Os Remanescentes Fiéis
Os propósitos de Deus jamais podem ser frustrados pela incredulidade ou rebeldia do ser humano. A história de Adão e Eva, assim como o Dilúvio, são testemunhos dessa verdade. Com a morte de Abel, Deus levanta Sete; e, mesmo diante da destruição da geração pré-diluviana, Ele preserva Noé e sua família, demonstrando Sua soberania e fidelidade ao plano estabelecido.
Diante
da eminente destruição de Jerusalém e a extradição de sua população para o
cativeiro babilônico, Deus promete através de Isaías que preservará um número
expressivo de remanescentes fiéis (1.9). E como testemunho ilustrativo de sua
mensagem ele nomeia seu filho (7.3) como Sear-Jasube (שְׁאָר יָשׁוּב - um
remanescente voltará). Por causa da incredulidade e desobediência deles o
Cativeiro (juízo) virá, mas Yahweh se compromete em trazer de volta para casa
um grupo de fiéis (um dia levaria seu remanescente para casa (10:20-21). Esse
grupo tinha um profundo relacionamento de fé com o Senhor que os distinguia dos
outros israelitas. Muitas pessoas descendiam dos doze filhos de Jacó, mas o
restante vivia fiel à aliança que Deus estabeleceu com Jacó e os outros
patriarcas.
A
soberania de Deus
Um dos temas mais maravilhosos que encontramos nas Escrituras é a Soberania de Deus. Todo cristão deve ser profundamente apaixonado por esse tema, pois ele está no cerne da fé. Aquele que se diz cristão, mas tem dúvidas sobre a soberania divina, precisa urgentemente buscar uma conversão genuína e reconsiderar suas convicções.
Isaías
não tem qualquer dúvida de que Deus é Soberano e de somente Ele conduz a
História de sua nação e do mundo inteiro. Não apenas Judá, Israel, mas todos os
grandes Impérios estão à serviço do Rei da Glória, o Senhor dos senhores. Todos
os movimentos no xadrez mundial são movidos pela mão Soberana. Nenhum movimento
das nações (sejam quais forem), pequenas, como sua própria nação, ou grandes
como o Egito ou ainda os gigantescos conglomerados imperiais mundiais, se movem
ao sabor dos seus líderes ou ainda em meras coincidências históricas. Tudo e
cada detalhe, decisões, planos, avanços ou retrocessos estão submissos, quer
aceitem ou neguem, ao propósito eteno de Yahweh. O nascimento efêmero de um bebê
nascendo em uma manjedoura, em uma das mais diminutas e sem expressão vila judaica,
acontecendo 800 anos depois dele, se constituirá no ponto convergente de toda a
História Humana.
A
visão de Isaías de Yahweh assentado em Seu trono glorioso, governando sobre
todas as nações, moldou dramaticamente seu ministério. Ele apreendeu desde
então que Deus controlava as nações e, portanto, profetizou corajosamente que Ele
lidaria com essas nações (capítulos 13-23). Deus tinha o direito de governar
sua criação, e ele o fez. Isaías 40-66 desenvolve especialmente a ideia de que
Deus provou sua soberania, primeiro enviando seu povo para o exílio e depois
libertando-o e trazendo de volta.
Quem
dera os evangélicos destes tempos de ceticismo incrédulo, pudessem aperceber ao
menos dez por cento da percepção de Isaías sobre a plenitude da Soberania de
Deus. Quão diferente seríamos e que impacto profundo este mundo tenebroso
sentiria.
O Servo
de Yahweh
Este
é o grande tema predominante na segunda parte de suas profecias. Não de um
pseudo segundo Isaias (como querem os céticos críticos de plantão), mas do
mesmo profeta Isaías do século VIII antes de Cristo. Do pico mais alta, da
montanha mais alta da profecia veterotestamentária, Isaias contempla e
compartilha sua visão profético do Servo de Yahweh – o Messias que será a fonte
permanente de consolo e esperança para seu povo judeu e israelita, bem como
para todas as nações em todo o Mundo.
