Jesus
havia preparado seus discípulos para esta última caminhada que fará à cidade de
Jerusalém. Ele sabe que havia chegado a hora, quando cumpriria em todos os detalhes
a vontade do Pai, incluindo a cruz.
Ele
vem caminhando desde Jericó, pela estrada pedregosa construída pelos romanos,
com sua poeira fina, que somado ao ar muito quente que vem do Deserto da
Judéia, torna a jornada ainda mais penosa e cansativa. Mas ao levantar os olhos
Jesus e seus discípulos consegue avistarem, ainda longe, a pequena Vila de
Betânia, o que lhes proporciona antecipadamente um alívio e uma motivação a
mais para acelerarem os passos.
Betânia
era uma pequena vila, porém muito tranquila e aconchegante, um verdadeiro Oasis
para viajantes cansados. Suas poucas moradias estavam escondidas nas escarpas
do Monte das Oliveiras, o que proporcionava um ambiente de quietude reparadora.
Ali do alto, olhando para o leste e para o sul Jesus podia contemplar o Deserto
da Judéia com sua vastidão seca e despovoada a não ser as poucas tendas dos
nômades. Ao amanhecer é possível Ele ver o sol nascendo sobre as montanhas da Transjordânia,
na parte ocidental do Mar Morto, e acompanhar a iluminação paulatina do Vale do
Jordão, 900 metros abaixo, bem como o reflexo da luz solar nas águas do Mar
Morto a 20 km do lado leste. A pouco mais de 20 km Herodes, o Grande, havia
construído sua fortaleza, chamada de Herodium, no qual ele se refugiava –
apenas trinta anos antes - não muito distante de Belém.
A
brisa refrescante advinda na maioria das vezes do Mediterrâneo combatia
eficazmente o calor seco que poderia vir do deserto. A cidade de Jerusalém está
apenas 3 km adiante, mas aqui em Betânia o barulho e a agitação da Capital não
chegam. Assim, este pequeno e tranquilo vilarejo é o lugar perfeito para quem
precisa refazer as forças – o lugar
perfeito para Jesus se preparar para a última semana. Desde segunda feira
Jesus faz este percurso de 45 minutos a
pé, de Betânia para Jerusalém, com seus discípulos. À tarde, depois de
embates duríssimos com seus adversários, que tramam continuamente sua morte,
Jesus retornar para descansar em Betânia.
Na
somatória dos relatos evangélicos é possível concluir sem erro que está Vila era
o lugar preferido de Jesus, todas as vezes que subia a Jerusalém. Aqui
estabelecera uma amizade profunda com Lázaro e suas duas irmãs Marta e Maria, e
com eles Jesus sentia-se em casa.
Portanto,
não é por acaso, que após sua ressurreição, chegado a hora de sua ascensão,
quando retornar ao Pai para reassumir sua glória, Jesus se despede de seus
discípulos nas proximidades desta pequena, mas acolhedora Vila de Betânia.
É
provável que fosse à casa de Lazaro que os discípulos, assustados com a prisão
de Jesus, foram se refugiar. Ali ficariam agrupados aguardando o desenrolar dos
acontecimentos fatídicos. Ficaria mais fácil e lógico imaginar as mulheres
saindo de Betânia para acompanhar toda a paixão de Jesus, e após sua
crucificação e morte elas acompanham a retirada do corpo dele para ser levado
ao tumulo, o qual elas pretendem retornar logo nas primeiras horas do domingo,
para o embalsamarem. Então, elas retornam, consolando o coração multifacetado
de Maria.
Foi
aqui na tranquila Betânia que outros dois acontecimentos extraordinários, que
antecedem a paixão de Jesus, mas que estão vinculados diretamente a este último
momento dele.
O
primeiro é a ressurreição de Lazaro, que mesmo depois de morto e sepultado e
estando já no terceiro dia é trazido à vida pelo poder vivificador de Jesus.
