INTRODUÇÃO
Quando nos referimos às questões relacionadas à adoração e ao culto, se produz ampla e não muitas vezes acalorada discussão, que pode ser facilmente comprovada pela quantidade de tratados produzidos em relação a essa temática.
Na verdade, a problemática em que está envolvida a adoração tem sua origem na queda da raça humana. A partir deste momento, o ser humano vai se afastando da genuína adoração e se emaranhando em uma vastíssima teia de pseudos conceitos sobre este ato tão fundamental na existência humana.
Ao se equivocar no que concerne ao verdadeiro culto, o ser humano se distancia por completo do verdadeiro e único Deus.
Analisando o texto proposto neste trabalho (JOÃO 4:24), poderemos extrair preciosos argumentos que nos serão de extraordinária utilidade, para respondermos a muitas das questões relacionadas à adoração.
Como o trabalho é exegético, teremos que nos restringir à análise da passagem escolhida e às implicações decorrentes dela.
1 – ANÁLISE HISTÓRICA DO TEXTO
1.1 – Autoria
Como os demais, este quarto evangelho não nomeia especificamente o seu autor. O título que encontramos registrado no Novo Testamento é resultado da tradição da igreja primitiva.
Os eruditos[1] concordemente atestam que no final do segundo século, a Igreja já ratificava o apóstolo João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu, como autor do quarto evangelho.
1.1.1 – Evidência Externa
Há uma grade variedade de evidências históricas, que sustentam amplamente a argumentação da autoria joanina. O estudioso Tenney (1972, p. 194) faz uma oportuna explanação:
Todo o testemunho da Patrística, desde o tempo de Irineu é preponderantemente a favor da autoria joanina. Clemente de Alexandria (190 d.C), Orígenes (220 d.C), Hipólito (c. 225 d.C), Tertuliano (c.200d.C.) e o Fragmento Muratoriano (c. 170 d.C.) concordam em atribuir o quarto Evangelho a João, filho de Zebedeu.
Somando a todos estes testemunhos idôneos, temos também as evidências providas de fontes gnósticas e outros grupos heréticos do segundo século. O Dr. Bruce citando uma dessas obras comenta: "O Evangelho da Verdade (c 140 d. C), uma obra gnóstica procedente ou de Valentino ou de um dos seus discípulos, traz diversos ecos, ou mesmo citações diretas, do nosso evangelho" (1990, p.18).
Uma outra fonte importante, quanto às evidências externas da autoria joanina, é o Diatessaron, uma espécie de harmonia dos quatro evangelhos, produzido por Taciano, discípulo de Justino, e que circulou a partir de c. 170 d.C. Neste trabalho fica evidenciado que o evangelho segundo João era amplamente aceito como um registro fidedigno da vida e da obra de Jesus Cristo (BRUCE, 1990, p. 19).
1.1.2– Evidência Interna
Há muita evidência dentro do próprio Evangelho que nos oferecem preciosas informações quanto à sua autoria.
O quarto Evangelho, como indica Michaels (1994, p.11), traz "pelo menos, uma espécie de assinatura, 'o discípulo a quem Jesus amava' (21:20-24; cf. 13:23-25; 19:26-27; 20:2-8; 21:7)." Entretanto, se faz necessário se definir - quem foi esse discípulo?
Uma análise sincera destes textos, despojada de preconceitos, nos conduzirá, com muita segurança, a identificarmos "o discípulo a quem Jesus amava" com João, o filho de Zebedeu.
Em sua introdução deste Evangelho, B. F. Westcott (1908, p. 5-25), elaborou uma série de argumentos concêntricos, que se tornaram clássicos, que relacionam o quarto evangelista com o apóstolo João, o filho de Zebedeu. Segundo esse autor, é possível inferir, a partir do próprio livro, com certo grau de certeza que o autor do quarto evangelho era um judeu da Palestina, uma testemunha ocular, um apóstolo, e, por último de tudo, João, o filho de Zebedeu. O Dr. Bruce em sua argumentação endossa esses argumentos (1990, p.11) e Taylor conclui: "Não haverá melhor análise da evidência interna da autoria joanina do que a de Westcott" (1995, p. 28).
Existem outras propostas diferentes, elaboradas pelos estudiosos que não aceitam a identificação do “discípulo amado" como sendo João, o filho de Zebedeu. Alguns propõem João Marcos e outros indicam Lázaro (PACK, 1983, p. 12; HULL, 1983, p. 236-237). Entretanto, nenhuma destas hipóteses suporta o peso de um estudo mais acurado.
