Vivemos
numa sociedade totalmente voltada para a autossatisfação. Nada que não seja
voltada para o bem-estar e o prazer tem qualquer interesse para a grande
maioria das pessoas, incluindo um número crescente de “cristãos” modernos.
Falar
sobre a Cruz nestes dias é lançar palavras ao vento, pois caem em ouvidos rotos
e totalmente ensurdecidos. Não é algo atrativo, pois lembra sofrimento,
desprendimento, entrega e por fim – morte.
A Cruz é o momento mais denso da mensagem
evangélica. Os discípulos enquanto caminhavam
com Jesus não a puderam entender e Pedro até o último momento, ao puxar a faca
e cortar a orelha daquele homem, demonstra não aceitar a Cruz. Somente após o
Pentecostes é que estes discípulos haverão de compreender que sem a Cruz o
Evangelho seria apenas mais uma mensagem cheia de boas intenções, mas que não
resolveria o problema maior da raça humana – a questão do pecado, do perdão e
da vida eterna.
É na
Cruz que a nossa maldade decorrente de nossa natureza pecaminosa foi esmagada
pelo Perdão divino. Aqui Jesus preferiu nos
salvar a salvar-se a Si mesmo. É na Cruz que a Justiça de Deus e a Sua Graça
se encontram em uma perfeita sincronia, revelando a perfeita Soberania de Deus.
Os
relatos evangélicos da Paixão é uma extraordinária rede entrelaçada de
acontecimentos históricos e teológicos sem qualquer comparação na literatura
bíblica. O esforço satânico de esvaziar-se a palavra da Cruz, iniciada ainda
nos dias do apóstolo Paulo (1Co 1.17), tem logrado muito êxito nestes primeiros dias
do século XXI. “Efetivamente, é a cruz
que revela que o Crucificado não é simplesmente um mártir que morre pelo seu
Deus, mas um filho de Deus que morre pelo homem” (MAGGIONI, 2000, p. 06).
Nunca
foi tão necessário que voltemos às narrativas da paixão do que nestes dias em
que o materialismo e o hedonismo se apossaram dos discursos evangélicos de
ampla maioria dos segmentos cristãos.
Nunca
se fez tão urgente o resgate da Teologia da Cruz, com todas as suas múltiplas
implicações para a fé cristã.
Todos
os quatro evangelistas bíblicos entenderam que as narrativas da Paixão se
constituíam no cerne de toda mensagem cristã. Não a compreender corretamente,
ou minimizar sua importância, será inutilizar a mensagem cristã de salvação do
pecador.
Todos
os quatro evangelistas ocupam um espaço maior para registrar estes
acontecimentos da Paixão, em seus
detalhes mínimos, até alguns aparentemente sem qualquer relevância, quando
visto isoladamente do conjunto.
Cada
um deles utiliza suas fontes, remanejam seus materiais e os organizam dentro de
suas perspectivas pessoais, de maneira a produzirem uma narração solida e
coerente. Não são meros copiadores ou plagiadores uns dos outros, mas cada um
está absolutamente convencido da importância destes acontecimentos finais da
vida e ministério de Jesus.
De
fato, ao compara-los percebe-se uma espinha
dorsal utilizada por todos eles: Getsêmani, o processo judaico, o processo
romano, o caminho da cruz, a crucificação e a sepultura. Acrescenta-se a este
esquema uma coerente e acurada sucessão, com precisão de lugar e tempo, de
maneira que o testemunho da veracidade histórica é atestado em que cada
episódio se liga ao seguinte e chega-se a uma conclusão.
Que
nesta Páscoa, cada cristão possa voltar-se para estes relatos da Paixão e
possam resgatar para seus próprios corações e vida, o valor incomparável da
Cruz. Que este “pseudo-evangelho” despido de qualquer vestígio de sofrimento
possa ser lançado fora e que o Evangelho
da Cruz, possa novamente ser a grande mensagem a ser proclamada, pois
somente este Evangelho pode salvar o pecador.
Utilização livre desde que citando a
fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referência Bibliográfica
MAGGIONI, Bruno. Os relatos evangélicos da paixão. São
Paulo: Paulinas, 2000.
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