Data
Normalmente temos dois períodos sugeridos
para a data do Evangelho de Lucas que são: (1) 59-63 d.C., e (2) 70s ou 80s, mas a conclusão de Atos mostra-nos
que Paulo esteva ainda vivo em prisão domiciliar em Roma, e desde que o
Evangelho é uma pesquisa anterior, escrito antes de Atos (cf. Atos 1:1), o
Evangelho de Lucas deve ter sido escrito no período mais antecipado, cerca 60
d.C. Entretanto, sugerindo que o Evangelho de Lucas recebeu seu formato final
na Grécia e não em Roma, alguns têm sugerido 70 d.C.
O
comentarista Anthony Lee Ash destaca que os defensores destas duas hipóteses
quanto à datação partem de um mesmo argumento: a destruição
de Jerusalém pelo exercido romano, que ocorreu em 70 d.C.
É interessante notar que argumentos, tanto
para a data anterior como para a posterior, são baseados na relação entre o
evangelho e a destruição de Jerusalém. Os favoráveis aos anos sessenta afirmam
que Lucas com seu interesse especial na profecia não deixaria de implicar
claramente a queda de Jerusalém, caso tal acontecimento tivesse ocorrido. Por
outro lado, os favoráveis aos anos setenta argumentam com base numa comparação
entre o discurso apocalíptico de Lucas (cap. 21) e Marcos 13. Eles indicam que
as minúcias descritas por Lucas quanto à queda da cidade mostrariam que o
evento já era passado. Desde que os escritores do evangelho nem sempre
transmitiam as palavras exatas de Jesus, é possível que as mesmas tivessem sido
registradas por Lucas em termos do evento real. Não parece possível, porém,
chegar a uma data conclusiva para o evangelho a partir desta linha de
pensamento (1980, p. 9-10).
Por sua
vez Nicoll indica as razões que levam alguns comentaristas a pensarem em uma
data muito avançada para a data deste evangelho:
A data definitivamente não pode ser fixada.
Opiniões variam de 63 d.C. aos primeiros anos do segundo século. Para uma data
avançada 90 d.C. é compatível se o escritor é mais jovem e um companheiro de
Paulo nos movimentos missionários posteriores dele. Ainda para uma data
posterior de 100 ou 105 d.C. seriam requeridos se fosse certo, o qual não é,
que o escritor usou as “Antiguidades de Josefo” que foi publicado em 93-94. Dr.
Sanday, em seu trabalho, expressa a visão de que Atos foi escrito em 80 d.C., e
o Evangelho o precedeu uns cinco anos aproximadamente (1961, p.51).
O
Evangelho segundo Lucas provavelmente foi o último dos chamados Evangelhos Sinóticos
a ser escrito. Desde que a narrativa evangélica precede Atos, e que ao final de
Atos o apóstolo Paulo ainda esta vivo e que ele foi morto com toda certeza
antes de 70, as datas mais conservadoras é de que foi provavelmente escrito
entre 60 ou 63 DC, certamente antes da queda de Jerusalém (70 d.C.) e
provavelmente enquanto Lucas estava com Paulo em Roma ou durante os dois anos
em Cesaréia.
Na
dobradinha Lucas-Atos outros fatores que embasam essas datas mais conservadoras
são a incerteza de onde o cristianismo se encaixa entre as religiões do Império
Romano, mormente o cristianismo era apenas mais uma seita do judaísmo; Lucas-Atos
não menciona a destruição de Jerusalém; e a relação interna das comunidades
cristãs expressão ainda os conflitos entre judeus e gentios no mesmo nível que
nas epístolas de Paulo.
Propósito
O propósito de Lucas é claramente exposto no
prólogo do Evangelho:
Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de
tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi
recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos
apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se
apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por
espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus. E, estando
com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que
esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes (1.1-4).
Há várias coisas que podemos destacar com
respeito ao propósito dele para elaborar
este evangelho:
Lucas declara que seu trabalho foi estimulado
pelo trabalho de outros (1.1), que ele consultou testemunhas oculares (1.2), e
que ele selecionou e organizou estas informações (1.3) sob a orientação do
Espírito Sagrado para instruir o Teófilo na confiança histórica da fé (1.4).
Este é um trabalho cuidadosamente pesquisado e documentado.
Sendo ele um gentio, ou seja, não de origem
judaica, Lucas deve ter se sentido responsável em escrever seus dois volumes
contando a vida de Cristo e tornando-a disponível aos leitores gentios. Isto
parece evidente pelo fato de que ele tem o cuidado de traduzir os termos
Aramaicos (o hebraico popular) por suas similares gregas; esclarece os costumes
judaicos, bem como a geografia palestina de modo que sua narrativa evangélica
seja inteligível para os seus leitores originais. Por fim, em Lucas, transparece um
universalismo gentílico, que vai além dos estritos limites judaicos, como
veremos mais à frente.
A narrativa lucana é a mais longa e
compreensiva dos Evangelhos, para o leitor que não estavam familiarizados com
as Escrituras judaicas. Ele apresenta o Salvador como o Filho do Homem (Homem
Perfeito)[1]
que veio procurar e salva o perdido (19:10). Em Mateus vemos
Jesus como Filho de Davi, o Rei de Israel;
em Marcos o vemos como o Servo do
Senhor, servindo outros; em Lucas o
vemos como o Filho do Homem, um homem perfeito dentre os
homens, escolhido dos homens, testado dentre os homens, e supremamente
qualificado para ser o Salvador e Sumo Sacerdote. Em Mateus vemos
agrupamentos de eventos significativos, em Marcos vemos
a revelação destes eventos significativos, mas em Lucas vemos mais detalhes destes eventos pelo prisma
deste médico-historiador.
Em Lucas a natureza perfeita de Jesus Cristo,
tanto como Filho do Homem como Filho de Deus, é demonstrado pelo seguinte:
1. Seu nascimento físico bem como sua genealogia traçada de
forma a retornar até Adão (3.38) (Mateus retrocede apenas até Abraão).
2. Seu desenvolvimento mental é acentuado (2.40-52).
3. Sua moral e perfeição espiritual são acentuadas, bem como
evidenciadas no seu batismo, pela voz do Pai dos céus e pela unção do Espírito
Santo.
Assim, segundo Lucas, em Jesus nós temos Um
que é plenamente perfeito — física, mental, e espiritualmente.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
ASH, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas. Tradução
Neyd V. Siqueira. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1980.
BETTENCOURT, Estevão. Para Entender os Evangelhos.
Rio de Janeiro: Agir, 1960.
CARSON D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução
ao Novo Testamento. São Paulo: ed. Vida Nova, 1997.
CASALEGNO, Alberto. Lucas – a caminho com Jesus
missionário. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento
Interpretado – versículo por versículo, v. II. São Paulo: Millenium,
1987.
________________________. Enciclopédia
de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.3. São Paulo: Candeia, 1995.
GOODSPEED, Edgar J. An
Introduction to the New Testament. Chicago, Illinois: University of Chicago
Press, 1937.
LEAL, João. Os Evangelhos e a Crítica Moderna.
Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1945.
MORRIS, Leon L. Lucas – introdução e comentário. São
Paulo: Edições Vida Nova, 2008. [Série Cultura Cristã].
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento - sua origem
e análise, 2a ed. São Paulo: Vida Nova, 1972.
[1]
No pensamento greco-romano a busca pela perfeição humana, mental e fisica, era
um objetivo a ser alcançado.
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