Nestes dias em que o pensamento
hedonista[1]
tem predominado de forma visceral na Sociedade, bem como penetrado nas
entranhas do evangelicalismo brasileiro de forma tão profunda que sem uma
intervenção cirúrgica de um avivamento espiritual será impossível extrai-la.
Todo e qualquer esforço pastoral (até porque eles tem sido os mais afetados pela
visceralidade hedonista), torna-se inócuo, pois as instituições eclesiásticas
fomentam intrínseca e extrinsecamente uma mentalidade hedonista, uma vez que seus
objetivos fins visando sua autopreservação se constituem em seu bem maior e não
necessariamente os valores intrínseco e extrínseco do Reino de Deus.
Mais do que em qualquer outro
momento da história do evangelicalismo brasileiro se faz necessário nos
voltarmos para a história narrada no livro de Jó e de compreendermos e apreendermos a sua mensagem.
Evidentemente que o paladar
sensorialmente refinado e delicado dos evangélicos modernos do século XXI não
se sente atraído pelo sabor forte e de difícil degustação contido nas páginas
deste livro bíblico. Na verdade cada vez menos literatura bíblica tem sido saboreada
pelos evangélicos. Assim como ocorre nos restaurantes em que a pessoa pede o cardápio
e escolhe somente o que lhe dá prazer em comer, os crentes modernos abrem a
bíblia, mas somente se servem do que lhes pode dar prazer e alegria – a famosa
e popular “caixinha de promessas”. Mensagens “inspiradoras” confortadoras e
tranquilizadoras, revestidas de palavras positivas, que reforçam a sensação de
que os ouvintes se constituem no centro do universo tem sido a tônica dos
púlpitos nesses dias em que o público rejeita qualquer mensagem “inadequada”
aos seus paladares sensíveis.
Duas Razões que Afastam o Cristão Hedonista
do Livro de Jó
A degustação do livro de Jó é
somente apreciável para aqueles que têm um estomago forte, que reconhecem a
Deus não apenas de ouvir falar, mas porque se relaciona pessoal e continuamente
com Ele.
A primeira das
razões pelas quais as pessoas de forma geral, bem como grande parcela dos
chamados evangélicos, se afastam horrorizados do livro de Jó é que sua história
ilustra de forma nua e crua que Deus exerce plena soberania não apenas sobre
vida pessoal e familiar dele, mas sobre todas as coisas relacionadas com sua
existência e sobre todo o mundo, não apenas físico, mas também o mundo
espiritual.
A grande maioria dos evangélicos
atuais se afasta perplexo diante da realidade de que o mesmo Deus que dá é o
mesmo Deus que tira, e pior ainda, mesmo quando Deus tira tudo, ainda assim Ele
deve ser louvado!
O evangélico hedonista em suas estultícia
pensa que de alguma forma ele pode controlar Deus. Dominar o sagrado sempre foi
a busca incessante do ser humano pós-queda, na verdade a grande isca que
Satanás jogou para fisgar Eva e Adão foi justamente o fato de que ao
transgredirem o mandamento único de Deus (do fruto desta única árvore não comereis)
eles seriam iguais – teriam
o controle – de Deus. O resultado, como temos sentido na
pele até hoje, foi justamente o contrário, pois até o que tinham eles perderam.
A história de Jó trata exatamente da
questão: quem está no
controle? Por mais que o ser humano fique chocado ou se
revolte e comece a gritar para si mesmo “não há Deus”, em nada muda o fato de
que Deus não apenas existe, não apenas trouxe à existência todas as coisas,
como exerce sua soberania sobre toda a Criação, incluindo os seres humanos.
Por mais que seja estranho e
inaceitável para a grande maioria das pessoas (inclusive evangélicas) Deus está
no controle todo o tempo e o tempo todo. Jó não tem como controlar os eventos
que sobreviriam sobre sua vida e/ou de sua família e o máximo que ele pode
fazer é declarar que Deus tem o direito de tirar, pois Ele mesmo foi quem havia
dado tudo o que Jó havia possuído. A figura de Satanás é subalterna, pois ele
não tem “liberdade” nenhuma sobre a vida de Jó ou mesmo sobre aquilo que Jó
possuiu e, portanto precisa da autorização de Deus para tirar ou tocar na vida
de Jó.
