Enquanto aguardamos o inicio de
nossa viagem seguindo o roteiro proposto por Lucas, fizemos uma caminhada pela
cidade de Jerusalém e conhecemos um pouco de sua extraordinária história.
Enquanto continuamos na cidade
estamos participando das reuniões dos discípulos em um amplo salão que ficava
no andar superior de uma casa, essas salas eram muitas vezes usadas como salões
para reuniões familiares, provavelmente era da mãe de João Marcos, e o numero
de participantes era crescente. Esse local das reuniões chamado de Cenáculo também
foi o local em que Jesus havia passado sua última refeição pascal com seus
discípulos e a ocasião em que Ele instituiu a Ceia cristã. Assim, a cada
reunião se pode sentir uma carga emocional muito forte, pois eram inevitáveis
as lembranças daqueles últimos momentos com o Mestre.
Mormente os apóstolos,[1]
com exceção de Judas Iscariotes, estavam presentes nas reuniões, juntamente com
diversas mulheres (Lc 8.2s; 23.49,55; 24.10) e Maria a mãe de Jesus e alguns de
seus outros filhos, meio irmãos de Jesus, e não havia qualquer distinção
especial nem a ela e nem aos irmãos[2].
Nas reuniões havia muitas orações e oportunidades para
compartilharem alguns dos momentos deles com Jesus, bem como relembrar suas
palavras e ensinos. O espírito de comunhão e alegria era maior do que as
preocupações que ainda pairavam no ar por parte principalmente das autoridades
religiosas judaicas e também pelas autoridades civis romanas que temiam algum
tipo de rebelião, de maneira que durante as reuniões mantinham-se as janelas e
portas fechadas.
Foi durante uma das reuniões, mais
ou menos vinte dias após a ascensão de Jesus, onde havia um numero expressivo
de presença, cerca de cento e vinte pessoas[3], e
por esta razão talvez feita no pátio interior da residência, que Pedro, restaurado
em sua condição de líder pelo próprio Jesus (apascenta minhas ovelhas)[4]
propôs que era momento oportuno de escolher alguém para ocupar o lugar do
Iscariotes, que após trair Jesus havia tirado a própria vida. A dor está no
fato de que Iscariotes era “contado entre
nós!”. Mas ainda que o ato maligno de Iscariotes surpreendesse a todos
(menos Jesus), suas ações foram cumprimentos de profecias registradas no
Primeiro Testamento (Salmos 69.25 e 109.8). Esses e outros salmos são denominados
de messiânicos, pois o teor de sua mensagem refere-se ao Messias e que se
cumprem na pessoa de Jesus Cristo. Agora chegara a hora de outro tomar o seu
lugar no grupo apostólico.
O critério básico é que o candidato tivesse feito parte
do grupo maior de discípulos (provavelmente os setenta que foram enviados
dois-a-dois) que conheceram Jesus pessoalmente e principalmente que testemunhou
sua ressurreição - o evento decisivo que realmente faz do Cristianismo o
Cristianismo! Pouco significado teria para eles, para nós e para o mundo todo o
fato de que o ser humano Jesus de Nazaré tivesse vivido, ensinado, curado,
amado e sofrido a mais cruel das mortes, se esse Jesus não tivesse ressuscitado
dentre os mortos ao terceiro dia e assumido sua posição de “Senhor e Cristo”
(cf. Atos 2.32-36; 3.13-15; 4.10-12; 13.38s; 17.30s). Como escreveria
posteriormente Paulo – se Cristo não ressuscitou o Evangelho é uma completa
fraude e nós somos os mais infelizes sobre a terra.
Diante dos critérios dois nomes
foram indicados pelos irmãos: José, chamado Barsabás, com o cognome Justo, e
Matias [diminutivo de Matatias]. Pedro solicita um tempo de oração e após o
nome de Matias é confirmado[5]
para ocupar um lugar no corpo apostólico dos Doze[6] e
a alegria e gratidão a Deus toma conta da reunião.
Mas um acontecimento maior e mais
extraordinário está para acontecer em alguns dias. Esse acontecimento demarcara
o principio da expansão do Evangelho e da Igreja de Cristo por todo o mundo.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
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Referências
Bibliográficas
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Paulo: Vida, 1996.
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Merrill Frederick. Manual bíblico Unger.
Tradução Eduardo Pereira e Ferreira, Lucy Yamakami. São Paulo, Vida Nova, 2006.
[1] No transcorrer das narrativas lucana
somente Pedro (54 vezes), João (07 vezes) e Tiago (02 vezes) serão novamente
nominados, enquanto André e os demais apóstolos, incluindo o recém-inserido
Matias, desapareceram dos capítulos posteriores.
[2] É a última referência bíblica a Maria
mãe de Jesus e ela é colocada em pé de igualdade com as demais mulheres presentes
na reunião, assim como os irmãos - todos ligados pela conjunção “e” “... com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (1.14).
[3] Esse é significativo na tradição
judaica: 120 pessoas era o numero mínimo exigido para se formar uma nova
comunidade. O número 120 é o múltiplo de 12, desta forma esse grupo representa
o novo povo de Deus onde há a inclusão de Israel e gentios.
[4] As narrativas bíblicas nunca
dissimulam ou omitem as falhas de seus personagens, mesmo aqueles que serão
protagonistas dos eventos a serem desenvolvidos.
[5] Utiliza-se aqui o lançar sorte, para
saber qual dos dois, mas é preciso lembrar que o Pentecostes, ou seja, a
descida do Espírito Santo ainda não havia ocorrido.
[6] Muitos anos depois Paulo seria
chamado pelo próprio Jesus Cristo para ser apóstolo, não para os judeus (Doze),
mas para os “gentios ou nações”. Paulo defende sempre seu apostolado nesses
termos (1Co 15.5-10) e nunca exigiu ou disputou um “lugar” entre os “Doze”, mas
a equivalência de seus apostolados.
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