Esse é o livro mais curto do
Primeiro Testamento, com seus 21 versos. Se a pessoa folhear as páginas da
bíblia com muita rapidez é capaz de passar pelo livro sem o perceber. A sua
pequena dimensão literária somada à sua mensagem primária de condenação e
julgamento e pelo fato de não ser citado em nenhum livro do Segundo Testamento
pode explicar o fato de que é pouco pregado e pouco conhecido dos leitores
bíblicos evangélicos. Todavia, sua mensagem merece toda atenção e estudo, pois faz
parte integrante da revelação especial de Deus e se constitui em uma trombeta
poderosa sobre a justiça de Deus. Assim como a justiça divina haveria, e de
fato foi exercida contra Edom, assim o será também sobre todas as nações, povo
e línguas no dia do juízo final. O julgamento contra Edom é mencionado em mais
livros do Antigo Testamento do que é contra qualquer outra nação estrangeira
Egito, Assíria e Babilônia (cf. Is 11.14; 34.5-17; 63.1-6; Jr 9.5-26; 25.17-26;
49.7-22; Lm 4.21-22; Ez 25.12-14; 35; Jl 3.19; Am 1.11-12; 9.11-12; Ml 1.4).
A curta e contundente mensagem
de Obadias se constitui na síntese de toda mensagem profética da Bíblia em seus
dois Testamentos. Ele fala sem qualquer subterfúgio do julgamento de Deus sobre
os inimigos do povo de Deus, de ontem e de hoje, como pode ser visto
diariamente nas mídias. Mas também aponta para a porta da graça de Deus para
todos aqueles que arrependidos se voltarem para Ele. Essa dupla mensagem de
juízo e graça, estão entretecidos em toda mensagem profética.
A sua mensagem tem abrangência
mundial pois fala do terrível perigo do orgulho e arrogância, aquele sentimento
de superioridade que muitas vezes resulta de tirar vantagem dos outros. A
mensagem de Obadias é a ilustração grafica em escala mundial da verdade de
Provérbios 16.18: "O orgulho vem
antes da destruição, um espírito altivo antes da queda".
Título
Em sua obra de introdução ao Primeiro Testamento, Henry
Swete divide em três tipos ou classes os títulos dos livros bíblicos: o
primeiro grupo são aqueles que são nominados com a primeira palavra ou palavras
do livro (Gênesis - Deuteronômio,[1]
Provérbios, Lamentações); um segundo grupo são aqueles que recebem o nome de
seu personagem principal ou suposto autor (Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías
e os outros Profetas, Jó, Rute, Ester, Daniel, Esdras); e um terceiro grupo de
livros é identificado pelo seu conteúdo (Salmos, Cântico dos Cânticos,
Crônicas).
O título deste livro, nas cópias Hebraicas, usualmente é
"Sepher Obadiah - o Livro de Obadias”;[2]
na Vulgata Latina é denominado de “A Profecia de Obadias”, e assim também na
versão Arábica; na versão Síria está, “A Profecia de Obadias o Profeta”. Na Bíblia Hebraica a profecia de Obadias
ocupa o quarto lugar entre o grupo denominado “Os Doze”, logo após Amós e antes
do livro de Jonas. Mas na Septuaginta
a profecia segue o livro de Joel e precede a profecia de Jonas (CRABTREE, 1971,
p.63). A nossa versão em português segue a ordem da Bíblia Hebraica.
Autoria
O livro recebe o nome de um profeta desconhecido de Judá
identificado pelo nome de Obadias[3] (1.1). Além deste profeta, podemos encontrar ao menos mais doze homens chamados Obadias, do qual
se destaca com certeza aquele piedoso e crente mordomo[4]
do palácio de Acabe e Jezabel, que com risco da própria vida escondeu e
sustentou por muito tempo cem profetas
de Deus ameaçados pela perversa rainha de Israel (1 Reis 18.3). Nada mais é conhecido sobre sua cidade ou família.
O fato que seu pai não é especificado sugere
que ele não fazia parte de
nenhuma linhagem real ou sacerdotal. Pela leitura do livro
percebe-se que era “homem de profundas
convicções, firme, piedoso e patriota, convencido de que, em última análise,
Deus era o supremo condutor dos negócios humanos” (FRANCISCO, 1969, p.
