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Assim como os demais
evangelhos, datar Marcos é algo difícil, embora muitos dos estudiosos cheguem à
conclusão de que este Evangelho foi o primeiro dos quatro a
circular entre as comunidades cristãs. O marco histórico é se ele compôs sua
narrativa antes ou depois da “Queda de Jerusalém” (70 d.C.). Desta forma temos
ao menos quatro posicionamentos quanto à data em que esta narrativa foi
escrita:
Uma data nos anos quarenta
O estudioso C. C. Torrey
partindo da expressão “abominação que causa a desolação” (13.14) a relaciona à
tentativa do imperador Calígula (40 d.C) de tentar colocar sua imagem no templo
de Jerusalém, e conclui que o evangelho foi escrito pouco depois disto (1947, p.
261–62). Mas esta interpretação da expressão marcana não tem encontrado
sustentação. Outra hipótese é de que Pedro tenha viajado para Roma nos
anos 40 após ser libertado da prisão (cf. Atos 12.17) e que Marcos tenha
escrito a sua narrativa naquele tempo (1972, p. 97–102).[1]
Entretanto, para uma data tão precoce pra este Evangelho, fica difícil explicar
o silêncio de Paulo e outros escritores do Novo Testamento sobre ele, inclusive
pelo fato de João Marcos havia participado com Paulo e Barnabé da primeira
viagem missionária.
Uma data nos anos 50
O argumento aqui está
fundamentado na relação de Marcos para Lucas-Atos. O argumento assume que
o livro de Atos termina ainda quando Paulo está vivo e em prisão domiciliar em
Roma e que Lucas publica seu segundo volume nesse tempo (acerca de 62 d.C). Desta
forma seu primeiro volume (Evangelho) deve ter sido produzido em alguma data anterior
a 62 d.C. Partindo do pressuposto de que Lucas, bem como Mateus, utilizaram a
narrativa marcana como uma espécie de roteiro e/ou fonte primária, o trabalho
de Marcos fica delimitado à década de 50 (HARNACK, 1911).[2]
Uma data nos anos 60
Muitos dentre os estudiosos
contemporâneos datam Marcos nos anos sessenta, por três razões: Primeiro,
as primeiras tradições favorecem uma data para Marcos após a morte de Pedro.[3] Em
segundo
lugar, e talvez o mais relevante para a maioria é que a evidência interna de
Marcos indica uma data durante ou logo após, o início da perseguição aos
cristãos em Roma. Nessa linha interpretativa a narrativa de Marcos evidência
aos seus leitores/discípulos o caminho para a cruz, que foi trilhado pelo
próprio Senhor Jesus. Esta ênfase melhor se encaixaria numa situação em
que os cristãos tivessem diante deles a perspectiva sombria do martírio, um
cenário que se concretiza a partir de Roma na época ou depois da famosa
perseguição de Nero aos cristãos em 65 d.C. ( CRANFIELD, 1966, p.8; ANDERSON,
1976) Em terceiro lugar, em Marcos 13 é possível ver o
reflexo da situação na Palestina durante a revolta
judaica e pouco antes da entrada romana para a cidade, e, portanto,
devem ser datados entre 67 e 69 d.C.[4]
Diante destas argumentações uma
data para o livro fica mais confortável entre o final dos anos cinquenta ou
meados dos anos sessenta. Ainda que uma maioria prefira os anos sessenta,
mantenho minha posição em favor dos finais dos anos cinquenta. A ênfase de
Marcos na perseguição não exige que os leitores estejam sofrendo tal
perseguição. A perseguição, como
ocorre ainda hoje nos países mulçumanos, é sempre uma possibilidade para
o crente em todas as épocas, de modo que a inclusão de Marcos de muitos dos
ensinamentos de Jesus sobre o assunto é perfeitamente compreensível nesse contexto
mais amplo.
Tema e Propósito:
Diferentemente de Lucas, na
narrativa marcana encontramos um mínimo de comentários editoriais e quase nada sobre
o seu propósito ou o seu público-alvo. É preciso, portanto, dependermos
dos primeiros testemunhos sobre Marcos e sobre o caráter do próprio evangelho
para obter informações sobre seus leitores e seu propósito.
O tema de Marcos é ‘Cristo
o Servo’. Este tema é extraído de 10.45,
“Porque
o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida em resgate de muitos”. Uma leitura cuidadosa de Marcos
mostra como os dois temas deste verso, serviço e sacrifício,
são desdobrados por Marcos.
