sábado, 16 de março de 2019

Jesus Cristo no Livro de Atos



            Há uma ideia equivocada de que o ministério do Senhor Jesus Cristo se encerrou após sua ascensão, conforme registrado nas narrativas evangélicas. Aqui temos a relevância do segundo volume escrito por Lucas - Atos – onde ele ainda nas primeiras linhas esclarece esta questão afirmando que se no primeiro volume (evangelho) trata de tudo quanto Jesus Cristo havia ensinado e realizado, neste segundo volume (Atos) ele vai tratar do que Jesus continuou a ensinar e fazer de uma forma muito mais completa.  
Jesus Ressurreto
            Os evangelistas narram as atividades do Jesus encarnado que viveu entre o povo manifestando a glória de Deus (Pai), mas em Atos temos a narrativa da perspectiva do Jesus ressurreto; por quarenta (tempo completo, de maturação) dias Jesus convive com seus discípulos para que não pairasse qualquer duvida de que era Ele mesmo: “Durante os 40 dias depois da sua crucificação Ele havia aparecido aos apóstolos diversas vezes em forma humana e provado para eles de muitas maneiras que era realmente Ele que estava ali. Nessas ocasiões falou a respeito do Reino de Deus” (At 1.3 – Bíblia Viva). O propósito de Jesus não era acrescentar qualquer outro ensino ou fazer qualquer outro milagre, mas seu objetivo neste curto período de convivência com os discípulos era tão somente deixar claro que Ele estava vivo, que Ele ressuscitara.
Esse é um fato fundamental da fé cristã – Jesus ressuscitou – Ele venceu a morte! Esse era o brado vitorioso de todos os cristãos nos dias de Paulo: “Onde está ó morte a tua vitória?” A informação incontestável de que Jesus vive é a fonte de toda nossa esperança das realidades eternas.
Quando os primeiros cristãos eram presos e lançados no Coliseu romano, somente uma coisa os confortava e animava – Jesus Cristo vive! Paulo declara em alto e bom som aos crentes de Corinto e a todos os crentes em todo o tempo – se Cristo não ressuscitou não há fé e nem esperança alguma e nos tornamos os mais miseráveis sobre toda a terra! A fé cristã tem um diferencial – Jesus Cristo vive! Quando uma pessoa em qualquer lugar do mundo se tornar um cristão e vive a vida cristã, a primeira convicção básica de que necessita é que Jesus está vivo agora. Quando temos isso em mente significa que estaremos vivos quando este mundo acabar.
Mas a narrativa de Atos informa que Jesus não só mostrou-se vivo, mas lhes falava sobre as coisas pertencentes ao reino de Deus. Todo cristão tem plena consciência ou deveria ter, de que o seu lugar definitivo não é este mundo, mas na eternidade haverá um lugar especifico onde definitivamente haverá de morar.
Jesus Voltará
Um segundo aspecto importante que Lucas quer realçar aos seus leitores está no nono verso do primeiro capítulo: “Não foi muito depois disto que Ele subiu ao céu e desapareceu numa nuvem, estando todos olhando para Ele”. Assim como os discípulos nós também continuamos vivendo no mesmo tipo de mundo do qual Ele foi levado. Mas enquanto eles olham dois anjos os trazem à realidade e lhes faz uma declaração fundamental: "Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado aos céus, voltará da mesma forma como o viram subir" (1.11). Assim, quando olhamos para o alto e contemplamos as nuvens deveríamos nos lembrar desta verdade inexorável de que Jesus não apenas está vivo, não apenas retornou aos céus, MAS ELE VOLTARÁ! Em outras palavras, Sua segunda vinda é uma realidade.
Jesus Continua Ativo
Jesus continua exercendo seu ministério no livro de Atos. Encontramos no final do segundo capítulo: "O Senhor acrescentava à igreja diariamente, os que iam sendo salvos”. Lucas poderia ter dito “Deus fez isso”, mas preferiu escrever que o “Senhor (Jesus)” estava inserindo estes novos convertidos na comunhão da Igreja.
