Jesus sabia que receberia do Pai todas as coisas, que tinha
vindo de Deus e voltaria para Deus. E como Ele amava aos seus discípulos! (Parafrase
– Biblia Viva)
Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas
as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, (Corrigida Fiel –
Português)
Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo
do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; (Nova Versão
Internacional – Português)
Jesus, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que
viera de Deus e para Deus voltava, (Revisada – Português)
Texto
Grego – Textus Receptus
13:3 εἰδὼς
ὅτι πάντα ἔδωκεν αὐτῷ ὁ πατὴρ εἰς τὰς χεῖρας καὶ ὅτι ἀπὸ θεοῦ ἐξῆλθεν καὶ πρὸς
τὸν θεὸν ὑπάγει. ειδως ο ιησους οτι παντα δεδωκεν αυτω ο πατηρ εις τας χειρας
και οτι απο θεου εξηλθεν και προς τον θεον υπαγει
Como vimos o evangelista João inicia
essa grande perícope com um pequeno proêmio o qual já vimos os dois primeiros versos e concluímos
com o exame desse terceiro.
Esse verso três retrata o autentico Jesus joanino
como aquele que recebe plenos poderes de Deus, de maneira que é plenamente
livre e soberano sobre tudo e todos que estão envolvidos nos acontecimentos
acontecendo e os que seram desdobrados, pois a hora havia chegado.
Esse verso é fundamental para deixar bem claro ao
leitor e ao crente em todas as épocas de que tudo que concerne aos mínimos detalhes
dos acontecimentos que compõem a Paixão são muito mais ações de Jesus, do que ações
passivas de sofrimento e morte, decorrente de sua perfeita união com o Pai
(Deus), que seus próprios discípulos compreederam apenas após o Pentecostes,
pois sem a capacitação do Espírito Santo ninguém haverá de compreender está
unidade divina.
Jesus sabia:[1] Uma vez
mais o evangelista enfatiza que Jesus tem pleno conhecimento de tudo que está e
vai ocorrer nas horas subsequentes “Jesus
sabia” (cf. 6.61; 13.1.3; 18.4; 19.28), ele
é aquele que executa a ação aqui. Sabia antes, sabe agora e continuara
sabendo, este é o fundamento da paz e das ações de Jesus. Todos haverão de surpreender com cada detalhe que está
por vir, menos Jesus que tudo sabe de antemão. Sabe que Judas haverá
de traí-lo; sabe que Pedro haverá de negá-lo; sabe que todos irão
abandoná-lo; sabe que os lideres religiosos e políticos de Jerusalém se
uniram para mata-lo; sabe que será humilhado e desprezado por aqueles pelos quais
havia deixado sua glória; sabe que o final deste tempo é a cruz e este cálice o Pai não
vai deixar passar; mas sabe também
que vencerá a morte com sua ressurreição. Jesus sabe todas as coisas!
É difícil
para nós imaginarmos. Quantas vezes desejamos saber cinco minutos, cinco horas
ou cinco dias do nosso futuro! E, no entanto, se pudéssemos, poderíamos optar
por evitar o caminho que estará diante de nós. Mas Jesus, conhecendo de antemão
os terríveis acontecimentos ainda por acontecerem, permaneceu firme em Seu
caminho pré-estabelecido em plena submissão ao Pai. Ele podia ver não apenas a
cruz, mas também contemplava a coroa. Por esta razão Ele suporta tudo com
serenidade sem que sua mente entre em colapso no limiar do Getsêmani e do
Gólgota.
O evangelista nomeia três coisas que Jesus sabia:
que o Pai tinha dado[2]
(entregue) nas suas mãos todas as coisas [= semitismo para “todos”): é
expressão paralela em 3.35 “o Pai
ama o Pilho e tudo pôs em suas mãos”. O termo “todas as
coisas”,[3]
inclui tudo o que existe, tanto no céu
como na terra. Ele tinha toda autoridade do Pai (Mt 11.27; Lc 10.22). Colocar todas
as coisas nas mãos de alguém, ou debaixo de seus pés, é
equivalente a dar-lhes autoridade sobre tudo e fazer o que assim desejar e da
forma que desejar. Tudo que Jesus haveria de fazer será com plena consciência
de sua divindade e messiado. Tudo está nas mãos de Jesus, inclusive sua própria
vida, a qual ninguém poderia toma-la, a não ser que Ele mesmo a desse espontânea
e livremente (cf. 10,18: Está em
minhas mãos entregá-la [a vida] e está em minhas mãos recuperá-la. Este é o
mandamento/encargo que recebi do meu Pai). – como o fez!