Uma vez que Marcos apresenta
Jesus como o Trabalhador, o Servo do Senhor, o livro enfoca a atividade
de Cristo como a de um Servo fiel realizando
efetivamente Suas atividades. Este foco parece evidente pelo estilo utilizado
por Marcos no uso do termo Grego, “imediatamente” ou “então, assim então”, que ocorre 42
vezes neste Evangelho. Seu significado varia de sentido como em 1.10,
para ([“em devido curso, então, na mesma hora”]; cf. 1.21
[“logo,
assim que”]; 11.3 [“imediatamente, logo”]). Outra ilustração deste
aspecto ativo está em que Marcos de forma proeminente usa o presente
histórico.[5]
Este Evangelho é endereçado
primeiramente ao leitor Romano. Isto
fica evidenciado pelo fato deste evangelho ser escrito para a uma mentalidade metódica
e pragmática, própria dos romanos. Tenney defende
esta possibilidade com fortes argumentos:
O Evangelho de Marcos
é conciso, claro e direto, estilo este que agradaria à mentalidade romana, que
não gostava de abstrações e fantasias literárias. Há muitos latinismo em
Marcos, como Modius para “alqueire” (4:21), census para “tributo” (12:14),
speculator para “executor” (6:27), centurio para “centurião” (15:39,44,45) e
outros. Para a maior parte destes termos havia equivalentes gregos. Parece que
Marcos usou termos latinos por serem mais comuns e mais familiares. Este
Evangelho insiste pouco na lei e nos costumes judaicos. Quando os menciona,
explica-os mais completamente do que os outros sinóticos. A evidência interna
do Evangelho adapta-se admiravelmente bem à tradição externa que diz ter sido
de Roma o lugar de sua publicação. De qualquer modo, Marcos era apropriado para
o leigo de mentalidade romana prática que estava ainda por evangelizar.[6]
Público
Leitor
As
fontes extra bíblica apontam para uma audiência cristã gentia, ou seja, não
judaica, provavelmente em Roma. O destino romano do evangelho de Marcos é
simplesmente uma inferência de sua proveniência romana. Se Marcos escreveu
em Roma, provavelmente escreveu a Romanos. Isto é declarado ou implícito
nas primeiras tradições sobre o evangelho, que têm Marcos registrando a
pregação de Pedro para aqueles que tinham ouvido o grande apóstolo em Roma. Como
pode ser observado no texto, encontram-se muitos latinismos neste evangelho o
que o torna compatível com um público romano. Que ele escreve a não judeus
parece clara a partir de sua tradução de expressões aramaicas, sua explicação
dos costumes judaicos (como a lavagem das mãos antes de comer [7.3-4]), e, nos
poucos textos que ele inclui sobre os rituais da lei Mosaica, é no sentido de
sua cessação (cf. 7.1-23, esp. v. 19; 12. 32-34).
Características e Peculiaridades
1. O
evangelho de atos em vez de discursos:
a) das 70 parábolas, Marcos apenas relata 18 e só tem 8
reais.
b) dos 35 milagres ele conta 10 a mais do que qualquer
outro evangelista.
c) a palavra "imediatamente" aparece 41 vezes.
2. Este
escrito em estilo jornalístico, gráfico e enérgico.
a) há 164 casos de uso do presente histórico.
b) o tempo imperfeito se usa exclusivamente também.
3. O
evangelho marca-se pela qualidade da descrição da testemunha ocular
a) a descrição detalhada da casa de Pedro
b) a descrição detalhada do Cenáculo
c) a descrição dos sentimentos de Cristo.
4. Não
contem genealogias, ou relatórios do nascimento e infância.
5. E
geralmente cronológico no seu arranjo.
6. E
conhecido como o evangelho de Pedro ou memórias de Pedro.
7.
Apenas 23 versículos em Marcos são totalmente distintos de Mateus e Lucas.
8.
Marcos cita o Antigo Testamento apenas 16 vezes.
9.
Existe uma dúvida a respeito do final do evangelho (16.9-20).
Palavra Chave:
Servo,
Servo do Senhor.
Versos Chaves:
8.34-37. “E, chamando a si a
multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim,
negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser
salvar a sua vida {ou alma} perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por
amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Pois que aproveitaria ao homem
ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da
sua alma? {ou vida}”
10:43-45. “mas entre vós não
será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso
serviçal. {ou criado} E qualquer que,
dentre vós, quiser ser o primeiro será servo {ou escravo} de todos. Porque o Filho do Homem também não veio para
ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.”
Capítulos Chaves:
Capítulo 8 - é
um capítulo chave em Marcos, muito semelhante ao capítulo 12 em Mateus, porque
aqui há uma mudança tanto no conteúdo quanto no curso do ministério de Jesus. O
evento que marca esta mudança é a confissão de Pedro, “Tu és o Cristo (o
Messias)” (8.29). Isto é seguida imediatamente à revelação da sua morte, à
chamada ao discipulado, e à transfiguração.
“Aquela
proclamação de fé foi o gatilho para uma nova fase no conteúdo e no ministério
de Jesus. Até este ponto Ele tinha procurado autenticar Suas credenciais Messiânicas.
Mas agora Ele começa preparar Seus discípulos para a proximidade de seu
sofrimento e morte nas mãos dos líderes religiosos. Os passos de Jesus começam
a conduzi-lo para mais perto de Jerusalém — o lugar onde o Servo Perfeito
demonstrará a extensão plena de seu serviço” (Wilkinson/Boa, 1983, p. 305).
