(…) para cada aluno que precisa ser
resguardado de um leve excesso de sensibilidade, existem três que precisam ser
despertados do sono da fria vulgaridade. O dever do educador moderno não é o de
derrubar florestas, mas o de irrigar desertos.
Seu nome completo é Clive Staples
Lewis (1898-1963) e sem medo de errar pode-se dizer que foi uma das mentes mais
brilhantes da vira do século dezenove para o século vinte. Ele morreu há 59
anos, todavia sua literatura está mais viva do que nunca (Cartas de um diabo a
seu aprendiz, Cristianismo puro e simples, Quatro amores e as Crônicas de
Nárnia) são exemplos de uma boa, saudável e inteligente literatura.
Seus
temas foram e continuam sendo discutidos, pois fazem parte da nossa vida
cotidiana. Todavia, os brasileiros de forma geral e os evangélicos de modo
particular, em sua grande maioria, desconhecem as literaturas por ele
produzidas, prova contundente da miopia predominante na cultura brasileira e
mais especificamente na cultura evangélica.
Este é o livro mais acadêmico filosófico
da biblioteca produzida por Lewis, de maneira que para aqueles leitores acostumados
com suas outras literaturas pode parecer mais difícil de ser compreendido.
Todavia, apesar dele pessoalmente discordar o livro foi bem recebido pelos
leitores de forma geral, assim como pelos críticos da época. Em sua primeira
edição (1943) o livro esgotou as vendas em pouco tempo e nos dez meses
seguintes foram necessárias outras três edições. As criticas foram bastante
positivas “um livro muito instigante [que] merece atenção e estudo” declarou alguém
que havia lido e analisado o texto. Mas mais do que na época o livro foi alcançando
uma reputação e se revestindo das características de um clássico genuíno e
seminal. O público leitor é amplo: filósofos, educadores, críticos literários,
historiadores, juristas, ateus, agnósticos, evangélicos e ainda nos dias atuais
é considerada uma de suas obras mais relevantes. O filósofo ateu John Gray
descreve o livro como “presciente,
profético” e “tão relevante agora”
como quando foi lançado, e continua ele, “se
não mais ainda” (apud, WARD, 2021, p. 11).
Os alerta que Lewis faz em seu livro
podem ser claramente observados nos dias atuais, onde uma campanha mediática incessante
tem invadido a mente das novas gerações, desde as mais tenras idades, corroendo
os fundamentos morais e degradando os valores universais. O desafio lançado por
Lewis continua sendo valido hoje: resistir a estas ações ideológicas nefastas
que tem permeado a sociedade contemporânea e que infelizmente tem prevalecido
em muitos redutos evangélicos.
Somos incentivados por ele a estarmos
vigilantes em relação às ideologias relativistas que tem sido encucado nas
mentes juvenis, e aquelas mais simplórias, os primeiros no próprio ambiente
escolar e os demais no ambiente das mídias sociais, de que qualquer lei
natural, verdade objetiva, qualquer essência moral (religiosa), tudo isso não
passa de pura balela. O resultado disso é que o ambiente escolar torna-se espaço
de marketing ideológico, o professor torna-se um ativista, os pais e os
diretores tornam-se cínicos quanto à realidade dos fatos e os alunos tornam-se
apenas objetos a serem manipulados, destituídos de senso crítico e perspectivas
positivas, pois os pontos cardeais lhes foram furtados.
Na terceira e última parte Lewis já
alertava para o perigo do avanço tecnológico que já estava começando a cercear
a liberdade pessoal. A tecnologia é o instrumental para que haja domínio de
alguns sobre muitos, de maneira que um seleto grupo de pessoas haveria de ter
poder para moldar a sociedade de acordo com suas concepções de mundo. As
pessoas uma vez arrancadas de suas bases morais perderam sua identidade humana
tornando-se matéria-prima a ser manipulada à vontade por mestres e senhores.
Desta forma, o livro está plenamente sintonizado com as problemáticas do século
XXI, e a sua leitura nos habilita a fazermos um diagnóstico da sociedade atual
e identificarmos suas falhas.
