quinta-feira, 1 de maio de 2025

Isaías: Síntese de Sua Mensagem

 

Os Remanescentes Fiéis

Os propósitos de Deus jamais podem ser frustrados pela incredulidade ou rebeldia do ser humano. A história de Adão e Eva, assim como o Dilúvio, são testemunhos dessa verdade. Com a morte de Abel, Deus levanta Sete; e, mesmo diante da destruição da geração pré-diluviana, Ele preserva Noé e sua família, demonstrando Sua soberania e fidelidade ao plano estabelecido.

Diante da eminente destruição de Jerusalém e a extradição de sua população para o cativeiro babilônico, Deus promete através de Isaías que preservará um número expressivo de remanescentes fiéis (1.9). E como testemunho ilustrativo de sua mensagem ele nomeia seu filho (7.3) como Sear-Jasube (שְׁאָר יָשׁוּב - um remanescente voltará). Por causa da incredulidade e desobediência deles o Cativeiro (juízo) virá, mas Yahweh se compromete em trazer de volta para casa um grupo de fiéis (um dia levaria seu remanescente para casa (10:20-21). Esse grupo tinha um profundo relacionamento de fé com o Senhor que os distinguia dos outros israelitas. Muitas pessoas descendiam dos doze filhos de Jacó, mas o restante vivia fiel à aliança que Deus estabeleceu com Jacó e os outros patriarcas.

A soberania de Deus

Um dos temas mais maravilhosos que encontramos nas Escrituras é a Soberania de Deus. Todo cristão deve ser profundamente apaixonado por esse tema, pois ele está no cerne da fé. Aquele que se diz cristão, mas tem dúvidas sobre a soberania divina, precisa urgentemente buscar uma conversão genuína e reconsiderar suas convicções.

Isaías não tem qualquer dúvida de que Deus é Soberano e de somente Ele conduz a História de sua nação e do mundo inteiro. Não apenas Judá, Israel, mas todos os grandes Impérios estão à serviço do Rei da Glória, o Senhor dos senhores. Todos os movimentos no xadrez mundial são movidos pela mão Soberana. Nenhum movimento das nações (sejam quais forem), pequenas, como sua própria nação, ou grandes como o Egito ou ainda os gigantescos conglomerados imperiais mundiais, se movem ao sabor dos seus líderes ou ainda em meras coincidências históricas. Tudo e cada detalhe, decisões, planos, avanços ou retrocessos estão submissos, quer aceitem ou neguem, ao propósito eteno de Yahweh. O nascimento efêmero de um bebê nascendo em uma manjedoura, em uma das mais diminutas e sem expressão vila judaica, acontecendo 800 anos depois dele, se constituirá no ponto convergente de toda a História Humana.

A visão de Isaías de Yahweh assentado em Seu trono glorioso, governando sobre todas as nações, moldou dramaticamente seu ministério. Ele apreendeu desde então que Deus controlava as nações e, portanto, profetizou corajosamente que Ele lidaria com essas nações (capítulos 13-23). Deus tinha o direito de governar sua criação, e ele o fez. Isaías 40-66 desenvolve especialmente a ideia de que Deus provou sua soberania, primeiro enviando seu povo para o exílio e depois libertando-o e trazendo de volta.

Quem dera os evangélicos destes tempos de ceticismo incrédulo, pudessem aperceber ao menos dez por cento da percepção de Isaías sobre a plenitude da Soberania de Deus. Quão diferente seríamos e que impacto profundo este mundo tenebroso sentiria.

O Servo de Yahweh

Este é o grande tema predominante na segunda parte de suas profecias. Não de um pseudo segundo Isaias (como querem os céticos críticos de plantão), mas do mesmo profeta Isaías do século VIII antes de Cristo. Do pico mais alta, da montanha mais alta da profecia veterotestamentária, Isaias contempla e compartilha sua visão profético do Servo de Yahweh – o Messias que será a fonte permanente de consolo e esperança para seu povo judeu e israelita, bem como para todas as nações em todo o Mundo.

