Esse e os demais artigos extraídos do
Salmo 119 são resultantes das Devocionais Matinais que venho mantendo com
alguns irmãos que tem perseverado. Esse alimento matinal extraído da Palavra de
Deus tem nos dado sustância para as lidas de nosso cotidiano, bem como tem nos
dado a oportunidade de reservamos um tempo precioso de comunhão com Deus e uns
com os outros.
Portanto, querido leitor, por serem
preparados para momentos devocionais, não espere encontrar profundas analises hermenêutico-exegéticas,
mas com certeza encontrara uma exposição bíblica plenamente saudável e harmoniosa
com os melhores comentários devocionais dos Salmos.
Como pode ser visto em artigo
anterior introdutório o Salmo 119 foi composto no estilo ou formato
acrostico (9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145). O compositor teve o cuidado
exaustivo de compor cada estrofe com uma especifica letra do alfabeto hebraico,
iniciando com a letra Alef (א)
e concluindo vinte e duas estrofes depois com a letra Tav (ת) a última letra do
alfabeto. Em
algumas poucas versões se manteve o nome das Letras, outras trazem um espaço
maior entre cada estrofe, mas infelizmente na maioria das versões em português não
há qualquer identificação desta característica acrosticas do Salmo.

Esse formato acrostico por si é um
trabalho belíssimo de poesia, mas o salmista acrescenta ainda mais uma
peculiaridade – o tema de todo o Salmo, assim como cada uma das suas vinte e
duas estrofes, é a Torah, as Escrituras hebraica e/ou o Antigo Testamento
(atualmente identificado nas academias por Primeiro Testamento). É uma linda e
profunda declaração de amor do Salmista pela Palavra de Deus, que por sua vez
expressa todo o seu amor pelo Deus revelado por meio destas Escrituras. Em algumas poucas versões em
português se manteve o nome das Letras, outras trazem um espaço maior entre
cada estrofe, mas infelizmente em muitas versões não há qualquer identificação
desta característica acrosticas do Salmo.
A
palavra Torah (תוֹרָה) ainda que possa ser
traduzida por Lei, em referência ao conjunto de leis que Deus ordenou ao povo
de Israel por meio de Moisés registrada no Pentateuco,
enquanto habitaram quarenta anos no deserto, após terem sido libertados da
escravidão do Egito; abrange um significado muito mais amplo, pois se refere a
toda a Instrução que Deus comunicou ao seu povo ao longo de toda sua existência
e desta forma incluem os Profetas e demais literaturas contidas no Primeiro
Testamento. A Torah é a bússola que dirige todo crente, em meio a este mundo
tenebroso, na direção correta da vontade de Deus e sempre corrigi a nossa rota
quando tomamos uma direção errada.
O
Caminho da Genuína Felicidade
Neste
artigo inicial veremos a Primeira Estrofe que começa no verso 1 até o verso 8
– se sua bíblia não faz distinção aproveite e marque, pode até pintar com lápis
de cera (versos 1-8) e ao lado do primeiro verso anote o nome da primeira letra
- alef.
O
salmista começa com uma descrição do caminho para a verdadeira felicidade,
assim como Jesus começou seu Sermão da Montanha, e o mesmo tema do Primeiro
Salmo que abre todo o conjunto dos Salmos (saltério).
A
Felicidade é o objetivo de todas as pessoas (Silvio Santos vendeu milhões de
carnês do Baú da Felicidade). A questão é que as pessoas procuram a Felicidade
em Caminhos que não irão encontrar. Parafraseando o autor de Provérbios: “há caminhos que parecem conduzir à
felicidade, mas o final deles é decepção, amargura e a total infelicidade”.
O salmista apresenta nesse longo Salmo o único caminho seguro para genuína
felicidade aqui e na eternidade.
Entretanto,
o termo hebraico fala de uma felicidade objetiva e concreta e não apenas
emocional e subjetiva. Em toda a Bíblia este termo é utilizado para descrever a
vida das pessoas, e somente estas, que são alvo das bênçãos de Deus. A Salvação
é a maior e mais extraordinária das bênçãos que somente o crente recebe e por isso
ele é um bem-aventurado, uma pessoal realmente feliz. O que não significa que ele
está isento de enfrentar fornalhas ardentes, cova de leões ferozes ou passar
pelos vales da sombra da morte. A genuína felicidade é aquela que enfrenta e suporta
todas as adversidades na plena certeza de que todas as coisas cooperam para o
seu bem e de maneira que até mesmo as mais difíceis e inexplicáveis situações
que surgem na sua vida Deus transformara cada uma delas em bênção (cf. a vida
de José nos ensina).
Mas quem são estas pessoas Felizes – que encontraram
a verdadeira bênção? O salmista responde na primeira linha do Salmo:
Felizes são aqueles que fazem da Lei do
Senhor o seu caminho
e andam por ela sem se desviar.
Caminho aqui é uma forma poética para se referir a uma forma
especifica de se viver. Desta forma o poeta bíblico mantém a metáfora de
andar/viver explicando que somente aquele que anda ou vive em conformidade com
a Torah será verdadeiramente abençoado ou feliz.
Há dois princípios aqui: o primeiro é o
quanto estamos dispostos a viver diariamente dentro dos Padrões estabelecidos
pela Palavra de Deus – do quanto de fato e de verdade estamos dispostos a fazer
dela a nossa única Regra de Fé e
Prática. O segundo é o quanto estamos
dispostos a perseverar neste propósito de obedecer a Palavra de Deus.