115).
Data:
É o livro mais
curto da Bíblia, contendo unicamente 21 versos, mas é com certeza um dos mais difíceis de ser datado
com precisão. Datas que vão de 889
a 312 a.C. têm sido apresentadas e defendidas por diversos
estudiosos para a sua redação final. Os estudiosos conservadores vão do reinado
de Jeorão, filho de Josafá (848-841 a.C.), até 585, logo depois da destruição
de Jerusalém pelos Caldeus. Os estudiosos
liberais em sua grande maioria têm preferência por 585 como sendo a data da
composição. Há ainda uma pequena minoria que tendem a dividir a obra em várias
fontes distintas[5], tendo partes sido escritas
durante o Exílio ou pouco depois da queda da Babilônia em 539 a.C. Entretanto,
tem se mostrado inócuo este esforço por total falta de evidências claras de que
uma obra tão diminuta tenha sido escrita por vários autores em períodos tão
diferentes da História, como argumenta sensatamente Gleason Archer em seu
comentário:
“Parece surpreendente que uma obra tão curta tivesse sido
dividida entre vários autores pelos críticos das fontes, mas sua metodologia é
essencialmente a mesma que empregam na dissecação dos livros maiores do Antigo
Testamento. Este esforço se faz na base de conhecimentos muito imperfeitos de
acontecimentos antigos, procurando vincular as mais vagas referências aos
acontecimentos contemporâneos às conhecidas condições históricas de cada
período sucessivo, operando segundo o princípio que não existe a profecia
verdadeira, mas apenas o vaticinium ex eventu (uma predição depois do
acontecimento). Em outras palavras, o que se chama profecia previsível não
seria mais do que um registro daquilo que já aconteceu” (1979, p. 340-341).
O ponto crucial desta polêmica esta centralizada nos versos 11 a 14,
onde o profeta faz alusão a uma grande calamidade que sobreveio à Jerusalém,
quando foram invadidos e saqueados por hostes estrangeiras, e os edomitas
valendo-se da oportunidade, agiram impiedosamente contra seus irmãos
israelitas, aprisionando os fugitivos e vendendo-os como escravos a outros
povos. A pergunta que se deve responder é: quando se deu esta catástrofe?
Conforme o quadro
ao lado, podemos perceber que a história bíblica registra ao menos quatro grandes pilhagens estrangeiras
sofridas por Jerusalém, além da realizada pelo exército de Israel (Reino do Norte), quando Joás
governava Judá (2 Crônicas 24:23-24).
Sendo os edomitas
o ponto convergente, sabemos que eles estiveram envolvidos mais diretamente em
apenas duas destas pilhagens,
as de 845 e 586. Na primeira (926 a.C.) os edomitas ainda estavam
enfraquecidos pela grande derrota infligida a eles por Davi (I Sm.14:47; 2
Sm.8:14). A última (586
a.C.)[6] não encontra ressonância na
profecia registrada, como muito bem coloca Falcão (1965, p 35-36)[7]:
Utilizando um processo de eliminação podemos deduzir qual
seria a data mais conciliadora com a narrativa do profeta: 1) Obadias
não mencionou a destruição do templo de Jerusalém, ocorrência essa que jamais
teria deixado omissa na sua profecia, se, realmente, a invasão de que falou
tivesse sido a dos babilônicos. 2) As nações mencionadas no livro de
Obadias não são as mesmas do período babilônico. 3) Jeremias, profeta do
período babilônico, citou Obadias (Jeremias 49).[8] 4)
O profeta Amós, do Reino do Norte, contemporâneo de Jeroboão II, profetizou
contra Edom de modo bem semelhante a Obadias (Amós 1.11). 5) Observa-se
no livro a ausência de expressões
aramaicas, fato que não deveria ter acontecido, se o livro tivesse sido
escrito no período babilônico, quando a língua aramaica já estava suplantando a
hebraica. 6) Quando o profeta descreve a reocupação da Palestina, não
faz nenhuma menção às terras de Judá, subentendendo-se que já estavam ocupados
pelos judeus, tornando impossível a opinião de que o autor viveu no período do
cativeiro babilônico.
