Uma das características da narrativa
desenvolvida pelo evangelista Marcos é a capacidade que ele tem de apreender detalhes que
seus colegas sinóticos,[1] Mateus e Lucas, na
maioria das vezes são mais econômicos.
Incrustado entre seus dois companheiros mais volumosos[2] Marcos nos cativa justamente pela plasticidade de seu texto[3] repleto de nuanças que torna prazerosa e fascinante a leitura de seu relato evangélico. Ele faz o leitor sentir-se parte do que esta acontecendo - uma espécie de "você estava lá." Podemos dizer até que Marcos desenvolve uma Leitura em Terceira Dimensão - onde o leitor sente-se VENDO e PARTICIPANDO dos acontecimentos como se estivesse presente.
Incrustado entre seus dois companheiros mais volumosos[2] Marcos nos cativa justamente pela plasticidade de seu texto[3] repleto de nuanças que torna prazerosa e fascinante a leitura de seu relato evangélico. Ele faz o leitor sentir-se parte do que esta acontecendo - uma espécie de "você estava lá." Podemos dizer até que Marcos desenvolve uma Leitura em Terceira Dimensão - onde o leitor sente-se VENDO e PARTICIPANDO dos acontecimentos como se estivesse presente.
Uma destas peculiaridades é a forma com
que Marcos descreve para nós o olhar de Jesus em
algumas ocasiões (cf. 3.5, 34; 10.23; 11.11). Vejamos, a título de
exemplo, uma destas passagens:
Mc 3.5 - "Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada."
Mc 3.5 - "Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada."
A forma com que Marcos registra é tão vívida que nos
possibilita como que vermos o que e como Jesus esta vendo aquela
cena. Uma tradução mais literal seria: "e tendo olhado ao
redor para eles" e que será semelhante à forma com que Jesus vai olhar
também para os seus próprios discípulos.
Este olhar de indignação não é de
condenação, mas de um anelo para que aquelas pessoas pudessem
entender quais realmente são as coisas mais importantes e aquelas que são
secundárias.[4] Jesus em alguns minutos vai restaurar a mão
ressequida de um homem, que, portanto, de uma pessoa inútil para
o trabalho e para o sustento de sua vida e da família, tornar-se-á uma
pessoa útil para viver plenamente sua vida. Mas a
reação de parte daqueles que estavam olhando esta mesma cena
será de completa reprovação e violência, pois ao saírem
começam a planejar a morte de Jesus (3.6).
Antes de curar aquele homem e libertá-lo de sua
incapacidade de viver plenamente, Jesus olha para aquelas
pessoas que entrincheiradas em sua religiosidade haviam perdido completamente a
sensibilidade para com o próximo.
Ao olhar ao redor Jesus é tomado por
uma profunda indignação pela insensibilidade deles. Mas diferentemente da
nossa ‘indignação' que normalmente é transformada em ações duras e
implacáveis, a de Jesus é totalmente revestida por uma tristeza
misericordiosa e amorosa,[5] pois Jesus sabia que a dureza do
coração dele[6] era decorrente de uma espiritualidade distorcida,
permeada pela insensibilidade e obstinação.
Os tempos verbais utilizados por Marcos
nos dão a idéia de que o olhar indignado de Jesus foi momentâneo,
desvaneceu-se rapidamente, enquanto que seu olhar triste(misericordioso)
foi continuo, ou seja, permaneceu. Em sua experiência pessoal com
Deus o salmista declara: "Pois a sua ira só dura um instante, mas
o seu favor dura a vida toda;" (Sl 30.5). Esta continua sendo a
experiência de todo crente.
O Evangelho de Jesus é muito mais
do que um amontoado de preceitos e normas - é vida. O nosso olhar
de indignidade para com aqueles que não compreendem como compreendemos
e que não defendem os mesmos valores que nós defendemos jamais podem nos cegar a
ponto de incapacitar de olharmos continuamente pelo prisma da misericórdia e do
amor - que é a forma permanente com que Jesus olha para nós.
Antes de nos entregarmos à nossa "justa
indignação" é preciso nos perguntar: estamos
indignados, olhando com os olhos de Jesus, ou manifestando nosso preconceito religioso
ou uma atitude profundamente egoísta?
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
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1976.
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1960.
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Judith Menga. São Paulo: Vida Nova, 1999. [Série Cultura Bíblica].
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_______________________________
[1] A palavra "sinótico" (synoptico)
vem do grego synoptikós de synopsis (syn, com +ópsis, visão) e
significa ‘o que tem a mesma visão, ou mesma perspectiva'.
Veja mais sobre este assunto - http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/152863/SINOTICOS-INTRODUCAO/
[2] Nas versões em português Lucas tem 40 páginas, Mateus 37 e Marcos 23; Lucas possui cerca de 1.147 versículos, Mateus tem 1.068, enquanto que Marcos possui quase metade disso, apenas 661 versículos.
[3] A palavra ‘texto' vem do latim ‘tecer' de maneira que o escritor vai tecendo sua história e/ou narrativa. No caso particular de Marcos sua "tapeçaria" trás múltiplas tonalidades e cores tornando seu texto vivido e atrativo de maneira que encanta e fascina seus leitores.
[4] A ira de Deus descreve o desagrado de Deus em relação à maldade humana, mas sempre esta vinculada a um apelo à mudança ou arrependimento (Dt 9.7,8, 22; Is 60.10; Sl 6.1; 38.1).
[5] O particípio "profundamente entristecido" (syllypoumenos), usado somente aqui no NT, é a forma intensiva do verbo "ser triste ou chorar."
[6] O "coração duro" (melaphor) sugere que as pessoas fecharam-se a palavra de Deus(Ez 3.7, Atos 28.27; Rom 2.5), que também descreve os discípulos em 6.52 e 8.17.
[2] Nas versões em português Lucas tem 40 páginas, Mateus 37 e Marcos 23; Lucas possui cerca de 1.147 versículos, Mateus tem 1.068, enquanto que Marcos possui quase metade disso, apenas 661 versículos.
[3] A palavra ‘texto' vem do latim ‘tecer' de maneira que o escritor vai tecendo sua história e/ou narrativa. No caso particular de Marcos sua "tapeçaria" trás múltiplas tonalidades e cores tornando seu texto vivido e atrativo de maneira que encanta e fascina seus leitores.
[4] A ira de Deus descreve o desagrado de Deus em relação à maldade humana, mas sempre esta vinculada a um apelo à mudança ou arrependimento (Dt 9.7,8, 22; Is 60.10; Sl 6.1; 38.1).
[5] O particípio "profundamente entristecido" (syllypoumenos), usado somente aqui no NT, é a forma intensiva do verbo "ser triste ou chorar."
[6] O "coração duro" (melaphor) sugere que as pessoas fecharam-se a palavra de Deus(Ez 3.7, Atos 28.27; Rom 2.5), que também descreve os discípulos em 6.52 e 8.17.
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