O verso dois traz uma questão
interessante: a verdadeira Felicidade, usufruir as bênçãos de Deus exige
ESFORÇO:
“Felizes aqueles que se esforçam para
obedecer”
Obedecer
a Palavra de Deus não é para preguiçosos; para negligentes; para displicentes –
exige Esforço, Dedicação, Abnegação. É só nos lembrarmos do Getsêmani (enquanto Jesus orava, até que seu suor se
transformasse em gotas de sangue; os discípulos dormiam sossegados). A
Torah é para ser praticada, pois ela não é um conjunto de pensamentos filosóficos
abstratos, mas um manual vivencial – deve ser amalgamada em todas as esferas da
nossa vida cotidiana.
Mas
o salmista aperta ainda mais o parafuso: obedecer de todo o coração aparece seis vezes neste Salmo (119.2 , 10 , 34 , 58 , 69
, 145 ) – integralmente, sem reservas..., portanto esta felicidade não é para
aqueles que estabelecem limites - eu vou obedecer até aqui..., não é para
aqueles que escolhem apenas o que lhes interessam do Evangelho..., isto eu
estou disposto a fazer, mas este ponto não (sou crente, mas não sou fanático).
Infelizmente hoje Deus tem sido procurado
cada vez mais nas frias pesquisas acadêmicas e nos compêndios teológicos e cada
vez menos com o coração.
E
no verso quatro ele explica porque
devemos obedecer integralmente a Palavra de Deus: Tu nos destes os teus mandamentos, para serem
obedecidas diligentemente (na Linguagem de
Hoje: para serem
obedecidas de verdade) e não para pendurar
em quadrinhos de parede, adesivos de carro e camisetas.
Ele
nos oferece ao menos duas razões para obedecermos diligentemente, de verdade: primeiro Satanás é terrivelmente astuto
e diligente em nos tentar; segundo
somos por demais débeis e frágeis.
No
verso 6 ele faz uma declaração interessante:
“Fazendo
isso, eu sei que ninguém poderá me acusar de coisa alguma, Então não terei
vergonha de respeitar todos os Teus mandamentos”.
Fazendo
da Palavra de Deus o nosso caminho, podemos andar de cabeça erguida, pois toda
acusação que pesava sobre nós e todos os nossos pecados foram pregados na Cruz
– não temos medo do Tribunal de Deus, pois a Justiça de Cristo nos reveste. O
apostolo Paulo declarou: “Quem intentará
acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que
condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre os
mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm
8.33,34). Tristemente vemos hoje muitos evangélicos que tem vergonha de
declarar "Eu sou um cristão!”, ou “Eu Creio na Bíblia!”. O salmista
declara com toda convicção: “não terei
vergonha de obedecer todos os Teus mandamentos”.
Livres
do medo e já resgatados, vivendo em obediência à Palavra de Deus, não temos
medo de nada e a paz que excede todo entendimento faz sossegar nosso coração e
nossa alma – nem o inferno e nem as circunstâncias podem tirar isso de nós!
Diante
dos benefícios de fazer da Palavra de Deus o seu Caminho (a sua maneira de viver nesse mundo); o Salmista declara seu desejo
de louvar a Deus (expressar sua gratidão):
Eu Te
louvarei com retidão de coração.
A
Felicidade do Crente inicia em Deus e se manifesta em Louvor a Deus! Todo
conhecimento que não produz uma vida de louvor a Deus é inútil, carnal e diabólico.
Uma mente cheia do conhecimento bíblico e um coração vazio de gratidão a Deus é
antagônico e uma afronta a Deus. Satanás tinha conhecimento da Bíblia, mas a
distorce para tentar o próprio Cristo.
E o salmista
conclui com um pedido:
“Por favor, não me
deixes sozinho!”.
Nunca me deixes com as
minhas próprias forças, nem com o meu próprio coração! Não desista de mim! Sua confiança de que cumpriria os
mandamentos de Deus baseava-se unicamente no fato de que Deus não o
abandonasse. Não há outro fundamento de persuasão de que seremos capazes
de guardar os mandamentos de Deus do que aquele que se baseia na crença e na
esperança de que Ele não nos deixará.
O salmista tem plena consciência de suas limitações para obedecer na
prática os mandamentos de Deus, e diferente da postura de Pedro que achava
capaz por si mesmo de suportar as pressões que viria, mas que vergonhosamente
nega seu Mestre três vezes, o salmista tem a humildade para pedir que Deus em
hipótese alguma o deixe por conta própria. O salmista entenderia muito bem as
palavras de Cristo – “porque sem
Mim (separados de Mim) vocês não podem fazer coisa alguma”.
Quantas vezes nos falta essa humildade do salmista e sobra aquela autoconfiança de Pedro, e aqui está a
distinção de uma vida cristã bem aventurada, feliz e uma vida cristã medíocre,
que não se destaca na qualidade, no valor ou na originalidade e, portanto,
torna-se uma vida cristã infeliz. Ao contrário o Salmista aspira obedecer plenamente
os Mandamentos de Deus, pois o ama de todo o seu coração, forças e
entendimento.
“Ó, não me abandone nem um momento que seja!”.
Vamos orar:
Nosso Deus eterno,
cheio de misericórdia e graça, desejamos obedecer todos os teus mandamentos, pois
te amamos com toda a intensidade de nosso ser. Todavia, esbarramos em nossas
próprias limitações e fragilidades humanas, por isso ó Deus te rogamos: não nos
abandone! Precisamos sentir sua presença junto conosco em todo o percurso desta
nossa vida. Sem Ti nada somos e sem Ti nada podemos fazer. Ouça esta nossa
oração, pois a fazemos em o nome do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém e
Amém!
Utilização livre
desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências
da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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