Os
chamados capítulos do Cânticos de Yahweh e/ou Cânticos Messiânicos (42.1-4;49.1-6;
50.4-9; 52.13-53.12), ele descreve em detalhes minuciosos, pois está vendo
antecipadamente, todo o percurso extremamente doloroso do Messias, amalgamado
no nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, oitocentos anos
depois dele.
Particularmente
todos os evangelistas, bem como toda a literatura neotestamentária, beberam
destas águas cristalinas e vivificantes que jorram dos escritos proféticos de
Isaías. O Calvário jamais foi um acidente (Atos 2.22-24), mas o cumprimento das
palavras proféticas de Isaías (Miqueias) e tantos outros profetas.
Para
os incautos e céticos de ontem e de hoje, isso não é possível. Então criam para
si mesmos uma pluralidade de “Isaías”, espalhando-os pelos séculos, remendando
aqui e ali o arranjo profético do Isaías do século oitavo a.C., em um esforço
efêmero e ridículo, demonstrando a mesquinhez de suas mentes e corações. Mas
para o crente dos dias de Isaías, dos crentes neotestamentários e para os
crentes destes séculos modernos e pós-modernos, os Cânticos de Yahweh são
melodias para a alma cansada, são balsamo parra as feridas da alma e da mente,
que como seu Mestre Sofredor, enfrentam todas os sofrimentos e escárnios deste
mundo moribundo que jaz no maligno.
Cada
falsa acusação, cada afronta e escárnio, cada chibatada, cada espinho da coroa
ficando na cabeça, os passos exaustivos na longa caminhada, carregando a pesada
cruz, cada prego perfurando carne e nervos e fixando-os no madeiro, cada grito
de agonia...Deus meu Deus meu ... são literalmente nossos. Isaías chora
e sente cada uma dessas cenas...oitocentos anos antes delas acontecerem, na
vida de nossa amado Redentor Jesus Cristo.
Mas
os escritos proféticos de Isaías não é um carro fúnebre. Ele vai contemplar
semelhantemente a Vitória Gloriosa do Messias.
Ainda
no início de suas profecias Isaias apresenta o Nascimento do Messias: “Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o governo estará sobre os seus
ombros; e o seu nome será: “Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz”.
E
ainda no verso dois abrindo este capítulo nove o profeta explica: “As
pessoas que viviam em tempos de dificuldades e desesperança experimentaram um
grande alívio e transformação, e uma luz de esperança surgiu para aqueles que
estavam em situações sombrias e desafiadoras” (Paráfrase Isaías 9.2).
Uma
observação relevante nestas palavras iniciais do profeta é de que os verbos utilizados
por ele estão no pretérito, ou seja, ele escreve como se já tivesse acontecido.
Ele contempla os acontecimentos futuros (seja o nascimento ou a morte do
Messias) como se já tivessem acontecidos (oitocentos anos antes). É necessário ser
crente de verdade, não apenas um admirador de teologia, para acreditar nisso!
Os céticos e ateus jamais crerão nisso. Em suas mentes efêmeras e atrofiadas
pelo pecado, não há espaço para tal fé. A concepção deles de Deus é diminuta e
humanística, como declarou Lutero sobre Erasmo de Roterdã: “Seus pensamentos
sobre Deus são muito humanos" [De Servo Arbitrio - A Escravidão da
Vontade].
Porque Ele vive...posso crer no Amanhã!
A
Santidade de Deus
De
todos os temas encontrados na literatura profética de Isaías, certamente o tema
da Santidade de Deus é um dos mais proeminentes. A santidade de Deus permeia
praticamente todos os capítulos deste longo livro profético. É unanime entre os
comentaristas bíblicos de que a teofania contemplada pelo profeta e registrada no
capítulo 6 impactou profundamente a vida de Isaias e moldou todo o seu trabalho
profético.
