O livro de Jonas é o quinto dos
chamados Profetas Menores em nossas Bíblias (os Doze na Bíblia Hebraica)[1]. Esse
livro tem algumas singularidades: as outras literaturas proféticas registram a
mensagem transmitida pelo profeta a um público especifico, mas aqui temos um
registro do que aconteceu a um profeta, de maneira que o profeta é a mensagem; é
o único profeta do Primeiro Testamento a quem Deus enviou especificamente a uma
nação pagã com uma mensagem de arrependimento. É verdade que o profeta Amós era
do Reino do Sul (Judá) e foi enviado a pregar sua mensagem no Reino do Norte
(Israel), mas ambos os reinos haviam sido parte de uma mesma nação antes da
divisão, de maneira que eram nações irmãs.
Apesar de ser um livro de dimensões condensadas, ele contém
várias questões polêmicas e não temos a pretensão de solucionar definitivamente
tais questões, mas tão somente indicarmos algumas possíveis soluções, esperando
com isso ser útil ao estudante desta profecia fascinante e desafiadora, como
tão bem coloca Alexander[2].
O
livro de Jonas é, sem dúvida, uma das obras-primas da literatura bíblica. O
relato da fuga dramática de Jonas, que tentava escapar da presença de Deus
embarcando num navio para Társis, sendo depois impedido em seu propósito por
uma violenta tempestade e levado de volta à terra dentro de um grande peixe, é
possivelmente uma das histórias mais conhecidas da Bíblia. Com suas inusitadas
reviravoltas, o enredo prende nossa atenção durante todo o tempo. Os pormenores
supérfluos são omitidos, e o texto está repleto de jogos de palavras e outras
técnicas de redação. Tudo indica que foi escrito por um autor que utilizou ao
máximo suas habilidades literárias (2001, p.59).
Autoria e Data.
O
livro de Jonas nada nos fala de sua atividade profética em Israel e
praticamente nada é nos revelado sobre a vida pessoal de Jonas além do que se
registra no livro que trás seu nome (1.1) – Jonas filho de Amati, originário de
Cat-Ofer (hirbet ez-zerrã, a nordeste de Nazaré), situada na região da tribo de
Zabulon, e que transmitiu uma promessa a Jeroboão (2Rs 14.25) e da referência em II Reis 14.25, pela qual inferimos que:
1. ele profetizou no Reino do Norte, anunciando a expansão
do reinado de Jeroboão II (782/781-753 a.C.);
2. que confirma o nome de seu pai Amitai (verdadeiro);
3. que era da região da Galiléia, situada a uns sete
quilômetros ao norte de Nazaré.
O caráter
histórico do livro que especifica lugares e pessoas reais, é corroborado por
outras fontes (2 Reis 14.25-cf. mencionado acima) incluindo também o testemunho
de Jesus no Segundo Testamento (Mat. 12.40), onde ele coloca essa história no
mesmo nível histórico que a sua própria ressurreição, como esclarece F. Davidson em seu comentário (1963, p. 873)..
Jonas
é o único profeta do Antigo Testamento com o qual Jesus se comparou
diretamente. Obviamente Jesus considerava a experiência e a missão de Jonas
como de grande significação. É extremamente interessante, portanto, relembrar
que tanto Jesus como Jonas foram ‘profetas da Galiléia’. A cidade de Jonas,
Gate-Hefer, ficava a apenas alguns poucos quilômetros ao norte de Nazaré, a
cidade de Jesus. Era menos que uma viagem de uma hora a pé. Jesus deve ter ido
lá frequentemente. Talvez até em Seus dias o túmulo de Jonas fosse conhecido
ali, como mais tarde, na época de Jerônimo. Foi ali que, nos dias de Sua
obscuridade, Jesus começara a meditar sobre o significado de Jonas e de Sua
própria missão?.
Os
fariseus aparentemente se esqueceram de Jonas quando criticaram Nicodemos
dizendo-lhe que ‘da Galiléia nenhum profeta surgiu’ (João 7.52). Tivessem eles
pesquisado as Escrituras com mais cuidado, não teriam errado tanto, ao deixar
também de perceber que ‘esta aqui quem é mais do que Jonas’ (Mat.12.41).
Além
do próprio profeta Jesus se utiliza do arrependimento dos ninivitas para
enfatizar o juízo de Deus para com os incrédulos judeus de seus dias: “Ninivitas
se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se
arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas”
(Mt 12.41) e continuando sua argumentação Jesus evoca ainda as figuras da rainha
de Sabá e Salomão, colocando tudo no mesmo nível histórico (Mt 12.41s; Lc
11.29-32). Desqualificar a narrativa de Jonas como histórica é desqualificar
também as demais referências citadas e seguindo essa direção todos os registros
históricos bíblicos se tornam fictícios[3].
Da
mesma forma que alguns outros livros deste grupo (Obadias, Naum e Habacuque),
Jonas também não indica nenhum dado especifico que possa abalizar sem
questionamento a data em que os eventos ocorrem.[4] Como
mencionado acima em 2 Reis 14.27 Jonas é conectado com o reinado de Jeroboão II
de Israel (793-753). É possível fazermos uma conexão entre o comissionamento de
Jonas e de Eliseu com referência a Damasco, estabelecendo então um núcleo
histórico para a narrativa. As observações de John L. Mackay (2008, p. 11) sobre
essa questão são pertinentes:
O
livro de Jonas é uma narrativa e tem muitas semelhanças com as narrativas sobre
Elias e Eliseu registradas nos Livros dos Reis. De fato, Jonas foi seu
sucessor. O ministério de Elias chegou ao fim em 847 aC, e o ministério de
Eliseu pode ser datado por volta de 850-795 aC. Jonas provavelmente era um
contemporâneo mais jovem de Eliseu, que sobreviveu a ele. Pouca informação é
dada sobre a data de seu ministério, mas sua visita a Nínive parece se inserir
no período de 780 a 755 aC.
