A Repercussão
Mundial do Nascimento de Jesus
Continuamos nossa viagem
evangélica seguindo o roteiro oferecido por Mateus. Iniciamos a viagem
conhecendo os antecedentes genealógicos de Jesus Cristo onde se destacam os
dois personagens proeminentes da História israelita/judaica de Davi e Abraão,
nos indicando claramente que Jesus é legalmente descendente da linhagem
messiânica.
Na sequencia ele nos revelou algumas informações sobre o
nascimento de Jesus em que se destaca o cumprimento de profecias messiânicas, o
nascimento virginal e a figura significativa de José, que assim como a jovem
Maria teve uma visão angelical (em sonho) esclarecendo e orientando como ele
deveria reagir e como deveria proceder aos acontecimentos em curso, o que ele
fez com integridade.
Seguindo o roteiro de viagem elaborado por Mateus vamos nos
deparar com alguns personagens muito interessantes e misteriosos que vieram do
Oriente para oferecerem suas homenagens ao recém-nascido Jesus. Mas também
conheceremos um dos personagens mais hediondo das páginas evangélicas –
Herodes, o Grande.
O nascimento
de Jesus Cristo produz reações totalmente antagônicas: se os viajantes do
Oriente percorreram milhares de quilômetros para oferecerem suas ofertas de
gratidão pelo nascimento do tão esperado e desejado rei messiânico; por outro
lado Herodes fica não apenas perturbado, mas transtornado com a notícia, porque
para ele esse bebê representa tão somente um rival que têm pretensões ao seu
trono. Enquanto os gentios buscam a Jesus e se prostram em reconhecimento de
sua realeza, os moradores de Jerusalém (capital religiosa da nação) estão
completamente alienados de tudo quanto Deus está a fazer.
Vamos seguir nossa viagem!
Evangelho Segundo Mateus (NVI)
Capítulo 2.1-12
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Comentários
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Síntese da Perícope: A Repercussão Mundial do Nascimento de Jesus
Jesus
nasceu em Belém, ao sul de Jerusalém, nos dias do rei Herodes, o Grande, apesar
de ser um idumeu (edomita) foi nomeado pelo Senado Romano como rei da Judéia (37
a 4 a.C.) e apesar de seus grandes feitos ficou mais conhecido por sua
crueldade e paranoia. A ideia de um futuro rei nascer em seu território o
deixou transtornado, como veremos nesta perícope.
Vieram
"magos" [sábios] do Oriente que guiados por uma estrela chegaram a
Jerusalém, o lugar mais obvio para se encontrar um futuro “rei”.
Quando
Herodes ouviu falar de outro rei, ele ficou perturbado e começou procurar uma
maneira de eliminar esta "ameaça" ao seu poder.
Acionados
os sacerdotes e escribas de plantão no palácio real trouxeram informações
bíblicas (AT) aos magos, citando a profecia de Miquéias 5:2 sobre o
nascimento do Cristo na pequena e singela vila de Belém.
Herodes
astutamente se mostra interessado em também homenagear o rei-bebê. Os magos
foram até Belém e entraram na casa (não na manjedoura) onde o menino (não
mais um bebê) estava. Entre a manjedoura e a casa há um espaço aproximado de
dois anos. Mas alertados quanto as intenções reais de Herodes quanto ao
menino, os magos não voltaram para Jerusalém e não repassaram as informações
a Herodes.
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1. Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes,
magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém
2. e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus?
Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".
3. Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a
Jerusalém.
4. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da
lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo.
5. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o
profeta:
6. ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as
principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor,
conduzirá Israel, o meu povo’ ".
7. Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a
respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido.
8. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o
menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá
adorá-lo".
9. Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que
tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o
lugar onde estava o menino.
10. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo.
11. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e,
prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram
presentes: ouro, incenso e mirra.
12. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes,
retornaram a sua terra por outro caminho.
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Se
no capítulo 1 os
acontecimentos ficam restritos ao contexto pessoal e familiar, o capítulo 2 extrapola a esfera familiar e
as fronteiras geográficas, pois o nascimento de Jesus é “boas
notícias” para todos os povos.
Ele
nasce na pequena vila de Belém da Judéia, pois havia outra Belém na região
de Zebulom (Js 19.15), a oeste de Nazaré e, portanto na região da Galileia.