No capítulo três temos a cena de Pedro e João curando um homem coxo na porta do Templo e as palavras deles são tremendas: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande” (verso 16). É Jesus operando a cura através dos discípulos como o fizera tantas vezes em seu ministério público ao enviá-los de dois em dois por toda Palestina judaica.
No capítulo sete, temos a história do julgamento e do apedrejamento até a morte de um diácono chamado Estêvão. Enquanto seus algozes lhes atiravam pedras Estevão faz essa declaração: "Vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de Deus" (verso 56). Somente os genuínos crentes podem ter uma visão do Cristo glorioso em seu leito de morte – quanto consolo!
No tempo em que meu trabalho acabar
E enfim de Deus a presença gozar,
E quando a Cristo eu puder contemplar,
Oh, quanta glória haverá com Jesus!
Sim, haverá glória sem par,
Junto a Jesus, glória sem fim!
Oh, quando a Cristo eu puder contemplar
Glória, sim, glória haverá com Jesus!
(Hinário Novo Cântico – 185)
Quando chegamos aos capítulos oitavo e nono temos o registro da conversão[1] de Saulo de Tarso, que deixa Jerusalém com documentos oficiais que lhe permitia prender[2] todo e qualquer judeu que professasse sua fé em Jesus Cristo que ele encontrasse[3] na cidade de Damasco. Quando Saulo e seus auxiliares estavam chegando na cidade de Damasco, de repente, brilhou sobre ele uma luz resplandecente do céu então ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que você me persegue? Saulo perguntou: Quem és tu, Senhor? Ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem você persegue”. Saulo se encontra nesse momento face a face com o Senhor Jesus glorificado e isso será o marco divisor na vida dele (1Co 9.1; 15.8; II Co 12.1 ss.)
A partir deste encontro a transformação operada na vida Saulo será tão profunda que posteriormente ele passara a ser identificado como Paulo e receberá a alcunha de “apóstolo dos gentios”. Não foi uma argumentação teológica ou filosófica ou ética/moral que transformou a vida de Saulo/Paulo – mas o fato de que ele viu o Senhor Jesus ressurreto. Mais tarde, no mesmo capítulo oito de Atos um cristão chamado Ananias dirigiu-se a ele e disse: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho por onde você vinha, enviou-me para que você volte a ver e seja cheio do Espírito Santo" (verso 17).
No livro dos Atos a própria essência da fé cristã, o que lhe dá força,
é a convicção de que Jesus está vivo.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
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BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
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ERDMAN, Charles R. Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
FITZMYER, Joseph A. Los Hechos de los apóstoles, v. 1. Salamanca (Espanha): Ediciones Sígueme, 2003.
MARSHALL, I. Howard. Atos – introdução e comentário. Tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1982 (2008).
RYRIE, Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
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STAGG, Frank. O livro de Atos – a luta primitiva em prol de um evangelho vencedor. Tradução Rev. Waldemar W. Wey. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1957.
WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida, 1996.



[1] Esse acontecimento será descrito mais duas vezes no livro de Atos, ainda que com pequenas variações, mas nada que coloque em dúvida o fato da conversão de Paulo (22.3-16; 26.4-18).
[2] Muitos colocam duvidas sobre o fato de que Saulo tinha documentos legais que lhe autorizaram a prender judeus “dissidentes”, mas no período dos Macabeus o imperador romano deu autorização para as autoridades judaicas prendessem aqueles que fossem perigosos para a estabilidade social (I Macabeus 15.15-21).
[3] Em suas epístolas ele faz questão de se referir a este cruel propósito, como testemunho da mudança que ocorrera em sua vida (1Co 15.8-9; Gl 1.12-17; Fp 3.3-7 e 1 Tm 1.12-16).

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