sábado, 2 de novembro de 2019

Natividade : A Cidade de Belém


Deus é especialista em transformar coisas pequenas e insignificantes em coisas grandiosas. A pequena e quase imperceptível cidade de Belém (pouco mais de um vilarejo) foi alçada a uma posição de destaque mundial. A razão pela qual Belém se tornou tão famosa é que nela nasceu o personagem mais importante de toda a história humana - Jesus Cristo.
Esta pequenina cidade localizada a onze quilômetros ao sul da capital Jerusalém, chamada também de Belém-Efrata pelo profeta Miquéias (5.2), era a terra original da família davídica, chamada efratéia (Rt 1.2; 1Sm 17.12), pois eles eram moradores da região Efrata, que era inicialmente subúrbio da cidade.
Como Tudo Começou
E ACONTECEU naqueles dias que saiu um decreto da parte do imperador romano César Augusto, para que todos se alistassem [este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria]. Para obedecerem este decreto as pessoas tinham que ir à sua própria cidade. Desta forma José que estava morando na Galiléia, na cidade de Nazaré, teve que se deslocar para a região da Judéia, para Belém, chamada cidade de Davi, pois ele era da casa e descendência de Davi, afim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.
Ora, havia nas proximidades pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. (Lc. 2.1-12)
                Belém era ainda um a pequena vila quando Jesus nasceu, alojada entre montanhas arredondadas de maneira que a leste pode era possível contemplar o deserto. Ela fica aproximadamente 10 quilômetros da capital Jerusalém; obrigatoriamente tornava-se um lugar de parada para os viajantes que optavam pelo “Caminho dos Patriarcas”,[1] que circundava as montanhas de Siquem, ao norte, até o monte Hebrom, ao sul. Belém significa “Casa do Pão” é uma região cercada de campos de trigo e de terra agricultável, portanto, se ajusta perfeitamente ao contexto, pois ali os viajantes se abasteciam dos alimentos e água necessários para a continuidade da viagem. É aqui nesta pequena e histórica vila que ocorre o maior acontecimento da história humana.
História de Belém Anterior a Jesus
                Quando tomamos conhecimento da historia israelita, registrada na primeira parte da Bíblia cristã, descobrimos que esta pequena vila é palco de fatos marcantes e desproporcionais à sua diminuta expressão geográfico-econômica e política. Vejamos alguns destes acontecimentos:
- É pelo “caminho dos Patriarcas” que Jacó e sua família viajam. Logo após passarem a pequena vila de Belém, conhecida também pelo nome de Efrata (Ephrath), Raquel a esposa mais amada de Jacó começa a sentir as dores de parto e ao dar à luz ao seu filho Benjamim, acaba falecendo. Tomado pela dor Jacó adquiri um campo e a sepulta, demarcando como costume da época o lugar com um pilar (Gn 35.16-20).
- Outro relato muito significativo que tem Belém como palco é a história de Rute. Apesar de ser uma moabita (Moabe), uma região que fica a leste, ela acaba por se casar com um rapaz hebreu. Mas seu esposo morre, assim como seu cunhado e seu sogro, de maneira que ela e sua sogra ficam sozinhas. Sua sogra, Noemi [Naomi], decide retornar à sua cidade natal, Belém, e Rute decide fazer a viagem com ela, deixando sua terra e sua parentela (à semelhança de Abraão). Ao chegarem totalmente desamparadas, Rute vai ao final de cada dia pegar as sobras de colheitas, ali acaba chamando atenção de Boaz, que era parente próximo de Naomi. Apaixonando-se por Rute cabe a Boaz a tarefa de resgata-las [redimi-las – redentor] daquela situação e após se casarem tem um filho (Jessé) de maneira que Noemi tornou-se avó do futuro rei Davi.
- Fazendo o link com a informação acima, mais uma vez temos a pequena cidade de Belém como cenário de uma das mais importantes cenas da história judaica. O último dos Juízes, também sacerdote e profeta, o velho Samuel é incumbido por Deus para ungir o próximo rei, pois Saul o primeiro havia sido reprovado por suas constantes desobediências às ordens de Deus. Para cumprir a orientação divina Samuel vai até Belém e procura a família de Jessé (neto de Noemi). Após serem reprovados todos os filhos mais velhos de Jessé, sobrou apenas o mais jovem que estava cuidando das ovelhas. Chamado o jovem Davi recai sobre ele a confirmação da escolha para tornar-se o segundo e mais importante rei de Israel (1Sm. 16.11-13).  É quase impossível imaginarmos a história judaica sem a figura do rei Davi. A partir deste acontecimento a cidade de Belém, ficou conhecida como a “cidade de Davi” e ficou vinculada à grande expectativa profética de que dali haveria de surgir o Grande Rei e/ou Messias, que haveria de estabelecer o trono de Davi para sempre e cujo governo se estenderia a todas as nações da terra (Mq. 5.2-4).
A partir destes exemplos e possível perceber quão significativo torna-se o nascimento de Jesus na pequena cidade de Belém. Palco de momentos tristes (morte de Raquel) e alegria (nascimento de Benjamim e unção de Davi). O evangelista Lucas seguindo este curso histórico declara que o nascimento de Jesus torna-se motivo de extraordinária alegria e as boas novas (evangelho) não apenas para os judeus, mas para todos os povos da terra, pois ali na cidade de Davi nasceu o Salvador, o Messias (Ungido), o Rei dos Reis.
Como ocorrera há tantos anos atrás, novamente Deus age de forma oposta. Davi era apenas um menino quando Samuel o ungiu como rei e torna-se o maior rei dentro todos os reis de Israel;  e agora Jesus nasce na forma mais humilde, em uma pequena vila, despido completamente de toda e qualquer pompa ou honrarias, para tornar-se o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, cujo domínio estende-se a toda terra, povos, línguas e nações. Não sem razão que a Historia dividiu-se entre Antes e Depois de Jesus Cristo.
Belém Atualmente
Hoje a cidade de Belém expandiu-se e assumiu uma importância significativa na economia da região,[2] dominada pelos palestinos. Infelizmente por causa dos conflitos permanentes entre os judeus e os palestinos, foi construída uma “barreira de segurança” levantada em 2004 e que tornou a cidade de Belém em um presídio “aberto”. Os turistas do mundo inteiro querem conhecer esta cidade, principalmente os palcos dos acontecimentos acima narrados. Do alto da cidade é possível avistar o “Caminho dos Patriarcas”, também se pode ver a Igreja da Natividade, construída pelo Imperador Constantino no inicio do século IV e que demarca o possível lugar de nascimento de Jesus.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
Elwell, Walter A. & Yarbrough, Robert W. Descobrindo o Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
Sicre, José Luis. Um Encontro Fascinante com Jesus - o Mundo de Jesus, v.2. São Paulo: Paulinas, 2004.
Reicke, Bo Ivar. História do Tempo do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1996.
Walker, Peter. Pelos Caminhos de Jesus. São Paulo: Rosari, 2006.
Lucado, Max. Seu Nome é Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.