Dentro deste processo de eliminação, a segunda invasão é aquela que se
encaixa mais adequadamente na referência de Obadias.[9]
Por este motivo é preferível localiza-lo logo depois de 845 a.C., conforme o quadro cronológico, que expressa
minha opinião, tempo em que os assírios começavam a incomodar mais
acentuadamente a nação israelita.[10]
Há aqueles que preferem uma data mais posterior[11] e ainda alguns que colocam
Obadias até mesmo além do cativeiro babilônico. Entretanto, o total desterro
dos edomitas de suas cidades encrostadas nas imensas montanhas de Seir ocorreu
muito tempo depois do cativeiro da Babilônia.[12]
Seguindo este raciocínio, Obadias teria vivido após o encerramento do cânon hebraico, e, por conseguinte nada
teria profetizado, mas apenas registrado um fato histórico, como o faria um
cronista de plantão. Mas como realça Stanley Ellisen: “A profecia de Obadias foi uma ‘visão’ do
Senhor (1.1), não uma reafirmação de uma profecia antiga” (ELLISEN, 1991, p. 294). Percebe-se
em vários comentaristas bíblicos uma postura racionalista e grande dificuldade
em lidar com o sobrenatural das
Escrituras.
Mensagem
do Livro:
Podemos extrair várias lições importantes e relevantes
deste opúsculo literário, pois trata-se de uma extraordinária mensagem profética.
Alguns comentaristas bíblicos têm menosprezado esta mensagem, alegando
que sua inclusão ao cânon é devida apenas pela intensa polêmica antiiduméia do primeiro século da era cristã. Mas
como é muito bem asseverado por William S. Lasor (1999, p. 404)[13].
“Esta avaliação negativa não pode responder pela
preservação desse livro nem de nenhuma outra profecia antiedomita. Em Obadias,
assim como em Ester e em outros livros semelhantes, não estamos lidando com
nacionalismo estreito. Algo mais profundo e significativo no campo teológico
deve ser encontrado para justificar a canonização e a preservação da obra”
- Logo
no verso 4 encontramos
uma esplêndida figura poética que trás um solene aviso à todos aqueles, em
todos os tempos, que tem se escorado na violência produzido pelo pseudo poder
bélico e modernamente falando, o poder econômico – não importa o quão alto
possam se colocarem – “dali te derribarei, diz o Senhor”.
- No
verso 10 temos um alerta
para que sejamos cuidadosos quanto ao nosso procedimento para com o nosso irmão
e/ou semelhante. Apesar de terem parentesco (descendiam dos dois irmãos Jacó e Esaú), Edom não demonstrara qualquer senso recíproco de relação
fraternal. Lembremo-nos de que a maneira com que tratamos o nosso irmão está
intimamente relacionado com a maneira com que tratamos a Deus (cf.1 Co.8.12).
- No
verso 12 nos ensina que
não podemos nos alegrar com a queda de nossos inimigos (cf. Pv. 24.17-18), pois
este comportamento não é o que Deus espera de seu povo.
- Mas
ainda que a maldade humana se
multiplique abundantemente e traga em seu bojo a morte, a graça salvadora de Deus continua
sempre providenciando a solução definitiva. No verso 17 o profeta aponta para o Monte de Sião como um lugar de refugio e salvação – “Mas, no
monte Sião, haverá livramento”; o autor de Hebreus (12.22-24) identifica
Jesus Cristo como sendo o nosso Monte de Sião: “a cidade do Deus vivo”;
“a Jerusalém
divina”. Certamente esta realidade
escatológica é apenas para aqueles que obedecerem ao Evangelho de Cristo!
