O terceiro evangelho que compõe a
primeira parte do Novo Testamento, bem como o livro de Atos tem sua autoria atribuída
a Lucas[1] e são endereçados a um mesmo destinatário de nome
Teófilo,[2] sendo deste modo tratados como sendo uma obra em dois
volumes, e atribuídos a Lucas, e apesar de em nenhum lugar ser especificado que
é o autor de um ou outro, um grande acordo de evidências apontam para
Lucas, “o médico amado”
(Col. 4:14) como o autor de ambos.
O
comentarista bíblico Goodspeed defende a ideia de que ambos os livros não foram
escritos separadamente, mas formavam apenas um volume:
“Nenhuma descoberta do estudo moderno do Novo Testamento
é mais assegurado do que aquele que afirma que Lucas e Atos não são dois livros,
escritos em tempos diferentes, mas dois volumes de um trabalho único, concebido
e executado como uma unidade”. E ele entende que o fato dos livros terem sido
colocados separadamente no cânon contribuiu para se pensar em épocas diferentes
para os dois livros: Certamente, todo isto poderia estar muito mais claro se
Atos não tivesse sido separado do Evangelho de Lucas quando o evangelho foi
juntado dentro do grande quarteto dos evangelhos logo cedo no segundo século. O
fato é que, como sabemos, João vem entre Lucas e Atos de modo que obscurece sua
continuidade e realmente esconde isto de nós (1937, p. 180-182).
Os
que defendem a autoria de Lucas argumentam que se o objetivo fosse atribuir
falsamente os livros a um líder do cristianismo primitivo, certamente
não seria de uma figura tão pouco conhecida e ainda mais um gentio, como conclui
Ash em seu comentário: “Muito
provavelmente teria sido ligado a um dos apóstolos ou outra figura de destaque na
primeira igreja” (1980,
p. 7).[3]
Significativamente, esses dois
livros ocupam 28% do Novo Testamento Grego. Encontramos o nome de Lucas
na literatura neotestamentária apenas em Colossenses 4.14; 2 Timóteo 4:11; e Filemom 24. São
também atribuídas a ele aquelas chamadas seções do “nós”
de Atos (16.10-17; 20.5-21.18; 27.1-28.16). Essas seções
de “nós” de Atos revelam que o autor foi um
companheiro de Paulo em suas viagens missionárias. Uma vez que dois
companheiros de Paulo são especificados na terceira pessoa, a lista pode ser restringida
a Tito e
Lucas.
Entretanto, utilizando um processo
de eliminação, sobressai o querido amigo de Paulo, o qual ele trata por “Lucas, o médico amado” (Cl 4.14),
e “companheiro de
trabalho” (Fm 24) torna-se provavelmente o maior
candidato. Sua autoria é confirmada pelo testemunho uniforme dos escritos cristãos
antigos (cf. Cânon de Muratorio 170 d.C., e as obras de Ireneu, 180 d.C.).
Parece evidente em Colossenses
4:10-14 que Lucas foi um gentio, pois Paulo o diferencia dos judeus.[4] Aqui o apóstolo declara que, entre seus colaboradores,
Aristarco, Marcos, e João foram os únicos que eram de origem judaica. Isto
sugere que Epafras, Lucas, e Demas, também mencionados nestes versos, eram de
origem gentílica. Isto concorda com nome gentio de Lucas (o mesmo que Lucanus),
e as características gentílicas de seu Evangelho. Tanto a narrativa evangélica quanto a de Atos
contém um dos gregos mais elegantes da literatura bíblica. Temos escassas
informações sobre sua vida ou conversão exceto que ele não esteve entre as testemunhas
ocular da vida de Jesus Cristo (Lc 1.2). Embora um médico por profissão, ele
foi primeiramente um historiador, escrevendo este evangelho e o livro de Atos,
bem como fiel colaborador do apóstolo
Paulo no trabalho missionário, permanecendo junto ao querido amigo até
seu tempo de martírio (2 Tim. 4.1). Após a morte do apóstolo dos gentios em
Roma, nada mais temos sobre a vida de Lucas.