[1] Com 1.200 quilômetros, a rota tem início nas ruínas de Haran, na Turquia, local onde, acredita-se, o patriarca ouviu pela primeira vez o chamado de Deus. E se estende por todo o Oriente Médio, incluindo cidades históricas como Alepo, Damasco, Jericó, Nablus, Belém e Jerusalém, e regiões de grande riqueza natural e cultural como as colinas do Líbano, a região de Ajloun da Jordânia e o deserto de Grajev, em Israel. No trajeto, encontram-se alguns dos locais mais sagrados do mundo. O ponto alto é a cidade de Hebron/ Al Khalil, local do túmulo de Abraão. Futuramente, o caminho será estendido para englobar as idas e vindas de Abraão rumo ao Egito, Iraque e, para os muçulmanos, Meca, na Arábia Saudita. O Caminho de Abraão é um projeto em andamento e mais informações podem ser encontradas em www.abrahampath.org.
[2] Segundo o censo palestino de 1997, a cidade tinha uma população de 21.670, sendo 11.079 homens e 10.594 mulheres. Nesse total estavam incluídos 6.570 refugiados, que correspondiam a 30.3% da população total. A população de Belém é constituída de cristãos e muçulmanos, que têm coexistido pacificamente durante a maior parte de sua história. Atualmente a população é majoritariamente muçulmana, mas a cidade ainda abriga uma das maiores comunidades de cristãos palestinos. O contingente de cristãos, que correspondia a cerca de 90% do total em 1948, tem decrescido drasticamente e hoje corresponde a 30%. Esse declínio é atribuído à falta de perspectivas da economia, dado que muitas famílias de agricultores cristãos perderam suas terras, para a construção de assentamentos judeus.

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