É sempre difícil estabelecer qual é a estrutura de um
evangelho. Continuamente aparecem novas propostas de divisão do Evangelho que
se sobrepõem e até mesmo tornam-se conflitantes entre si, o que torna quase
impossível estabelecer um consenso sobre a importância destes esforços dos
estudiosos.
Mas quando examinamos a narrativa inteira de Mateus é
possível detectar ao menos quatro modelos estruturais:
Modelo dos Cinco Discursos: Vários estudiosos caminham junto com B. W. Bacon em que
Mateus estrutura seu evangelho em cinco grandes discursos e/ou seções e que
cada um destes discursos é precedido de uma narrativa e por esta razão ele
propõe a divisão do Evangelho em cinco livros:
1º Livro Narrativa
caps. 3-4 Discurso caps.
5-7 (Sermão da Montanha)
2º
Livro Narrativa caps. 8-9 Discurso cap. 10 (Missão dos Apóstolos)
3° Livro Narrativa
caps. 11-12 Discurso cap. 13 (Sermão
sobre o Reino)
4º
Livro Narrativa caps. 14-17 Discurso cap. 18 (Sermão Comunitário)
5º Livro Narrativa
caps. 19-22 Discurso caps. 24-25
(Sermão Escatológico)
Desta forma os caps. 1 e 2 tornam-se um preâmbulo
e os caps. 26-28 um epílogo.
Para Bacon a intenção de Mateus, ao estruturar desta forma seu trabalho, era
fazer uma ligação direta com os Cinco Livros de Moisés e demonstrar que Jesus
era aquele que veio para Cumprir toda a Lei.
Modelo Quiástico: Os defensores desta estrutura parte do costume dos
escritores do AT em utilizar esta forma literária tanto na
poesia quanto na prosa. A ideia é de enfatizar o ensino mais
importante, colocando-o no centro da narrativa ou da poesia. O exemplo
abaixo coloca como centro o cap. 13, mas outros colocam o cap. 14 ou o cap.
11.
1)
1-4, Nascimento – começo da atividade do Messias
2) 5-7, bem-aventuranças – promulgação do
Reino
3) 8-9, autoridade do Messias e
convite ao Reino
4) 10, discurso da
missão
5) 11-12, o
Messias rejeitado
6) 13, parábolas do Reino
5) 14-17, o
Messias reconhecido pelos seus
4) 18, discurso
eclesial
3) 19-22, autoridade do Filho do
Homem e convite ao Reino
2) 23-25, maldições – realização do Reino
1)
26-28, morte, ressurreição, novo começo
Esta forma de estruturar a narrativa coloca como tema
central o Reino de forma que tudo antes e depois realçam essa temática.
Modelo Geográfico: Os defensores desta estrutura partem da grande cisão
existente entre cap. 16,20 e 16,21 –
logo após a declaração de Pedro de que Jesus é o Messias, o evangelista
declara: “A partir deste tempo, Jesus começou a mostrar aos seus
discípulos...” (16,21). Esta frase nos reporta ao cap.
4,17 “A partir deste momento, começou Jesus a pregar...”.
Assim, a narrativa divide-se em duas partes principais: o
ministério de Jesus na Galileia e a sua viagem para
Jerusalém. Muitos chamam de “modelo marcano”, pois coincide bastante com
o modelo proposto por Marcos. Todavia, essa estrutura acaba por deixar de lado os
diversos marcadores literários que Mateus estabeleceu.
Modelo Cristológico: Vários estudiosos entendem que Mateus se estrutura no
tema cristológico utilizando três grandes seções: caps. 1.1-4.16
– A Pessoa de Jesus, o Messias; caps. 4.17-16.20 – A Proclamação de Jesus, o
Messias; caps. 16.21-28.20 – Sofrimento, Morte e
ressurreição de Jesus, o Messias. O referencial literário é que ao final das duas
primeiras divisões aparece a expressão “desde esse tempo” marcando um avanço na
narrativa da história.
Conclusão
Nenhum esboço e/ou esquema poderá fazer justiça a esta
preciosa obra escrita por Mateus, mas pelo menos nos ajudam a perceber a
multiplicidade dos detalhes e a grandiosidade da obra completa.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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NT
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