O termo grego [εὐαγγέλιον], que se traduz por «evangelho», provém do grego comum. Nos
escritos de Homero e Plutarco, significava, por exemplo, a recompensa dada ao
mensageiro por sua mensagem; ou, no contexto religioso, as ofertas de ações de
graça aos deuses por uma boa nova. Em Aristófano, passou a designar ou
especificar a mensagem propriamente dita, e depois, o conteúdo da mensagem, a
boa nova anunciada. Assim quando da comemoração do aniversário do imperador
Augusto, reverenciado como um deus e salvador, foi proclamado como “o começo, para o mundo, das boas novas, que
ele trazia”.[1]
A tradução e/ou versão das literaturas
religiosas dos judeus, o Antigo Testamento e/ou Primeiro Testamento, feita para
a língua grega, denominada de Versão dos Setenta (Septuaginta), utiliza-se desta
palavra para identificar as boas mensagens, aquelas que traziam alegria e
felicidade.[2]
Um exemplo é a notícia do nascimento de Jeremias (profeta), que foi comunicada
ao seu pai e que o deixou muito feliz (Jeremias 20.15). Mas sem dúvida alguma o
livro do profeta Isaías é por excelência o mais evangélico da bíblia hebraica.
Toda Jerusalém é convocada para anunciar as Boas Novas/Notícias com relação ao
reino de Deus (40.9). Os que proclamam essa mensagem evangélica são bem
aventurados: “Quão formosos são sobre os
montes os pés dos que anunciam boas novas (evangelho), que faz ouvir a
salvação, que diz a Sião: o teu Deus reina!” Mas a passagem messiânica que
mais claramente utiliza o verbo “euangelizomai” é Isaías 61.1: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim,
porque o Senhor me ungiu para anunciar as boas-novas aos pobres” e Jesus
aplicou essa passagem para si mesmo ao lê-la na sinagoga de Nazaré (Lc
4.16-18).
Portanto, o Evangelho anunciado nas páginas do
Novo Testamento é o cumprimento, em Jesus Cristo, das promessas do Evangelho
redentor de Deus anunciada nas páginas do Antigo Testamento (Rm 1.1-4; 1Co
15.1-5). E interessante aqui é que a palavra “promessa” (epangelia)
etimologicamente está relacionada a “evangelho” (euangelion).
Outro aspecto interessante é que as duas
primeiras vezes que aparece o termo “euangelizomai - anunciar” os anjos
(mensageiros) são os arautos das “boas-notícias - evangelho” (Lc 1.19; 2.10). E
significativamente a última vez que aparece o verbo “anunciar” novamente tem um
anjo como sujeito (Ap 14.6). Mas entre as primeiras proclamações e a última,
são os discípulos os incumbidos de anunciarem as boas novas de Jesus Cristo
para todo o mundo (Mc 16.15); aqui Marcos utiliza o termo “kerusso” (pregar),
que é sinônima de “euangelizomai” (evangelizar).
Entre os cristãos primitivos, o evangelho, era
primeiramente a boa nova da salvação realizada em Jesus Cristo, tal qual era
anunciada oralmente pelos apóstolos. Posteriormente, na medida em que as obras
evangélicas foram sendo escritas e começaram a circular nas comunidades
cristãs, o termo passou a ser aplicado à forma escrita desta boa nova
apostólica. Somente por volta do ano 150 d.C., passou a designar aqueles
escritos que contam mais especificamente a vida terrestre de Jesus Cristo. E é
neste sentido que se fala dos quatro evangelhos e que se chamam de evangelistas
os autores aos quais são atribuídos: Mateus. Marcos, Lucas e João.
No Novo Testamento grego, evangelho é a
tradução de [εὐαγγέλιον – euaggélion]
“boas notícias” e como substantivo ocorre 76 vezes, sendo que
nos escritos paulinos aparecem umas 60 vezes; na forma verbal [euanggelizo] aparece 54 vezes, significando “trazer ou anunciar boas novas”. Ambas
são derivadas do substantivo [aggelos] “mensageiro”.[3] No
grego clássico, um “euanggelos – anjo, mensageiro” era aquele que trazia uma
mensagem de vitória ou outras notícias políticas ou pessoais que causassem
alegria. Além disso, “euangelizomai” significava “ser um portador ou anunciador
de uma boa notícia; falar como mensageiro de alegria, proclamar boas notícias”.
Quanto à sua forma plural, ‘evangelhos’ não era
utilizada nos tempos apostólicos, nem mesmo durante mais duas gerações
seguintes;[4]
pois fazia parte da essência da mensagem apostólica que existe apenas um único
verdadeiro Evangelho; quem quer que proclamasse outro Evangelho, no dizer de
Paulo, que fosse “anátema” (Gl.1.8). Os quatro registros que tradicionalmente
aparecem no início da coleção da segunda parte da nossa Bíblia cristã, são
propriamente falando, quatro registros de um único Evangelho – como declara
Paulo o “evangelho de Deus ... com respeito a seu Filho” (Rm.1.1-3). Somente em
meados do segundo século da era cristã que começou a ser usada a forma plural; é
Justino Mártir, em sua Apologia, que se refere a eles no plural quando diz que
as “memórias compostas pelos apóstolos”
são chamadas de “Evangelhos”. Os
quatro registros foram mantidos, pois, subentendem que neles encontra-se o
Evangelho acerca de Cristo conforme a perspectiva de cada um dos quatro
evangelistas.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br
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Referências Bibliográficas
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova , 2001, [p.567].
OSCAR, Cullmann. A Formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1979, [p. 19-20].
OSCAR, Cullmann. A Formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1979, [p. 19-20].
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia,
v. 2. Tradução da Equipe de colaboradores da Cultura Cristã. São
Paulo: Cultura Cristã, 2008.
[1]
É bem provável que Lucas tivesse conhecimento disso quando lemos que foi
durante o reinado de Augusto, que Jesus nasceu (Lucas 2: 1).
[3]
Nossa palavra anjo é uma
transliteração da raiz da palavra grega para mensageiro (angelos). Essa mesma raiz é encontrada no substantivo “evangelho”
(euangellion) e no verbo “evangelizar” (euangelizomai).
[4]
Somente após a formação do Cânon cristão, que reuniu quatro escritos
evangélicos, é que começou a se utilizar o plural “evangelhos” para se referir
aos quatros livros.
[1]
Somente após a formação do Cânon cristão, que reuniu quatro escritos
evangélicos, é que começou a se utilizar o plural “evangelhos” para se referir
aos quatros livros.
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