Este acontecimento está carregado de sentimentos humanos – dor e emoção. Aqui
Jesus desnuda toda sua humanidade, quando chora a morte de seu amigo e também a
incredulidade daqueles que mesmo vendo o que Ele vai fazer, escolheram permanecer
na incredulidade. Muitos anos depois, João em sua narrativa evangélica não tem
dúvida de que a mensagem de Betânia não é de morte, mas de vida: Jesus é aquele
que detém o poder único sobre a morte; Ele é “a ressurreição e a vida” (Jo 11.25).
O
segundo acontece na casa de um homem chamado Simão, o leproso, onde uma mulher,
que Marcos não identifica pelo nome, mas que João vai posteriormente nomina-la
de Maria, derrama um vidro inteiro de perfume caríssimo sobre Jesus, o que
deixa horrorizado os discípulos, principalmente Judas Iscariotes, mas que
produz em Jesus emoções profundas e ele interpreta como um gesto simbólico e
intuitivo, pois aquela mulher sentiu o que nenhum dos seus discípulos, nem o
trio mais achegado, sentiram – e de fato o que as mulheres pensaram em fazer
como homenagem ao Jesus morto, no domingo de manhã, mas não o fizeram porque
Jesus havia ressuscitado – aquela mulher pode fazer enquanto Jesus ainda está
vivo, e ela foi honrada pelo Mestre, pois Ele declarou que esta atitude amorosa
e silenciosa dela, na pequena e singela Vila de Betânia, seria propagada “pelo mundo ... em sua memória” (Mc 14.9)
e aqui estamos nós atestando esta verdade.
Por
tudo isso, Betânia torna-se uma caixa de
ressonância para Jerusalém. Ela não se constitui apenas de um lugar de refúgio
e refrigério de Jesus e seus discípulos, mas um lugar da manifestação plena da humanidade e da divindade de Jesus. Aqui Ele
é visto em todo o seu envolvimento com a raça humana; Betânia não é apenas o local de preparação para os inomináveis
acontecimentos do Domingo de Ramos ou
do Domingo da Ressurreição, mas
esta singela Vila de Betânia é o testemunho incontestável do poder de Jesus em
dar a Vida.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan
Pereira
Mestre em
Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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É possível ver nestas imagens a revelação do sagrado que há no cotidiano na Vila de Betânia: Jesus é plenamente homem neste lugar, ao revelar seu sentimento pela morte de seu amigo. É na humanidade de Jesus que se encontra a grandiosidade de sua Santidade. Aqui Ele é verdadeiramente Deus e homem. Aqui é possível contemplar a sua própria ressurreição, sua transcendência. Ele será adorado como foi por Maria, em Betânia, na mesma medida que os seguidores o tornarem sacramento real e vivo, sinal concreto do amor de Deus.
ResponderExcluirMuito bom e instruídos todo o comentario sobre a vila de Betânia, gostei muito, Deus abençoe.
ResponderExcluiré um dos meus artigos preferidos.
ResponderExcluirGraça e Paz
ResponderExcluirAmei a colocação sobre Betânia um lugar de descanso .
É incrível como Hebreus 3 lembra um momento singular entre Deus e a nação de Israel no deserto de Sim.Em meio a murmurações,Deus manda o maná,mas juntamente com o bolo de mel comida dos anjos ,Deus restitui um princípio esquecido em Genesis: o dia de descanso.
Quando Deus orienta como seria o recolhimento do maná,Ele ordena que no sábado,ao contrário dos outros dias,deveria se colher ou pegar 2 porções,pois no sábado,deveria se descansar e usufruir unicamente do Senhor.
Jesus em João 6 fala de comermos da Sua carne, referindo-se a matarmos nossa fome Nele.
É incrível que o próprio Deus dizia ser Jesus,Aquele em quem Ele tinha descanso( prazer ).
Como povo de Deus não podemos deixar de viver esse estatuto perpétuo: Descansar Nele
As usando isso não acontece há uma disfunção e mostrar a murmurar,a murmuração gera dureza de coração,a dureza de coração gera apostasia e esse processo provoca a ira divina
A consequência e não entrar no descanso de Canaã, é morrer no deserto.
Ate o próprio Cristo descansava,e fazia isso na pacata Betania.Ali Ele podia esticar as pernas,comer,dormir,tomar um banho ,sem burocracia,sem rituais,apenas descansando.....