Apressadamente
alguns estudantes dos Evangelhos concluem que foram três horas de agonia na
cruz. Os que assim deduzem estão fundamentados nas narrativas dos sinóticos (os
três primeiros evangelhos: Mt, Mc e Lc). Entretanto, quando lemos a narrativa
escrita por João cria-se um impasse, pois segundo ele o tempo foi bem maior.
Afinal quem está certo? Os evangelistas se contradizem?
A origem da questão está nas narrativas de Marcos e de
João quanto ao momento em que Jesus foi crucificado. Em Marcos (15.25) temos o
registro de que Jesus foi pregado e levantado, iniciando sua agonia na cruz à “terceira
hora”, que corresponde às 09h00 (manhã) no horário judaico. Por sua vez João
(19.14) que após os tramites judiciais foi entregue
para ser crucificado na “hora sexta” correspondendo ao meio dia no horário
judaico.
Por sua vez o trio sinótico (Mt 27.46-50; Mc 15.33-37 e
Lc 23.44-46) testemunham que pela “hora nona” no horário judaico (03h00 - tarde)
Jesus morre, de maneira que Jesus fica agonizante do “meio dia” João (19.14)
até as 15h00 segundo os sinóticos. Qual o problema então?
Os sinóticos (Mt 27.45; Mc 15.33 e Lc 23.44), entretanto,
trazem a informação de que na “hora sexta” (12h00), houve trevas tensas sobre a
terra, de maneira que Jesus já estava na cruz por algumas horas, mas segundo
João neste horário Jesus ainda estava em sua via-crúcis,
provavelmente subindo o Gólgota. Desta forma temos as informações
SINÓTICOS (Mt,
Mc, Lc)
|
JOÃO
|
Jesus é crucificado durante a “hora terceira” (09h00) Mc 15.25
Surgem trevas sobre a terra “hora sexta” (12h00), enquanto Jesus agoniza
na cruz – Mt 27.45; Mc 15.33; Lc 23.44
Jesus morre na cruz na “hora nona” (15h00) – Mt 27.46-50; Mc 15.33-37;
Lc 23.44-46.
|
“Agora era o dia da Preparação da Páscoa; era
cerca da hora sexta [12h00]. Ele
[Pilatos] disse aos judeus: "Eis o vosso Rei!" Eles gritaram:
"Fora com ele, embora com ele, crucifica-o!" Disse-lhes Pilatos:
"Hei de crucificar o vosso rei?" Os sumos sacerdotes responderam:
"Não temos rei, senão César". Então, ele o entregou a eles para ser
crucificado. Então tomaram a Jesus, e
ele saiu, tendo a sua própria cruz, ao lugar chamado o lugar da Caveira,
que em hebraico se chama Gólgota. Ali o crucificaram, e com ele outros
dois, um de cada lado, e Jesus no meio. João 19.14-18
|
Assim, fica configurado o conflito
informativo dos evangelistas. Há duas principais explicações para conciliar os
relatos bíblicos:
Ø
O
evangelista João utiliza o horário romano e não judaico
De acordo com esta explicação o quarto evangelista utiliza o sistema
horário dos romanos, enquanto os sinóticos usam o sistema horário judaico e
desta forma há uma conciliação das informações:
João (19.14) registra que durante a “hora sexta” (06h00) horário romano, Jesus
ainda está em julgamento e somente então é entregue para ser crucificado, dando
início à sua caminhada até o Calvário.
Marcos (15.25) informa que Jesus foi crucificado na “hora terceira” (09h00)
tempo judaico, de maneira que temos três
horas entre o final do julgamento e o momento em que Jesus é crucificado.
Os sinóticos (Mt 27.45; Mc 15.33; Lc 23.44) afirmam que quando Jesus está
na cruz, trevas cobriram todo o mundo, na “hora sexta” (12h00) no tempo
judaico.
Igualmente
eles concordam que foi na “hora nona” (03h00 [15h00]) que Jesus entrega seu
espírito e morre.
Conforme exposto acima torna-se possível conciliar as informações
dos quatro evangelistas. Todavia, há objeções consistentes a esta explicação:
em sua narrativa, João segue sempre o horário judaico e não romano (cf. 1.39;
4.6,52; 11.9); não há qualquer exemplo de que autoridades romanas tenham
realizado processos judiciais de madrugada, mas há documentos que afirmam o
contrário, por uma questão de princípio jurídico.
Ø Os evangelistas utilizam critérios
diferentes para dividir o dia
Esta
explicação, mais comumente aceita, é de que João e Marcos utilizaram critérios
diferentes para dividir as horas do dia. João usa a divisão de 12 horas
contando a partir do nascer do sol (1.39; 4.52; 11.9), enquanto Marcos divide o
dia em quatro partes: a manhã (cf. 15.1 [06h00 às 09h00]); a hora terceira (cf.
15.25 [09h00-meio dia]); a sexta hora (cf. 15.33 [meio dia às 03hs da tarde]);
a nona hora (cf. 15.34 [das 3hs às 6hs da tarde]). Desta forma, Marcos opta por
aplicar a divisão do dia em quatro partes conforme os romanos aplicavam para
dividir a noite (cf. Mc 13.35). Assim, Marcos coloca a crucificação de Jesus no
intervalo que vai das 09hs às 12hs da manhã, pensando no fim deste período;
enquanto João opta, conforme sua tendência narrativa, indicar especificamente o
momento da sentença condenatória, que teve foi próximo do meio dia.
Mas é
preciso lembrar que os escritores bíblicos não estão preocupados com os minutos
e segundos destes acontecimentos, de modo que nossas exigências cronológicas
rigorosas se tornam anacrônicas. O que eles querem deixar claro são os fatos: Jesus
foi condenado e foi morto na cruz, e isto é bem claro nos textos por eles nos
legados.
Portanto,
havendo essa conciliação das narrativas evangélica, podemos deduzir que Jesus padeceu
em torno de sete horas, antes de entregar seu espírito ao Pai.
Horário Moderno
9:00
= 0 horas
10:00 M = 1 horas
11:00 = 2 horas
12:00 = 3 horas
1:00 T = 4 horas
2:00 T = 5 horas
3:00 T = 6 horas
|
Horário no Tempo Bíblico
9:00
= 1 horas
10:00 = 2 horas
11:00 = 3 horas
12:00 = 4 horas
1:00 T = 5 horas
2:00 T = 6 horas
3:00 T = 7 horas
|
Me. ipg
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