Mateus nos apresentou a linhagem messiânica
de Jesus e fez questão de incluir algumas mulheres, o que não era comum, bem
como estrangeiros, o que era ainda mais controverso, pois deseja realçar que o
novo Rei e no seu Reino não haveria qualquer descriminação ou distinção, pois
seus cidadãos viriam de todas as tribos, povos e raças e todos seriam tratados como
cidadãos de primeira classe.
Vimos também que Mateus modifica o
refrão da genealogia "que gerou...que gerou...” que se aplica a todos
os descendentes, mas quando chega em José ele diz “marido de Maria, da
qual nasceu Jesus” indicando assim que José não teve participação ativa
na geração da criança.
Agora o evangelista vai nos esclarecer
alguns detalhes sobre o nascimento de Jesus do ponto de vista de José: como ele
tomou conhecimento destes acontecimentos e como ele reagiu diante desta
situação. E aqui temos um diferencial em relação às narrativas de Lucas, pois
predomina a figura de José enquanto Maria fica mais passiva no desenvolver desta pequena perícope.
Continuaremos nossa viagem
utilizando o mesmo formato de roteiro: na coluna da sua esquerda teremos o texto
evangélico e na coluna da sua direita alguns comentários sucintos que nos possibilitam
uma compreensão melhor do registro feito por Mateus.
Boa viagem!
Evangelho Segundo Mateus (NVI)
Capítulo 1.18-25
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Comentários
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Síntese da Perícope: O Nascimento do Rei
Jesus para
se tornar nosso representante legitimo necessitava entrar neste mundo da mesma
forma que todas as pessoas, isto é, por nascimento. Entre milhares coube
a José e Maria (ambos descendentes da linhagem davídica) o privilégio de
serem os meios para que esse nascimento torna-se realidade. A genealogia
termina com a “não” paternidade de José e agora esclarece os leitores do “porque”.
“Antes de coabitar com José, pois estavam noivos, Maria achou-se gravida de
um filho por meio do Espírito Santo”. Sendo um homem justo (piedoso) e depois
de ser esclarecido através de sonho de que Deus está no controle desses
acontecimentos, não hesita mais em tomar Maria como esposa e quando a criança
nasce dá-lhe o nome de Jesus, conforme havia sido orientado. Mateus vai
interpretar as palavras de Isaias (7.14) como se cumprindo no nascimento de
Jesus. O restante da mensagem evangélica de salvação do pecador fica
dependente do nascimento sobrenatural de Jesus!
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18 Foi assim o
nascimento (Lucas 1.27-38) de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava
prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se
grávida pelo Espírito Santo.
19 Por ser José,
seu marido, um homem justo [Gn 6.9; Sl 112.4-5; Mc 6.20; Lc 2.25; Atos 10.22],
e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento
secretamente.
20 Mas, depois de ter
pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: José,
filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi
gerado procede do Espírito Santo.
21 Ela dará à luz um
filho, e você [José] deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados.
22 Tudo isso aconteceu
para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta:
23 “A virgem ficará
grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel”, que significa “Deus
conosco”.
24 Ao acordar, José
fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua
esposa.
25 Mas não teve [ele]
relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele [José]
lhe pôs o nome de Jesus.
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Além de Jesus o personagem relevante na perícope é José, ficando Maria em segundo plano.
Mesmo não sendo o pai biológico de Jesus, antes de a mariologia ser
estabelecida, a figura de José era diretamente relacionada com o menino. Ele é
identificado como “justo” uma característica do crente do AT.
Mateus sabe que seus leitores judeus se identificam muito mais com José [o direito legal ao trono de Davi] do que
com Maria e além da sua genealogia o evangelista destaca o fato de que Deus
falou diretamente com José por meio de seu mensageiro angelical. O
carpinteiro José é um instrumento de Deus, assim como Maria, na realização de
seu propósito salvador através de Jesus.
O “noivado” de José e Maria, diferente da nossa
cultura ocidental moderna, era tratado como um “contrato de
casamento”, quão e seria efetivado na noite de núpcias. Por está razão
José preocupa-se em dar cobertura à situação de gravidez de Maria, pois ela
poderia ser condenada como adultera e ser apedrejada, conforme a Lei
estabelecida.
Através de um mensageiro angelical Deus tranquiliza o coração
angustiado de José. Ele é lembrado das profecias messiânicas, que agora
haverão de serem cumpridas na vida da criança que está sendo gerada em Maria.
O menino é o “Emanuel” (Deus conosco), a entrada definitiva
de Deus na humanidade (encarnação).
A partir deste ponto José não tem mais nenhuma dúvida do que Deus esta
realizando através de suas vidas. Recebe Maria como sua esposa e tem o
privilégio de colocar o nome na criança – Jesus (Jeová é a
salvação).
