sexta-feira, 28 de julho de 2017

Viajando no Evangelho Segundo Mateus (1.1-17)


A Genealogia (origem) do Rei
            O evangelista Mateus provavelmente não foi o primeiro a produzir um registro evangélico é mais defendido hoje que Marcos tenha tido está primazia. É preciso lembrar que o cânon ou definitiva deleção dos livros que haveriam de compor o Segundo Testamento e/ou Novo Testamento ocorreu no desenvolver do quarto século da era cristã. No arranjo ou organização desse cânon neotestamentário foi escolhido para abri-lo a narrativa evangélica de Mateus por duas razões básicas: ele faz uma perfeita ponte com o Primeiro Testamento visto que ao apresentar Jesus Cristo como o Rei messiânico faz amplo uso dos textos veterotestamentário e também faz citação explicita em relação ao estabelecimento da Igreja como a instituição que haveria de congregar todos aqueles que viessem a crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Para os que desejam maiores informações e particularidades deste primeiro evangelho é preciso procurar nos artigos introdutórios disponibilizados no blog.
            Aqui iniciamos uma impressionante viagem na companhia de Mateus onde ele nos apresenta a vida e ministério de Jesus Cristo, bem como a sua morte, ressurreição e ascensão. Conforme o roteiro proposto por ele haveremos de percorrer toda região da Palestina judaica e presenciaremos milagres impressionantes feitos por Jesus, bem como haveremos de ouvir seus ensinos maravilhosos e nos deliciarmos com suas parábolas. Também conheceremos as mais diversas pessoas que foram tendo suas vidas transformadas na medida em que tem contato com o Salvador. Mas por fim acompanharemos toda a trama que foi armada pelos adversários de Jesus e que culminara com seu julgamento e condenação pelo Sinédrio judaico com a complacência das autoridades romanas.
            Faremos essa viagem da seguinte forma: na coluna da esquerda teremos o texto evangélico e na coluna da direita alguns comentários sucintos que nos permitiram uma compreensão melhor do registro feito por Mateus.

Boa viagem!


Evangelho Segundo Mateus (NVI)
Capítulo 1.1-17
Comentários
Síntese da Perícope: A Genealogia (origem) do Rei
Jesus é apresentado como "o filho de Davi” representante do reino messiânico e “o filho de Abraão" representante da aliança de Deus e Israel (1.1). Mateus faz um arranjo para apresentar a genealogia de Jesus composta de três conjuntos de catorze gerações. Ele então registra algumas breves informações sobre o nascimento de Jesus. Informa-nos que Maria e José estão noivos (legalmente casados), porém não coabitando juntos. Nesse interregno Maria encontra-se gravida através do Espírito Santo (o que seria entendido na época como o espírito de Deus) e ao tomar conhecimento José decide que ele deve deixá-la (se divorciar) em sigilo para evitar expô-la à opinião pública e à morte por apedrejamento, conforme prescrição da lei mosaica. Mas durante uma noite José recebe uma revelação divina, através de sonho, que lhe tranquiliza o coração, de que o bebe foi gerado pela ação do Espírito de Deus. Por quê? Porque essa criança salvará as pessoas de seus pecados. Não só isso cumpre uma profecia (Mateus interpreta o profeta Isaías) e também define o caminho a ser percorrido na narrativa. José mantem seu compromisso e juntos aguardam o nascimento da criança.
1 Registro da genealogia [Gn 2.4; 5.1; Is 53.8; Lc 3.23-38; Ro 9.5] de Jesus Cristo, filho de Davi [9.27, 15.22, 22.42-45; 2Sm 7.13,16; Sl 89.36, 132.11; Is 9.6,7, 11.1; Jr 23.5, 33.15-17, 33.26; Am 9.11; Zc 12.8; Lc 1.31,32,69,70; Jo 7.42; Atos 2.30, 13.22; Rm 1.3; Ap 22.16], filho de Abraão [Gn 12.3, 22.18, 26.3-5, 28.13,  28.14; Rm 4.13; Gl 3.16]:
As primeiras palavras remetem o leitor ao primeiro livro da bíblia hebraica (Gn 5.1). O objetivo é fazer o link de Jesus com a história israelita-judaica. Havia grande rigor no judaísmo pós-cativeiro em relação à genealogia para se evitar qualquer tipo de fraude. A primeira pergunta a ser feita em relação às posteriores reivindicações de Jesus é: ele é da linhagem de Davi? Mas não apenas de Davi mas de Abraão onde a história israelita-judaica tem sua gênesis.
Abraão gerou Isaque; Isaque gerou Jacó; Jacó gerou Judá e seus irmãos;
3 Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar; Perez gerou Esrom; Esrom gerou Arão;
4 Arão gerou Aminadabe; Aminadabe gerou Naassom; Naassom gerou Salmom;
5 Salmom gerou Boaz, cuja mãe foi Raabe; Boaz gerou Obede, cuja mãe foi Rute; Obede gerou Jessé;
6 e Jessé gerou o rei Davi. Davi gerou Salomão, cuja mãe tinha sido mulher de Urias;
7 Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa;
8 Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão; Jorão gerou Uzias;
9 Uzias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias;
10 Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amom; Amom gerou Josias;
11 e Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia.
12 Depois do exílio na Babilônia: Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel;
13 Zorobabel gerou Abiúde; Abiúde gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azor;
14 Azor gerou Sadoque; Sadoque gerou Aquim; Aquim gerou Eliúde;
15 Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó;
16 e Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.