Cristo como Visto em Marcos:
Certamente, a contribuição
de Marcos é especialmente centralizada em apresentar o Salvador como o Servo
Sofredor que dá Sua vida obedientemente pela redenção de muitos. O foco central
é o seu preocupação em suprir as necessidades espirituais e físicas de outros.
Esta ênfase nas atividades do Salvador-Servo é vista no seguinte:
Unicamente dezoito de
todas as parábolas de Cristo são encontradas em Marcos alguns destes são apenas
uma sentença ou frase — mas, ele lista trinta-cinco milagres realizados por
Cristo, a mais alta proporção nos Evangelhos (Wilkinson/Boa, 1983, p. 321).
Esboço:
Com o tema do livro sendo Cristo o Servo. O verso
chave, 10.45, fornece a chave para duas divisões naturais do Evangelho: o serviço
do Servo (1.1-10.52) e o sacrifício do Servo
(11.1-16.20). É possível dividirmos isto dentro de cinco seções simples:
I.
|
A Preparação do Servo para Serviço (1.1-13)
|
II.
|
A
Pregação do Servo no Galileia (1.14-9.50)
|
III.
|
A Pregação do Servo na Peréia (10.1-52)
|
IV.
|
A
Paixão do Servo em Jerusalém (11.1-15.47)
|
V.
|
A Glorificação do Servo na Ressurreição (16.1-20)
|
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos
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Evangelho Segundo
Marcos: Autoria e Título http://reflexaoipg.blogspot.com/2017/01/evangelho-segundo-marcos-autoria-e.html?spref=tw
Evangelho Segundo Lucas: Autoria e Título
A T O S - Introdução: Autoria
NT – Epístolas Paulinas
NT – Introdução Geral
Contexto Histórico dos Evangelhos
Contexto Político-social da Judéia
Referências
Bibliográficas
ANDERSON, Hugh. The Gospel of Mark. London:
Marshall, Morgan & Scott, 1976.
BETTENCOURT, Estevão. Para Entender os Evangelhos.
Rio de Janeiro: Agir, 1960.
CARSON D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução
ao Novo Testamento. São Paulo: ed. Vida Nova, 1997.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia,
Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.
CRANFIELD, C. E. B. The Gospel According to St. Mark. Cambridge: Cambridge
University Press, 1966.
DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução
Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.
GUTHIRIE, Donald. New Testament Introduction. Illinois:
Inter-Varsity Press, 1980.
LEAL, João. Os Evangelhos e a Crítica Moderna.
Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1945.
HARNACK, Adolf. The
Date of Acts and of the Synoptic Gospels. New York: Putnam, 1911.
REICKE, Bo. The Roots of the Synoptic Gospels. Philadelphia:
Forness, 1986.
RYRIE, Charles
Caldwell. The Ryrie Study Bible. Chicago: Moody Press,
1978.
SOARES, Sebastião Armando Gameleira & JUNIOR, João
Luiz Correia. Evangelho de Marcos, v.1, ed. Vozes, Petrópolis, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da
Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
TORREY, C. C. The
Four Gospels, 2nd ed. New York: Harper, 1947.
WENHAM, J.W. Did
Peter Go to Rome in ad42?. Tyndale
Bulletin 23 (1972) 94-102.
WILKINSON, Bruce and KENNETH Boa.
Speaking Through the Bible. Nashville:
Thomas Nelson, 1983.
[1] No entanto, Pedro está de volta à
Palestina no tempo do Concílio de Jerusalém, em 48 ou 49 d.C. (Atos 15).
[2] O argumento de Reicke é semelhante,
embora ele conclua que Marcos foi escrito em um tempo simultâneo ao de Lucas (1986, p.
I77-80).
[3] O prólogo anti-Marcionita (final do século II?), Irineu (185
d.C., cf. Adv .Haer 3.1.2.). É possível incluir a citação
do presbítero Papias (“Marcos, que tinha sido o intérprete de Pedro”) como se
referindo ao tempo posterior à morte do apóstolo.
[4] Aqui temos duas perspectivas de
interpretação: uma interpretação antecipatória, ou seja, o
escritor escreve antes da destruição do templo; a intepretação
descritiva, a destruição do templo já ocorreu e o escritor está trazendo
à memória dos leitores o que Jesus havia dito sobre esse acontecimento. Podemos
agrupar os comentaristas em dois blocos: por um lado, comentaristas como
Anderson; Cranfield; Lane; Nineham; Schweizer e Taylor preferem uma data anterior
à guerra judaica (65-68 d.C); por outro lado: Ernst; Gnilka; Grundmann; Pesch;
Schmithals; E Luhrnann e Kummel datam em algum momento logo após a queda de
Jerusalém (cerca de 70-73 d.C).
[5] O presente histórico grego é o
presente do indicativo usado para narrar a ação passada de modo
vívido (ex.: Atos 2:34 – “Mas ele mesmo [o patriarca Davi] diz.”).
[6] Tenney, Merrill C. O Novo
Testamento – Sua Origem e Análise, ed. Vida Nova, São Paulo, 1972,
pp.167-168.
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