Nesta
série de sintéticos textos estamos nos inteirando do contexto em que
Paulo e seus companheiros exerciam suas atividades missionárias. Neste
haveremos de verificarmos como era a estrutura familiar no mundo greco-romano
do primeiro século.
O casamento era visto como uma relação de
mutuo consentimento.[1] O
historiador Everett Ferguson descreve o matrimônio assim: “O consentimento para viver juntos constitui um casamento em todas as
sociedades, e a procriação de filhos era um objetivo explícito. Os matrimônios
eram registrados para que os filhos fossem legítimos”. Ainda que
oficialmente o casamento fosse monógamo, o adultério era frequente e até mesmo
tolerado. O divórcio requeria apenas
uma notificação oral ou escrita.
O homem tinha um papel dominante na
família. Tinha uma autoridade absoluta
sobre seus filhos (pátrio poder)[2] e escravos. As esposas permaneciam debaixo da autoridade de seus pais. Os homens
ocupavam seu tempo entre negócios e atividades sociais como banquetes e nos ginásios
que incluíam instalações para exercícios, piscinas e salas de conferências –
funcionavam como centros comunitários.
Quando
da ausência do esposo a esposa é quem assumia seus negócios. Administrar era a
responsabilidade primária da esposa. Ferguson transcreve o que o escritor grego
Apolodoro registrou: “Temos cortesãs para
o prazer, criadas para a atenção cotidiana do corpo, esposas para ter filhos e
para serem guardiãs confiáveis dos negócios da casa” (2003, p. 77).
Sem
qualquer dúvida, as mulheres não
estavam confinadas necessariamente ao lar. Algumas se ocupavam de cousas tão
diversas como a música, a medicina e o comércio. Muitas ocupavam cargos políticos
e algumas tinha posições de liderança nos cultos religiosos.
Os filhos não eram considerados como parte
da família ainda que fossem reconhecidos pelo pai. Podiam ser vendidos ou expulsos se não eram desejados.
Os
pais deveriam encontrar uma educação adequada para seus filhos por sua conta.
As meninas podiam frequentar as
escolas fundamentais, porém não era frequente. Em sua maior parte, aprendiam as
habilidades relacionadas com a casa. Os meninos
em sua maioria aprendiam um oficio em casa ou como aprendizes, podiam passar
por uma educação básica e avançada, dependendo de sua posição social. A memorização mecânica era um elemento
chave na educação primária. A retórica era o tema mais importante na educação
avançada. O direito romano estabelecia
uma idade mínima para o casamento - doze para meninas, de catorze para os
meninos; a idade do primeiro casamento para as meninas romanas livres normalmente era entre doze e dezoito.
Os escravos eram parte do mobiliário da
família no império romano. Podiam ser adquiridos através de vários meios,
incluindo a guerra ou como parte do pagamento de suas dívidas. Os escravos
podiam trabalhar nas minas, em templos, em casa como mestres (professores) e na
indústria; alguns podiam chegar a ocupar posições elevadas como administradores
na burocracia civil. Os escravos podiam ganhar dinheiro suficiente para comprar
sua própria liberdade, se bem que tinham que seguir trabalhando para seus donos
anteriores.
É
dentro desta estrutura familiar que os apóstolos trouxeram as novas ideias acerca do valor do indivíduo
e das relações conjugais e familiares.
Os maridos deveriam ser fiéis às suas esposas e deviam amá-las como se fossem
seus próprios corpos. Os filhos deviam ser considerados como mais importantes
do que parte dos ativos da casa ou como mercadorias de barganha. Os donos de
escravos deveriam tratá-los com justiça e equidade. Aqueles que hoje denominam
o cristianismo como opressivo, provavelmente não tem ideia do quanto esta
mensagem elevou o valor da vida humana dentro do mundo helenista.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
DUNN, James D. G. A Nova Perspectiva Sobre Paulo. São
Paulo: ed. Academia Cristã/Paulus, 2011.
FERGUSON,
Everett. Backgrounds of early christianity,
third Edition. Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company Grand Rapids,
2003.
JEFFERS,
James S. The Greco-roman world of the
New Testament era: exploring the background of Early Christianity. Downers
Grove, Illinois: IVP Academic, 1999.
[1] Sob
o domínio romano, apenas certos casamentos tinham posição legal. Só quando
ambos os parceiros eram cidadãos romanos poderia normalmente ser formado um casamento
legal (matrimonium).
[2]
Pátrio poder (o
poder do pai) sobre as pessoas que vivem com ele: ele poderia forçar o
casamento (geralmente por dinheiro) e divórcio, vender seus filhos para a
escravidão, reivindicar a propriedade dos seus dependentes como a sua própria,
e ainda detinha o direito de punir ou matar membros da família (embora este
último direito, aparentemente, deixaram de ser exercidas após o século 1 aC).
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