A epístola aos Romanos é sem dúvida
alguma o escrito mais maduro, teologicamente falando, produzida pela pena do
apóstolo Paulo. Existem centenas se não houver um milhar de comentários
produzidos ao longo desses séculos que nos separam da origem desta carta. Sem
qualquer outra pretensão a não ser usufruir das bênçãos advindas da leitura e
meditação dos ensinos nela contidos, vamos sem compromissos maiores nos deixar
ser edificados e fortalecidos na nossa fé em Cristo Jesus através dos textos
que o Espírito Santo inspirou o velho apóstolo a escrever aos cristãos e/ou
comunidades cristãs que tinham se estabelecido na capital do Império Romano.
Servo
(v. 1) Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado
para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,
É interessante perceber que na medida em que Paulo vai
amadurecendo na vida cristã, maior é o senso de sua qualidade e função de servo
– é quem sou e o que sou. O termo grego utilizado por Paulo é “dulos” que
significa escravo, servo e aparece 124 vezes no Segundo Testamento e utilizado
por Paulo 30 vezes sempre com a ideia de humildade e de uma vida que pertence a
outrem, pois o “dulos” deve obediência exclusiva ao seu Senhor e não esperam
nem recompensa e nem agradecimento pelas atividades realizadas. Quão distantes
estão os cristãos atuais desse conceito paulino de “servo”.
É exatamente esta humildade que o qualificava para ser o
intermediário das maravilhosas revelações de Deus. Não tem nada que ofenda mais
a Deus do que o orgulho e a prepotência, pois são marcas distintivas do ser
humano decaído e de Satanás. Um líder cristão que perde a dimensão de que é um
servo estará desqualificado para exercer qualquer função na Igreja de Cristo.
Quando nos “esquecemos” de que nada mais somos do que servos, nossos dons e
talentos tornam-se instrumento de autopromoção e não mais para a glória de
Deus.
Paulo tinha plena consciência do que
tinha sido: “Eu costumava pensar que
devia fazer muitas coisas terríveis contra os seguidores de Jesus de Nazaré. Aprisionei
muitos dos cristãos de Jerusalém, com autorização dos supremos sacerdotes; e
quando eram condenados à morte, dava o meu voto contra eles. Eu utilizava
tortura para tentar fazer os cristãos por toda parte amaldiçoarem Cristo. Era
contra eles com tal violência que persegui todos até em cidades distantes, em
terras estrangeiras" (Atos 26.9-11-BLH). E o que se tornou: “Entretanto, todas estas coisas que eu
antigamente julgava muito valiosas, agora, lancei-as todas fora, a fim de poder
pôr minha confiança e esperança somente em Cristo” (Fp 3.7-NIV). Que
contraste! O encontro com Jesus coloca os nossos pontos de vista em
suas dimensões corretas.
Chamados
(v. 1) Paulo,
servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o
evangelho de Deus, (v. 6) E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus Cristo.
Paulo enfatiza que não apenas ele, mas aqueles crentes em
Roma e todos os cristãos em todos os tempos e lugares foram igualmente chamados
diretamente por Jesus para servirem na Igreja. Esse chamado de Deus não é feito
com base em méritos dos que foram chamados, mas unicamente com base no amor
gracioso daquele que chama. Somente aqueles que “pertencem a Jesus Cristo”, ou seja, o confessam como Senhor de suas
vidas são capacitados a ouvirem o Seu chamado – “As minhas ovelhas me conhecem e ouvem a minha voz” disse Jesus
certa vez aos seus discípulos. Ainda nos dias de Paulo haviam muitos que se
autodenominavam “apóstolo”, mas não tinham sido “chamados”, pois não se
comportavam como servos. E hoje?
Dupla natureza
(v.3) acerca de seu Filho, que, como homem, era descendente de Davi, (v.
4) e que mediante o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com
poder, pela sua ressurreição dentre os mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor
(NIV).
Paulo faz uma referencia enfática à dupla natureza do
nosso Senhor: Humana (descendente de Davi)
e Divina (Filho de Deus), por está
razão somente Ele poderia ser nosso representante diante do tribunal de Deus e
somente Ele podia morrer em nosso lugar e satisfazer plenamente a Justiça de
Deus. A dupla natureza de Jesus Cristo é o fundamento de toda fé e doutrina
genuinamente cristã. Todos aqueles que não creem na Humanidade ou na Divindade
de Jesus Cristo não foi e jamais será um cristão. Nos dias do apóstolo João ele
teve que enfrentar essa dupla negação, por isso na abertura de sua narrativa
evangélica ele declara enfaticamente a Divindade de Jesus Cristo e
posteriormente em suas epistolas ele precisa enfatizar a Humanidade de Jesus
Cristo. Assim sendo, Jesus Cristo é de fato e de verdade Homem e Deus ou ele
não é nada.
Ministério
(v. 5) Por meio dele e por causa do seu nome, recebemos graça e
apostolado para chamar dentre todas as nações um povo para a obediência que vem
pela fé. (v. 6) E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus
Cristo.
Paulo tem bem claro e definido qual
é o seu ministério – proclamar o Evangelho a todas as nações. Mais uma vez a ênfase
está naquele que chama e vocaciona “recebemos a graça” (favor não merecido), de modo que tão sublime tarefa é
decorrente diretamente do favor de Cristo e não dos méritos próprios dele ou de
quem quer que seja. Assim, “pertencer a
Cristo” implica em obediência ao chamado e vocação de proclamar o
Evangelho, visando antes de qualquer outra coisa – a glorificação do nome
(pessoa) de Cristo, de maneira que qualquer outra razão deve ser secundária e
subalterna. Assim, todos aqueles que se apropriam do Evangelho e o utilizam
para sua própria glória ou lucro, seu destino final será o inferno.
Santos
(v. 7) A todos os que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos: A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus
Cristo.
Somos objeto do imensurável amor de
Deus e nosso alvo não pode ser menos do que nos assemelharmos cada dia mais ao
nosso Deus e Pai – “chamados santos”.
Uma vez que já estamos justificados diante do tribunal divino, por causa da
justiça de Cristo que nos é outorgada, igualmente somos objetos do processo de
santificação e que culminara na perfeita glorificação. Assim, “amados de Deus”
e “chamados santos” são expressões singulares que qualificam todos os cristãos
em todos os tempos. Deste modo, o chamado do Evangelho é para que venhamos do
jeito que estamos, mas jamais para permanecermos do mesmo jeito – todo cristão
genuíno anseia pela santidade assim como a corsa anseia pelas águas – “sede
santos como Eu sou santo” é a ordem que ressoa no livro de Levítico e torna-se
o padrão para todo crente do Primeiro e do Segundo Testamento. Evidente que
essa santidade somente é possível mediante a graça que vem da parte de Deus por
meio de Jesus Cristo, na ação contínua do Espírito Santo em nós. Deste modo, todos
aqueles que permanecerem no amoldado nas coisas deste mundo, permanecem nos
seus pecados e sofrerão as consequências do juízo de Deus.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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