Uma alternativa para a autoria do quarto Evangelho, construída e fortemente defendida na cidadela dos críticos racionalistas ou anti-supernaturalísticos, é de que o escritor foi o "ancião" mencionado nas I e II epístolas de João. Este “ancião" é identificado por estes estudiosos corno sendo o "presbítero João", citado em uma única passagem muito questionada de Papias, e mencionada por Eusébio, como enfaticamente defendido por E. R. Goodenough em seu artigo “John a Primitive Gospel” (1945, apud HENDRIKSEN, 2004, p. 19).
Assim, apoiados unicamente nesta citação, os críticos racionalistas afirmam que Eusébio confundiu João "o apóstolo", com este outro João, "o presbítero", que veio a escrever o quarto Evangelho.
Todavia, o argumento é falacioso, pois, em nenhum momento Eusébio declara que esse personagem tivesse sido o autor do quarto evangelho. Apesar das incontáveis páginas escritas sobre esse “presbítero” não há qualquer evidência histórica de que essa pessoa sequer existiu. E T. Zahn é ainda mais contundente: “Sem entrarmos em muitos detalhes, é seguro dizer que o 'presbítero João' é um produto da fraqueza crítica e exegética de Eusébio”. Com muita propriedade Hendriksen desconstrói toda esta fantasiosa argumentação em favor deste personagem em detrimento da autoria de João, o apóstolo (2004, p. 19-21). E Taylor faz uma profunda analise desta questão, na introdução de seu comentário, sob o título: "Por ser Presbítero não pode ser Apóstolo?" (1957, p. 25-28).
Apesar de toda essa discussão a grande quantidade de documentos da antiguidade cristã e os argumentos de crítica interna corroboram pela paternidade do apóstolo João, com respeito ao quarto Evangelho. E mais uma vez, nos apropriamos das preciosas palavras de Robertson: “Há dificuldades em aceitar a autoria joanina, mas há mais e maiores dificuldades em rejeitá-la...Somente o apóstolo João tem a estatura do autor deste Evangelho. Com João reconhecido como autor, o caminho é claro” (apud, TAYLOR, 1957, p. 19).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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Próximo artigo: Data e lugar em que o quarto evangelho foi escrito
Artigo Relacionado
NT - Evangelho de João: Contexto Religioso
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Referências Bibliográficas
BRUCE, F. F. João - Introdução e Comentário, 2a ed. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1990.
HENDRIKSEN, William. O evangelho de João. Tradução de Elias Dantas e Neuza Batista. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
HULL, W. E. Comentário bíblico Broadman, v.9. Rio de Janeiro: JUERP, 1983.
MICHAELS, J. R. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – João. São Paulo: Vida Nova, 1994.
PACK, F. O evangelho segundo João. São Paulo: Vida Cristã, 1983).
TAYLOR, W. C. Evangelho de João - tradução e comentário, v.1, 3a ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1957.
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento - sua origem e análise, 2a ed. (São Paulo, Vida Nova, 1972) p.194.
WESTCOTT, B. F. The gospel according to Saint John – with introduction and notes. London: John Murray, 1908.
ZAHN, T. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious – verbete – “John the Apostle”, abud HENDRIKSEN, 2004, p. 19).
[*] Trabalho Exegético no Evangelho Segundo João, para efeito de ordenação ao ministério pastoral.
[2]Taylor (1957, p. 18-19) faz uma citação importante, da argumentação de A. T. Robertson: "De certo aqueles que sabendo todos os fatos, ainda aderem à autoria joanina não tem motivo algum para supor que estão sozinhos quando ao lado se registram nomes como estes: Ezra Abbott, Alexander, Alford, E. H. Askwith, Baumgartnen-Crosius, Berthold, Beyschlang, Bleek, Bunsen, Dom Chapman, Charteris, Cameriynch, W. T. Davison, James Denney, Marcus Dods, De Welte, James Drummond, Ebrarat, H. H. Evans, Fisher, C. Fouard, Frank, Gloag, F. Godet, R. G. Gregory, Ftase, Haussleiter, Flayes, James Iverach, M. Jones, Logrange Lange, Robert Law, J. J. Lias, Leather, Lechler, Lidadon, Lightfoot, Lucke, Luthardt, McCIellan, McDonald, Meyer, William Milligan, Neander, Nolloth, Norton, James Orr, Peake, Plummer, Pressense, H. R. Reinolds, J, S. Riggs, Ritschl, J. A. Robinsom, Schleiermacher, Scott-Holland, Scott-Moncrief, Tholuck, Thoma, Wace, Watkins, B. Weiss, Westcott, Wordsworth, Zahn."
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