segunda-feira, 17 de julho de 2017

Parábolas: a Criação e as Nossas Atividades Corriqueiras Revelam Deus


A opção de Jesus de ensinar utilizando-se do método parabólico é inspirada no mesmo método pelo qual se revelou para a humanidade. Para que pudesse ser conhecido por nós ele se revestiu ou assumiu a nossa humanidade e viveu entre nós. A sua Divindade foi revelada na sua Humanidade e a sua glória foi revestida por seu corpo humano. Deste modo o desconhecido pôde ser apreendido pelo conhecido, e as coisas celestiais manifestadas nas coisas terrenas - Deus se fez humano.
O mesmo vai ocorrer com o ensino de Cristo: o invisível será ilustrado pelas coisas visíveis e as verdades divinas serão disponibilizadas a todos através dos fatos corriqueiros da vida comum das pessoas de seus dias. A Escritura nos diz que “Jesus falou todas estas coisas à multidão por parábolas. Nada lhes dizia sem usar alguma parábola, cumprindo-se, assim, o que fora dito pelo profeta: Abrirei minha boca em parábolas, proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo” (Mateus 13.34,35). Ele usou as cenas da natureza e da vida comum de seus ouvintes para ilustrar verdades espirituais contidas nas Escrituras (AT). Na medida em que Jesus vincula os reinos animal e natural para ilustrar o mundo espiritual, seus ensinos parabólicos tornam-se um elo que une o homem a Deus, e a terra ao céu.
Ao tomar suas parábolas da natureza, Jesus estava usando coisas que ele próprio tinha criado e nos quais tinha manifestado a sua criatividade e poder. Na sua perfeição inicial toda a criação foi expressão do pensamento de Deus. Adão e Eva não tiveram qualquer problema em compreender Deus manifestado na Criação. A relação deles com Deus se dava de forma natural e direta sem a necessidade de qualquer explicação, assim como um bebe se relaciona com seus pais mesmo antes de aprender a falar.
Tudo começa a se complicar a partir da transgressão (pecado). Tudo que era claro tornou-se opaco e a relação que era de intimidade e companheirismo tornou-se distante e de inimizade. A natureza que até então manifestava claramente a bondade e vontade de Deus, torna-se agora um mistério a ser desvendado e um código a ser decifrado. A natureza que era uma expressão clara de Deus agora precisa ser estudada e explicada para se aperceber a presença de Deus, pois a comunicação direta foi rompida.
Todavia, como afirma o salmista, a criação (natureza) continua sendo uma poderosa expressão de Deus, ainda que o ser humano necessite de auxilio para poder ver e compreender está verdade. Como o apóstolo Paulo explica aos crentes em Roma em sua estultícia o ser humano ao contemplar a natureza enxerga somente a si mesmo e por está razão “honraram e serviram mais a criatura do que o próprio Criador” (Rm 1.21-25).
Através de suas Parábolas Jesus pedagogicamente se utiliza da natureza para explicar as realidades espirituais, que para Adão e Eva era legível, mas para a geração decaída tornou-se ilegível. Em e através de seus ensinamentos (revelação) Cristo resgata o valor da Criação como manifestação da glória de Deus. “Considerem os lírios do campo: eles não trabalham nem ceifam, contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, será que ele não os vestirá muito mais, pessoas de pouca fé?"(Mt 6.28-30). E depois de mais algumas ilustrações tiradas da natureza Jesus conclui: “Buscai primeiro o Reino e a justiça de Deus; e todas estas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33).
Na primeira parte do seu ministério, Jesus fala da forma mais clara possível de modo que todos os seus ouvintes poderiam vir a compreender a verdade de Deus que os conduziria à salvação, todavia, por causa da dureza de seus corações passou a lhes falar por meio de Parábolas: “...para que vendo não vêem e ouvindo não ouçam, pois o coração desse povo está embrutecido, tampam os ouvidos e fecham os olhos” (Mt 13.13-15).
O método pedagógico de ensinar por Parábolas era para despertar a curiosidade de seus ouvintes e o genuíno interesse em compreender o que estava sendo ensinado. Esse método de ensino era popular e Jesus conseguiu atrair atenção das pessoas. E a todos aqueles que verdadeiramente desejam compreender sua mensagem Jesus sempre estava disposto a explicar as verdades contidas em suas Parábolas.
Outra razão pela qual Jesus ensina por Parábolas era que as pessoas não estavam preparadas para receber ou mesmo entender sua mensagem salvífica. Retirando da natureza e das cenas cotidianas das pessoas as ilustrações de seus ensinos Jesus facilitava a comunicação e o entendimento por parte delas. Posteriormente seus discípulos e todas as pessoas que ouviram suas Parábolas lembravam-se com mais facilidade de seus ensinos e de sua mensagem expressada através destas pequenas ilustrações cotidianas e naturais com as quais interagiam. Evidentemente que a partir do momento em que o Espírito Santo abria as mentes e corações todos os ensinos de Jesus tornaram-se cada vez mais claros e mais facilmente apreendidos por todos os que criam.