Mateus utiliza-se da profecia de Isaías
(7.14). A discussão se faz em relação ao significado
da palavra hebraica “almah”. Os
que rejeitam o nascimento virginal a traduzem por
“mulher jovem” e os que defendem
a traduzem por “virgem”, o que coaduna efetivamente com o
contexto evangélico. Além da questão linguística o debate envolve a questão
da fé, de maneira que milhares de páginas não alteraram as opiniões de ambos
os lados da questão.
Emanuel – O nome nas narrativas bíblicas vai muito além de uma mera
identificação pessoal, ele indica o caráter e o propósito para
o qual Deus trouxe à vida. Isaías relaciona o Emanuel com “maravilhoso,
conselheiro, Deu forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz” (9.6). O
evangelista João vai abrir sua narrativa com uma
declaração semelhante: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio
de graça e verdade, e vimos sua glória como do unigênito do Pai”
(1.14). Para o apóstolo Paulo Jesus é Deus “manifestado
na carne” (1Tm 3.16) e “Nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade” (Cl 2.9). Nenhum judeu e particularmente Paulo “fariseu de
fariseu” e, portanto monoteísta radical faria tais declarações se não estivesse
plenamente convencido de que Jesus Cristo é o “Deus conosco”
e o cumprimento das profecias messiânicas.
O nascimento virginal de Jesus é a única forma
de resolver a questão do pecado humano. Para nos salvar precisávamos de um
representante plenamente humano, mas também sem pecado – somente
Jesus Cristo cumpre essas duas exigências – ele é plenamente humano,
pois nasceu de Maria e plenamente divino, pois foi fecundado pelo Espírito
Santo, sem a participação masculina e desta forma livre da natureza adâmica pecaminosa.
Aqui temos duas mensagens proféticas: a esperança “ele
será chamado pelo nome de Emanuel [Deus conosco]” e a realização “lhe
porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”.
Diferentemente de Lucas que nos trás detalhes sobre como Jesus nasceu,
Mateus conclui sua perícope de forma curta e direta, mas não sem conteúdo. “ele [José] não a [Maria] conheceu [relacionamento sexual/conjugal] até que ela
deu à luz um filho.” Em nenhum momento o texto oferece qualquer indicação
que José e Maria não conviveram como um casal normal após o nascimento de
Jesus. A perpetuidade da virgindade de
Maria é uma ideia forjada fora dos textos evangélicos e, portanto desautorizada
e espúria.
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Conclusão Geral do Capítulo 1
v A narrativa de Mateus é prosaica e simples, destituída de tom poético
e sem qualquer esforço em criar um ambiente fantástico ou mítico. Fala de
eventos extraordinários sem qualquer estardalhaço. Sua narrativa é histórica,
simples e objetiva de maneira que seu conteúdo comunica o que é necessário e
deixa de lado o que pode vir a ser subterfugio informativo.
v Mateus não informa datas e lugares específicos dos acontecimentos
narrados. Os personagens são apresentados sem qualquer explicação previa,
como se todos eles fossem considerados familiares para seus leitores. Isso
nos leva a pensar que escreve pensando nos leitores cristãos judeus, cujos
fatos, pessoas e lugares mencionados lhes são bem conhecidos.
Ele parece escrever como que para relembrar e registrar
mais do que para informar seus leitores.
v Desde seus dois primeiros capítulos, Mateus vai tecendo sua narrativa de
maneira a integrar os fatos relacionados a Jesus e as profecias contidas no
Primeiro Testamento, pois seu objetivo e demonstrar a messianidade de
Jesus. Ele tem o cuidado de nos informar que esses eventos, por ele
registrados, aconteceram para o propósito (além de todos os outros fins)
de cumprir as mensagens dos profetas do Primeiro Testamento. O Segundo
Testamento nasceu a partir do Primeiro, de maneira que o Evangelho
está contido na Lei. A antiga dispensação (Lei) é apenas uma
preparação para a nova dispensação (Graça). A conclusão de Mateus é
que o verdadeiro judeu (piedoso/crente) à luz de tudo que
envolveu Jesus se tornará um cristão.
v Ainda que Mateus não explicite datas ele
oferece fortes indícios da época histórica que os eventos ocorreram. As referências
a Herodes e Arquelau, nos permite precisar com certa convicção o tempo do
nascimento de Jesus Cristo. Ele nasceu durante a vida de Herodes o Grande, e
não muito antes de sua morte. Herodes morreu no ano de Roma 750 pouco antes
da páscoa (cf. Josephus, Ant., b. 17, ch. 8, sec. 1; ib., b.17, ch. 9, sec. 3).
Isso foi verificado calculando o eclipse da lua, que aconteceu pouco antes da
morte dele; (Jos., Ant., b. 17, ch. 6, sec. 4. Ideler, Handb. of Chronol.,
vol. ii, p. 391 sq.) Se relacionarmos o tempo da circuncisão, a visita dos Magos
do Oriente, a fuga para o Egito, e o tempo da morte de Herodes, conclui-se
que o nascimento de Cristo não pode ser fixado muito depois do outono do ano
romano de 749.
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Utilização livre desde
que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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– Introdução Geral
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