terça-feira, 6 de março de 2018

Primeiro Samuel. Introdução Geral



Autoria
Precisamente quem escreveu 1 e 2 Samuel não se sabe. A tradição do Talmud judaico diz que foi escrito por Samuel.  Porém, apesar do nome dele ser dado aos dois livros, e ele se constituir numa figura chave nos capítulos iniciais, possivelmente não poderia ter escrito mais do que parte de 1 Samuel, uma vez que a morte dele é registrada no capítulo 25. Mas 1 Samuel 10.25 atesta o fato de que  Samuel escreveu um livro. Mais adiante, 1 Crônicas 29.29 também indica que Natã e Gade escreveram sobre os eventos registrados em Samuel.

Data: Aproximadamente em 930 a.C. O livro cobre um período de 115 anos, desde a infância de Samuel até a morte do Rei Saul. O período total de todos os Reis foi de 500 anos e Samuel foi o último Juiz, o primeiro Profeta e fundador de uma escola de Profetas, e o fundador da monarquia, ungindo os dois primeiros reis de Israel. Saul e Davi.

Título do Livro
Originalmente os livros de 1 e 2 Samuel eram contados como apenas um volume na Bíblia hebraica. Estes dois livros relatam a história dos monarcas de Israel no período inicial da monarquia.  Fundamentalmente 1 Samuel destaca o rei Saul e 2 Samuel destaca o rei  Davi.  Os dois livros obtêm o nome do profeta Samuel a quem Deus usou na transição dos juízes para o estabelecimento da monarquia.
Embora originalmente eles contassem como apenas um volume ele foi desmembrado em dois livros pelos tradutores da Septuaginta (a tradução grega do A.T.).  Esta divisão foi seguida depois por Jerônimo em sua tradução latina (Vulgata Latina) e se perpetuou através de versões modernas, por isso a diferença numérica de livros nos cânones judeu e cristão. O título do livro variou de vez em quando, tendo sido designado "O Primeiro e Segundo Livros dos Reinos" (Septuaginta), "Primeiro e Segundos Reis" (Vulgata) e "Primeiro e Segundo Samuel" (tradição hebraica e a maioria das versões modernas).

Tema e Propósito
Começando com o nascimento de Samuel e o treinamento dele no templo, o primeiro volume descreve como este homem de Deus conduziu  Israel exercendo as funções de juiz (o último), profeta e sacerdote. Durante a liderança de Samuel, o povo de Israel quis ser como as outras nações e exigiu um rei.
Debaixo da direção de Deus, Samuel ungiu Saul para ser o primeiro rei. Mas Saul foi rejeitado por Deus por causa da sua desobediência. Para substituir Saul, novamente debaixo da direção de Deus, Samuel ungiu Davi, um homem segundo o coração de Deus, para se tornar o rei de Israel.[1] O resto do livro descreve as lutas entre um Saul ciumento e demente e um Davi temente a Deus. 
Este livro focaliza a transição de liderança na nação de juízes para reis, de uma teocracia para uma monarquia. Porque o povo de Israel não se satisfez com Yahweh regendo suas vidas, e dentro do contexto do livro de Juízes “cada um fazia o que era certo aos seus próprios olhos”, a monarquia acabou por trazer certa estabilidade porque eles eram mais inclinados a seguirem um rei terrestre. Diante da resistência de Samuel em atender a “voz do povo”, Deus mesmo orienta o seu servo: "E disse o SENHOR a Samuel. Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre eles” (8.7). 
Desta forma, o grito “nas ruas” por um rei em Primeiro Samuel era resultado natural desta rejeição prática (8.7). Antes deles pedirem Deus mesmo já havia planejado preparar um rei para  Israel (cf. Gn 49.10; Dt 17.14-20), mas as pessoas insistiram no rei da escolha deles em vez de esperar pelo rei de Deus. A rejeição posterior de Saul, que igualmente a Davi fora ungido por Samuel com aval de Deus, foi decorrente do fato de que ele nunca aprendeu a máxima de que para Deus importa muito mais o “obedecer é melhor que sacrifícios” (15.22). Ele foi caracterizado por desequilíbrio mental, ciúme furioso, tolice, e imoralidade. Por sua vez, apesar de uma biografia histórica complicada Davi ilustra o princípio que, "o Senhor não vê como o homem vê" (16.7). A partir da entronização de Davi o Senhor estabeleceu uma dinastia que deveria ser sempre pautada pela obediência, sabedoria, e dependência de Deus, mas que a história revela poucas vezes aconteceu depois de Davi.  Historicamente, um dos propósitos centrais de 1 Samuel é registrar a origem divina da dinastia de Davi, que posteriormente será revestida do sentido messiânico e se cumprirá plenamente na pessoa de Jesus Cristo.

