O rei do Egito, Ptolomeu II
Filadelfo (287-247 a.C.), recebe os créditos pela iniciativa na formação da
grande biblioteca de Alexandria e de promover traduções de literaturas
religiosas, dentre as quais as Escrituras religiosas judaicas para o idioma grego.
Esta tradução, por causa de sua versão latina ficou denominada de Septuaginta
e/ou Versão dos Setenta (LXX, em algarismo romano), o trabalho começou
provavelmente em Alexandria e foi concluída na mesma região. Esta não foi a
primeira versão dessas Escrituras, visto que as versões para o aramaico e a
realizada pelos samaritanos tinham sido preparadas anteriormente. A Septuaginta
incluiu os chamados livros apócrifos à Bíblia hebraica, os livros Judite,
Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus, Eclesiástico (Sirac),
Salmos de Salomão, Baruque, Epístola de Jeremias, Suzana e Bel e o Dragão.
Alguns desses livros pode ser tradução do original hebraico ou aramaico;
fragmentos destes textos apócrifos foram recentemente descobertos na região do
Mar Morto.
Em decorrência do domínio
helenista (entre os séculos IV e I a.C.), momentos de ameaça de desintegração sócio
religiosa fez necessária a criação da Septuaginta que foi bem acolhida,
principalmente pelos judeus de Alexandria, visto serem uma das maiores mais
rica das colônias da dispersão (Diáspora) e que foram os seus principais fomentadores
e difusores. Desta forma, essa versão grega, para as comunidades judaicas fora
da Palestina, acabou por suplantar o uso do texto hebraico na vida religiosa
deles, sendo chamada de a “Bíblia da Diáspora”. Posteriormente foi amplamente
utilizada pelos escritores neotestamentários e pelas comunidades cristãs
espalhadas por todo o território do Império Romano. Apesar dos escritores do
Novo Testamento ser judeus, com exceção de Lucas, seus escritores redigiram no
grego Koiné e a influência da Septuaginta pode ser percebida nas palavras e
frases na elaboração dos textos neotestamentários. Os grandes vocábulos
teológicos encontrados no NT foram extraídos da versão grega da Septuaginta.
Conta-se em mais de 300 as versões da LXX e muitas delas são contemporâneas dos
manuscritos mais antigos contidos no NT.
A importância da Septuaginta
somente começa a declinar após a versão Vulgata Latina, produzida por Jerônimo
entre fins do século IV início do século V, tornar-se oficial pela Igreja
Romana. Com ascendência do latim, na cristandade ocidental, o estudo do grego
foi declinando e na Idade Média era tão raro quanto o hebraico. Somente com o
advento da Renascença, que produziu um reavivamento da erudição grega, os
numerosos manuscritos da Septuaginta foram redescobertos nas bibliotecas
monásticas e utilizadas pelos estudiosos bíblicos.
Com expansão geográfica
crescente do cristianismo a tradução e cópia da Bíblia, agora reunindo as
Escrituras hebraicas e os textos cristãos, tornaram-se premente, culminando com
um fluxo gigantesco a partir do século XVI com a criação da imprensa,
tornando-se o livro mais lido e mais traduzido do mundo.
“O LXX foi traduzido para muitas línguas orientais e ocidentais. E mesmo
quando os tradutores usam o hebraico no campo linguístico, ainda há uma
influência indireta do LXX” (HARL, 1988, p. 330)[1].
A Septuaginta alcança dois
objetivos extraordinários: recoloca nas mãos dos judeus da diáspora a tão amada
Torá e simultaneamente abre os ensinos da Torá para todo o mundo literário da
época, pois a língua popular grega koiné está para aquele momento como o inglês
está para os nossos dias hoje. De maneira que todas as pessoas, mesmo que não
tivesse o mínimo de conhecimento da língua hebraico-aramaica, poderiam ler e
apreender os ensinos contidos nas Escrituras israelitas.
Essa transposição linguística
foi fundamental para a expansão do judaísmo e posteriormente do cristianismo
que tinham na Septuaginta um instrumento extraordinário para comunicar a
mensagem de Deus para todos os povos da terra, ao menos no que concerne ao
mundo greco-romano.
Me. Ivan Guedes
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HELENISMO
[1] HARL, Marguerite, DORIVAL, Gilles e
MUNNICH, Odylle. La Bible Grecque des
Septante: Du Judaïsme Hellénistique au Christianisme Ancien. Paris: Cerf,
1988.
Me. Ipg
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