Continuamos na cidade de Jerusalém como
Jesus havia ordenado! Já se passaram sete semanas deste os acontecimentos da
festa da Páscoa e seguindo o calendário religioso judaico, conforme prescrito
por Moisés e preservado no Pentateuco (Dt 16.16), vai iniciar a festa de
Pentecostes ou como anteriormente era chamada festa das Semanas ou das
Colheitas.
A
sociedade israelita era agrícola de maneira que as colheitas eram fundamentais
para sua subsistência. A festa foi estabelecida para que eles se lembrassem de
que Deus os abençoava e supria suas necessidades vitais. Mas agora o
Pentecostes será revestido com um novo significado, pois a partir deste momento
o Espírito Santo se manifestara como nunca havia feito antes (cumprindo as
palavras do profeta Joel 2.28-32) e capacitara cada um dos discípulos a cumprirem
o ide que Jesus ordenara (Atos 1.8).
Uma vez
mais, como eles vinham fazendo diariamente na grande sala (cenáculo) cedida
pela mãe de João Marcos, estavam reunidos para o momento de oração e
compartilhamento dos ensinos de Jesus, quando de repente sobreveio a eles a
manifestação extraordinária do Espírito Santo, como que um vento forte e
labaredas de fogo os envolveram, e todos ficaram cheios da plenitude do
Espírito Santo. A partir desse momento nenhum deles será mais os mesmos!
Eles que viviam precavidos se reunindo às portas
fechadas, temendo as autoridades romanas e judaicas, agora são tomados por uma
coragem e intrepidez nunca imaginada. Imediatamente, Pedro e seus companheiros
iniciam a pregação da mensagem de salvação por meio de Jesus Cristo, o Messias.
Em seu primeiro grande sermão Pedro atinge uma das
mais amplas plateias de todos os tempos. Naqueles dias estavam em Jerusalém os
chamados judeus da diáspora, que não viviam em Jerusalém, mas espalhados pelos
mais diversos países do mundo todo (cf. mapa acima). Em seu relatório Lucas nomeia
mais de doze nações ali representadas.
Como sempre ocorre quando o Evangelho é proclamado
há os que de pronto creem e os que imediatamente o recusa. Citando
principalmente o profeta Joel o apóstolo Pedro, então porta voz do grupo,
conclui sua explanação conclamando seus ouvintes ao arrependimento e a fé em
Jesus. Uma multidão expressiva responde positivamente ao sermão pregado por
Pedro e o relatório de Lucas nos informa que mais de três mil homens se
apresentaram para o batismo naquele dia (sem contar mulheres e crianças).
Forma-se então a primeira comunidade cristã em
Jerusalém. Assim como vinha acontecendo, mas agora espalhados por toda a cidade
de Jerusalém, aqueles novos convertidos passaram a viver comunitariamente (2.42-47).
A maneira como passaram a viver e a pregar a mensagem de Jesus impactava todos
os moradores da cidade e diariamente novas pessoas desejavam fazer parte da
comunidade cristã.
A doutrina ou ensino dos apóstolos ocupava um lugar
preeminente nas reuniões comunitárias, visto que eles eram os que estiveram
mais tempo com Jesus e se constituíam em porta vozes autorizado; cultivaram a
prática diária de partir o pão (ceia) e das orações (culto). Aqueles que por
causa de sua nova fé haviam perdido tudo encontravam em seus novos irmãos a
solidariedade necessária. Infelizmente não tardariam os dias em que as nuvens
negras da perseguição haveria de envolver a vida destes pioneiros da fé cristã.
Estes primeiros cristãos não se afastaram das
atividades do Templo e continuavam a frequentá-lo normalmente, mas com uma
mensagem totalmente inovadora – Jesus cumpriu as profecias messiânicas e
inaugurou uma nova era. O testemunho deles no Templo era de suma importância,
pois atestava o cumprimento da mensagem prefigurada em todos os atos realizados
naquele lugar. Todo o ritual do Templo apontava para a obra vicária de Cristo
no Calvário.
O número de novos cristãos se multiplicava a cada
dia resultante da ação do Espírito Santo e não apenas mérito da religiosidade e
ação social dos discípulos. É o Espírito Santo que esta transformando a vida
das pessoas, na medida em que elas são confrontadas com a mensagem falada e
vivida da comunidade cristã. Ainda hoje é apaixonante relembrar este inicio da Igreja
Cristã, mas ao mesmo tempo é tão triste percebermos que vivemos cada dia mais
distante daquela realidade.