Termos Relevantes: Em essência, a palavra chave é transição, mas não aparece no texto, assim as que se destacam são - untar ou unção (7 vezes) e rejeitar (7 vezes) que expressam bem o conteúdo deste livro que demarca um período de transição.

Versos Importantes: Samuel está resistindo ao pedido insistente do povo por um rei e Deus tranquila o coração dele:  “Porém essa palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram. Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao SENHOR.  E disse o SENHOR a Samuel. Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (8.6-7). Um momento crucial é quando Deus rejeita Saul por sua continua desobediência: “Porém, agora, não subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o seu coração e já lhe tem ordenado o SENHOR que seja chefe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou” (13.14). Da boca de Samuel sai a definição daquilo que Deus espera de qualquer rei de Israel e de qualquer crente: “Porém Samuel disse. Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.  Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (15.22-23).

Capítulos Centrais: Capítulo 8, particularmente versos 19-22, registra a reclamação triste da nação no seu desejo de ter um rei sobre eles para julgá-los e lutar as suas batalhas.  Aqui, em resposta ao pedido deles, Samuel é usado pelo Senhor para designar-lhes um rei. Capítulo 15 é outro capítulo chave, pois registra a transição da autoridade do reino de Saul para Davi por causa da desobediência de Saul (cf. 15.23). Capítulo 16 forma outro capítulo chave, pois registra a escolha e unção de Davi.

Personagens Relevantes: Samuel o profeta, Saul o rei desobediente, e Davi o pastor.

Cristo como Visto em 1 Samuel: Samuel forma um protótipo interessante de Jesus Cristo, pois ele era um profeta, um sacerdote, e, entretanto ele não era um rei, ele era um juiz que foi usado por Deus para inaugurar uma nova fase na história de Israel. Messias é literalmente “o ungido” e Samuel é o primeiro livro bíblico a usar a palavra “ungido” (2.10). Além disso, são achados o retrato primário e antecipação do Messias na vida de Davi. Ele nasceu em Belém, trabalhou como pastor, foi rei de Israel, e se tornou a figura do Rei Messias estabelecida pela dinastia Davídica. No Segundo Testamento, Cristo é descrito como um "descendente de Davi de acordo com a carne" (Rm 1.3).

Esboço.
I. Samuel, o Último Juiz (1.1-8.22)
A. A Chamada de Samuel (1.1-3.21)
B. A Comissão de Samuel (4.1-7.17)
C. A Preocupação de Samuel (8.1-22)
II. Saul, o Primeiro Rei (9.1-15.35)
A. A Escolha de Saul (9.1-12.25)
B. A Rejeição de Saul (13.1-15.35)
III. Davi, o Próximo Rei (16.1-31.13)
A. Davi, o Pastor, Escolhido e Ungido (16.1-23)
B. Davi, o Mata o Gigante, Aclamado pela Corte de Saul (17.1-58)
C. Davi, o Amigo de Jonatas, mas Rejeitado por Saul (18.1-19.24)
D. Davi, o Fugitivo, Procurado por Saul (20.1-26.25)
1.  Davi protegido por Jonatas (20.1-42)
2.  Davi protegido por Abimeleque (21.1-9)
3.  Davi protegido por Aquis (21.10-15)
4.  Davi e a união com seus soldados (22.1-26.25)
E. O Refúgio de Davi em Território Filisteu (27.1-31.13)
1.  Davi se torna um criado Filisteu (27.1-28.2)
2.  Saul consulta uma médium em Endor (28.3-25)
3.  Davi liberado pelos Filisteus (29.1-11)
4.  Davi destrói os Amalequitas (30.1-31)
5. Os Filisteus e a morte de Saul (31.1-13)


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http.//historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BALANCIN, Euclides Martins. História do Povo de Deus. São Paulo. Paulus, 1989.
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras – Juízes a Ester, ed. Vida Nova, São Paulo, 1993.
BRIGTH, Jonh. História de Israel. 7ª. ed. São Paulo. Paulus, 2003.
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CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo. Hagnos, 2006, 8ª ed.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo. Vida Nova, 1995.
DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto Lambert. São Paulo. Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução de Josué Xavier; Revisão de João Bosco de Lavor Medeiros. São Paulo. Edições Paulinas, 1982.
FRANCISCO, Clyde T.  Introdução ao Primeiro Testamento. Rio de Janeiro. JUERP, 1969. 
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HOFF, Paul.  Os livros históricos. São Paulo. Vida, 1996.
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[1] A diferença entre Davi e Saul era realmente o coração, pois a biografia pessoal de Davi é muito mais complicada do que a de Saul, mas enquanto todas as vezes que foi confrontado com seu pecado Davi se arrependia, Saul quando confrontado sempre procurava se esquivar da culpa de seus atos.

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