quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ATOS: Temas Relevantes


Ainda que classifiquemos o livro de Atos como sendo histórico, não significa que Lucas tinha em mente apenas e tão somente registrar alguns acontecimentos e personagens inseridos no desenvolvimento do cristianismo do primeiro século. Podemos e devemos estudar este livro da mesma forma com que estudamos os evangelhos e as epístolas – procurando nele a revelação e o propósito de Deus para as nossas vidas.
Tanto em Atos como nos evangelhos podemos reconhecer e extrair as ênfases teológicas que estavam inicialmente sendo elaboradas pelos primeiros cristãos. Evidentemente que estas questões embrionárias estão sendo desenvolvidos em meio aos mais diversos acontecimentos e somente muito mais tarde serão sistematizadas no esforço de as entendermos melhor. Vejamos alguns destes aspectos teológicos que emanam das paginas de Atos:
Ação Soberana e Providencial de Deus: Desde o principio Lucas deixa claro para Teófilo de que a história do cristianismo, bem como toda  história humana, esta sendo conduzida em todos os seus mínimos detalhes pela vontade soberana de Deus. Em cada relato histórico é perceptível as continuas ações da Providência divina. Podemos afirmar que o livro de Atos ficaria tranquilamente confortável na companhia dos chamados livros históricos do Primeiro Testamento [AT]. Assim, seja nos momentos de paz e tranquilidade ou nos momentos mais duros e implacáveis aqueles cristãos sempre creram que Deus estava no controle absoluto de todas as coisas. Para Lucas os acontecimentos descritos são realizados de acordo com a vontade de Deus (cf. 2.23; 4.27-29; etc.) e a história da Igreja somente é possível de ser compreendida à luz da direção de Deus (cf. 13.2; 15.28; 16.16; etc.).
A Cristocentricidade da Mensagem: O kerigma ou pregação e a didake ou ensino apostólico e gerações seguintes estava totalmente centrada nos diversos aspectos da obra de Jesus Cristo. A ressurreição, a ascensão, a glorificação e a sua volta, como Senhor e Juiz (cf. 2.32-36; 3.20 e 26; 17.29-31; 26.22-23; etc.) são extratos da declaração de fé da Igreja cristã nos primórdios da sua história. Aqui também encontramos referência aos diversos títulos cristológicos que manifestam sua divindade e sua missão redentora – Senhor (2.36); Salvador (5.31); Servo de Yahweh (3.13,16); Justo (7.52); Santo (3.14) e sobretudo Cristo (Messias) que se torna um sobrenome próprio. Jesus sempre foi e deveria continuar sendo o centro convergente da vida e da pregação da Igreja o que em diversos momentos da história da igreja deixou de ser e creio que hoje esta muito longe de ser a realidade de muitas “igrejas” evangélicas brasileiras.
A Igreja: Ainda que ela não seja o Reino de Deus ela foi constituída para agregar os súditos deste Reino e para manifestar no mundo os valores espirituais do Reino. É nela e através dela que a verdade deve ser vivenciada e proclamada a todas as pessoas e nações, eliminando-se todas as barreiras étnicas. Sendo ela a “nova comunidade”, conforme o relato de Atos, mesmo sofrendo a rejeição por parte da maioria dos judeus, manifesta vivencialmente a mensagem do evangelho (cf. 10.1-11.18). É, portanto o verdadeiro Israel, um povo novo e universal de vínculos espirituais, cuja natureza é essencialmente missionária.
Compreensão Trinitária: Os primeiros cristãos sempre tiveram uma consciência quanto a realidade da Trindade (cf. 4.8-12; 4.24-27; 15.23-29; 22.13-16; 26.12-18 e 28.23-28). Nunca houve qualquer dúvida que tudo que concerne à salvação e à Igreja somente foi possível pela efetiva ação perfeitamente sincrônica do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Pneumatologia: Acompanhando perfeitamente o ensino de Jesus registrado em seu primeiro volume, Lucas realça de forma maravilhosa a ação continua do Espírito Santo na vida da Igreja e nos acontecimentos pessoais dos cristãos primitivos. É a manifestação extraordinária do Espírito, no Pentecostes, que se torna o marco inicial da Igreja e a torna capaz de levar adiante sua tarefa de propagar a mensagem da salvação por meio de Cristo. O Espírito é a possessão e o ponto convergente de todos e cada um dos cristãos, assim como a fonte de alegria e fervor eletrizante que caracterizava aqueles primeiros dias. É o Espírito que capacita e insere cada crente em seu respectivo ministério para melhor desenvolvimento a Igreja. A expansão do cristianismo em tão pouco tempo e de forma tão abrangente somente foi possível pelo poder e obra do Espírito Santo. Assim, do ponto de vista de Lucas, absolutamente nada acontece na vida da Igreja e dos cristãos sem a participação efetiva do Espírito Santo. Alguns comentaristas bíblicos tendem a denominar este livro de “o Evangelho do Espírito Santo”.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
BERKHOF, Louis. New Testament Introduction. Eerdmans, 1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction Scanned and Edited Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
ERDMAN, Charles R. Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
RICE, Edwin W. People’s commentary on the Acts giving. Philadelphia: The American Sunday-School Union, 1896.
RYRIE, Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
SMITH, T. C. Comentário Bíblico Broadman, v.10. Rio de Janeiro: JUERP, 1984.
WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida, 1996.


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