Cada matéria do curso teológico tem
sua importância e complementa as demais para que o aluno possa ter uma ampla
visão dos temas correlatos à teologia.
A Geografia destaca-se pelo simples
fato de que ela procura responder à nossa exigência espacial – “Onde realmente aconteceu aquele
acontecimento?” A Historia utiliza os documentos para elucidar a questão,
mas a Geografia nos transporta para o palco dos acontecimentos e proporcionando-nos
uma visão tridimensional dos acontecimentos passados.
Mais particularmente a Geografia
bíblica, nos possibilita a oportunidade de reconstituirmos os caminhos
percorridos e delimitarmos os espaços.
Afrânio Peixoto coloca muito bem a interdependência e complementabilidade entre
a História e a Geografia: “A Geografia será
assim a ciência do presente, explicada pelo passado; a História, a ciência do
passado, que explica o presente." (apud, ANDRADE, 1987).
A bíblia é um livro composto de
registro de fatos, lugares e pessoas reais que podem serem localizados no tempo
(historia) e no espaço (geografia). Partindo do livro de Gênesis empreenderemos
uma viagem longa e riquíssima até o livro do Apocalipse. As informações geográficas
contidas nas páginas bíblica podem serem reconstituídas com um grau
significativo de fidelidade e exatidão. Na medida que localizamos, fixamos e
documentamos os registros bíblicos, a geografia bíblica substancia e proporciona
a estes relatos mais consistência e autenticidade, bem como uma perspectiva
mais viva.
Geografia: Definição
Etimologicamente,
a palavra geografia vem de dois vocábulos gregos: geo, terra e graphein,
descrever. Assim, Geografia é a ciência
que tem por objeto a descrição sistemática
e ordenada da superfície da Terra. Detém-se ela no estudo dos seus acidentes físicos, solos, vegetações e climas. A Geografia detém-se ainda na
pesquisa do estudo das relações entre o meio natural e os diversos grupamentos
humanos.
Deste
modo, dentro da Geografia Geral temos a Geografia Bíblica, cujo propósito é o
conhecimento das diferentes áreas da Terra relacionadas com as Sagradas
Escrituras. Na proporção que se descreve e delimita os registros bíblicos,
damos-lhes maior consistência e autenticidade, contribuindo para uma melhor interpretação
e compreensão dos fatos bíblicos.
Inicialmente
a Geografia limitava-se apenas a descrever a Terra, mas a partir do Século 19
assume um caráter cientifico e além
de descrever, passa também a ter a função de explicar os fatos. Há diversas
definições do que vem a ser Geografia e cito dois exemplos: para Alfred Hettner,
Geografia é o ramo de estudos da diferenciação regional da superfície da terra
e das causas desse diferenciação, e para Richard Hartshorne ela possibilita a
descrição bem como a interpretação, de maneira precisa, ordenada e racional,
das características variáveis da superfície da Terra. A questão esta em se
definir o que vem a ser a “superfície da
Terra”. A Enciclopédia Mirador Internacional esclarece esse ponto:
Tomar como tal apenas a face exterior da camada
sólida e líquida, iluminada pela luz do Sol, eqüivale a suprimir do campo de
interesse geográfico as minas e a atmosfera. Nesta ocorrem os fenômenos
meteorológicos e se configuram os tipos climáticos de profunda influência na
vida de todos os seres e, particularmente, na atividade humana.
Para nós a definição oferecida por J. Mackee Adams
é o nosso referencial nesse empreendimento de estudá-la, para ele a Geografia
Bíblica é o “painel bíblico em que o
Reino de Deus teve o seu início e onde experimentou seus triunfos”.
Desenvolvimento da Geografia
Um dos primeiros a elaborar
conceitos geográficos foram os egípcios,
mas limitavam-se ao Nordeste da África, à Ásia Ocidental e à Assíria. Os fenícios, por sua natureza aventureiro
chegaram até às ilhas britânicas.
