quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SEPTUAGINTA OU VERSÃO DOS SETENTA (LXX) - Verbete

O rei do Egito, Ptolomeu II Filadelfo (287-247 a.C.), recebe os créditos pela iniciativa na formação da grande biblioteca de Alexandria e de promover traduções de literaturas religiosas, dentre as quais as Escrituras religiosas judaicas para o idioma grego. Esta tradução, por causa de sua versão latina ficou denominada de Septuaginta e/ou Versão dos Setenta (LXX, em algarismo romano), o trabalho começou provavelmente em Alexandria e foi concluída na mesma região. Esta não foi a primeira versão dessas Escrituras, visto que as versões para o aramaico e a realizada pelos samaritanos tinham sido preparadas anteriormente. A Septuaginta incluiu os chamados livros apócrifos à Bíblia hebraica, os livros Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus, Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Baruque, Epístola de Jeremias, Suzana e Bel e o Dragão. Alguns desses livros pode ser tradução do original hebraico ou aramaico; fragmentos destes textos apócrifos foram recentemente descobertos na região do Mar Morto.
Em decorrência do domínio helenista (entre os séculos IV e I a.C.), momentos de ameaça de desintegração sócio religiosa fez necessária a criação da Septuaginta que foi bem acolhida, principalmente pelos judeus de Alexandria, visto serem uma das maiores mais rica das colônias da dispersão (Diáspora) e que foram os seus principais fomentadores e difusores. Desta forma, essa versão grega, para as comunidades judaicas fora da Palestina, acabou por suplantar o uso do texto hebraico na vida religiosa deles, sendo chamada de a “Bíblia da Diáspora”. Posteriormente foi amplamente utilizada pelos escritores neotestamentários e pelas comunidades cristãs espalhadas por todo o território do Império Romano. Apesar dos escritores do Novo Testamento ser judeus, com exceção de Lucas, seus escritores redigiram no grego Koiné e a influência da Septuaginta pode ser percebida nas palavras e frases na elaboração dos textos neotestamentários. Os grandes vocábulos teológicos encontrados no NT foram extraídos da versão grega da Septuaginta. Conta-se em mais de 300 as versões da LXX e muitas delas são contemporâneas dos manuscritos mais antigos contidos no NT.
A importância da Septuaginta somente começa a declinar após a versão Vulgata Latina, produzida por Jerônimo entre fins do século IV início do século V, tornar-se oficial pela Igreja Romana. Com ascendência do latim, na cristandade ocidental, o estudo do grego foi declinando e na Idade Média era tão raro quanto o hebraico. Somente com o advento da Renascença, que produziu um reavivamento da erudição grega, os numerosos manuscritos da Septuaginta foram redescobertos nas bibliotecas monásticas e utilizadas pelos estudiosos bíblicos.
Com expansão geográfica crescente do cristianismo a tradução e cópia da Bíblia, agora reunindo as Escrituras hebraicas e os textos cristãos, tornaram-se premente, culminando com um fluxo gigantesco a partir do século XVI com a criação da imprensa, tornando-se o livro mais lido e mais traduzido do mundo.
O LXX foi traduzido para muitas línguas orientais e ocidentais. E mesmo quando os tradutores usam o hebraico no campo linguístico, ainda há uma influência indireta do LXX” (HARL, 1988, p. 330)[1].
A Septuaginta alcança dois objetivos extraordinários: recoloca nas mãos dos judeus da diáspora a tão amada Torá e simultaneamente abre os ensinos da Torá para todo o mundo literário da época, pois a língua popular grega koiné está para aquele momento como o inglês está para os nossos dias hoje. De maneira que todas as pessoas, mesmo que não tivesse o mínimo de conhecimento da língua hebraico-aramaica, poderiam ler e apreender os ensinos contidos nas Escrituras israelitas.
Essa transposição linguística foi fundamental para a expansão do judaísmo e posteriormente do cristianismo que tinham na Septuaginta um instrumento extraordinário para comunicar a mensagem de Deus para todos os povos da terra, ao menos no que concerne ao mundo greco-romano.
Me. Ivan Guedes
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[1] HARL, Marguerite, DORIVAL, Gilles e MUNNICH, Odylle. La Bible Grecque des Septante: Du Judaïsme Hellénistique au Christianisme Ancien. Paris: Cerf, 1988.

Me. Ipg

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