Posição Central de Cristo e da Igreja na História do Mundo.
A religião
cristã nasceu na Palestina, uma pequena faixa de terra no Mar Mediterrâneo
oriental. Os judeus consideravam Palestina sua Terra Prometida, mas nem um
outro pedacinho do mapa mundial foi alvo do desejo e cobiça de tantas potências
estrangeiras quanto a Palestina judaica.
O Egito e a Assíria disputaram esse espaço geográfico durante séculos, então surgiu
a Babilônia que conquista a Assíria e
por tabela também a Palestina. Em seguida veio a Persa liderada por Ciro, que dentro de uma nova forma de conquistar
e dominar permite que os judeus, e demais povos transladados, voltassem para a
Palestina. Levanta-se o grande império Grego,
sob Alexandre, o Grande cerca de 400 a.C., que mantém a política de domínio
babilônico e finalmente, nos anos que antecedem e perduram os acontecimentos
evangélicos de Jesus Cristo e neotestamentários do cristianismo primitivo,
assume poder o extraordinário império Romano.
Mas nenhum
destes movimentos no tabuleiro da História das civilizações foram aleatórios,
pois todos e cada um deles estava em perfeita coordenação com o advento de Jesus
e da Igreja Cristã. Quando começamos a deslumbrar nesses fatos históricos a
forma maravilhosa com que Deus conduz cada evento, somos obrigados a concordar
em grau, gênero e número com as palavras do apóstolo Paulo, quando afirma que
na “plenitude
dos tempos” Jesus Cristo veio e a Igreja nasce. Vejamos, ainda que
muito sucintamente a participação de ao menos três povos que efetivamente contribuíram
para tudo que aconteceu nos dias de Jesus e da Igreja Primitiva.
Contribuição da Nação Judaica
Diáspora Judaica: A diáspora
judaica, principalmente após o chamado “cativeiro
babilônico”, espalhou comunidades judaicas por todo o mundo conhecido
daqueles dias; mesmo com a reconstrução da cidade e do Templo em Jerusalém, a
grande maioria optou por permanecerem nos países onde se haviam estabelecido.
Nessas comunidades eles preservaram seus textos religiosos e sua mensagem da
expectativa messiânica.
Uma religião monoteísta: O Judaísmo,
pós cativeiro babilônico, em nítido contraste com as nações idólatras da
antiguidade, tornou-se um oásis em meio a um deserto, claramente definido e
isolado; separados e delimitado por uma lei moral e cerimonial rígido eles se
radicaram em uma fé monoteísta, de maneira que três séculos antes de Cristo, toda região do
Mediterrâneo já tomava conhecimento de que havia somente um Deus verdadeiro. A religião judaica era de cunho espiritual e
não filosófico como as religiões greco-romanas. Eles não se propunham a provar
a existência de Deus, apenas lhe prestavam o culto conforme lhes havia revelado.
A esperança messiânica: Muitos
séculos antes dos imperadores romanos se avocarem de “Senhor” e tentarem pelo
poder bélico implantarem seus “reinos”, os israelitas, através de seus
Profetas, já ensinavam que um Messias (Senhor/Rei) viria para governar sobre
todos os povos e nações. Mas diferente dos imperadores romanos, o Messias
governaria com Justiça e Misericórdia. Assim, enquanto os gregos e os romanos contemplavam
a sua idade de ouro no passado, os judeus contemplavam o deles no futuro. Toda a sua história, as suas
instituições e costumes religiosos, políticos e sociais apontavam para a vinda do Messias, e o estabelecimento futuro de
seu reino glorioso na terra. Onde houvesse uma família judaica ou uma sinagoga,
a esperança messiânica se fazia
ressoar. Quando Jesus veio já encontrou a expectativa messiânica estabelecida. E
esta esperança messiânica estava tão consolidada que muitos dos seus discípulos
após a sua morte e ressurreição esperavam para seus dias a concretização do
reino messiânico [Atos 1.6]. O próprio Apóstolo Paulo escreve sobre essa
expectativa eminente da Volta gloriosa de Cristo e da manifestação do Reino.
