Quanta dor! Uma dor aguda e intensa dilacera sua alma e coração! Um
som agudo sai de sua boca como expressão maior daquilo que corrói seu interior.
Algumas mulheres próximas a envolvem com seus braços, como que desejando
compartilhar e aliviar um mínimo o sofrimento dela.
Ela havia experimentado diversos graus de dor e aflição de
alma, mas jamais pensou que houvesse de suportar um sentimento tão dilacerante
como este. Há pouco tempo tinha experimentado algo semelhante quando seu amado
esposo adoeceu e depois de muitos dias lutando com os pouco recursos medicinais
disponíveis não resistiu e veio a falecer. Naquela hora foi como que se chão
desaparecesse e ela ficou por muitos dias atordoada, sem saber exatamente o que
fazer.
Haviam lutado tanto para construírem sua casinha, modesta,
mas acolhedora. O nascimento do único filho lhes trouxeram imensa alegria e
abriu seus corações para uma esperança positiva. Sim, havia muito trabalho duro
e os dias eram exaustivos, pois labutar com a terra sempre exigiu toda a
energia dos trabalhadores. Mas seu marido sempre fora um homem forte e
disposto, nunca havia ouvido dele qualquer murmuração do labutar diário, mesmo
nos dias mais quentes do verão palestino. O filho crescia cheio de energia e
vivacidade e tudo transcorria em sua plena normalidade, até que durante uma
noite percebera que o corpo do marido estava ardendo em febre. Imediatamente se
levantou e preparou uma das poucas medicações com ervas que aprendera com sua
mãe. Ministrou-lhe metodicamente de hora em hora uma dose do remédio, mas o
estado febril não se modificou. Nas primeiras horas do dia correu até um dos
sábios da Vila e relatou-lhe o que estava acontecendo. O velho rabi
imediatamente apanhou seus apetrechos medicinais e voltou com ela à casa. Mas
todos os esforços foram vãos e ao final de poucos dias seu querido esposo
estava sendo sepultado. O pranto demorou-se a se extinguir de seus olhos, ainda
que a dor lhe acompanhasse até os dias atuais.
Seu único consolo e a razão pela qual ela não se entregou
totalmente à dor era seu filho. Depois da morte do esposo ela se voltara
integralmente para a criação do menino. Vê-lo crescer cheio de força era sua
grande alegria. Mesmo quando ele abusava da sorte e fazia suas peripécias,
deixando ela apreensiva e irritada, tudo desaparecia quando ele a olhava e sorria
marotamente.
O tempo passa rapidamente e o menino torna-se um rapaz
bonito, despertando o interesse de muitas moças. Uma mistura de ciúmes e
orgulho se misturam no coração da mãe. Sabia que em breve o perderia para uma
jovem cheia de encantos, mas por outro lado, se realizaria na formação de uma
nova família, que seria a extensão de sua história e do querido esposo que
falecera.
Ela estava preparada para enfrentar as mais árduas
situações e circunstâncias, mas nunca para os acontecimentos que se seguiram.
Era pouco mais da terceira hora do dia quando seu filho retornou para casa
reclamando de uma dor forte na região do abdômen. Estava pálido e a dor
transfigurava-se em seu semblante, ela nunca havia visto o filho desta forma.
Disse que não havia comido nada e nem água conseguira tomar.
O pânico ameaçou dominar-lhe, mas ela rapidamente reagiu e
tirando-lhe a roupa o fez deitar-se. Sentiu imediatamente o corpo febril do jovem;
rapidamente colocou ervas na panela com água e enquanto aguardava a fervura,
umedecia pequenas pedaços de lençóis que revezava sobre a cabeça dele, em um
esforço de minimizar a febre. Passou a noite toda ministrando-lhe a medicação
de ervas e lhe refrescando a fronte, o rosto e o corpo com panos úmidos.
Havia avisado os vizinhos próximos e pediu para chamar o
rabi da Vila, mas fora informada que ele só retornaria no dia seguinte de uma
viagem curta que havia empreendido. Oh! Noite longa! Oh! Noite tenebrosa! Em
nenhum momento ela ousou pensar no que havia ocorrido com o marido. Não! O
filho era jovem, forte; seria apenas um mal-estar passageiro. Quem sabe pela
manhã nem haveria de precisar dos préstimos do rabi. Mas quando o ancião bateu
à porta anunciando sua chegada, o coração dela disparou. Quase não conseguiu
levantar-se da beira da cama do jovem, para abrir-lhe a porta.
Juntamente com o rabi vieram algumas vizinhas e amigas que
rapidamente lhe envolveram e a levaram para outro cômodo da casa, enquanto o
ancião esforçava-se por diagnosticar o que estava acontecendo com o rapaz. As
horas se multiplicavam rapidamente e todo o esforço do ancião demostrava-se
insuficiente; o estado do jovem não se alterava e a temperatura mantinha-se
extremamente alta. Quando as primeiras luzes da manhã surgiram, o ancião vem em
sua direção e segurando firmemente suas mãos diz que o jovem não resistira –
seu único filho estava morto!