A
santidade é o fundamento "quintessencial" da natureza de Deus, de
maneira que não há nada no Universo semelhante a Ele. O livro de Levítico
inteiro trata sobre a Santidade de Deus e de tudo que se relaciona com Ele.
Isaías tem muito a dizer sobre o Deus santo de Israel que nos ajuda a ter uma
melhor compreensão desta santidade. Na verdade é impossível ler o livro de
Isaías e não pensar na santidade de Deus.
Um
dos títulos favoritos dele para Deus é “o Santo de Israel”. Permeia toda a narrativa,
ao todo 25 vezes, assim distribuídos: 12 nos capítulos 1-39, 12 nos capítulos
40-55, e uma vez nos capítulos finais 56-66 (60.9). E se constitui em um forte
argumento da unicidade de autoria e do próprio livro.
O
Santo de Israel criou todas as coisas (45.11-12) e continua a sustentar o
universo (40.25-26).
Esse
Deus santíssimo é o Juiz de todas as nações, incluindo as de Judá e Israel. O
padrão de Sua justiça é nada menos do que a Sua santidade. Os opressões serão
consumidos pelo fogo de Sua santidade (10.16-19). Todos aqueles que rejeitam
Seu chamado ao arrependimento enfrentaram o Seu tribunal santo (30.11-14).
Todos os profetas proclamam o arrependimento; João, o batista, inicia seu
ministério proclamando o arrependimento dos pecados (Mateus 3.2), em seu
primeiro sermão na sinagoga Jesus o tema e apelo é para o arrependimento (Mateus
4.17); o primeiro sermão de Pedro após o Pentecostes é sobre arrependimento (Atos
2.38); Paulo em suas pregações e correspondência proclama o arrependimento (Romanos
2.4) e o livro de Apocalipse, fechando o cânon bíblico trás a exortação ao
arrependimento, onde três igrejas são conclamadas a se arrependerem (2.5 –
Éfeso; 2.16 - Pérgamo e 3.19 – Laodiceia).
Por que será que os púlpitos deixaram de enfatizar o arrependimento?
Quando se minimiza a Santidade de Deus, maximaliza o pecado em todas as suas
terríveis manifestações. O único antidoto para o pecado é a Santidade de Deus;
a única pregação que pode reverter a depravação moral e espiritual na igreja é
a pregação da Santidade de Deus; o único caminho para uma vida cristã genuína e
abundante é o da santidade de Deus.
Mesmo
quando exilados na longínqua babilônia e acercados por todo o panteão de
deuses, os judeus devem se arrependerem e se consolarem, pois o Santo de
Israel, Seu Criador, Rei e Redentor, o Santo de Israel, os levaria para casa,
criando correntes de água até mesmo no deserto (43.1-3, 14-21). E será através
de Ciro, o rei da Pérsia, que Deus cumprira Sua promessa (44.28).
O
retorno dos cativos à Jerusalém tornou-se um testemunho vivido do poder e
soberania do Santo de Israel para todas as nações (66.19-20).
Mais
de oitocentos anos depois de Isaias, o Santo de Israel conclamara os povos de
todas as etnias a virem e adora-Lo na beleza de sua Santidade. Como previsto
[por Joel 2.28-29], no dia de Pentecostes, homens e mulheres, jovens e velhos,
representativos de todas as nações ouviram uma nova mensagem em Jerusalém (Atos
2). Era uma mensagem sobre redenção e salvação; uma mensagem sobre a morte e
ressurreição do Messias. O Espírito Santo estava sendo derramado sobre
todos os que responderam ao convite ao arrependimento. Deus continuava a criar
um povo santo compartilhando Seu Espírito com eles.
Esta
visão profética de Isaías um Deus santo julgando o mundo e criando (trazendo à
existência, em uma réplica de Gênesis 1 e 2) um povo santo continua em
andamento. E finalmente, no dia final, esse povo santo, habitará com o Santo, o
Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro, na nova Jerusalém que descerá dos céus,
purificada e santificada (Apocalipse 21.9-22).
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
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João. Comentário Bíblico João Calvino: Antigo
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