Mas esta indicação geográfica serve também para relaciona-la com a profecia
de Miqueias citada
em seguida. A palavra "Belém" significa "casa de pão" – pois
suas terras eram muito férteis. Também se chamava Efrata, uma palavra suposta
para significar fertilidade (Gn 35.19; Rt 4.11; Sl 132.6). Foi chamada a cidade de Davi (Lc
2.4), porque era a cidade de sua natividade (1Sm 16.1, 1Sm 16.18), mais uma
inferência de que Jesus vinha da descendência real messiânica, pois ele
precisava ser da tribo de Judá. A vila esta localizada cerca de oito a dez
quilômetros da capital Jerusalém.
A
expressão cronológica “nos dias do rei Herodes” insere Jesus no calendário
humano, pois o nascimento de Jesus não é um evento mitológico ou místico, mas
está completamente inserido no tempo-histórico. Como todo ser humano Jesus
fazia aniversário anualmente, conforme o calendário.
A
figura de Herodes
é uma das mais contraditórias em toda narrativa evangélica. Herodes
era de uma família de idumeus, convertidos ao judaísmo forçosamente por João
Hircano (período dos Macabeus) e assim fica evidente sua falta de apego ao
judaísmo, pois era um estrangeiro estabelecido por um Império estrangeiro
(Roma) e reinou por trinta e três anos.
Mateus
denomina os visitantes estrangeiros como sendo “magos” literalmente, "Magi"
ou "Magians",
provavelmente da classe instruída que cultivava astrologia (astronomia) e
ciências afins. Aparecem em um período primitivo como uma classe de
sacerdotes da Media e Persa e conhecido por serem zelosos observadores da
justiça e da virtude. O historiador Cícero os identifica como sendo “uma classe de
sábio e doutores da Pérsia” e Daniel foi contado entre os "homens sábios"
da Babilônia (Dn 2.48). enquanto exercia suas funções no Império Babilônico e
Medo/Persa. Mas como tudo se degenera após a queda da Babilônia os “magi”
passaram a serem necromantes e astrólogos e provavelmente essa é a visão que
Herodes tem deles ao recebê-los. Mas a postura e comportamento destes homens
sábios indicam que eram homens dedicados ao estudo das religiões sendo
possivelmente remanescentes judeus (ou influenciados por estes) que haviam sido
deportados para a Babilônia e posteriormente pelas cidades dos medos “e para
os países circunvizinhos” (cf.2Rs17.6; 1Cr 5.26; Et 1.1; At 2.9-11) e que
tinham visto a semelhança entre a "estrela" e a estrela
messiânica de Jacó, que Balaão havia profetizado (Nm 24.17). Por
outro lado, os judeus não mantiveram sua esperança messiânica escondida de
outros povos e também é fato comprovado de que entre outras populações havia
uma esperança da vinda de melhores coisas em relação a um grande Libertador
que viria. O evangelista não os identifica pelo nome e nem quantos eram.
Somente em séculos posteriores (V) que a Igreja Cristã começou a
classifica-los de reis à luz do Salmo 72 “os reis de Társis e das regiões
litorâneas lhe tragam tributo; (ao Messias)”. As pinturas nas catacumbas
cristãs (séc. II) os identificam como nobres persas. São identificados como
sendo três
por causa do número de presentes oferecidos, mas o numero deles são
variáveis nas pinturas das catacumbas e antigos monumentos cristãos: dois (sec.
III); quatro
(sec. IV) e às vezes o número de seis e até doze em
representações nas comunidades sírias e armênias. Os nomes são dados apenas
nos séculos VII e VIII, portanto desprovidos de autenticidade. A ênfase
evangélica não está nos magos, mas no que vieram fazer: “adorá-lo”,
se “prostrar”
reconhecendo sua autoridade.
Os
visitantes orientais vão procurar o bebê na capital e no palácio, visto
identifica-lo como “rei”. A expressão “rei dos judeus” (2.2) na boca
destes sábios abre o parêntese que se fechara no final desta narrativa
evangélica na tabuleta da cruz (27.37) “rei dos judeus”. Entre a
primeira e a segunda referência temos a história desse Rei dos Reis. Ao
chegar aos ouvidos de Herodes ele fica completamente transtornado, pois
identifica a criança como ameaça ao seu trono. Imediatamente ele convoca os
líderes religiosos judaicos e exige que descubram onde essa criança haveria
de nascer.
