segunda-feira, 2 de março de 2020

Viajando no Livro de Atos: O Grande Acontecimento e Suas Consequências (2.1-7.60)


  

Continuamos na cidade de Jerusalém como Jesus havia ordenado! Já se passaram sete semanas deste os acontecimentos da festa da Páscoa e seguindo o calendário religioso judaico, conforme prescrito por Moisés e preservado no Pentateuco (Dt 16.16), vai iniciar a festa de Pentecostes ou como anteriormente era chamada festa das Semanas ou das Colheitas.

            A sociedade israelita era agrícola de maneira que as colheitas eram fundamentais para sua subsistência. A festa foi estabelecida para que eles se lembrassem de que Deus os abençoava e supria suas necessidades vitais. Mas agora o Pentecostes será revestido com um novo significado, pois a partir deste momento o Espírito Santo se manifestara como nunca havia feito antes (cumprindo as palavras do profeta Joel 2.28-32) e capacitara cada um dos discípulos a cumprirem o ide que Jesus ordenara (Atos 1.8).
            Uma vez mais, como eles vinham fazendo diariamente na grande sala (cenáculo) cedida pela mãe de João Marcos, estavam reunidos para o momento de oração e compartilhamento dos ensinos de Jesus, quando de repente sobreveio a eles a manifestação extraordinária do Espírito Santo, como que um vento forte e labaredas de fogo os envolveram, e todos ficaram cheios da plenitude do Espírito Santo. A partir desse momento nenhum deles será mais os mesmos!
Eles que viviam precavidos se reunindo às portas fechadas, temendo as autoridades romanas e judaicas, agora são tomados por uma coragem e intrepidez nunca imaginada. Imediatamente, Pedro e seus companheiros iniciam a pregação da mensagem de salvação por meio de Jesus Cristo, o Messias.
Em seu primeiro grande sermão Pedro atinge uma das mais amplas plateias de todos os tempos. Naqueles dias estavam em Jerusalém os chamados judeus da diáspora, que não viviam em Jerusalém, mas espalhados pelos mais diversos países do mundo todo (cf. mapa acima). Em seu relatório Lucas nomeia mais de doze nações ali representadas.
Como sempre ocorre quando o Evangelho é proclamado há os que de pronto creem e os que imediatamente o recusa. Citando principalmente o profeta Joel o apóstolo Pedro, então porta voz do grupo, conclui sua explanação conclamando seus ouvintes ao arrependimento e a fé em Jesus. Uma multidão expressiva responde positivamente ao sermão pregado por Pedro e o relatório de Lucas nos informa que mais de três mil homens se apresentaram para o batismo naquele dia (sem contar mulheres e crianças).
Forma-se então a primeira comunidade cristã em Jerusalém. Assim como vinha acontecendo, mas agora espalhados por toda a cidade de Jerusalém, aqueles novos convertidos passaram a viver comunitariamente (2.42-47). A maneira como passaram a viver e a pregar a mensagem de Jesus impactava todos os moradores da cidade e diariamente novas pessoas desejavam fazer parte da comunidade cristã.
A doutrina ou ensino dos apóstolos ocupava um lugar preeminente nas reuniões comunitárias, visto que eles eram os que estiveram mais tempo com Jesus e se constituíam em porta vozes autorizado; cultivaram a prática diária de partir o pão (ceia) e das orações (culto). Aqueles que por causa de sua nova fé haviam perdido tudo encontravam em seus novos irmãos a solidariedade necessária. Infelizmente não tardariam os dias em que as nuvens negras da perseguição haveria de envolver a vida destes pioneiros da fé cristã.
Estes primeiros cristãos não se afastaram das atividades do Templo e continuavam a frequentá-lo normalmente, mas com uma mensagem totalmente inovadora – Jesus cumpriu as profecias messiânicas e inaugurou uma nova era. O testemunho deles no Templo era de suma importância, pois atestava o cumprimento da mensagem prefigurada em todos os atos realizados naquele lugar. Todo o ritual do Templo apontava para a obra vicária de Cristo no Calvário.
O número de novos cristãos se multiplicava a cada dia resultante da ação do Espírito Santo e não apenas mérito da religiosidade e ação social dos discípulos. É o Espírito Santo que esta transformando a vida das pessoas, na medida em que elas são confrontadas com a mensagem falada e vivida da comunidade cristã. Ainda hoje é apaixonante relembrar este inicio da Igreja Cristã, mas ao mesmo tempo é tão triste percebermos que vivemos cada dia mais distante daquela realidade.
