O
quarto evangelho é distinto dos primeiros três denominados de sinóticos (Mt, Lc
e Mc). João foi o último dos apóstolos a morrer e seus escritos foram
produzidos no final do primeiro século. As perguntas que estão sendo levantadas
nesse momento são distintas daqueles que seus colegas se propuseram a responder
em período anterior. Um dos propósitos deste evangelho é demonstrar a divindade
de Jesus Cristo, o que fica evidente desde seus prologo de abertura onde ele
relaciona Jesus Cristo como sendo o Verbo/Palavra que sempre existiu desde a
eternidade e que participa efetivamente na criação e sustentação do Mundo.
Neste artigo vamos acompanhar no transcorrer da narrativa como o evangelista
desenvolve uma cristologia consistente e inteligível aos seus primeiros
leitores e a todos que se dispõe a estuda-lo com acuidade e fé.
Unigênito
do Pai
Jesus
Cristo não é um filho de Deus, mas
ele é o Filho de Deus. Jesus é único
(unigênito), pois tem a mesma natureza do Pai e do Espírito sem qualquer
distinção em poder e glória (Hb 1.3). Jesus é a plena e definitiva revelação do
Pai (2 Co 4.4; Gl 1.15).
Para o
evangelista não há qualquer dúvida da filiação divina de Jesus quando declara que
é o “unigênito" "monogenes"
"o Filho unigênito" –“monogenes Zeos”
(Jo 1.14 e 18) igual [em todos os atributos] ao Pai, e desde toda a eternidade
esteve "no seio do Pai". Jesus
é o "Filho de Deus" (Rm 1.3),
"o Filho do seu amor"
(Cl 1.13), o seu amado no qual o Pai tem toda sua satisfação (Mc 1.11; 9.7). O Pai,
que nunca foi visto por olhos humanos é dado a conhecer através do Filho que
desde a eternidade compartilha da intimidade do Pai (1.1) e o tem visto (6.46)
e vem da parte dele (7.29; 16.28); Jesus é aquele que fala da parte de Deus (3.34;
12.49-50; 14.24; 17.8.14). Por esta razão, somente ele está qualificado para
revelar plenamente quem é Deus e como é Deus. "Deus
nunca foi visto por alguém. O Filho [Deus] unigênito, que está no seio do Pai, esse
o revelou" (1.18).
Idêntico
e Imanente
O centro
de gravidade da cristologia joanina repousa sobre a unidade do Pai e do Filho.
Aqui estão apenas alguns textos: "Eu e o Pai somos
um" (Jo 10.30) onde a expressão grega neutra indica que o Pai e
o Filho é uma unidade perfeita. Eles têm a mesma
natureza, o mesmo conhecimento, as mesmas vontades. A unidade de todos os
crentes, um dos princípios basilar da Igreja como testemunho evangelístico, é
um paradigma ideal da unidade do Pai e do Filho: "Para
que todos sejam um, como nós somos um” (Jo 17.11). Uma vez que eles
são idênticos, conhecer o Filho é conhecer o Pai (Jo 14.7) e, se ignorarmos o
Pai também ignoramos o Filho. Quem vê o Filho vê o Pai (Jo 14.9). E aquele que
odeia o Filho odeia o Pai (Jo 15.23). A rejeição e hostilidade do mundo contra
Jesus Cristo, em última análise uma hostilidade contra seu Pai, contra Deus (Jo
8.31-59). Da mesma forma que o Filho conhece o Pai é conhecido por Ele (Jo 10.15).
Isto implica o conhecimento recíproco e é um mistério que liga e unifica de
modo que o Filho encarnado se identifica como sendo o "EU SOU" (João 8.24, 28), até então
reservado exclusivamente para o Deus Pai (Is 43.10,12,13; Ex 3.14). Há uma interpenetração
entre os dois de tal maneira que podemos afirmar que o Filho vive no coração do
Pai e que o Pai no coração do Filho. Um está no outro e esta imanência mútua é
bem atestada: "Eu estou no Pai e
o Pai está em mim" (Jo 14.11). "O
Pai está em mim e eu nele" (10.38; 17.21). "... estou em meu Pai, vocês em mim, e
eu em vocês" (14. 20). Esta imanência tripla do Pai, do
Filho e dos filhos (crentes), se expressa na alegoria da videira (Jo 15.1-7). O
Pai é o agricultor, o Filho é a videira e os filhos (crentes) são os ramos. A videira
é existencialmente ligada ao agricultor e os ramos são vitalmente ligados à
videira. No pleroma o Filho está no Pai, há um sentido passivo, ele está cheio
de Deus, e, ao mesmo tempo, há um sentido ativo, na vida dos crentes, a
Plenitude da Igreja.
Enviado
pelo Pai
Jesus
reivindica que veio a este mundo como o enviado do Pai (Jo 5.36, 6.57, 10.36). Que
o Pai age nele e através dele. "O que o Pai faz, o
Filho também faz" (Jo 5.19). Quem o enviou está sempre com ele
(Jo 8.4, 28). Ele veio como um enviado divino e por isso é necessário aceitar e
crer nele (Jo 6.29). Tudo quanto ele faz e fala vem da parte do Pai, pois Ele
não fala por si próprio, mas expressa a voz do Pai: "Esta
doutrina não é minha, mas daquele que me enviou" (Jo 7.6).