Nestes dias em que vivemos um cientificismo
construído à base do poder econômico especifico de poucos e manipulado
artificialmente por um conglomerado mediático, e usando a linguagem do autor,
desumanizado, a leitura desta pequena obra de Lewis é de premente urgência.
Abaixo transcrevo pequenos trechos
da obra para despertar aguçar o apetite dos que ficaram desejos de lerem essa
pequena, mas inquietante, obra literária de Lewis:
“O ceticismo em relação aos valores é apenas superficial,
sendo válido apenas para valores alheios; eles não são muito céticos em relação
aos valores correntes em seus próprios meios. E esse fenômeno é bastante comum.
Muitos dos que ‘desmascaram’ os valores tradicionais ou (como eles dizem)
‘sentimentais’ têm no fundo valores próprios , que crêem imunes a
desmascaramentos semelhantes. Alegam estar cortando pela raiz o crescimento
parasitário da emoção, da autoridade religiosa, de tabus herdados, para que os
valores ‘verdadeiros’ ou ‘autênticos’ possam emergir”. P. 27.
“Eu preferiria jogar
cartas contra um homem que fosse inteiramente cético em relação à ética, mas
que tivesse sido criado para acreditar que ‘um cavalheiro não trapaceia’, do
que contra um irrepreensível filósofo moral que tenha crescido entre
vigaristas”. P.22.
“Produzimos homens sem peito e esperamos deles virtude e
iniciativa. Caçoamos da honra e nos chocamos ao encontrar traidores entre nós.
Castramos e ordenamos que os castrados sejam férteis”. P.24.
“O dever do educador
moderno não é o de derrubar florestas, mas o de irrigar desertos. A defesa
adequada contra sentimentos falsos é inculcar os sentimentos corretos. Ao
sufocar a sensibilidade dos nossos alunos, apenas conseguiremos transformá-los
em presas mais fáceis para o ataque propagandista. Pois a natureza agredida há
de se vingar, e um coração duro não é uma proteção infalível contra um miolo
mole”. P.12.
Utilização livre desde que citando a fonteGuedes,
Ivan PereiraMestre em Ciências da Religião.me.ivanguedes@gmail.comOutro BlogHistoriologia
Protestantehttp://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Referências Bibliográficas (utilizado
no artigo)
LEWIS, C. S. A abolição do homem. Tradução Gabriele Greggersen 1ª ed. Rio de
Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017.
WARD, Michael. After Humanity – a guide to C.S. Lewis’s The Abolition of Man. Park
Ridge, IL: Word on Fire Academic, 2021.
LEWIS, C. S. Cartas de um diabo a seu aprendiz. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DURIEZ, Colin. The A of Z C. S. Lewis - an encyclopedia of his life, thought and writings. Oxford, England: Published by Lion Books, 2013.
_____________. J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis: O dom da Amizade. Tradução Ronald Kyrmse. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2018.
MCGRATH, Alister. A vida de C. S. Lewis - do ateísmo às terras de Nárnia. Tradução Almiro Pisetta. São Paulo-Lisboa: Mundo Cristão, 2013.
________________. Conversando com C. S. Lewis. 1 ed. São Paulo: Planeta, 2014.
Artigos Relacionados
LEWIS, C.S. - Cartas de um Diabo a seu Sobrinho.
https://reflexaoipg.blogspot.com/2021/09/lewis-cs-cartas-de-um-diabo-seu.html?spref=tw
O Peregrino: Autoria e Relevância
https://reflexaoipg.blogspot.com/2017/04/o-peregrino-autoria-e-relevancia.html?spref=tw
O Peregrino: Contexto Histórico Religioso – Puritano
https://reflexaoipg.blogspot.com/2020/03/o-peregrino-contexto-historico.html?spref=tw
O Peregrino (John Bunyan) Um Guia de Estudo
https://reflexaoipg.blogspot.com/2020/03/o-peregrino-john-bunyan-um-guia-de.html?spref=tw
Seria muito bom ouvir de você! Deixe-me saber o que você achou desta postagem, deixando um comentário abaixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário