sábado, 27 de fevereiro de 2016

CONTEXTO POLITICO-SOCIAL DA JUDEIA

Para uma compreensão mais ampla dos acontecimentos, registrados nos evangelhos e mais particularmente aqueles ocorridos na última semana do ministério de Jesus, que culmina com a sua morte por crucificação, é importante termos uma visão do contexto social e político daquele momento histórico.
Naqueles dias a Judeia era uma província romana[1] e no ano 06 d.C. ocorre uma mudança significativa, pois o imperador Augusto depõe Arquelau[2], filho de Herodes Magno[3], que até então exercia poder sobre as três principais regiões da Palestina – Judeia, Samaria e Iduméia. Estas regiões passaram a ter uma administração vinculada diretamente a Roma, tornando-se uma procuradoria imperial. O primeiro governador desta nova província foi Carpônio[4], membro da ordem equestre[5].
O governador não vai morar em Jerusalém, com suas vielas apertadas e no meio de pessoas que professavam uma fé totalmente estranha. Opta por permanecer em Cesaréia, que havia sido reconstruída por Herodes Magno em estilo helenístico-romano. Seu magnífico templo dedicado a Augusto (imperador) e à deusa Roma era a primeira visão daqueles que chegavam pelo porto. Os moradores de Cesaréia falavam fluentemente o grego, de maneira que, um cidadão ou autoridade romana haveria de se sentir totalmente à vontade morando ali. O palácio erigido por Herodes se constituía numa excelente moradia para qualquer governante, muito bem protegida tanto pelas guarnições de soldados, quanto pela própria topografia.
O Procurador recebe por parte do império autoridade máxima, incluindo o “poder de vida e morte”. Mas originalmente este poder se relacionada diretamente aos seus soldados. Na prática, porém, não podia se mover qualquer ação civil capital sem o Praefectus Judaeae (o preposto da Judeia), de maneira que, não se podia promulgar ou executar nenhuma sentença de morte sem a chancela do Governador.
Paralelamente temos a figura de Quiríno[6], que surge na narrativa lucana da infância: “Naqueles dias surgiu um edito de César Augusto, ordenando o recenseamento de todos os habitantes. Este recenseamento foi o primeiro, e se realizou enquanto Quirínio era governador da Síria” (Lc 2.1-1). Seu status é de Legatus Augusti pro praetore (Legado Propretor de Augusto)[7] e o próprio recenseamento tinha como objetivo verificar o número da população e a capacidade financeira de cada morador da recém criada Província da Judeia. Ele organiza o serviço de cobrança dos impostos de circulação de mercadorias nas fronteiras e nos mercados internos, à maneira romana: o dinheiro recolhido passa pelas mãos do Procurador, por intermédio dos cobradores de impostos e somente depois é remetido à Roma.
Estes cobradores de impostos inicialmente eram funcionários romanos (publicani), mas posteriormente passaram a ser terceirizados, normalmente cidadãos judeus (publicanos), os quais, por sua vez, formam uma equipe (de fiscais) de acordo com a demanda, para o recolhimento das taxas. Portanto, estes cobradores e seus “fiscais” à serviço do império tornam-se para-raios do ódio e aversão dos nacionalistas, que o diga Zaqueu e seus amigos.
Um dos segmentos judaicos que mais colaboravam com a administração romana era os saduceus. O imperador, seus oficiais e funcionários sempre podiam contar com total cooperação deste grupo intimamente relacionado com o Templo e com o Sumo Sacerdote. O processo envolvendo Jesus demonstra o quanto este grupo tinha influência junto às autoridades romanas.
Apesar de toda esta autoridade romana, no interior da Província a administração judaica permanecia com ampla autonomia. Ela está debaixo da autoridade do Sinédrio, chamado também de o Grande Conselho, uma espécie de Senado (e como os nossos, voltados para seus próprios interesses). Os documentos oficiais romanos são endereçados entre outros ao Sinédrio. As autoridades romanas têm um cuidado especial para com o presidente do Grande Conselho que era sempre o sumo sacerdote em exercício. Neste momento quem nomeia e depõe o sumo sacerdote são as autoridades romanas e não a sucessão hereditária dos descendentes de Arão. As vestimentas sacerdotais ficam sob a guarda dos romanos na Fortaleza Antônia.
Em um primeiro momento há uma sensibilidade maior por parte das autoridades romanas quanto à questão religiosa dos judeus. Em Jerusalém não se encontra qualquer insígnia com a efígie do Imperador (o que constituiria idolatria). Tanto a religião judaica quanto o Templo e suas atividades estão sob a proteção direta do Imperador. O único desejo do Imperador é que os sacerdotes ofereçam sacrifícios em seu favor no Templo de Jerusalém.
Mas tudo isto está para mudar radicalmente com a ascensão de um inimigo declaro dos judeus, Sejano,[8] prefeito da guarda pretoriana[9] e que está exercendo um domínio de terror em Roma. Será este inimigo dos judeus quem nomeara o quarto e quinto procuradores da Judéia, Samaria e Iduméia, respectivamente Valério Grato e Pôncio Pilatos. Estes haverão fazer com que estas populações sintam claramente quem é que manda na região. É debaixo deste mandatário romano e seu nomeado Pilatos, responsáveis por uma política insensível e desumana, que se passam os acontecimentos da última páscoa de Jesus.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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[1] Uma província romana era a maior divisão administrativa das possessões estrangeiras (fora da Península Itálica) da Roma Antiga. As províncias eram atribuídas por períodos de um ano a governadores originários da classe senatorial, no caso de ser uma província senatorial, ou da classe eqüestre, no caso de ser uma província imperial, normalmente ex-cônsules ou ex-pretores. No início do ano romano (em março, até às reformas de Júlio César), as províncias eram atribuídas aos governadores por sorteio, na época da República, ou nomeação, no Império. http://pt.wikipedia.org/wiki/Província_romana
[2] Herodes Arquelau (4 a.C. - 6 d.C.) governou a Judéia. O menos estimado dos filhos de Herodes, foi cruel e despótico. As queixas dos judeus contra ele finalmente o levaram ao exílio. Como renovava em parte a crueldade do seu pai, seus irmãos e súditos o acusaram diante do imperador, que o destituiu e o exilou para Viena, na Gália, onde morreu. A Judéia e a Samaria foram anexas ao império romano, governadas por um procurador, ou governador, sediado em Cesaréia, nas margens do Mediterrâneo, comandando uma tropa de ocupação considerável. Em Jerusalém foi sediado um destacamento militar sob o comando de um tribuno, aquartelado na Torre Antônia, no ângulo nordeste do Templo de Jerusalém. http://pt.wikipedia.org/wiki/Herodes_Arquelau
[3] A maior parte do que conhecemos sobre sua vida nos é narrada pelo historiador judeu Flávio Josefo, que nos diz que, por ser um idumeu, a legitimidade de seu reinado era contestada pelos judeus. Numa tentativa de obter essa legitimidade, ele casou-se com Mariana, uma hasmoniana filha do alto sacerdote do Templo. Ainda assim, ele vivia temeroso de uma revolta popular, razão pela qual teria construído, como refúgio, a fortaleza de Massada. sua corte era helenizada e culta. Ele fundou as cidades gregas de Sebaste (Samaria)e Cesareia,com o seu belo porto. Construiu fortalezas e palácios, incluindo Massada e o magnífico Templo,o Herodium.Presidiu aos Jogos Olímpicos. Ao morrer, em 4 a.C., Herodes deixou disposto, em testamento, a partilha do reino entre três de seus filhos sobreviventes: Herodes Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. No Evangelho de Mateus, ele é acusado pela "Matança dos Inocentes", em Belém, episódio não confirmado na obra de Josefo, onde são descritos, minuciosamente, os inúmeros crimes do rei.
[4] Copônio (português brasileiro) ou Copónio (português europeu) (em latim: Coponius) foi um político romano, primeiro governador (praefectus) da província romana da Judéia, por volta de 6 d.C. Inicialmente o governador da Judéia tinha o título de 'prefeito'; apenas depois da morte de Agripa (em 44) que procurador tornou-se a denominação oficial. http://pt.wikipedia.org/wiki/Copônio#cite_note-0
[5] A Ordem Equestre Romana (ordo equester) formava a mais baixa das duas classes aristocráticas da Roma antiga, estando abaixo da Ordem Senatorial (ordo senatorius). Um membro desta ordem era conhecido como um eques (plural: equites), que em latim significa qualquer pessoa a cavalo (equus), mas neste contexto tem o significado específico de "cavaleiro". Os cavaleiros proviam os oficiais veteranos e muita da cavalaria das legiões manipulares até 88 a.C., quando a cavalaria legionária foi abolida. No período tardio da República, os Senadores e os seus filhos tornaram-se numa elite não-oficial dentro da ordem dos cavaleiros. Sob o fundador do Império Romano, Augusto, a elite senatorial foi constituída como uma ordem separada e com estatuto e privilégios superiores aos cavaleiros. As duas ordens aristocráticas, compostas principalmente por Italianos, dominavam os postos administrativos e militares mais altos no governo imperial até ao século III. Nesse século, o poder mudou para uma secção dos cavaleiros que incluía oficiais com carreira militar e que tomaram o lugar dos aristocratas Italianos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_Equestre
[6] Publio Sulpicio Quirinio, a veces llamado también Publio Sulpicio Quirino o Cirenio (en griego Κυρήνιος, c. 51 a. C. - 21) fue un aristócrata del Imperio romano, miembro del Senado y cónsul. Su periodo como gobernador de Siria es uno de los anclajes cronológicos del nacimiento de Jesús de Nazaret. http://es.wikipedia.org/wiki/Publio_Sulpicio_Quirinio    
[7] Na origem, os cargos procuratórios romanos (procônsul, propretor e proquestor) foram uma inovação da República Romana, criados para fornecer generais e governadores provinciais sem a necessidade de eleger mais magistrados a cada ano. Assim, em vez de estabelecer novos cargos de magistratura ordinária para aqueles fins, os romanos preferiam designar cidadãos para agir em nome (pro) de um magistrado eleito. O procônsul agia, portanto, em nome ou no lugar (pro) do cônsul (consul).
[8] Lúcio Élio Sejano (em latim Lucius Aelius Sejanus, 20 a.C. - 18 de outubro de 31 d.C) foi prefeito da guarda pretoriana e em dada altura o homem mais influente na Roma Antiga, durante o reinado do imperador Tibério. http://pt.wikipedia.org/wiki/Sejano
[9] Guarda pretoriana era o grupo de legionários exprientes encarregados da proteção do praetorium, parte central do acampamento de uma legião romana, onde ficavam instalados os oficiais. Com a tomada do poder por Otávio (Caio Júlio César Octaviano Augusto), transformou-se em guarda pessoal do imperador, as chamadas Coortes. http://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda_Pretoriana .  O Ap. Paulo enquanto preso em Roma era vigiado por soldados da Guarda Pretoriana e evangelizou a muitos deles.

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