Os chamados capítulos do Cânticos de Yahweh e/ou Cânticos Messiânicos (42.1-4;49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12), ele descreve em detalhes minuciosos, pois está vendo antecipadamente, todo o percurso extremamente doloroso do Messias, amalgamado no nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, oitocentos anos depois dele.

Particularmente todos os evangelistas, bem como toda a literatura neotestamentária, beberam destas águas cristalinas e vivificantes que jorram dos escritos proféticos de Isaías. O Calvário jamais foi um acidente (Atos 2.22-24), mas o cumprimento das palavras proféticas de Isaías (Miqueias) e tantos outros profetas.

Para os incautos e céticos de ontem e de hoje, isso não é possível. Então criam para si mesmos uma pluralidade de “Isaías”, espalhando-os pelos séculos, remendando aqui e ali o arranjo profético do Isaías do século oitavo a.C., em um esforço efêmero e ridículo, demonstrando a mesquinhez de suas mentes e corações. Mas para o crente dos dias de Isaías, dos crentes neotestamentários e para os crentes destes séculos modernos e pós-modernos, os Cânticos de Yahweh são melodias para a alma cansada, são balsamo parra as feridas da alma e da mente, que como seu Mestre Sofredor, enfrentam todas os sofrimentos e escárnios deste mundo moribundo que jaz no maligno.

Cada falsa acusação, cada afronta e escárnio, cada chibatada, cada espinho da coroa ficando na cabeça, os passos exaustivos na longa caminhada, carregando a pesada cruz, cada prego perfurando carne e nervos e fixando-os no madeiro, cada grito de agonia...Deus meu Deus meu ... são literalmente nossos. Isaías chora e sente cada uma dessas cenas...oitocentos anos antes delas acontecerem, na vida de nossa amado Redentor Jesus Cristo.

Mas os escritos proféticos de Isaías não é um carro fúnebre. Ele vai contemplar semelhantemente a Vitória Gloriosa do Messias.

Ainda no início de suas profecias Isaias apresenta o Nascimento do Messias: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: “Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”.

E ainda no verso dois abrindo este capítulo nove o profeta explica: “As pessoas que viviam em tempos de dificuldades e desesperança experimentaram um grande alívio e transformação, e uma luz de esperança surgiu para aqueles que estavam em situações sombrias e desafiadoras” (Paráfrase Isaías 9.2).

Uma observação relevante nestas palavras iniciais do profeta é de que os verbos utilizados por ele estão no pretérito, ou seja, ele escreve como se já tivesse acontecido. Ele contempla os acontecimentos futuros (seja o nascimento ou a morte do Messias) como se já tivessem acontecidos (oitocentos anos antes). É necessário ser crente de verdade, não apenas um admirador de teologia, para acreditar nisso! Os céticos e ateus jamais crerão nisso. Em suas mentes efêmeras e atrofiadas pelo pecado, não há espaço para tal fé. A concepção deles de Deus é diminuta e humanística, como declarou Lutero sobre Erasmo de Roterdã: “Seus pensamentos sobre Deus são muito humanos" [De Servo Arbitrio - A Escravidão da Vontade].

Porque Ele vive...posso crer no Amanhã!

A Santidade de Deus

De todos os temas encontrados na literatura profética de Isaías, certamente o tema da Santidade de Deus é um dos mais proeminentes. A santidade de Deus permeia praticamente todos os capítulos deste longo livro profético. É unanime entre os comentaristas bíblicos de que a teofania contemplada pelo profeta e registrada no capítulo 6 impactou profundamente a vida de Isaias e moldou todo o seu trabalho profético.

A santidade é o fundamento "quintessencial" da natureza de Deus, de maneira que não há nada no Universo semelhante a Ele. O livro de Levítico inteiro trata sobre a Santidade de Deus e de tudo que se relaciona com Ele. Isaías tem muito a dizer sobre o Deus santo de Israel que nos ajuda a ter uma melhor compreensão desta santidade. Na verdade é impossível ler o livro de Isaías e não pensar na santidade de Deus.

Um dos títulos favoritos dele para Deus é “o Santo de Israel”. Permeia toda a narrativa, ao todo 25 vezes, assim distribuídos: 12 nos capítulos 1-39, 12 nos capítulos 40-55, e uma vez nos capítulos finais 56-66 (60.9). E se constitui em um forte argumento da unicidade de autoria e do próprio livro.

