Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os
que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a
galinha ajunta a sua ninhada debaixo das asas, e não quiseste! (Jesus
– Lc 13.34)
Para os antigos hebreus, o nome Jerusalém significa “Lugar de Paz, Habitação Segura”,[1] todavia a etimologia
primária é incerta e também recebe a alcunha de “Cidade Santa”[2]. Nos dias de Saul,
primeiro rei israelita, as doze tribos permaneceram desunidas, quando Davi assumiu
a monarquia ele conquista esta cidade e estabelece ali a capital politica e
religiosa da nação e consegue de fato unificar as doze tribos. Ele não constrói
o Templo, mas consegue arrecadar todo material necessário para que seu filho
Salomão o fizesse.
A cidade
de Jerusalém é de fato e de verdade uma “cidade da Montanha”, pois fica situada
no coração de uma região montanhosa que se estende desde a grande planície de Esdrelon[3] para a extremidade sul da
Terra Prometida (Canaã). Esta localização geográfica privilegiada sempre lhe
proporcionou uma segurança maior contra seus inimigos. Nas literaturas do
Primeiro Testamento encontraremos diversas referências à sua localização
geográfica peculiar, como as palavras bem conhecidas do salmista: “Assim como Jerusalém esta cercada pelos
montes, assim o Senhor está ao redor do seu povo”.
Localizada
a 760 m acima do Mar Mediterrâneo e 1.145 m acima do Mar Morto, com uma ligação
ao norte com a serra e circundada por dois vales, bastante citados na
literatura bíblica: no leste o vale do Cédron[4], no oeste e no sul o vale
de Hinom [Enom] [5]
(Geena)[6] e que prossegue até o Mar
Morto.
O
planalto tem a divisão natural de duas colinas, de altura e estrutura desiguais,
separados por um pequeno vale que da porta de Damasco se estende em direção
sudoeste. No tempo de Jesus o povo o chamava “vale do fabricante de queijo". Atualmente esse vale quase
desapareceu debaixo dos entulhos. Ambas as colinas são divididas ainda em
diversos cumes, por declives transversais, de sorte que o terreno da cidade é
muito acidentado.
O
Monte Moriah,[7]
no leste e o menor dentre os montes que acercam Jerusalém, porém de longe o
mais importante e famoso, pois ali foi construído o templo por Salomão (2Cr 3.1),
reconstruído nos dias de Zorobabel, Esdras e Neemias e ornamento ricamente pelo
famigerado rei Herodes.
Certamente
não se pode falar da cidade de Jerusalém sem fazer referência a um dos montes
mais famosos nas narrativas evangélicas – Monte das Oliveiras (hebr. har
hazzêtím) e “Olivete” forma latina tirada da Vulgata, que significa lugar onde
existem muitas oliveiras. A vista do Monte das Oliveiras é aquela que, de sua
estranha beleza e extraordinário interesse, permanece longa e amorosamente na
memória daqueles que a viram. Em direção norte-sul, pouco distante de Jerusalém
(At 1.12), a leste da cidade (Zc 14.4), do outro lado do Cédron (Mc 14.26; cf.
Jo 18.1) Seu cume e encosta distava uma caminhada de sábado (cerca de 900 m) da
cidade (At 1.12); o historiador judaico Josefo fala de 5 a 6 estádios (Ant.20.8,6;
Guerras 5.2,3). A visão para o oeste, que deveria ser vista pela luz da manhã, abrange
toda a cidade de Jerusalém; cada colina e vale e quase todos os edifícios
importantes podiam ser reconhecidos de uma só vez, principalmente o Templo. Era
deste Monte que os peregrinos cansados de dias de viagem tinham a satisfação de
contemplarem a tão amada cidade de Davi – Jerusalém – o Templo.
O
Monte das Oliveiras era o lugar preferido de Jesus quando ele vinha à Jerusalém
(Lc 21.37; 22.39; Jo 8.1); na última semana enquanto descia do Monte em sentido
à cidade Jesus começa a ser aclamado pela multidão (Lc 19.37,38); foi deste
Monte que Jesus proferiu seu sermão escatológico (Mt 24.3); é com esta visão panorâmica
de Jerusalém que ele chora por ela (Lc 19.41-44) e prenuncia aos seus discípulos
a destruição do magnifico Templo e da própria cidade (Mt 24.3; Mc 13.3). Depois
de celebrar a sua última Páscoa, Jesus caminha para o Monte das Oliveiras (Mt
26.30; Mc 14.26), pois ali se localizava o jardim do Getsêmani que se estendia
para o oeste, ao pé do Monte, ou ligeiramente acima. A tão amada vila de Betânia
estava no flanco Oriente (Mt 21.1; Mc 11.1; Lc 19.29). A ascensão de nosso
Senhor ocorre nas cercanias de Betânia (Lc 24.50) e provavelmente neste Monte.