As Primeiras Perseguições
(3.1-7.60)
Após receberem o Espírito Santo
os apóstolos manifestam poder para curar enfermos e outros milagres, assim como
o fazia Jesus durante seu ministério. Certo dia Pedro e outros caminhavam em
direção ao Templo para orarem e anunciarem sobre Jesus quando foi parado por um
homem coxo de nascença que lhe roga uma caridade, mas Pedro cheio do Espírito Santo
e em o nome de Jesus cura aquele homem (3.8), de modo que, até mesmo os
adversários dos cristãos não podiam nega-lo (4.16). Não apenas sinais
positivos, mas até mesmo a morte súbita de um casal de nome Ananias e Safira
serviram de testemunho do poder manifestado na comunidade cristã (5.5,10)
criando um impacto tanto nos cristãos (temor) quanto nos observadores (tremor).
Até mesmo a sombra de um apóstolo passando sobre os enfermos era suficiente
para curá-los, cumprindo as palavras que Jesus houvera dito de que eles
realizariam feitos prodigiosos: curando os doentes e libertando os que estavam
atormentados sob a influência de espíritos demoníacos (5.16; cf Lc 9.1,2). Mas
em nenhum momento Pedro ou qualquer outro Apóstolo deteve o controle sobre este
poder. Quem determinava e realizava em quem, quando e onde era o Espírito Santo
e mais ninguém. Os apóstolos foram unicamente instrumentos do Espírito Santo para
realizarem os propósitos estabelecidos por Jesus.
Juntamente com todas estas
manifestações prodigiosas os cristãos continuavam a pregar intensamente a mensagem
do evangelho e a conclamar os pecadores ao arrependimento ante o terrível juízo
que pairava sobre suas vidas (3.19-23). Mesmo diante da ameaça de morte eles
jamais deixaram de testemunhar de Jesus (4.12; 5.29-31; 42). Em sua longa
exposição diante do Sinédrio, o diácono Estevão expõe de forma maravilhosa os
principais fundamentos da mensagem cristã que e constituíram nos fundamentos da
Igreja Cristã Primitiva, demonstrando de forma incomparável a manifestação da
graça salvadora de Deus desde Abraão e os patriarcas, culminando com a
desobediência do povo em relação à Moisés, que segundo ele era um retrato da
incredulidade daqueles líderes religiosos que ali estavam presente (7.51-53). O
resultado desta pregação foi a ira mortífera das autoridades judaicas que
ordenaram sua morte por apedrejamento.
Fica muito evidente que
muito mais do que os milagres a Mensagem do Evangelho foi, e continua sendo, a
linha mestra da expansão da Igreja. E na medida em que esta Mensagem é
transmitida com fidelidade ela produz os frutos da conversão e expansão da
comunidade cristã.
A morte do diácono Estevão,
o primeiro mártir do cristianismo, demarca a onda de perseguição contra os
cristãos, por parte não do Império Romano, mas das autoridades religiosa
judaicas. Acossados pelo crescimento avassalador da comunidade cristã;
confrontados pelos sinais e prodígios que se multiplicavam de forma espantosa;
impactados pela convicção irremovível da liderança cristã – a única reação
possível dos líderes religiosos judaicos foi ampliar e endurecer a perseguição
contra os seguidores de Jesus Cristo.
A forma ultrajante e
totalmente ilegal com que a prisão, julgamento e apedrejamento de Estevão
ocorreram é um paralelo direto com a prisão, julgamento e morte de Jesus, ali
mesmo na cidade de Jerusalém, separados apenas por um pequeno período de tempo.
Aqui neste triste acontecimento, se destaca a figura do jovem e zeloso fariseu
chamado Saulo de Tarso, que vai tornar-se o líder de uma perseguição mais
ostensiva e radical às comunidades cristãs que extrapola os muros da cidade de
Jerusalém e expande rapidamente por toda a Palestina. Mas nem o jovem Saulo com
todo seu zelo e fúria e nem todos os inimigos do cristianismo em todos os
tempos puderam impedir a proclamação da mensagem evangélica e nem a expansão e
estabelecimento das comunidades cristãs.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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