οὗτοι δὲ ἦσαν εὐγενέστεροι τῶν ἐν Θεσσαλονίκῃ, οἵτινες ἐδέξαντο τὸν λόγον μετὰ πάσης προθυμίας, τὸ καθ ἡμέραν ἀνακρίνοντες τὰς γραφὰς εἰ ἔχοι ταῦτα οὕτως Atos 17: 11-12 |
A cidade de Beréia (atualmente Verria pelos gregos ou Kara Verria [Karaferia]
pelos turcos)[1]
está localizada ao sopé do lado oriental do verdejante monte Bermios. Beréia
fica a cerca de 65 quilômetros a sudoeste de Tessalônica e a uns 40 quilômetros
das margens do mar Egeu. O monte Olimpo, residência mítica dos principais
deuses do antigo panteão helênico, fica ao sul.
Ainda que
sua origem seja incerta, calcula-se que seja próximo do 5º sec. a.C.
funcionando como um centro de mercado agrícola e seus fundadores eram, sem
dúvida, trácios e frígios expulsos em uma das transições arcaicas.
No século 4º
sec. a.C. Beréia juntamente com outras cidades da Macedónia foram organizados
em um reino nacional. A primeira menção de Beréia é encontrado em uma inscrição
grega daquele período.[2]
A forma monárquica de governo macedônio estava em contraste com a regra
democrática entre os gregos do sul. Filipe II chegou ao poder em 356 a.C. e
uniu as cidades da Macedônia em uma força poderosa no mundo mediterrâneo tendo
a cidade de Pela como sua capital. Ele transforma povos agrícolas e pastorais
em um exercíto armado e poderoso. Em 338
a.C., os macedônios derrotaram os gregos, e por 337 a.C. Filipe II governou
toda a Grécia. Desde então foram construídos prédios e muralhas imponentes,
além de santuários de Zeus, Ártemis, Apolo, Atena, e outros deuses gregos.
Após o
assassinato de Filipe II em 336 a.C. é seu filho Alexandre que assume o trono
com apenas vinte anos. Beréia desempenhou um papel importante nas guerras de
Alexandre contra o império persa. Em 323 a.C., Alexandre foi acometido pela malária
e morreu na Babilônia. Sem sua carismática liderança o império grego acaba
sendo dividido entre seus principais generais. O geral Antígono I governou a Macedónia
juntamente com Beréia, que neste momento histórico desempenha um papel
importante tanto nas suas cercanias como no restante do norte da Grécia. A
cidade alcançou destaque especial no reinado da última dinastia macedônia, os
antigônidas (306-168 a.C.), que por fim foram conquistados por Roma.
Quando rei
Filipe V em 197 a.C. foi derrotado pelos romanos o equilíbrio de forças
desmoronou e Roma tornou-se a inquestionável força no Mediterrâneo oriental. Em
168 a.C., em Pidna, alguns quilômetros ao sul de Beréia, um general romano alcançou
uma vitória decisiva sobre o último antigo governante macedônio, Perseu. Depois
dessa batalha, Beréia foi uma das primeiras cidades macedônias a capitular perante
Roma. Os romanos dividiram a Macedónia em quatro distritos e fez de Beréia a
capital de um deles.
No primeiro
século a.C., a Macedônia transforma-se em campo de batalha no conflito entre romanos
Pompeu e Júlio César. De fato, Pompeu instalou sua sede de governo e seu
exército nas proximidades de Beréia.
Em 146 a.C.
Roma fez da Macedónia uma província tendo a cidade de Tessalônica como a
capital. Os romanos imediatamente começaram a construir uma rodovia importante
desde Apolônia na costa do Adriático para Filipos e Neapolis. A Via Egnátia
tornou-se o catalizador de todo o comércio e tráfego greco-romano, mas a
transformação trazida pela nova estrada não teve muito efeito sobre Beréia, que
acabou ficando à sombra de Tessalônica, a nova capital comercial, por causa do
porto e a cidade de Pela,[3]
a velha capital política. Apesar de não gozar do mesmo prestígio político e
econômico de suas vizinhas, nos tempos apostólico tornou-se uma das cidades
mais populosas da Macedônia. Os estudiosos acreditam que a população da cidade
pode ter atingido 60.000 para 70.000 em seu apogeu (cerca de duas vezes a sua
população atual), mas isso são conjecturas.
Durante o
período denominado de Paz Romana (Pax Romana), Beréia alcança grande
desenvolvimento urbano com ruas pavimentadas com pedras, ladeadas de colunas, banhos
públicos, teatros, bibliotecas e arenas para luta de gladiadores. Havia água
potável encanada e a cidade tinha um sistema de drenagem subterrâneo. Beréia torna-se
famosa como centro comercial, visitada por comerciantes, artistas e atletas, e
muitos espectadores vinham para assistir a eventos de atletismo e outros. Para
os estrangeiros, havia locais de adoração onde podiam praticar os rituais de
sua própria religião. De fato, para essa cidade convergiam e se misturavam
credos de todo o mundo greco-romano.
