que ignoramos da época Patriarcal (Genesis), dos primórdios de Israel e seu estabelecimento em Canaã (Êxodo-Rute). A partir da Monarquia (Davi) a cronologia começa a ter maior grau de exatidão e conciliação com a História geral da época.
Uma cronologia dos profetas encontra as mesmas dificuldades acima mencionada, pois raramente o redator da mensagem estabelece marcos cronológicos indiscutíveis, mas abaixo indicamos uma cronologia mais conservadora e indicando quando necessário outras opções abalizadas.
Cronologia Profetas
História a.C.
História Geral a.C.
O Reino Unido
Período Média da Assíria[1] (1273 – 1076)
Tukulti- Ninurta I (1244 – 1208)
- Promoveu um saque à Babilônia (1235)

Tiglate-Pileser I (1115 – 1076)
- Ampliou os domínios assírios até o Líbano, mas após sua morte o império declina.

Renascimento do Império Assírio (1076 – 750)
Este ciclo é o apogeu do poder Assírio quando domina a Mesopotâmia, a Síria, a Fenícia, a Palestina (Israel), o Egito.

Adad-nirari II (....) assume o trono dos assírios e inaugura uma dinastia que se preocupa com o fortalecimento do reino, preparando as bases para o estabelecimento de um poderoso Império Assírio, que viria a se concretizar cerca de 200 anos mais tarde.

Assurbanipal I (883 – 859)
- grande expansão ao sul e ao oeste da Mesopotâmia

Salmaneser II (859 – 823)
- a partir da batalha de Carca, em 853, dominou diversas áreas a oeste, inclusive Israel.


Reinado de Saul (1050 – 1010)
Reinado de Davi (1010 – 970)
Reinado de Salomão (970 – 931)
O Reino Dividido
JUDÁ (Jerusalém)
Reino do Sul
ISRAEL (Samaria)
Reino do Norte
Roboão (931 – 913)
Abias (913 – 911)
Asa (911 – 870)
Jeroboão I (931 – 910)
Nadabe (910 – 909)




Josafá (870 – 848)
Baasa (909 – 886)
Elá (886 – 885)
Zinri (885)
Onri (885 – 874)
Acabe (874 a 853)

[Profeta Elias]

Acazias (853 – 852)

[Profeta Eliseu]

Jeorão (848 – 841)
Acazias (841)
Atalia (841 – 835)
Joás (835 – 796)

[Profeta Joel]
Jorão (852 – 841)
Jeú (841 – 814)

Jeoacaz (814 a 798)

Amazias (796 - 781)
Uzias (781 – 740)



[Profeta Isaías]

Jeoás (798 – 783)
Jeroboão II (783 – 743)

[Profeta Jonas]
[Profeta Amós]
[Profeta Oséias]



Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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[1] A Septuaginta e a Peshita traduzem por Betuel (cf. Gn 2.7-9).
[2] Esse espaço não possibilita a discussão dessa profecia.
[3] A palavra portuguesa “cronologia” vem da grega khro·no·lo·gí·a (de khró·nos, tempo e lé·go, dizer ou contar), isto é, “o cômputo do tempo”.
[4] Os assírios eram um povo semita estabelecido, originalmente, no norte da Mesopotâmia, na região do alto Rio Tigre. Nesta época, sua principal cidade era Assur e eles alternavam períodos de independência com outros em que eram rebaixados a um mero estado-vassalo.

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