quarta-feira, 24 de abril de 2019

Epístola de Paulo aos Romanos: Estudo Devocional (1.1-7)



            A epístola aos Romanos é sem dúvida alguma o escrito mais maduro, teologicamente falando, produzida pela pena do apóstolo Paulo. Existem centenas se não houver um milhar de comentários produzidos ao longo desses séculos que nos separam da origem desta carta. Sem qualquer outra pretensão a não ser usufruir das bênçãos advindas da leitura e meditação dos ensinos nela contidos, vamos sem compromissos maiores nos deixar ser edificados e fortalecidos na nossa fé em Cristo Jesus através dos textos que o Espírito Santo inspirou o velho apóstolo a escrever aos cristãos e/ou comunidades cristãs que tinham se estabelecido na capital do Império Romano.
Servo
(v. 1) Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,
É interessante perceber que na medida em que Paulo vai amadurecendo na vida cristã, maior é o senso de sua qualidade e função de servo – é quem sou e o que sou. O termo grego utilizado por Paulo é “dulos” que significa escravo, servo e aparece 124 vezes no Segundo Testamento e utilizado por Paulo 30 vezes sempre com a ideia de humildade e de uma vida que pertence a outrem, pois o “dulos” deve obediência exclusiva ao seu Senhor e não esperam nem recompensa e nem agradecimento pelas atividades realizadas. Quão distantes estão os cristãos atuais desse conceito paulino de “servo”.
É exatamente esta humildade que o qualificava para ser o intermediário das maravilhosas revelações de Deus. Não tem nada que ofenda mais a Deus do que o orgulho e a prepotência, pois são marcas distintivas do ser humano decaído e de Satanás. Um líder cristão que perde a dimensão de que é um servo estará desqualificado para exercer qualquer função na Igreja de Cristo. Quando nos “esquecemos” de que nada mais somos do que servos, nossos dons e talentos tornam-se instrumento de autopromoção e não mais para a glória de Deus.
            Paulo tinha plena consciência do que tinha sido: “Eu costumava pensar que devia fazer muitas coisas terríveis contra os seguidores de Jesus de Nazaré. Aprisionei muitos dos cristãos de Jerusalém, com autorização dos supremos sacerdotes; e quando eram condenados à morte, dava o meu voto contra eles. Eu utilizava tortura para tentar fazer os cristãos por toda parte amaldiçoarem Cristo. Era contra eles com tal violência que persegui todos até em cidades distantes, em terras estrangeiras" (Atos 26.9-11-BLH). E o que se tornou: “Entretanto, todas estas coisas que eu antigamente julgava muito valiosas, agora, lancei-as todas fora, a fim de poder pôr minha confiança e esperança somente em Cristo” (Fp 3.7-NIV). Que contraste! O encontro com Jesus coloca os nossos pontos de vista em suas dimensões corretas.
Chamados
(v. 1) Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, (v. 6) E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus Cristo.
Paulo enfatiza que não apenas ele, mas aqueles crentes em Roma e todos os cristãos em todos os tempos e lugares foram igualmente chamados diretamente por Jesus para servirem na Igreja. Esse chamado de Deus não é feito com base em méritos dos que foram chamados, mas unicamente com base no amor gracioso daquele que chama. Somente aqueles que “pertencem a Jesus Cristo”, ou seja, o confessam como Senhor de suas vidas são capacitados a ouvirem o Seu chamado – “As minhas ovelhas me conhecem e ouvem a minha voz” disse Jesus certa vez aos seus discípulos. Ainda nos dias de Paulo haviam muitos que se autodenominavam “apóstolo”, mas não tinham sido “chamados”, pois não se comportavam como servos. E hoje?
Dupla natureza
(v.3) acerca de seu Filho, que, como homem, era descendente de Davi, (v. 4) e que mediante o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com poder, pela sua ressurreição dentre os mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor (NIV).
Paulo faz uma referencia enfática à dupla natureza do nosso Senhor: Humana (descendente de Davi) e Divina (Filho de Deus), por está razão somente Ele poderia ser nosso representante diante do tribunal de Deus e somente Ele podia morrer em nosso lugar e satisfazer plenamente a Justiça de Deus. A dupla natureza de Jesus Cristo é o fundamento de toda fé e doutrina genuinamente cristã. Todos aqueles que não creem na Humanidade ou na Divindade de Jesus Cristo não foi e jamais será um cristão. Nos dias do apóstolo João ele teve que enfrentar essa dupla negação, por isso na abertura de sua narrativa evangélica ele declara enfaticamente a Divindade de Jesus Cristo e posteriormente em suas epistolas ele precisa enfatizar a Humanidade de Jesus Cristo. Assim sendo, Jesus Cristo é de fato e de verdade Homem e Deus ou ele não é nada.
Ministério
(v. 5) Por meio dele e por causa do seu nome, recebemos graça e apostolado para chamar dentre todas as nações um povo para a obediência que vem pela fé. (v. 6) E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus Cristo.
            Paulo tem bem claro e definido qual é o seu ministério – proclamar o Evangelho a todas as nações. Mais uma vez a ênfase está naquele que chama e vocaciona “recebemos a graça” (favor não merecido), de modo que tão sublime tarefa é decorrente diretamente do favor de Cristo e não dos méritos próprios dele ou de quem quer que seja. Assim, “pertencer a Cristo” implica em obediência ao chamado e vocação de proclamar o Evangelho, visando antes de qualquer outra coisa – a glorificação do nome (pessoa) de Cristo, de maneira que qualquer outra razão deve ser secundária e subalterna. Assim, todos aqueles que se apropriam do Evangelho e o utilizam para sua própria glória ou lucro, seu destino final será o inferno.
Santos
(v. 7) A todos os que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos: A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
            Somos objeto do imensurável amor de Deus e nosso alvo não pode ser menos do que nos assemelharmos cada dia mais ao nosso Deus e Pai – “chamados santos”. Uma vez que já estamos justificados diante do tribunal divino, por causa da justiça de Cristo que nos é outorgada, igualmente somos objetos do processo de santificação e que culminara na perfeita glorificação. Assim, “amados de Deus” e “chamados santos” são expressões singulares que qualificam todos os cristãos em todos os tempos. Deste modo, o chamado do Evangelho é para que venhamos do jeito que estamos, mas jamais para permanecermos do mesmo jeito – todo cristão genuíno anseia pela santidade assim como a corsa anseia pelas águas – “sede santos como Eu sou santo” é a ordem que ressoa no livro de Levítico e torna-se o padrão para todo crente do Primeiro e do Segundo Testamento. Evidente que essa santidade somente é possível mediante a graça que vem da parte de Deus por meio de Jesus Cristo, na ação contínua do Espírito Santo em nós. Deste modo, todos aqueles que permanecerem no amoldado nas coisas deste mundo, permanecem nos seus pecados e sofrerão as consequências do juízo de Deus.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas
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