Os judeus, sobre tudo depois do cativeiro babilônico, deram grande importância às listas de antepassados ou de ascendentes, chamadas genealogias (cf. 1Cr 1-8). Era a única forma de demonstrar a pertença ao povo do Israel - a uma tribo e família determinadas. Mateus pretende provar que Jesus faz parte desta linhagem e entre os seus antepassados estão nada menos do que Abraão a quem Deus lhe tinha feito promessas de bênção para seus descendentes e para todas as nações (cf. Gn 12.3; 17.4-9; 22.15-18; Mt 28.19; Gl 3.16) e Davi cujas promessas feitas por Deus (cf. 2Sm 7.16) alimentaram toda esperança messiânica de Israel e posteriormente de Judá (cf. Mt 22.42; 1Cr 1.34; 2.1-15; também Rt 4.18-22).
É interessante que durante toda genealogia é utilizado a expressão “gerou” por parte dos progenitores, com exceção de José – “e Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus” (verso 16), deixando claro ao leitor que José não tem participação na fecundação desta criança que foi gerada no útero de Maria. O casal igualmente faz parte da linhagem davídica.
Mateus apresenta Jesus como Rei, portanto iniciar com a genealogia comprovando sua descendência davídica-messiânica é perfeitamente natural e fundamental.
O nome composto da criança revela suas funções posteriores: Jesus - forma grega (mesmo que Josué) do hebreu Yeshua (ou Yehoshua ), que significa o Senhor salva (Cf. Sl 130.8; Lc 1.31; 2.11,21)  e Cristo - título grego, traduzido do hebreu Messias utilizado quando uma pessoa era ungida para dois ofícios muito notáveis: Sumo Sacerdote e como Rei.


17 Assim, ao todo houve catorze gerações de Abraão a Davi, catorze de Davi até o exílio na Babilônia, e catorze do exílio até o Cristo.
Mateus apresenta um esquema ideal de três séries de quatorze gerações, baseado sobre o número sete, que tem caráter simbólico de completo (também se refere à perfeição de Deus). Também fica mais fácil a memorização desta relação de nomes.
As divisões são: (1) Desde o nascimento de Abraão até o nascimento de Davi; (2) do nascimento de Davi ao cativeiro e (3) do cativeiro ao nascimento de Jesus.
Em sua seleção ele não omite os personagens ruins como Acaz, Manassés e Amom que foram péssimos reis; ainda de forma inédita inclui o nome de quatro mulheres (que não era comum na época) e não foram as mais recatadas (Tamar [incesto], Raabe [meretriz e canaanita], Betseba [adúltera]; Rute [moabita]), entre os antepassados de Jesus, realçando que a lista não foi feita com base no mérito dos personagens, mas na graça salvadora de Deus e que sempre se manifestou a todos e não apenas aos judeus. É esta graça que agora irá fornecer um Salvador para Israel e para o mundo inteiro, de maneira que todo pecador participa desta mesma de salvação.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referência Bibliográfica
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo: ed. Milenium, 1985. [v. 1].
CARSON, D. A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.
JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no Tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1983.


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