Posteriormente passou a ser denominado de Monte da Ascensão e com base nessa
tradição o imperador Constantino mandou construir ali uma basílica, cujo lugar
foi ocupado em todas as épocas por diversas igrejas como um memorial da ascensão
de Jesus. Nenhum outro Monte e lugar em Jerusalém têm sido tão explorados pela
fé cristã do que o das Oliveiras – as diversas grutas tornaram-se pontos de
referências das passagens evangélicas - a gruta da traição ao pé do Monte; o
Getsêmani; a gruta do sermão escatológico; a gruta de Betânia na vertente
oriental.
Mas
apesar de tudo que se relaciona com a cidade de Jerusalém, incluindo os dias
atuais, ela sempre foi um tipo (bem como a Arca e o próprio Templo) da genuína
cidade Celestial. Os profetas e o próprio Senhor Jesus nunca se deixaram iludir
com os encantos da grande Capital de Israel/Judá, pois tinham plena consciência
da realidade nua e crua que existia entre seus muros, palácios e templo (Is 1.21-23;
Jr 11.1-13; Ez 16; 23; Lc 19.41-47; 21.5-36; Mt 23.37-39); dentro do projeto de
Deus sempre se pensou na construção de uma nova e definitiva Jerusalém glorio e
sem pecado nos céus (Ez 40–48; Zc 14.1s; Is 2.2-5; 60; At 2.1-11) onde Cristo
reinará eternamente com a sua Igreja (Jo 2.18-22; 1Cor 3.16-17; Ef 5.22-30; Ap
21–22; Gl 4.22-31). Não há qualquer pecado em visitar Jerusalém e fazer o tour
em seus diversos pontos referenciais; todavia, assim como os judeus dos dias de
Jesus (e de Jeremias, Isaias, Ezequiel) não se pode confundir essa cidade
terrena com a Jerusalém Celestial. Paulo ensinou que Jesus Cristo está fazendo
algo totalmente Novo e que as coisas Velhas deixarão de existir.
O Portão de Jaffa A entrada principal da cidade de Jerusalém, como aparece das muralhas da cidade. O espaço aberto dentro do portão é usado como mercado. |
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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[1] Salém, de que Melquisedeque era rei,
é abreviação natural da palavra Jerusalém, mencionada como tal na história das
conquistas de Canaã, onde às vezes, também se denomina Jebus (dos jebuseus).
[2]Sião (monte santo) foi
assim designado pelo fato de ter sido, por muitos anos, o local, onde se
recolhia a arca, nos dias de Davi (2 Sm 6.12-18; 1 Rs 8.1-4; Sl 2 e 6). Posteriormente
o nome Sião passou a designar a própria cidade de Jerusalém, na qualidade de
cidade santa (Sl 48; 87; 133). Com certeza em decorrência da construção do
Templo nos dias de Salomão e que vai acolher a partir de então a Arca da
Aliança.
[3] Este vale também é chamado de
Planície de Esdrelon, sendo limitado ao sul pelos planaltos de Samaria e pelo
Monte Gilboa, ao norte pela Baixa Galileia, ao oeste pela cordilheira do Monte
Carmelo e ao leste pelo Vale do Jordão. Localizado no norte do país, o vale é
muito fértil com chuvas estacionais o que favorece a agricultura.
[4] Vale profundo que separa Jerusalém do
monte das Oliveiras e que corre primeiro para o sudeste e depois para o sul, ao
longo da cidade. É um vale profundo e seco, tem aproximadamente 30 m de
profundeza e 120 m de largura, une-se ao vale do Cédron e o vale Hinom. Prosseguia
para o sudeste através do árido ermo de Judá para o mar Morto, sendo quente e
seco na maior parte do tempo
[5] Do hebraico (גֵיא בֶן-הִנֹּם, transl.
Geh Ben-Hinom) é um vale em torno da Cidade Antiga de Jerusalém, e que veio a
tornar-se um depósito onde o lixo era incinerado. Também eram lançados ali os
cadáveres de pessoas que eram consideradas indignas, restos de animais, e toda
outra espécie de imundície e usava-se enxofre para manter o fogo aceso e
queimar o lixo (continuamente). Quando esses cadáveres caíam no fogo, então
eram consumidos por ele, mas, quando os cadáveres caíam sobre uma saliência da
ravina funda, sua carne em putrefacção ficava infestada de vermes, ou gusanos,
que não morriam até terem consumido as partes carnais, deixando somente os
esqueletos. Jesus usou este vale como símbolo da condenação eterna (inferno).
[6] Era a forma helenizada do nome do
vale de Hinom em Jerusalém
[7] A tradição muçulmana vê nesse mesmo
local o ponto de partida da subida de Maomé para o céu, quando recebe a
revelação. É por isso que o monte do Templo, em Jerusalém, é o um dos três
locais mais sagrados para os muçulmanos e também conhecida como a Esplanada das
Mesquitas.
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