- No
verso 15 temos mais uma
séria advertência para os pecadores de ontem, hoje e de sempre, de que o Senhor
haverá de retribuir a cada um conforme aquilo que tenha feito, pois “como tu
fizeres, assim se fará contigo”. O próprio profeta tinha plena consciência,
e os demais profetas o confirmariam continuamente, de que os terríveis
acontecimentos futuros de Judá, seriam consequência de sua continua rebeldia e
infidelidade para com o Senhor. E ainda que não poucos fiquem horrorizados com
a forma implacável com que Obadias pronuncia a sentença contra os edomitas, ele
nunca foi uma voz dissonante, mas esteve sempre na companhia dos demais
profetas canônicos e na companhia do Senhor Jesus Cristo, no que concerne à
condenação severa do pecado e da crueldade. Para aqueles que não fazem uma teologia dicotômica não há qualquer
incompatibilidade entre a verdadeira justiça
e o amor.
- Ainda
no mesmo verso 15 temos
uma das mais preciosas expressões da escatologia bíblica – “o Dia do SENHOR”
– uma expressão frequentemente utilizada para se referir ao julgamento de Deus sobre as nações.[14] Aqui inicialmente usada por Obadias, mas
que vai se expandindo na mesma proporção da revelação progressiva. Ainda que este "dia do Senhor"
de que Obadias escreveu foi manifestado na destruição de Edom, na perspectiva escatológica a manifestação
plena do "dia do Senhor" ainda esta por vir. E este julgamento
de Deus sobre as nações é tão somente uma sombra e/ou tipo daquele grande e terrível dia do Senhor
em que o mundo inteiro será julgado
(cf. 2 Pe 3.7-13). Obadias esta contemplando ou relembrando o desastre que
tinha ocorrido na cidade de Jerusalém, empreende uma revisão deste terrível
acontecimento, então a partir deste ponto proclama o juízo de Deus sobre todas
as nações, e para Edom em particular.
- Mas
como em toda profecia bíblica, não há
uma perspectiva fatalista, ao contrário, sempre haveremos de
encontrarmos um grito de esperança e
fé como este no verso 21
“o Reino será de Jeová”,
que é a tônica maior de toda escatologia bíblica desde seu princípio até a sua
conclusão. “O povo de Deus nunca duvidou
que Jeová estava controlando os acontecimentos como Rei (...) o povo de Deus
sempre aguardou a plena expressão e reconhecimento de Seu governo soberano”
(DAVIDSON, 1963, p. 870). Muitos séculos depois, o apostolo João
arrebatado da ilha de Patmos e transportado para a esfera celestial, ouve as
tremendas vozes do céu em ressonância ao toque da trombeta do sétimo anjo – “O
reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará [o
reino será do Senhor] para todo o sempre” (Ap.11:15).
Cristologia
em Obadias:
Cristo é visto em Obadias como o Juiz das nações (15-16), o Salvador de Israel (17-20), e o Soberano do reino (21). “Historicamente
falando, foi somente através de um único israelita fiel, Jesus Cristo, ‘o Leão
da tribo de Judá’ (Ap.5.5) – que os propósitos salvadores de Deus foram
realizados. Por Sua morte, porém, o Cristo de Deus haveria de ‘reunir em um
corpo os filhos de Deus, que andavam dispersos’ (João 11.52); e, nos propósitos
de Deus, o Israel espiritual. Seu povo escolhido estará afinal completo em
todas as suas tribos. Será a nação plenamente restaurada dos filhos de Israel
que, como fogo, consumirão a casa inteira de Esaú” (DAVIDSON,
1963, p. 870).
I. A Sentença de Edom (vv.1-16)
1. A
Certeza da Derrota (vv.1-9)
2. O
Motivo da Derrota (vv.10-14)
3. O
Caráter da Derrota (15-16)
II. O Livramento de Israel (vv.17-21)
1. O
Triunfo de Israel (vv. 17-18)
2. As
Possessões de Israel (vv.19-20)
c. O
Estabelecimento de Israel (v.21)
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
Artigos Relacionados
Jacó
e Esaú: Uma luta de Gênesis a Herodes
EDOM
[Iduméia]
Juízo
Sobre Uma Sociedade Sem Justiça (Onde Está a Voz Profética?)
Profetas:
Amós e a Justiça (Onde está a Voz Profética?)