Ainda outra razão para utilizar o método parabólico era o fato de que Jesus desejava alcançar todos os corações indistintamente. Com seu caleidoscópio de ilustrações, ele não apenas expunha a verdade em seus vários aspectos, como também as adaptava às diferentes categorias de ouvintes. Tanto as pessoas mais simples e sem instrução formal ou os mais sábios e letrados dentre todos, podiam compreender igualmente a ilustração utilizada por Jesus, pois eram extraídas da natureza comum a todos.
Outro motivo pelo qual Jesus passou a ensinar por Parábolas era de que seus mais diversos inimigos: sacerdotes, rabinos, escribas e fariseus, saduceus e herodianos, zelotes fanáticos e toda sorte de pessoas ambiciosas, permeavam as multidões que vinham para ouvi-lo. Mas a razão que os trazia ali era uma só: encontrar em suas palavras uma razão se quer para prendê-lo e mata-lo. Tendo consciência desse fato Jesus em nenhum momento deixa de ensinar toda a verdade de Deus e de comunicar toda a mensagem de Deus – em suas Parábolas Jesus censura a hipocrisia e maldade inerente de seus corações pervertidos; sob a linguagem da natureza e do cotidiano as verdades espirituais são expostas de forma contundente; mas em nenhum momento aqueles adversários encontravam qualquer razão para acusa-lo diante do Sinédrio ou das autoridades romanas, e por está razão tiveram que utilizar-se do subterfugio da traição e da falsidade ideológica para mata-lo.   
Ao mesmo tempo em que Jesus escapava das armadilhas ardilosas de seus inimigos, ele comunicava a verdade e desmascarava o erro, de modo que os corações preparados (boa terra) recebiam a mensagem (semente) com bom grado e nos quais germinava e frutificava. Jesus usava de forma abundante a natureza para comunicar a sabedoria e bondade de Deus, e Paulo compreendeu isso: “As perfeições do Deus invisível, o seu eterno poder e divindade claramente se entendem, e claramente se veem pelas coisas que foram criadas [quando consideram como funcionam]” (Rm 1.20).
Os ensinos de Jesus são sempre concretos e não filosóficos. Elas não estimulam as especulações tão apreciadas pela curiosidade e ambição humana, pois seu propósito e comunicar as verdades espirituais às mentes naturais. Ele não oferece teorias a respeito de Deus, mas suas Parábolas e ensinos são instrumentos para possibilitar ao ser humano conhecer e se relacionar com Deus. Todo o ensino de Jesus trata sobre verdades concretas e consequências eternas.
Jesus expõe os princípios estabelecidos na Torá hebraica conforme recomendado em Deuteronômio (7.7-9). Os israelitas deveriam ser os luzeiros do mundo, irradiando o conhecimento de Deus e seu propósito salvifico, mas eles se voltaram para si mesmos e Jesus vem para corrigir esse equivoco. E a sua lousa ou tela são a própria criação. Ele nasceu e cresceu entre colinas e vales, sua vida familiar e religiosa são permeadas pela Palavra e Criação de Deus. Seu ministério itinerante é feito às margens do lago da Galileia, nas encostas das colinas, caminhando nos campos ou entre jardins, de onde extrai suas ilustrações.
Para Jesus a criação comunicava permanentemente seu Autor. A natureza torna-se juntamente com as Escrituras o manual necessário para tornar Deus conhecido pelos seres humanos. Na ação do Espírito Santo a mente humana é renovada e capacitada para ler, compreender e apreender de Deus não apenas nas Escrituras, mas também na própria criação. As teologias teóricas e especulativas, revestidas de ciência e filosofia, acabam incapacitando as pessoas de contemplarem a Deus. Uma comunhão e conhecimento genuíno de Deus somente podem ser alcançados na redescoberta da criação como fonte pedagógica e didática – o cristianismo e a criação revelam um único Deus.
Assim como Deus havia estabelecido o Sábado para que os israelitas como um memorial de Seu poder criador de maneira que eles pudessem contempla-lo, Jesus retoma esse principio através de suas Parábolas. Ele coloca seus ouvintes em contato permanente com a multiformidade da criação com seus campos, jardins, estrelas, prados e flores. Mas ele amplia o arco e incorpora também os demais dias da semana - o agricultor e o semeador – que em suas atividades diárias ensinam a forma como a graça de Deus alcança os corações humanos. Assim, todas e quaisquer atividades humanas são capazes de manifestar a bondade e o amor de Deus de maneira que se faz presente em todos os momentos da vida humana e não somente em um lugar especifico no tempo formal de um culto. Nossas ocupações diárias não são desculpas para nos esquecermos de Deus, pois elas continuamente nos fazem lembrar nosso Criador e Salvador. Até mesmo a perda de uma moeda é útil para revelar o amor persistente de Deus em favor do pecador. Ou mesmo uma única moeda de uma viúva pobre é capaz de revelar uma fé singela e despojada de hipocrisia.
Quando estudamos as Parábolas de Jesus somos habilitados a compreendermos as verdades de Deus e do Reino em todas as coisas, das mais complexas às mais simples. Podemos aperceber Deus em todas as nossas atividades corriqueiras; ampliamos a nossa comunhão de Deus de maneira que Ele se faz presente em todo o tempo e o tempo todo em nossas vidas, transcendendo os momentos e lugares específicos para cultos. Em suas Parábolas Jesus nos ensina que podemos apreender de Deus e de Seu Reino em e através de todas as coisas criadas e em todas nossas atividades humanas.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
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