E nesse “todas
as coisas” estão também os nossos pecados. Deus, o
Pai, colocou todo o pecado em sujeição ao nosso Senhor Jesus Cristo (Jo
19.28-30; Cl 1.20; Hb 4.15; 9.22; 1Co 15.54-57).
e que havia saído [enviado] de Deus: é uma
frase única de João (cf. 8.42; 13.3; 16.28,30; 17.8), trazendo a ideia de
origem (divina), de lugar (céus) e também de porque, o motivo e a razão pela
qual se “afastou” momentaneamente do Pai e da sua glória. Há um foco em sua preexistência, sua natureza
divina eterna em perfeita e absoulta comunhão com o Pai (estava desde o
principio com Deus [Pai] e era Deus). Como Deus, todas as
coisas estão em suas mãos. Ele é co-igual, co-infinito e co-eterno com
Deus o Pai e com Deus o Espírito Santo. Como Deus, Jesus Cristo se tornou
homem sem abri mão de Sua Divindade. O apóstolo Paulo ensinou aos filipenses que Jesus abriu
voluntariamente mão de sua glória eterna (não de sua divindade), para assumir a
plenitude de nossa humanidade.
Ele não
foi coagido a vir, veio motivado pelo mesmo amor do Pai pelo ser humano perdido
“vim buscar e salvar os perdidos”. Todo o mistério da encarnação de Jesus está
relacionado à separação momentânea do Pai, pois Ele deixou a presença de Deus
como o "Enviado", mas após sua morte e ressurreição, Ele haverá de
retornar à glória que ele tinha com o Pai antes dos tempos eternos Esse tema de
que Jesus foi enviado [saído] da parte de Deus Pai é recorrente nesse evangelho
por mais de quarenta vezes. Esta é a origem que o mundo não conhece (cf. 3.8; 7.27s;
8.14) e somente após uma conversão efetuada pelo Espírito Santo (como no
Pentecostes em relação aos discípulos) é que alguém pode realmene discernir a divindade
do Filho.
Algumas
razões pelas quais Jesus precisou assumir a plenitude de nossa humanidade:
§ Jesus Cristo teve que se tornar verdadeiramente humano para ser o nosso Salvador
(Fp 2.7-8; Hb 2.14-15).
§ Jesus Cristo teve que assumir nossa humanidade para se constituit no
único mediador entre nós e Deus (Jó 9.2, 32-33; 1Tm 2.5-6).
§ Jesus Cristo teve que assumir nossa humanidade para ser o nosso Sumo
Sacerdote (Gn 14.18-20; Hb 7.4-5, 14, 28; 10.5, 10-14)
§ Jesus Cristo teve que tornar-se verdadeiramente humano para ser o nosso
rei e governante para sempre (cumprir a Aliança davídica 2Sm 7.8-16; Sl
89.20-37; linhagem de José (Mt 1.6) e a linha de Maria (Lc 3.31).
e
voltaria para Deus: (cf. João 7.33; 14.12,28;
16.5,10,17,28; 20.17). Aqui temos mais um dualismo típico de João - acima vs. Abaixo. Os versos 1 e 3 sintetizam o movimento do Verbo
feito carne: saiu do
Pai e veio ao mundo; agora sai do mundo e regressa ao Pai. Ele tinha vindo "de"
(apo - ἀπὸ) Deus e estava voltando "para" (pros - προς) Deus, mais especificamente refere-se ao "lugar de
Deus", Sua sala do trono, este é o lugar para onde Jesus Cristo está
retornando; para estar sentado à direita do Pai, onde todas as coisas estaram
sujeitas a Ele.
Jesus sempre teve plena consciência de onde
veio e para onde voltaria e enquanto discutia com os fariseus no templo ele
declara: “Mesmo que eu testifique sobre mim mesmo, o meu testemunho é
verdadeiro, pois
sei de onde eu vim e para onde eu vou” (João 8.14). Mas
entre os dois movimentos - existe a cruz. Ante de voltar ao Pai é necessário sorver
todo o cálice do sacrifício e da morte. Mas, Jesus Cristo ressuscitou e venceu
a morte, como cantavam os primeiros cristãos: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a
tua vitória? O aguilhão da morte é o pecado,
e a força do pecado é a Lei. Mas graças a Deus, que nos dá a
vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo (1Co
15.55-57).