A informação é extraída das profecias de Miqueias (5.2;
e a segunda linha cf. IISm 5.2) que foi proclamada aproximadamente 700 anos
antes do nascimento de Jesus. De todos os lugares em Israel, a pequena aldeia
de Belém Efrata foi escolhida como o lugar onde Jesus nasceria. Ele não será
um rei déspota, mas um rei pastor, que cuidará e suprira as necessidades
de seu povo.
Astutamente
Herodes ao passar a informação aos visitantes simulando um interesse de
também homenagear a criança-rei.
Ao
saírem do palácio os visitantes reavistaram a “estrela” que os havia
conduzido antes e a seguiram. Os céticos de plantão sempre menosprezam o
sobrenatural das narrativas bíblicas e evangélicas, mas Deus se comunica por
todos os meios para revelar sua vontade – natural (estrela) e especial
(profecia).
Finalmente
a jornada deles termina – a estrela para sobre a casa onde o menino tão
procurado mora. A visita dos sábios não aconteceu ao mesmo tempo da visita dos
pastores (veja Lucas 2). Os magos chegam quase dois anos mais tarde. O
casal José e Maria com Jesus já estavam numa casa. Ao entrarem se prostram e
oferecem seus presentes ao menino-rei. O termo “adorar” utilizado não indica
que eles tivessem consciência de que esse menino fosse divino. As ofertas
ouro, incenso e mirra nas interpretações alegóricas são sempre relacionados
especificamente em referência a Deus, todavia cada uma delas aparece
igualmente nas Escrituras com outras finalidades. O que importa aqui é o ato
dos visitantes orientais e sua postura diante do menino reconhecendo sua
realeza.
Orientados
em sonho (como
José) por Deus os sábios retornam para sua terra por um caminho que evita
Herodes. Seus corações estão repletos de alegria e jubilo, pois sua jornada
foi completada.
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Conclusão Geral da Perícope 2.1-12
v
Como ocorreu na genealogia aqui
novamente Mateus quer deixar bem claro que ainda que a mensagem de salvação
evangélica tenha suas origens entre os judeus, ela nunca foi restrita a eles,
pois desde sempre a salvação através de Jesus Cristo era para todos os povos
(aliança abraamica) e Mateus conclui sua narrativa com a Grande Comissão deixada
por Jesus aos seus discípulos. E se Jerusalém, representados por suas
lideranças religiosas, foi ignorante e hostil, houve gentios vindos do
distante Oriente atraídos por sua vinda e que o reconheceram como o Rei dos
Judeus. Que terrível condenação para os líderes religiosos de
Jerusalém! Os pastores (Lc 2) contemplaram seu nascimento após poucas
horas; os visitantes do Oriente o contemplaram em um tempo posterior, mas
os líderes religiosos de Jerusalém estavam completamente cegos em relação a
tudo que Deus estava fazendo; enquanto Deus inaugura um Novo Tempo (graça) o
judaísmo com todas suas subdivisões permanecem arraigados em seus próprios
interesses e projetos de poder. Deus
falou com estes estrangeiros, primeiro por uma estrela, em seguida, um sonho,
mas aos arrogantes de Jerusalém apenas o silencio. João vai resumir bem a
situação dos judeus em relação a Jesus: “Veio para os seus, mas os seus não o
receberam”. Eles estavam no estado descrito por Malaquias, alienados
de Deus. No Brasil vivemos dias semelhantes, pois quanto mais se lotam os
templos, mais alienados as pessoas estão de Deus. A familiaridade com as
questões religiosas produz em alguns casos uma funesta tendência a produzir
menosprezo pelas coisas espirituais. A famigerada “teologia da prosperidade”
tem afastado milhares de cristãos da genuína espiritualidade evangélica e
fixando os olhos e corações naquilo que é temporal e passageiro em detrimento
daquilo que é eterno. Assim como os religiosos de Jerusalém não puderam “ver”
Jesus naqueles primeiros dias, assim também os lideres cristãos brasileiros
estão cegados pela cobiça e encantos deste mundo e não podem “ver”
Jesus hoje. Assim como o Templo representava toda a dureza dos corações daqueles
religiosos judaicos, os atuais “Templos” erigidos ao custo da exploração dos
neófitos e ignorantes, apenas manifestam a arrogância e prepotência dos
líderes cristãos evangélicos no Brasil atual. Parafraseando as palavras de
Jesus: “Naqueles
dias muitos dirão: em teu nome construímos grandiosos e ricos Templos e
Catedrais; mas Jesus lhes dirá: Não vos conheço!”.
v
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Utilização livre desde
que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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