Amós:
Uma Voz Profética Contra a Opressão e Escravagismo (1ª Parte)
O
Período Clássico do Profetismo no Primeiro Testamento - Século VIII
O
Desenvolvimento do Profetismo em Israel/Judá
Profetas:
As Diversidades Contextuais
Os
Profetas e as Questões Sociais
Profeta
Oséias: Contexto Histórico
Referências Bibliográficas
ARCHER,
Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento? Ed. Vida Nova, São
Paulo, 1979.
BACKER,
Walter L. Obadiah in WALYOORD, John F. e ZUCK, Roy B., 1983.
Biblia Hebraica Stuttgartensia, eds. A. Alt, O. Eißfelt, P. Kahle, and R. Kittle
(Stuttgart: DeutscheBibelstiftung, c1967-77).
Biblia Sacra Juxta
Vulgatam Clementinam, ed. electronica (Bellingham, WA: Logos Research
Systems, Inc.,2005), Logos.
COPELAND,
Mark A. Studies in the Minor Prophets.
ExecutableOutlines.com
CRABTREE, A. R. Profetas Menores, v.1,
Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, 1971.
DAVIDSON,
F. O Novo Comentário da Bíblia, v.2. São Paulo: Edições Vida Nova, 1963.
ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo
Testamento, ed. Vida, Florida, 1991.
FALCÃO,
Silas Alvez. Panorama do Velho Testamento, v. 2, Casa Publicadora
Batista, Rio de Janeiro, 1965.
FRANCISCO,
Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Tradução Antônio Neves de
Mesquita. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1969, [1ª
ed].
GILL,
John. An Exposition of the Old
Testament, v. 6. Philadelphia, Pennsylvania: William W. Woodward,1819.
LASOR,
William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução Lucy Yamakamí. São Paulo:
Vida Nova, 1999.
RYRIE,
Charles Caldwell. Ryrie Study Bible.
Expanded Edition, Moody, 1978.
WALYOORD, John F. e ZUCK, Roy B. (Editors).
The Bible Knowledge Commentary. Wheaton: Victor Books, 1983.
[1] É preciso lembrar que os gregos em
sua versão do Pentateuco não seguiram a tradição hebraica, mas optaram por
nominar esses livros em conformidade com seu conteúdo.
[2] Apenas com o nome(עבדיה) “Obadiah”, pode ser encontrado no Texto
Massorético da obra-padrão Biblia HebraicaStuttgartensia.
[3] Obadiou (na Septuaginta) ou Obdias
(na Vulgata Latina) ou Abdias (em várias traduções em português) que quer dizer
“Adorador de Jeová”. O nome era muito
comum não só entre os israelitas, mas também entre os demais semitas.
[4] “Flávio Josefo o
identificou com o profeta canônico do mesmo nome, mas, infelizmente, não
podemos confirmar esta identificação, uma vez que Obadias, o profeta canônico,
viveu mais ou menos um quarto de século depois do Obadias do tempo de Acabe, segundo
a cronologia adotada por alguns estudiosos do Velho Testamento” (FALCÃO, 1965,
p.32). Nos comentários judaicos também não há um consenso: Seder Olam Zuta o
coloca no reinado de Josafá; outros sugerem que Obadias foi um dos príncipes
que ele enviou para ensinar o povo (2Cr 17. 7) e tem aqueles que concluem que
esse Obadias é o mesmo que viveu nos
tempos do rei Acabe, e que protegeu os profetas da ira do rei, que seria também
o marido da viúva que Eliseu fez o milagre da multiplicação do azeite (2 Reis
4), visto que ele havia morrido enquanto em serviço do rei Acabe, e sua viúva
ficou então numa situação de penúria financeira. Mas tudo são apenas
conjecturas, visto que não há nenhuma evidência concreta para tais afirmações.
Por fim, com base no significado de seu nome "Servo de Yahweh" ele é considerado por alguns como o caso de
Teófilo “Amigo de Deus” de Lucas
(1.1-4 e Atos 1.1,2), visto que alguns defendem que Teófilo pôde ter sido um
nome literário usado por Lucas para identificar os seus leitores, que deveriam
ser também amigos de Deus, desta forma, Obadias também se constituiria não em
uma pessoa real, mas deveria ser visto como uma “figura” do crente israelita. Suas palavras, atitudes, e ações
deveriam ser nossas palavras, atitudes, e ações (GILL,1819, p. 563).