Mas este caminho de volta ao Pai tem
três etapas: 1) Ressurreição, 2) Ascensão e 3) Entronização.
1) Ressurreição: é o fundamento da nossa fé,
posto que atesta de modo incontestável que Deus interveio na história humana
para salvar os pecadores. O apóstolo Paulo deixa claro a supra importância
desta verdade da resssurreição de Cristo: “se Cristo não ressuscitou, é vã a
nossa fé e vã nossa pregação” (1Co 15.17).
A ressurreição é a manifestação do poder de Deus que comunica vida aos
pecadores “mortos em seus delitos e pecados” por meio de Jesus Crito. Ele é o
primogénito entre os mortos e todos ressuscitaremos por Ele e n’Ele.
2) Ascensão e Entronização: Com a Ascensão, que sucedeu quarenta dias após a Ressurreição (cf. Atos 1.9-10) e sua Entronização, termina a missão de Cristo, ou seja, a sua encarnação para realização do projeto salvador de Deus. A Ascensão é sinal da nova
situação de Jesus. Assenta-se à direita do Pai, não somente como o Filho eterno,
mas também enquanto verdadeiro Homem, vencedor do pecado e da morte. A glória
da Ressurreição completa-se agora com a pública entronização nos céus como
Soberano da criação, junto do Pai, onde recebe a adoração e o louvor dos seres
celestiais e reina soberanamente, como tão maravilhosamente descrito no livro
do Apocalipse.
Se na sua encarnação Ele nos
redime dos nossos pecados e nos reconcilia com Deus, na sua Ascensão e
Entronização Cristo nos introduz na glória celestial. Ele é o Segundo Adão, o
Cabeça da Nova Criação que Deus está realizando por meio dele. Sentado à
direita do Pai, Jesus continua o seu ministério de único Mediador entre nós e
Deus.
E
completando este quadro maravilhoso, dez dias depois da Ascensão ao céu, Jesus
enviou o Espírito Santo aos discípulos conforme havia prometido. O Espírito
Santo continua a obra salvifica de Cristo, regenerando e introduzindo os
pecadores e inserindo-os na Igreja de Cristo, que é o Seu Corpo espiritual.
Lamentavelmente
os evangélicos brasileiros tem minimizado ano após ano estas verdades tão
extraordinárias da Ressurreição, Ascensão e Glorificação de Jesus Cristo. Até
pouco tempo ainda tínhamos em muitas igrejas evangélicas históricas os chamados
cultos das sete palavras; o culto da ressurreição pelo domingo de manhã, mas
nesses últimos tempos até mesmo isso tem sido demarcado por templos
esvaziados, como se tratasse de meras tradições religiosas de pouco importância. Quanto a Ascensão e
Entronização são raríssimas as igrejas que as incluem em suas liturgias
dominicais, como se fossem apenas tradição católica romana e não verdades
eternas que emanam das páginas bíblicas do Segundo Testamento.
Desta forma desde a cena de Betânia (12.1), esta última
Páscoa já não é mais a Páscoa dos Judeus, mas a Páscoa de Jesus, o Cordeiro de
Deus que libertará a humanidade do seu pecado. Ela será a Páscoa da libertação
do ser humano escravizado pelo pecado: possibilitar-lhe-á o êxodo das trevas
para a luz (8.12; cf. 4.34), inaugurará a vida e a festa (7.37); será o último
dia (cf. 6.39; 6.40; 7.37), em que tudo ficará concluído (19.30).
"Ele
saiu de Deus sem deixá-Lo;
e ele vai a Deus sem nos abandonar "
.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
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Artigo
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Evangelho de João. Contexto Religioso
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[1] No grego é o mesmo que "sabendo"
e pode ser qualquer um dos dois significados. Aqui talvez fosse preferível “porque
Ele sabia”. É a palavra grega
“eidon” (εἶδον) como um particípio do verbo no Tempo Perfeito, Voz
Ativa e Caso Nominativo.
[2] É verbo grego “edoken” (ἔδωκεν) no
Tempo Aoristo, na Voz Ativa e Modo Indicativo de “didomi” (δίδωμι) que significa “dar; conceder, permitir, colocar; nomear; estabelecer; entregar,
causar”.
[3]
Essas serão as últimas palavras de Jesus aos seus discípulos antes de ascender
aos céus: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, portanto, ide e
pregai o evangelho a toda criatura" (Mateus 28.18).
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