"Eu não falo por mim mesmo, o Pai me
ordenou o que eu tenho a dizer e ensinar" (Jo 12.49). O Mensageiro
executa uma função e não pode extrapolar a sua missão e suas funções. Afirma que
ele e o Pai são um e ao mesmo tempo diz que "o
Pai é maior" do que ele (Jo 14.28). Esta não é uma
inferioridade ou subordinação do Filho do Pai, no sentido de que ele é uma
criatura, como pensava e ensinava os arianos. Ele é enviado pelo Pai e "o enviado maior do que aquele que o enviou” (Jo
13.16), pelo contrário, é dependente daquele que o envia, e deve se sujeitar a
ele para cumprir a sua missão para ele seja glorificado e conhecido. Somente
neste sentido o Filho é inferior ao Pai.
A Vontade do Pai
Jesus é o Filho perfeito, absolutamente entregue ao Pai, no amor, na
obediência e fidelidade. Faz o que o Pai lhe ordenou (Jo 14.31), seu alimento é
fazer a vontade do Pai (4.34); "Eu desci do céu
não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou"
(6.38), "Eu sempre faço o que lhe [Pai] agrada"
(8.29). Ele é um juiz que "ouve" o Pai e pronuncia seu julgamento
depois de ouvi-lo: "e o meu juízo é
justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (5.30).
E seu julgamento não é apenas condenatório pois "Deus
não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para salvá-lo"
(3.17). Ele fez a vontade do Pai até o fim, bebendo todo o cálice que tinha
recebido do Pai (18.11). "Ele deu a si mesmo
por nossos pecados ... de acordo com a vontade de nosso Deus e Pai"
(Gl 1.4). Não admira que um de seus útlimos brados na cruz foi a declaração:
"Está consumado" (Jo 19,
30). Ele fez toda a vontade do Pai.
A Revelação do Pai
Jesus é a Palavra última e definitiva do Pai, a Palavra que se fez carne
(Jo 1.14). Somente ele pode revelar a intimidade de Deus plenamente, porque “tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”
(15.15). Ele é aquele que manifesta e revela o Pai, “se
vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai” (Jo 8,
19). Ele utiliza as parabolas, todavia haverá o tempo (após sua morte,
ressurreição e exaltação) em que todos verão o Pai (Jo 16.25), de forma aberta,
com liberdade absoluta. Jesus mesmo haverá de abrir as mentes de seus
discipulos para que possam alcançar a plena verdade e entender o mistério de
Deus Pai (10.30).
O Representante Legal do Pai
Jesus é o plenipotenciário. Ele é revestido da autoridade do Pai, pela
qual ele fala (Mc 1.22-27), não como os escribas que ensinam apenas repetindo o
que os outros haviam dito. Jesus inumeras declara muitas vezes: “Eu vos tenho dito” de maneira que seus
ensinos tem autoridade nele. O Pai lhe
confiou todas as coisas e toda a sua autoridade. E a maior manifestação da
vontade do Pai é que "todos os homens
sejam salvos" (1 Timóteo 2.4). E essa salvação será manifestada
a todo o mundo, porque para isso o Pai tem lhe dado "todo
o poder no céu e na terra" (Mt 28, 18).
O caminho para o Pai
"Eu vim do Pai e entrei no mundo, agora
deixo o mundo e retorno para o Pai" (Jo 16.28). Com estas
palavras, Jesus faz uma dupla afirmação quanto a sua existência na eternidade e
sua encarnação no tempo. Tendo completado sua missão, ele pode dizer: "Eu vou para o Pai" (14.12). Mas estas
palavras não são indicam o fim de suas atividades, mas o início de uma nova atividade
agora glorificado "ao lado do Pai,
sempre vivo para interceder por vós" (Heb 7.25). Ele é o nosso
advogado junto ao Pai (1 João 2.1). Na passagem de João (14.4-11), a palavra
"pai" aparece dez vezes e
sempre em torno da idéia de que Jesus é o único caminho para o Pai: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"
(14.6). Somente Ele é o caminho que leva à verdade e a vida que estão no Pai;
Ele é o caminho, a verdade, isto é, a Palavra de Deus revelada por Ele, conduz
à vida é ao Pai; Jesus é o caminho, porque é a verdade e a vida. A melhor
tradução seria esta: "Eu sou o
verdadeiro caminho que conduz à vida". Somente ele é o único mediador entre
o Pai e nós, a divina ponte de ligação da humanidade com o Criador. "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).
E ninguém vem ao Pai senão por meio de Jesus Cristo e ninguém pode ir a Jesus
Cristo, a não ser que o Pai o leve (Jo 6.44).
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bíblicas
BARCLAY, William. El Nuevo Testamento, v.
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BONNET, Luis y SCHROEDER, Alfredo. Comentário
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