Esta ênfase na afirmação sem qualquer
explicação ou ressalva de que Deus exerce seu direito de Soberano é algo
frustrante para as pessoas que desejam ter a sensação, ainda que ilusória, de
que controlam suas vidas, de que elas são senhoras de seus destinos, de que
tudo gira em torno delas e de seus desejos. O livro de Jó desconstrói todo esse
castelo de areia antropocêntrico logo nos primeiros capítulos quando o
personagem, que é apresentado como sendo uma pessoa piedosa e justa nos
aspectos religiosos, vai perdendo uma a uma tudo o que possuía, incluindo seus
queridos filhos. Não bastasse toda essa perda externa, por fim fica restrito a
um corpo coberto de chagas. Em nenhum momento Jó tem controle sobre todas essas
perdas e por si mesmo não tem como restitui-las. Sua vida esteve, estava e
continuou estando nas mãos de Deus.
Uma segunda razão
pela qual as pessoas se afastam da leitura do livro de Jó é a questão do
sofrimento. Os evangélicos hedonistas de plantão rejeitam toda e qualquer coisa
relacionada ao sofrimento. Mas o sofrimento em todas as suas nuances fazem
parte inerente da vida humana pós-pecado. Nascemos das “dores de parto” e o
nascimento em si é tão traumático (doloroso) que a nossa mente não registra ou
ao menos não arquiva de forma a podermos resgata-la. O apóstolo Paulo diz que a
própria natureza geme e sofre aguardando ansiosamente pela nova Criação que
Deus está fazendo por meio de Jesus Cristo. E o próprio apóstolo, que trazia em
seu corpo as marcas de Cristo, declara em alto e bom som que é melhor estar com
Cristo, na glória, do que continuar vivendo neste mundo tenebroso de sofrimento
e dor.
Poucas pessoas sofreram tão
intensamente como Jó, perdendo em intensidade somente para o Senhor Jesus em
seu calvário. Ele experimenta a dor emocional da perda de seus filhos amados,
pelos quais ele oferecia sacrifícios diante de Deus logo pela manhã; ele
experimenta a dor cruel da perda da saúde física, dor e sofrimento tão intenso
que sua esposa não pode mais contemplar; sofre a dor espiritual, pois fica sem
respostas para às inúmeras perguntas que ele mesmo e seus próprios amigos
formulam ao longo de toda a trajetória de sua historia.
Desta forma, os sensíveis evangélicos
do século XXI não tendo estomago para degustar uma literatura tão carregada de
sofrimento, espertamente pulam todos os pratos (capítulos) e devoram
desesperadamente a sobremesa (último capítulo) e se deliciam com a pequena
cereja contida em 42.10 – Mudou o
Senhor a sorte de Jó – Oh! Glória! Oh! Aleluia! Esse é o nosso Deus
(da bênção, da restituição em dobro) e não aquele Deus dos capítulos
anteriores. Os evangélicos que assim fazem são loucos, pois estão construindo
sobre fundamento movediço (areia) e quando as tempestades da vida vierem e elas
sempre chegam, sua religiosidade hedonista ruirá e será grande e terrível a sua
ruína.
Mas todo aquele que está disposto a
degustar cada capítulo que compõe está inspirada narrativa poética, sorvendo seus
ensinos preciosos de valor eterno, estará construindo sua fé e sua vida cristã
na rocha e quando as tempestades mais violentas e terríveis e mesmo que hordas
do inferno lhe sobrevenham como labaredas incandescentes do inferno, ele
permanecerá, pois sua vida está nas mãos de um Deus Soberano sobre tudo e sobre
todos, quer sejam homens ou seres espirituais sejam na terra, nos céus ou no
inferno.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Quadro
Comparativo dos Cânones do Primeiro Testamento
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[1]
Hedonismo consiste em uma doutrina moral em que a busca pelo
prazer é o único propósito da vida. A
palavra hedonismo vem do grego “hedonikos”,
que significa "prazeroso",
já que “hedon"
significa “prazer”.
O hedonismo pode ser dividido em duas categorias: o hedonismo psicológico tem como fundamento a noção que em todas as ações, o ser humano tem a intenção de
obter mais prazer e
menos sofrimento e essa forma de viver é única coisa que
fomenta a ação humana. Por outro lado, o hedonismo
ético tem como princípio o fato da pessoa contemplar o prazer e os bens materiais como
as coisas mais
importantes das suas vidas.
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