Δικαιωθέντες οὖν ἐκ
πίστεως εἰρήνην ἔχωμεν πρὸς τὸν Θεὸν διὰ τοῦ Κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ,
Justificados, pois, pela fé, tenhamos
paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, (Almeida Revisada e Atualizada)
Tendo
sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo, (Nova Versão Internacional)
Na
carta escrita pelo apóstolo Paulo aos crentes que moravam na cidade de Roma têm
no primeiro verso do capítulo cinco as palavras acima transcritas.
Como
se pode ver há duas formas de se traduzir as palavras do grego para o português
e que expressam um conteúdo teológico não oposto, mas com ênfase distinta. Isso
decorre do fato do verso estar no modo indicativo ou subjuntivo, o que nos leva
à questão: qual das duas deve ser a tradução preferível?
Inicialmente
devemos observar a questão relacionada aos Manuscritos. Um grande número de
cópias antigas como as siríaca, copta e vulgata, referendada por diversos
estudiosos optam com base na força desses textos gregos cujo verbo echō (ἔχω) se
encontra no modo subjuntivo pela
tradução “tenhamos paz com
Deus”. Todavia, igualmente encontra-se em outros manuscritos antigos o mesmo
verbo em sua forma indicativa
presente e muitos comentaristas e teólogos optam então pela tradução
gramatical “temos” paz com Deus. Os
tradutores devem escolher uma das traduções possíveis.
Tenhamos
paz com Deus
A
ideia aqui não é a de uma exortação a ter algo que somente Deus pode dar, mas o
apostolo esta exortando seus leitores a conservar o que já receberam da parte
de Deus. O verbo grego “echō” trás a ideia de ter, manter e conservar. Aqui temos (echoomen)
“tenhamos”, fazendo sinônimo de katé-choomen, como encontrado em Hebreus 10.23,
onde é traduzida “Conservemos firme a
nossa confissão de fé”. Tanto o autor de Hebreus quanto o apóstolo Paulo
exortam igualmente seus leitores a ter, conservar o que já haviam recebido.
O
texto aceita confortavelmente “tenhamos” com algumas vantagens sobre “temos”,
pois a forma subjuntiva é mais ampla em sua significação do que a forma
indicativa. Paulo parte da ideia de que seus leitores já possuem a paz (temos)
de Cristo, pois são convertidos, então aproveita esse momento para anima-los a
conservarem/manterem essa paz que já adquiriram quando foram justificados pela
fé – “conservemos a paz com Deus”. A ideia se harmoniza com as palavras
exortativas de Jesus aos discípulos: “No mundo tereis aflições, mas tende bom
animo [confiança], eu venci o mundo”.
Quando
examinamos o contexto temos um apoio positivo a ideia de “tenhamos”. Paulo está
concluindo toda uma exposição doutrinal anterior e imediatamente inicia uma
exortação fundamentada em tudo que havia ensinado nos textos anteriores. Ele
havia exposto os fundamentos da doutrina da justificação pela fé e agora ele
começa a enumerar os resultados produzidos por essa ação graciosa de Deus, e
para isso utiliza de um tom exortativo e não deliberativo. Isso decorre do fato
que se harmoniza perfeitamente com a sequência lógica e natural do texto.
Assim, temos uma sincronia do texto com o contexto e da doutrina com a
exortação.
A
questão textual oferece amparo à tradução “tenhamos”, visto que o copista
poderia ter “economizado” uma letra em vez de “échomen – temos” “échoomen
– tenhamos” – em vez de um ómega (o longo, dobrado), escreveu um ómicron (o
simples). É possível que o copista por alguma razão, provavelmente não intencional,
mudasse o subjuntivo para o indicativo.
A
paz que o cristão usufruiu com Deus decorre da justificação pela fé decorrente
da graça salvadora. Assim, a fé vem a ser o meio pelo qual Deus imputa a
justiça de Cristo ao cristão de maneira a poder considera-lo justo diante de
seu tribunal. Deste modo, extinguida a inimizade entre a criatura e o Criador,
a justificação produz o resultado extraordinário da paz (Ef 2.14,15; Cl 1.20;
Jo 14.27).
Essa
paz é antes de qualquer coisa uma mudança nas relações de Deus para conosco e
como consequência imediata posterior uma mudança de nós para com Deus. Deus por
meio de Jesus Cristo nos reconcilia com Ele mesmo (2Co 5.18); em decorrência
disso somos portadores dessa reconciliação (2Co 5.20) e responsáveis em comunica-la
a todas as pessoas. A propiciação (feita por Cristo) é o ponto de convergência:
nela a inimizade antes existente termina em uma honrosa e eterna paz.
Uma
vez reconciliados com Deus, por meio de Cristo (Rm 5.10), o crente pode
contemplar e se relacionar com Deus, não mais na posição de réu e Juiz, mas em
uma nova relação de amizade e filiação.
A
sanidade mental e espiritual resultante da justificação reconciliatória permeia
toda a vida do cristão produzindo e reproduzindo uma doce e maravilhosa paz que
lhe possibilita experimentar aqui a genuína alegria que se perpetuara na
eternidade.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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