Mas foram os gregos, principalmente com as conquistas de Alexandre, o Grande, que
saindo da Macedônia, na Europa Oriental, alcançou a Índia, no Extremo Oriente. Foram
os gregos que começaram a utilizar o termo “Geografia” e muitos deles se
dedicaram ao estudo dela, entre os quais podemos nomear Píteas, Heródoto,
Hipócrates, Anaximandro, Tales, Eratóstenes e Aristóteles; evidentemente suas
concepções geográficas estavam limitadas ao seus conhecimentos rudimentares, mas
suas concepções de que a Terra tinha a forma esférica e não achatada
(Aristóteles) e de que os oceanos formavam uma só massa liquida foi a base para
motivar os navegadores europeus dos séculos XV e XVI. Apesar da imensa
contribuição dos nomes citados, foram, sem dúvida, Estrabão (Geografia
Descritiva) e Cláudio Ptolomeu (Geografia Matemática) os maiores responsáveis
pela sistematização dos conhecimentos geográficos na Antiguidade Clássica. “Suas obras,ressaltamos, serviram de modelo
para os geógrafos responsáveis pela grande retomada da produção de
conhecimentos geográficos, ocorrida a partir do século XV, como veremos mais
adiante” (ROCHA, 1997, p. 04; PRADO JR., 1961, p. 171). Estrabão,[2] com sua obra tão bem elaborada composta de 17
volumes, “Geographia” (Γεωγραφικά), onde descrevia suas próprias experiências do
mundo ‑ da Galícia e Bretanha para a Índia, e do Mar Negro,
foi denominado o pai da Geografia.
Os romanos com seu pragmatismo e em
decorrência de sua expansão militar tiveram que elaborar relatórios cada vez
mais abrangentes e minuciosos das diversas regiões em que tinham demarcado sua
presença dominante.[3] Um
exemplo é a obra produzida por Julio César “Comentários sobre a
guerra contra os gauleses”, que contém
inúmeras e preciosas informações geográficas.
Na
medida em que o Império Romano entrava em decadência, os árabes passam a
ser os grandes responsáveis pela evolução da geografia grega. A preocupação
deles tinha tanto um interesse expansionista, que se estendiam do Oriente Médio até o norte da África e ia rumo à
Ásia (Cálcaso e Pérsia), quanto religioso, pois demarcavam as rotas pelas quais
os peregrinos islâmicos haveriam de percorrer até Meca, centro religioso do
islamismo. Muitas das obras gregas foram versadas para o árabe, tendo eles o
mérito de resgatarem os pressupostos geográficos que ameaçavam desaperecer. Foi
graças aos califas árabes que financiaram e mantiveram escolas superiores e
observatórios em muitas cidades dentro de seus domínios e que fomentaram sem
precedentes os estudos geográficos. Nomes como Ibn Fosslan, Del Cordadbeh, Ibn
Haukal, Massudi, El Edrise, Ibn el Wardi, Ibn Batuta, Abulfeda, se destacam no
desenvolvimento dos estudos geográficos, que nortearam e fundamentaram a
Geografia no período da Idade Média (ROCHA, 1997, p. 08-09; KRESTSCHMER, 1942,
p. 51-54).
No chamado período da Idade Média houve uma estagnação e
retrocesso nos estudos geográficos. Detendo o monopólio cultural a Igreja
limita qualquer conhecimento à sua imagem e semelhança. Interpretando
equivocadamente inúmeros textos bíblicos rejeita qualquer possibilidade
diferente. Ensina que a Terra é plana e que o Sol gira em torno da Terra,
condenando Copérnico por suas heresias. Censura os escritos de Marco Polo, que
havia viajado até a China. Somente com a chegada do Renascimento, resgata-se os estudos grego-romano, e a geografia de
Estrabão e Ptolomeu são revalorizados. A partir dos séculos XV, XVI e XVII
ocorre uma explosão de viagens marítimas na chamada expansão européia, e nessas
novas relações comerciais e culturais com outros povos, novos conhecimentos são
agregados, e a geografia é uma das beneficiadas nesse processo.[4]
A partir dos feitos de Colombo,
Vasco da Gama e Cabral, começaram a ser produzidas, com mais regularidade,
obras geográficas especializadas. A geografia recebeu novas subdivisões, entre
as quais, a geografia social,[5]
antropológica
e a geografia política.