Seu coração pareceu explodir! Sua cabeça ficou
completamente zonza – desmaiou. Ao acordar estava cercada pelas vizinhas e
amigas, que pranteavam sua dor e sofrimento indescritível. As suas lágrimas,
que havia pensado terem secado, transbordavam abundantemente em seu rosto, a
ponto de quase não ser capaz de enxergar os presentes. Suas forças se esvaiam
na mesma proporção das lágrimas; as pessoas falavam com ela, mas ela não
conseguia distinguir as frases, apenas palavras esporádicas – filho, corpo,
levar, preparar. Ela sabia, estavam levando o corpo de seu único filho para ser
preparado para o sepultamento. Tudo escureceu novamente e o silêncio a dominou.
Fora acordada algumas vezes e lhe fizeram beber algum tipo de caldo, mas ela
queria apenas permanecer na escuridão e no silêncio – era difícil pensar – e
insuportável permanecer vivendo. Para quê?
No dia seguinte foi mais uma vez despertada. A levaram para
o quarto e ajudaram-na a tomar um banho e colocar uma roupa limpa. Ela apenas
fazia movimentos mecânicos, ainda estava anestesiada pela dor que lhe rasgava o
peito e dilacerava sua alma. Um pouco mais desperta pelo banho frio caminhou em
direção a porta da frente quando percebeu que a casa estava totalmente tomada
pelas pessoas da vizinhança e ao sair viu que uma pequena multidão lhe
aguardava – a Vila inteira de Naim estava de luto – compartilhando a dor
daquela mulher viúva e que acabara de perder seu único filho. Sua esperança,
seu esteio, aquele que poderia lhe socorrer em sua velhice – fora arrancado
dela. As pessoas vão se afastando na medida em que com passos titubeantes ela,
apoiada por duas amigas, caminha na direção do corpo do jovem embalsamado e
colocado no esquife. Quatro homens levantam o esquife e começam a andar
lentamente em direção ao túmulo fora da cercania da Vila.
Quanta dor! Outro grito agudo sai de sua boca expressão a
dor insuportável que se avoluma em seu interior. É obrigada a parar em diversas
ocasiões do percurso, pois as pernas não conseguem se mover. Mas, amparada
pelas amigas prossegue. O que ela vai fazer? Como conseguira viver? O que será
de sua vida? Primeiro o marido querido e agora o único filho amado!! A vida
perderá completamente o sentido e a razão. Tinha certeza de que não conseguiria
viver com tanta dor a lhe consumir a alma!
O cortejo fúnebre já havia transposto o portão da pequena e
singela Vila de Naim, quando de repente, todos pararam. Ela levanta a cabeça e
seus olhos fitam um homem, aparentemente comum, sem nada de excepcional ou
extravagante; Ele fala e a voz dele penetra suavemente em seus ouvidos e imediatamente
acalma seu coração e faz sossegar sua alma – ela nunca havia em toda sua vida
ouvido som mais encantador e pacificador - "Não
chore!".[1]
Ao contemplar olhos dele sente uma ternura e compaixão jamais vista em qualquer
outra pessoa – quem é esse Homem?
Ele se aproxima do esquife e toca-o falando com um tom de autoridade
inconfundível: “Jovem! Volte a viver
novamente” – imediatamente o jovem levanta-se e senta-se e começa a falar
com as pessoas ao seu redor, como se não apercebesse do que havia ocorrido com
ele. Então Jesus conduz o rapaz até à sua mãe.
Ela e todos os demais que presenciaram esta cena
inesquecível foram tomados de um temor inimaginável e começaram a glorificar a
Deus e muitos começaram a gritar: "Um
poderoso profeta levantou-se entre nós!!", e outros declaravam: "Vimos a mão de Deus agindo
hoje".
Suas lágrimas se transformaram em risos! O coração dela
antes tomado pela dor insuportável, agora bate aceleradamente no compasso do
êxtase da alegria incontida! Oh! Bendito Jesus! Salvador! Que na manifestação
do amor misericordioso divino, transforma a dor em alegria e a morte em vida!
Um cortejo fúnebre havia atravessado os portões da Vila de
Naim, mas agora, ao retornarem, aquelas pessoas se transformaram em um grande
coral louvando engradecendo ao Deus eterno!
E por todos os anos em que aquele rapaz viveu, as pessoas
ao vê-lo eram obrigadas a glorificarem a Deus e testemunharem do poder
vivificador de Jesus Cristo. E os relatos desse acontecimento alcançou toda a
Judéia e transpassou as fronteiras da Palestina.
“Eu sou a ressurreição e a vida.
Aquele que crer em mim, ainda que morra
vivera”
Você crê
nisso?
(Jesus Cristo)
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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TÃO CERTO COMO O AR QUE EU RESPIRO, EU CREIO EM JESUS MEU ÚNICO E SUFICIENTE SALVADOR!!! GLÓRIAS E LOUVORES A TI JESUS CRISTO!!!
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