Uma Religião Ética:
Diferentemente das religiões em geral, o judaísmo ensinava que o pecado se
manifestava de dentro para fora (coração/mente) e não de fora para dentro
(corpo/matéria – dualismo: alma é boa, corpo é mau). O judeu era ensinado a
manifesta sua fé através de suas ações e não o contrário. A Lei promulgada por
meio de Moisés expressava de forma clara a vontade santa de Deus antes do
advento de Cristo. Sua síntese no Decálogo é a substância de toda a verdadeira
piedade e amor supremo a Deus e ao próximo. Este ideal de justiça, é suficiente
para o ser humano ao conhecimento do seu pecado e da sua culpa, servindo como
um aio para levar as pessoas a Cristo, afim de alcançarem sua justificação pela
fé. O sistema de sacrifícios diários mantinha constantemente vivo a necessidade
de reconciliação entre a pessoa pecadora e o Deus santo. Tanto o Tabernáculo no
deserto, quanto o Templo e toda lei cerimonial se constituíram em um
maravilhoso sistema de tipos e sombras, perpetuamente apontando para às
realidades da Nova Aliança, que culminou com o sacrifício expiatório
todo-suficiente de Cristo na cruz. No que se refere a lei, a economia judaica
era uma religião de arrependimento.
A Septuaginta e/ou Antigo Testamento: A maior
herança Cristianismo derivados do judaísmo foram os escritos do Antigo
Testamento. Cada um dos trinta e nove livros foram altamente valorizados e
preservados pelos judeus. Um dos maiores historiadores judeus, Josefo, faz uma declaração
contundente sobre a relevância deste conjunto de livros sagrados:
Como firmemente temos dado crédito aos livros de nossa própria nação é
evidente pelo que fazemos; pois durante tantos séculos como já se passaram,
ninguém foi tão ousado como quer acrescentar alguma coisa a eles ou tirar nada
deles, ou para fazer qualquer alteração neles; mas torna-se natural a todos os
judeus, imediatamente e de seu próprio nascimento, para estimar esses livros
para conter as doutrinas divinas, e para persistir neles, e, se a ocasião ser,
de bom grado para morrer por eles. (Josephus 1987, p. 398).
A
tradução dos textos hebraicos para a língua grega cuja versão recebeu o nome
de “Septuaginta” foi fundamental para
a preservação e internacionalização da mensagem veterotestamentária. Fora da
Palestina, onde se utilizava a versão aramaica, os judeus utilizavam a versão grega. Talvez seja essa a razão
pela qual os estrangeiros, que compreendiam o idioma grego, foram grandemente
atraídos para a religião judaica. Os missionários
cristãos utilizaram-se desta versão para comunicar a sua mensagem
evangélica, de maneira que as primeiras comunidades
cristãs tinham na Septuaginta sua
única bíblia.
A Sinagoga: foi uma instituição, se não filha da diáspora, mas
certamente popularizada pelas comunidades, primeira em cativeiro, e
posteriormente pelas que estavam espalhadas pelo mundo. Na Sinagoga as
Escrituras judaicas eram lidas e estudas, de maneira que foram copiadas e
preservadas. Mesmo na Palestina e em Jerusalém as Sinagogas continuaram sendo
amplamente utilizadas como local especifico para suas reuniões religiosas e sociais. Durante seu ministério Jesus utilizou bastante as Sinagogas
para proclamar sua mensagem evangélica e está também foi a estratégia do apóstolo Paulo
quando realizou suas viagens missionárias por todo Império Romano, sendo que,
em algumas ele foi duramente perseguido
(ex. Tessalônica), mas em outras ele
foi bem acolhido (ex. Beréia). Nessas Sinagogas havia sempre
um número expressivo de não judeus,
que desanimados com suas religiões, encontravam na mensagem hebraica uma
esperança para suas vidas. As primeiras comunidades cristãs foram formadas em
sua grande maioria por estes prosélitos
ou amigos da Sinagoga. Segundo o
historiador Earle E. Cairns ela foi a casa
de pregação do cristianismo nascente.
Utilização livre desde
que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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