Desta forma,
a cidade de Beréia tornou-se um forte centro de adoração pagã? O fato de ser
ela a sede do Koinon da Macedônia, uma assembleia de representantes de todas as
cidades macedônias. Tais representantes se reuniam regularmente em Beréia para
discutir assuntos urbanos e provinciais e resolvê-los sob supervisão romana.
Uma das principais funções do Koinon era supervisionar as celebrações
litúrgicas imperiais.
Os
imperadores romanos cedo começaram a serem venerados como deuses. Em suas
moedas, a figura do imperador era representada como deus, com a coroa radiada
na cabeça. A eles eram dirigidas aclamações com as mesmas invocações que eram
dirigidas a um deus, com hinos e canções. Construíam-se altares e templos e
ofereciam-lhe sacrifícios. Até imperadores compareciam às festividades de culto
imperiais, que incluíam competições atléticas, artísticas e literárias. Nada
disso era estranho aos bereianos, que já estavam acostumados Isso não deve ter
parecido estranho para os bereianos, acostumados a esse tipo de manifestação em
relação a Alexandre, o Grande, que era venerado como deus. Desta forma, acostumados
a divinizar um rei ainda vivo, os helenos [gregos] do Império oriental
prazerosamente prestavam honras litúrgicas também aos imperadores romanos. Nos
dias apostólicos, Beréia já estava sob ocupação romana por dois séculos.
Assim era a
cidade para onde Paulo e Silas viajaram quando fugiram de Tessalônica. Foi
utilizada pelo apóstolo Paulo como lugar de refúgio, durante sua segunda viagem
missionária (At 17:10-14), quando sofrendo perseguições por parte dos judeus da
cidade vizinha de Tessalônica, encontrou nos bereianos um acolhimento
restaurador.
Beréia
possuía uma comunidade judaica e uma sinagoga em que os dois missionários
pregaram. A prontidão dos bereianos em dar ouvidos à mensagem deles, e sua
diligência em examinar as Escrituras, em busca da confirmação das coisas
aprendidas, granjearam-lhes o elogio encontrado em Atos 17:11. Resultaram
vários conversos entre tais pessoas de “mentalidade mais nobre”, tanto judeus
como gregos, sendo um deles Sópater ou
Sosípatro, que veio ser
parte da equipe de Paulo (Atos 20.1-4; Rom 16. 21), quando do levantamento das
ofertas para os cristãos necessitados da Judéia.
A cidade
está situada em um cume com as bacias vizinhas bem regada por dois grades rios
o Eliakomon e Axios. As planícies aluviais ao norte de Monte Vermio eram (e
ainda são) rica em pomares de maçã, pêssego e pera. Uma grande represa elétrica
no Rio Eliakomon hoje oferece trabalho ao setor industrial, é uma área ainda
considerada razoavelmente prospera. Agora
chamada Verria, ou Veria, [4] é uma das cidades mais agradáveis de Rumélia, com 20.000
habitantes.
Há diversas tradições relacionadas à igreja
estabelecida em Beréia. Uma forte tradição, aproveitando uma citação nominal
(Atos 20.4) é de que Sopater, filho de Pirro, foi o primeiro convertido e líder
dessa comunidade cristã bereiana. Uma tradição diz que o primeiro bispo da igreja foi Onésimo (escravo fugitivo evangelizado por Paulo na prisão), mas, outra tradição propõe, com base no
Calendário Ortodoxo dos Santos, de que Karpus (um dos 70 discípulos enviados
por Jesus) foi o primeiro Bispo da igreja bereiana, mas nenhuma dessas tradições tem consistência histórica. No período posterior da
Idade Média houve grande prosperidade na região e Beréia foi considerada uma
das mais importantes, com muitas construções de igrejas, incluindo afrescos tão
antiga quanto o século 12 d.C. Deste período prospero foram encontradas ao
menos 37 igrejas, mas estudiosos acreditam que podem ter existido mais de 100
igrejas construídas na cidade.
Atualmente
na cidade há um monumento em memória do apóstolo Paulo e seu trabalho
missionário. O monumento inclui três passos que foram removidos de uma
escavação de resgate em uma propriedade escolar nas proximidades. O visor é
feito de mosaico colorido e exibe três painéis: a visão do homem da Macedônia, o
apóstolo Paulo, e o endereço dos bereianos.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Notas
[1] Extensas
escavações têm sido tentadas na área. Os principais artefatos encontrados estão
no museu local, no entanto, curiosamente, são monumentos funerários
principalmente. Algumas seções da muralha da cidade antiga são exibidas nas
bordas da cidade.
[2]O historiador,
geógrafo e filósofo grego Estrabão a menciona em sua monumental obra
“Geografia” (em grego, Γεωγραφικά, transl. Gheograficá; em latim Geographia),
que foi escrita originalmente em 17 volumes (livros), e pode ser vista como uma
enciclopédia do conhecimento geográfico do início da Era Cristã. Com exceção do
Livro VII, a obra chegou completa até nossos dias.
[3] É
cidade onde nasceu Alexandre, o Grande.
[4] A
cidade desempenhou um papel importante nas lutas entre os gregos e os búlgaros
e sérvios, e foi finalmente conquista pelos turcos em 1373-74.
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