No século XIX, surge a Escola Alemã,
trazendo a discussão se o clima era capaz de estimular ou não a força física e
o desenvolvimento intelectual das pessoas. A Escola Francesa, década de 30, discute
o quanto o meio ambiente determina o desenvolvimento físico e cultural.
Tomando
por base os estudo de Kant, novos métodos e rumos são elaborados para os
estudos geográficos. Nessa somatória de postulados torna-se possível se fazer a
correlação dos fenômenos característicos de uma região. Caminha fortemente para
se desvencilhar de seus algoses seculares – militares e administradores – para
assumir-se como ciência madura e dinâmica. Seus métodos e instrumental são
utilizados inclusive para o estudo das informações geográficas bíblicas.
A Geografia Bíblica e a Sua Relevância
Derivada
da Geografia Geral, a Geografia Bíblica objetiva o estudo das diversificadas
áreas da Terra que perfazem o Mundo bíblico estabelecidos nos registros da Bíblia,
tanto em sua Primeira parte quanto na Segunda. Na medida que descreve e
delimita os registros bíblicos, proporciona-lhes mais consistência e
autenticidade e torna-se um precioso instrumento auxiliar na interpretação e
compreensão dos fatos bíblicos. A Geografia Bíblica, definida por Mackee Adams
como o "painel bíblico em que o Reino de Deus teve o seu início e onde
experimentou seus triunfos" é indispensável a todos os estudiosos da
Bíblia.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos Relacionados
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INTRODUÇÃO GERAL
Referências Bibliográficas
ADAMS,
J. McKee. A Bíblia e as civilizações
antigas. Rio de Janeiro: Dois Irmãos, 1962.
ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Geografia bíblica.
Rio de Janeiro: CPAD, 1987
KRESTSCHMER,
K. Historia dela geografia. 3ªed. Barcelona:
Editorial Labor, 1942
PRADO
JR. Caio. Evolução política do Brasil e
outros estudos. São Paulo: Brasiliense, 1961
ROCHA,
Genylton Odilon Rêgo da. Geografia
clássica – uma contribuição para historia da ciência geográfica. Presença -
Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente, dez. nº 10, vol. I, 1997
(Universidade Federal de Rondônia). Disponível em: http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/10genyltonodilonregodarocha_geografiaclassicaumacontribuicaoprahistoriadaciencia.pdf.
Acesso em 04/08/2014.
[1]
Formação Acadêmica: Mestre em
Ciências da Religião (Universidade Mackenzie); Teologia (Seminário
Presbiteriano); Especialização em História do Cristianismo (Universidade
Metodista de Piracicaba); Ciências Contábeis (Universidade Cruzeiro do Sul); Profº Introdução Bíblica: Seminário
Bíblico de São Paulo (SBB); Faculdade de Teologia Integral da América Latina
(FLAM); Coordenador de Teologia - Faculdade
de Teologia Paschoal Dantas (SP). Dissertação
de Mestrado: O protestantismo na capital de São Paulo - Igreja
Presbiteriana Jardim das Oliveira. Dissertação [Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2013]; Blogs: Reflexão
Bíblica – http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
e Historiologia
Protestante - http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
[3] No período de auge do Império Romano, a
geografia irá contribuir com mais uma gama de conhecimentos, como por exemplo o
chamado "périplo", ou seja, a descrição dos portos, rotas e escalas
que os navegantes da época dispunham para realizar o comércio, tão necessário
ao funcionamento do Império, e também, por outro lado, garantindo sua eficaz
proteção militar.
[4]
Já no século XV, viajantes como Bartolomeu Dias e Cristóvão Colombo
redescobríriam o interesse pela exploração, pela descrição geográfica e pelo
mapeamento. A confirmação do formato global da Terra veio quinze anos mais
tarde, em uma viagem de circunavegação realizada pelo navegador português
Fernando Magalhães, permitindo uma maior precisão das medidas e observações.
[5]
A geografia social, por exemplo, recebeu a dedicação de nomes como Goethe,
Kant, e Montesquieti, preocupados em estabelecer em seu estudo a relação entre
a humanidade e o meio ambiente.
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