[5] “Pfeiffer atribui os versículos 1-14
a um contemporâneo de Malaquias; os versículos 16-18 a escritor de meio século
depois; e os versículos 19-21 teriam sido escritos na primeira parte do século
quarto a.C.” PFEIFFER, J. B. Introduction to the Old Testament,
ed. Haper and Brothers, Nova Iorque, 1941. “ E. Sellin pensa que os versículos 1-10 foram escritos
no século nono a.C.; 11-14 por um escritor no exílio; e 15-21 por um
contemporâneo de Malaquias. A tendência dos críticos modernos e de que o livro,
na sua forma presente, é obra do profeta Obadias. ROWLEY, H.H.,
(editor), The Old Testament and Modern Study, ed. Clarendon Press,
Oxford, 1951”. Citados
por CRABTREE, A. R. Op. cit., p. 63.
[6] “Há quem afirme que Obadias fez
alusão à entrada dos Caldeus e que, por isso, foi um profeta pós-exílio, isto
é, viveu depois do cativeiro do povo judeu na Babilônia. Aqueles que assim
pensam dizem. Há indícios, no Velho Testamento, de amargas rivalidades entre
Edom e Israel, no período do cativeiro babilônico, isto é, existem passagens
paralelas a Obadias, que foram escritas no exílio dos judeus na Babilônia
(Ezequiel 25.12-14; 15.1-5; Lamentações 4.21; Salmo 137.7)” (CRABTREE,
1971, p.35).
[7] Ellisen ainda
acrescenta. o livro foi colocado na primeira parte do cânon pelos hebreus; o
desastre referido por Obadias não alcançou necessariamente a dimensão de uma
destruição completa e exílio. Foi simplesmente uma pilhagem; um profeta não
citaria outro anterior quase integralmente (Jr 49.7-22), caso o profeta não
tivesse existido (1991, p. 294). Jerome faz dele um contemporâneo com o Oséias,
Joel, e Amos. E seu argumento em favor desta visão é de que Jeremias
preferencialmente haveria de inserir extratos das profecias de um profeta precedente do que de
um contemporâneo. Ainda um outro argumento interessante é apontado por Keathley
IV. “As proposições imperativas dos versos 12-14 são jussivas as quais nunca
fazem alusão a alguma coisa no passado. Deste modo, estes imperativos seriam
inapropriados em 586 a.C. se a cidade foi apenas invadida para ser pilhada. (O
autor podia estar usando o jussivo para dar uma apresentação vívida do pecado de Edom.)”. Outros que defendem esta posição: C. F. Keil,
"Obadiah," in The Twelve Minor Prophets, 1.341-49; Walter L. Baker,
"Obadiah," in The Bible Knowledge Commentary. Old Testament, p. 1454;
Hobart E. Freeman, An Introduction to the Old Testament Prophets, p.
136; Archer, pp. 299-303; Leon J. Wood, The Prophets of Israel,
pp. 262-64; Eugene H. Merrill, Kingdom of Israel. A History of Old
Testament Israel, p. 382; Walter C. Kaiser Jr., Toward an Old Testament
Theology, p. 186; Edward J. Young, An Introduction to the Old Testament,
p. 277; Charles H. Dyer, in The Old Testament Explorer," pp.
765-66.
[8] Há quem conteste e diga que o trecho
de Obadias citado em Jeremias não pertence a nenhum dos dois profetas, mas foi
escrito por um autor desconhecido de que lançaram mão, primeiro Jeremias e
depois Obadias. Entretanto, esse ponto de vista não passa de hipótese,
carecendo de provas conviventes.
[9] “Precisamos,
portanto, procurar o registro dalguma ação militar incluindo uma tomada de
Jerusalém sem envolver sua destruição total; uma luta na qual os edomitas
pudessem, com toda a probabilidade, ter tomado parte (o que é improvável na
época da destruição da cidade em 587). O único episódio registrado que se
enquadra nas condições certas, parece ser esta invasão ocorrida durante o
reinado de Jeorão” (ARCHER, 197, p.338-339).