Temos também um prólogo antecipado do evangelho, que foi
talvez escrito para acentuar a genuinidade do evangelho inteiro contra uma
versão truncada que Marcião, um herético do segundo século, havia editado para
propagar suas opiniões. Neste prólogo são dados vários detalhes sobre Lucas
que podem bem preserva muita tradição genuína. Lucas é um Sírio de Antioquia,
um doutor por profissão, que foi um discípulo de apóstolos, e mais tarde
acompanhou Paulo até o martírio dele. Ele serviu ao Senhor sem distração, e
adormeceu na idade de 84, em Boécia, na Grecia. Cheio do Espírito Santo
escreveu este evangelho inteiro nas regiões da Acaia . . . e depois o mesmo
Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos. Champlin acrescenta mais informações:
“Parece que Lucas nasceu em Antioquia da Síria, conforme a informação prestada
por Jerônimo. O livro de Atos reflete o interesse de Lucas por Antioquia da
Síria (cf. Atos 6:5; 11:19-27; 13:1; 14:19; 15:22,23,30,35; 18:22). Talvez ele
fosse irmão de Tito (II Cor.8:18; 12:18) (CHAMPLIN, 1995, p. 914).
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
ASH, Anthony Lee. O Evangelho Segundo
Lucas. Tradução Neyd V. Siqueira. São Paulo: Editora Vida Cristã,
1980.
CASALEGNO, Alberto. Lucas – a caminho
com Jesus missionário. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento Interpretado – versículo por versículo, v. II. São Paulo:
Millenium, 1987.
________________________.
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia, v.3. São Paulo: Candeia, 1995.
Goodspeed, Edgar
J. An Introduction to the New Testament. Chicago, Illinois: University
of Chicago Press, 1937.
MORRIS, Leon L. Lucas – introdução e
comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. [Série Cultura Cristã].
[1]
O nome “Lucas” vem a ser uma
abreviação de “Lucano”, à semelhança de “Silas”, abreviação de “Silvano”.
Significa “iluminador” e era um nome comum entre os romanos, podendo ser achado
tanto em inscrições quanto em referência literárias.
[2]
O tratamento que Lucas lhe
dispensa: "excelente", "excelentíssimo" ou
"digníssimo", conforme a versão que se utilize, tem levado a crer que
Teófilo era uma autoridade pública, um oficial romano. Tem-se deduzido que
Lucas viu naquele homem a pessoa adequada para publicar sua obra entre os
gentios, o que ocorreu com pleno êxito. “Do prefacio
do Evangelho e do livro de Atos apreendemos que o autor escreveu para o
benefício imediato de um único indivíduo, aparentemente um homem de posição
elevada, um nobre romano. Isto não é suficiente para deduzir que um círculo maior
de leitores não possa ter sido contemplado pelo escritor ou que não visasse
nenhum outro destinatário para o seu trabalho.” Nicoll, W. Robertson, The Expositor1’s Greek
Testament, v. 1, ed. WM. B. Eerdmans Publishing Company Grand Rapids,
Michigan, 1961, p.50.
[3]
A
autoria Lucana do terceiro evangelho tem sido ocasionalmente contestada por
aqueles críticos que encontram dificuldades para aceitar que Lucas seja o autor
final de Atos, que é geralmente identificado como sendo o trabalho da mesma mão
do evangelista. Os problemas apresentados a Atos serão discutidos mais tarde,
mas podemos adiantar que tais argumentos não encontram consistência.
[4]
Defendendo um outro ponto de
vista, Ellis vê Lucas como um judeu helênico e sugere que ele pode ser o mesmo
Lúcio (Romanos 16:21) que é identificado como ‘parente’ de Paulo, e Filemon 24
o identifica como ajudante de Paulo no trabalho.” Ash, Anthony Lee, Op. cit., p. 9.
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