O Santo de Israel criou todas as coisas (45.11-12) e continua a sustentar o universo (40.25-26).

Esse Deus santíssimo é o Juiz de todas as nações, incluindo as de Judá e Israel. O padrão de Sua justiça é nada menos do que a Sua santidade. Os opressões serão consumidos pelo fogo de Sua santidade (10.16-19). Todos aqueles que rejeitam Seu chamado ao arrependimento enfrentaram o Seu tribunal santo (30.11-14). Todos os profetas proclamam o arrependimento; João, o batista, inicia seu ministério proclamando o arrependimento dos pecados (Mateus 3.2), em seu primeiro sermão na sinagoga Jesus o tema e apelo é para o arrependimento (Mateus 4.17); o primeiro sermão de Pedro após o Pentecostes é sobre arrependimento (Atos 2.38); Paulo em suas pregações e correspondência proclama o arrependimento (Romanos 2.4) e o livro de Apocalipse, fechando o cânon bíblico trás a exortação ao arrependimento, onde três igrejas são conclamadas a se arrependerem (2.5 – Éfeso; 2.16 - Pérgamo e 3.19 – Laodiceia).  Por que será que os púlpitos deixaram de enfatizar o arrependimento? Quando se minimiza a Santidade de Deus, maximaliza o pecado em todas as suas terríveis manifestações. O único antidoto para o pecado é a Santidade de Deus; a única pregação que pode reverter a depravação moral e espiritual na igreja é a pregação da Santidade de Deus; o único caminho para uma vida cristã genuína e abundante é o da santidade de Deus.

Mesmo quando exilados na longínqua babilônia e acercados por todo o panteão de deuses, os judeus devem se arrependerem e se consolarem, pois o Santo de Israel, Seu Criador, Rei e Redentor, o Santo de Israel, os levaria para casa, criando correntes de água até mesmo no deserto (43.1-3, 14-21). E será através de Ciro, o rei da Pérsia, que Deus cumprira Sua promessa (44.28).

O retorno dos cativos à Jerusalém tornou-se um testemunho vivido do poder e soberania do Santo de Israel para todas as nações (66.19-20).

Mais de oitocentos anos depois de Isaias, o Santo de Israel conclamara os povos de todas as etnias a virem e adora-Lo na beleza de sua Santidade. Como previsto [por Joel 2.28-29], no dia de Pentecostes, homens e mulheres, jovens e velhos, representativos de todas as nações ouviram uma nova mensagem em Jerusalém (Atos 2). Era uma mensagem sobre redenção e salvação; uma mensagem sobre a morte e ressurreição do Messias. O Espírito Santo estava sendo derramado sobre todos os que responderam ao convite ao arrependimento. Deus continuava a criar um povo santo compartilhando Seu Espírito com eles.

Esta visão profética de Isaías um Deus santo julgando o mundo e criando (trazendo à existência, em uma réplica de Gênesis 1 e 2) um povo santo continua em andamento. E finalmente, no dia final, esse povo santo, habitará com o Santo, o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro, na nova Jerusalém que descerá dos céus, purificada e santificada (Apocalipse 21.9-22).

 

Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião.

me.ivanguedes@gmail.com

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Referências Bibliográficas

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CHANPLIN, Russell P. Isaías: O Livro de Profecias Messiânicas. São Paulo: Hagnos, ano ?

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Isaías. Tradução Valdemar Kroker Haroldo Janzen Degmar Ribas Júnior. CPAD, Rio de Janeiro, 2010.  [Comentário Bíblico Antigo Testamento Isaías a Malaquias – Edição Completa].

HORTON, Stanley M. Isaías – o profeta messiânico. Tradução de Benjamim de Souza. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. [Série Comentário Bíblico].

KEIL, Carl Friedrich & DELITZSCH. Franz. Commentary on Isaiah. https://www.studylight.org/commentaries/kdo/isaiah-42.html. 1854-1889.

RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e Comentário. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1986. 520 p. (Série Cultura Bíblica).

SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

 

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