[10] “Obadias profetiza
contra Edom em conexão com invasão #2 ou #4. Se a primeira, este livro é o mais
antecipado dos profetas da escrita (ver 2 Reis 8.20 e 2 Cron. 21.16-17; então
ver Joel 3.3-6 comparando com Obadias 11-12 e o uso de Obadias 1-9 na passagem
de Jeremias 49.7-22 suporta bem a data mais antecipada)” (RYRIE, 1978, p. 1415).
Assim, entendem também Delitzsch, Keil, Kleinert, Orelli e Kirkpatrick (ARCHER, 1971, p. 338). “A evidência interna parece suportar a data antecipada de
845 a.C. (Keil, Hailey). Eu aceito a data antecipada, que é em cerca de 845
a.C.” (COPELAND, s/d - Edição Eletrônica - www Executable Outlines.com).
[11] Francisco defende a
data mais avançada. “A favor da data posterior, 586, milita o fato de que a
referência a desgraças e calamidades naturalmente se aplicaria à destruição
total de Jerusalém, por Nabucodonosor, em 583 a.C. Há ainda uma ideia adicional
de que a animosidade amarga entre os israelitas e edomitas data da destruição
de Jerusalém ou do exílio, visto como as passagens paralelas contra Edom e
contemporâneas a esta data se encontram em Lm.4.21; Ez.25.12-14; 35.1-15;
Sl.137.7. Outro argumento a favor de uma data mais recente é o fato de que a
invasão de 845 não é mencionada no livro de Reis, mas no de II Crônicas 21.16.
Isto nos levaria a raciocinar sobre a importância a ser dada à referência de II
Crônicas. Poderia tratar-se apenas de uma refrega fronteiriça e nada mais, pois
nada se diz a respeito de uma invasão de Jerusalém. Finalmente, tanto Obadias
como Jeremias capítulo 49 podem ser citações de um antigo profeta. Mesmo que as
evidências sejam mais ou menos contrabalançadas, a incerteza da citação de II
Crônicas favorece uma data mais recente para este livro” (1969, p.116). Outros
que defendem esta data: Douglas Stuart (Hosea-Jonah, pp. 403-416); Thomas J. Finley (Joel, Amos,
Obadiah, p. 340-342); Billy K. Smith, "Obadiah," in (Amos,
Obadiah, Jonah, p. 172); David W. Baker (Obadiah, Jonah, Micah - An
Introduction and Commentary, p. 23); Carl E. Armerding,
"Obadiah," (Daniel-Minor Prophets, vol. 7 of The Expositor's Bible
Commentary, p. 337); Frank E. Gaebelein (Four Minor Prophets [Obadiah,
Jonah, Habakkuk, and Haggai] - Their Message for Today, pp. 13, 28); G.
Herbert Livingston, "Obadiah," (The Wycliffe Bible Commentary, p.
839); Roland K. Harrison (Introduction to the Old Testament, pp. 898,
902); John Bright (A History of Israel, p. 417); Robert B. Chisholm
("A Theology of the Minor Prophets," in A Biblical Theology of the
Old Testament, p. 418).
[12] Francisco sugere 312 a.C., e ainda
ele informa que no ano 70 d.C. o Imperador Romano Tito destruiu tanto os
edomitas (idumeus) como os próprios israelitas, desaparecendo por completo
aqueles da historia humana. (1969, p.117).
[13] Refutando argumento de Soggin: A.
Introduction to the Old Testament, v.2, 1961, p. 341.
[14] “A expressão dia é frequentemente
usada dessa maneira para denotar a ocorrência de sorte boa ou má, em conexão
com algum lugar ou pessoa”. (...) “O dia do Senhor é um dos grandes
temas do Antigo Testamento. Seu caráter é salientado e não tanto sua ocasião
exata, embora se trate do desenlace final da história, e geralmente seja
referido como iminente” (DAVIDSON, 1963, p. 869- 870).
[15] Este esboço foi elaborado por S.
E. Mc Nair, citado por. FALCÃO, 1965, p. 41.
Nenhum comentário:
Postar um comentário