As Primeiras Perseguições (3.1-7.60)
Após receberem o Espírito Santo os apóstolos manifestam poder para curar enfermos e outros milagres, assim como o fazia Jesus durante seu ministério. Certo dia Pedro e outros caminhavam em direção ao Templo para orarem e anunciarem sobre Jesus quando foi parado por um homem coxo de nascença que lhe roga uma caridade, mas Pedro cheio do Espírito Santo e em o nome de Jesus cura aquele homem (3.8), de modo que, até mesmo os adversários dos cristãos não podiam nega-lo (4.16). Não apenas sinais positivos, mas até mesmo a morte súbita de um casal de nome Ananias e Safira serviram de testemunho do poder manifestado na comunidade cristã (5.5,10) criando um impacto tanto nos cristãos (temor) quanto nos observadores (tremor). Até mesmo a sombra de um apóstolo passando sobre os enfermos era suficiente para curá-los, cumprindo as palavras que Jesus houvera dito de que eles realizariam feitos prodigiosos: curando os doentes e libertando os que estavam atormentados sob a influência de espíritos demoníacos (5.16; cf Lc 9.1,2). Mas em nenhum momento Pedro ou qualquer outro Apóstolo deteve o controle sobre este poder. Quem determinava e realizava em quem, quando e onde era o Espírito Santo e mais ninguém. Os apóstolos foram unicamente instrumentos do Espírito Santo para realizarem os propósitos estabelecidos por Jesus.
Juntamente com todas estas manifestações prodigiosas os cristãos continuavam a pregar intensamente a mensagem do evangelho e a conclamar os pecadores ao arrependimento ante o terrível juízo que pairava sobre suas vidas (3.19-23). Mesmo diante da ameaça de morte eles jamais deixaram de testemunhar de Jesus (4.12; 5.29-31; 42). Em sua longa exposição diante do Sinédrio, o diácono Estevão expõe de forma maravilhosa os principais fundamentos da mensagem cristã que e constituíram nos fundamentos da Igreja Cristã Primitiva, demonstrando de forma incomparável a manifestação da graça salvadora de Deus desde Abraão e os patriarcas, culminando com a desobediência do povo em relação à Moisés, que segundo ele era um retrato da incredulidade daqueles líderes religiosos que ali estavam presente (7.51-53). O resultado desta pregação foi a ira mortífera das autoridades judaicas que ordenaram sua morte por apedrejamento.
Fica muito evidente que muito mais do que os milagres a Mensagem do Evangelho foi, e continua sendo, a linha mestra da expansão da Igreja. E na medida em que esta Mensagem é transmitida com fidelidade ela produz os frutos da conversão e expansão da comunidade cristã.
A morte do diácono Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, demarca a onda de perseguição contra os cristãos, por parte não do Império Romano, mas das autoridades religiosa judaicas. Acossados pelo crescimento avassalador da comunidade cristã; confrontados pelos sinais e prodígios que se multiplicavam de forma espantosa; impactados pela convicção irremovível da liderança cristã – a única reação possível dos líderes religiosos judaicos foi ampliar e endurecer a perseguição contra os seguidores de Jesus Cristo.
A forma ultrajante e totalmente ilegal com que a prisão, julgamento e apedrejamento de Estevão ocorreram é um paralelo direto com a prisão, julgamento e morte de Jesus, ali mesmo na cidade de Jerusalém, separados apenas por um pequeno período de tempo. Aqui neste triste acontecimento, se destaca a figura do jovem e zeloso fariseu chamado Saulo de Tarso, que vai tornar-se o líder de uma perseguição mais ostensiva e radical às comunidades cristãs que extrapola os muros da cidade de Jerusalém e expande rapidamente por toda a Palestina. Mas nem o jovem Saulo com todo seu zelo e fúria e nem todos os inimigos do cristianismo em todos os tempos puderam impedir a proclamação da mensagem evangélica e nem a expansão e estabelecimento das comunidades cristãs.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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