quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

PÁSCOA - A Centralidade da Cruz

Vivemos numa sociedade totalmente voltada para a autossatisfação. Nada que não seja voltada para o bem-estar e o prazer tem qualquer interesse para a grande maioria das pessoas, incluindo um número crescente de “cristãos” modernos.
Falar sobre a Cruz nestes dias é lançar palavras ao vento, pois caem em ouvidos rotos e totalmente ensurdecidos. Não é algo atrativo, pois lembra sofrimento, desprendimento, entrega e por fim – morte.
A Cruz é o momento mais denso da mensagem evangélica. Os discípulos enquanto caminhavam com Jesus não a puderam entender e Pedro até o último momento, ao puxar a faca e cortar a orelha daquele homem, demonstra não aceitar a Cruz. Somente após o Pentecostes é que estes discípulos haverão de compreender que sem a Cruz o Evangelho seria apenas mais uma mensagem cheia de boas intenções, mas que não resolveria o problema maior da raça humana – a questão do pecado, do perdão e da vida eterna.
É na Cruz que a nossa maldade decorrente de nossa natureza pecaminosa foi esmagada pelo Perdão divino. Aqui Jesus preferiu nos salvar a salvar-se a Si mesmo. É na Cruz que a Justiça de Deus e a Sua Graça se encontram em uma perfeita sincronia, revelando a perfeita Soberania de Deus.
Os relatos evangélicos da Paixão é uma extraordinária rede entrelaçada de acontecimentos históricos e teológicos sem qualquer comparação na literatura bíblica. O esforço satânico de esvaziar-se a palavra da Cruz, iniciada ainda nos dias do apóstolo Paulo (1Co 1.17), tem logrado muito êxito nestes primeiros dias do século XXI. “Efetivamente, é a cruz que revela que o Crucificado não é simplesmente um mártir que morre pelo seu Deus, mas um filho de Deus que morre pelo homem” (MAGGIONI, 2000, p. 06).
Nunca foi tão necessário que voltemos às narrativas da paixão do que nestes dias em que o materialismo e o hedonismo se apossaram dos discursos evangélicos de ampla maioria dos segmentos cristãos.
Nunca se fez tão urgente o resgate da Teologia da Cruz, com todas as suas múltiplas implicações para a fé cristã.
Todos os quatro evangelistas bíblicos entenderam que as narrativas da Paixão se constituíam no cerne de toda mensagem cristã. Não a compreender corretamente, ou minimizar sua importância, será inutilizar a mensagem cristã de salvação do pecador.
Todos os quatro evangelistas ocupam um espaço maior para registrar estes acontecimentos da Paixão, em seus detalhes mínimos, até alguns aparentemente sem qualquer relevância, quando visto isoladamente do conjunto.
Cada um deles utiliza suas fontes, remanejam seus materiais e os organizam dentro de suas perspectivas pessoais, de maneira a produzirem uma narração solida e coerente. Não são meros copiadores ou plagiadores uns dos outros, mas cada um está absolutamente convencido da importância destes acontecimentos finais da vida e ministério de Jesus. 
De fato, ao compara-los percebe-se uma espinha dorsal utilizada por todos eles: Getsêmani, o processo judaico, o processo romano, o caminho da cruz, a crucificação e a sepultura. Acrescenta-se a este esquema uma coerente e acurada sucessão, com precisão de lugar e tempo, de maneira que o testemunho da veracidade histórica é atestado em que cada episódio se liga ao seguinte e chega-se a uma conclusão.
Que nesta Páscoa, cada cristão possa voltar-se para estes relatos da Paixão e possam resgatar para seus próprios corações e vida, o valor incomparável da Cruz. Que este “pseudo-evangelho” despido de qualquer vestígio de sofrimento possa ser lançado fora e que o Evangelho da Cruz, possa novamente ser a grande mensagem a ser proclamada, pois somente este Evangelho pode salvar o pecador.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referência Bibliográfica

MAGGIONI, Bruno. Os relatos evangélicos da paixão. São Paulo: Paulinas, 2000.

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