Apesar de não haver nenhum registro especifico
sobre a Assíria o texto menciona uma convulsão religiosa tão intensa como a
descrita em Jonas, durante o reinado de Ashurdan III em que houve um período de
reservado monoteísmo que bem poderia ser relacionado com a pregação de Jonas. O
arrependimento ou conversão de Nínive provavelmente ocorreu no reinado de
Ashurdan III (773-755). Duas pragas (765 e 759) e um eclipse solar (763) podem
ter preparado as pessoas para a mensagem Jonas (WILKINSON
& BOA,1983. p. 257).
Historicidade
Mesmo
para o leitor mais casual desta coleção dos Profetas Menores é perceptível que
o livro de Jonas tem características distintas dos demais. Os outros são
coleções de oráculos; em Jonas, ocorre apenas um oráculo profético (3.4) composto
por cinco palavras no original (עוד ארבעים יום ונינוה נהפכת).
Existem
muitos tipos literários diferentes no Primeiro Testamento, incluindo lamentos,
canções de amor, parábolas, apocalipses e histórias. Em que categoria Jonas se
enquadra? Esta não é uma questão puramente acadêmica, mas básica para a
compreensão do livro. A questão não é da veracidade do que foi escrito, mas em
que gênero[5] de
literatura o autor escreveu sua narrativa.
Apesar
de ser uma composição literária curta a discussão quanto ao seu gênero tem sido
intensa, ainda que até os séculos XVIII e XIX, o livro tenha sido considerado
quase exclusivamente como um acontecimento histórico, mas a partir do século XX
surgiram muitas outras hipóteses para a historicidade do livro o que de certa
forma tem ofuscado a própria mensagem do livro: “O Livro de Jonas é um estudo de caso de ‘bênçãos perdidas’ porque
muitos leitores se concentram em suas supostas dificuldades e não em seus ricos
ensinamentos” (SMITH e PAGE, 1995, p. 203). Abaixo temos um sucinto esboço
das propostas mais proeminentes:[6]
Alegórico:
É um tipo de
literatura em que os principais termos do texto têm um significado oculto ou
figurado, de maneira que se constituiu em uma
história cuja série de incidentes é análoga a uma série paralela de
acontecimentos que se pretende que eles ilustrem. Assim teríamos:
Jonas
= a Israel;
a
fuga de Jonas = o fracasso de Israel para cumprir sua missão missionária às
nações;
o
"grande peixe" = a Babilônia que engole Israel no cativeiro;
Jonas
vomitado na praia = a restauração de Israel à sua pátria; Etc..
De
fato o profeta Jeremias fala da Babilônia que "engole" a
Israel "como um monstro", e "enche o seu estômago" dela (51.34). Então, no v. 44, Deus
diz que Ele fará com “que lance de sua
boca o que havia tragado...”. Todavia, mesmo que o grande peixe pudesse ser
um representativo do Cativeiro babilônico, a Babilônia nunca é mencionada, e a
Babilônia levou Judá (Reino do Sul),
não Israel (Reino do Norte). Deste
modo, o texto de Jeremias é insuficiente para transformar o livro inteiro de
Jonas em uma alegoria. Além do que não se faz alegoria com personagem real e
nenhuma alegoria nas Escrituras tem como seu protagonista um personagem histórico;
outra crítica é que as alegorias no Antigo Testamento (por exemplo, Ec 12.3ss;
Jr 25.15ss; Ez 19.2ss; 24.3ss; 27.3ss; Zc 11.4ss) são bastante breves e
inconfundíveis em sua natureza alegórica, para que o leitor possa perceber de
imediato a sua natureza alegórica para que seja eficaz, de modo que a história
de Jonas não se enquadra nesse requisito (HARRISON, 1979, pp. 911-912).
Parabólico: Uma parábola é uma história, expressiva e com uma
pontaria didática. A moral desta história - o amor de Deus para com as nações.
Jonas tipifica “o judeu mesquinho, com seu exclusivismo, totalmente insensível
para com as nações além de suas fronteiras. Entretanto, a sua forma e colocação
no cânon inibe esta interpretação. a) é colocado entre os profetas e não
entre os Escritos (poéticos); b) não é introduzido com uma formula
genérica (tal como. “Um certo homem...”); c) comparado com outras
parábolas do AT (Jz. 9.8ss; 2 Sm. 12.1; 14.6; 1 Rs. 20.39ss; 2 Rs. 14.9) Jonas
é muito mais prolongado e complexo. Assim, pode se perceber claramente que esta
interpretação do livro é imaginosa, e não resiste a uma análise mais sincera. É
antes uma tentativa de se fugir dos aspectos sobrenaturais das Escrituras”.
Midrash: É um gênero exclusivo do judaísmo. É uma história
contada para explicar um ponto teológico que geralmente está relacionado a um
texto bíblico. No midrash do período rabínico e depois, o texto das escrituras
é claramente designado com uma fórmula “como está escrito” ou seu equivalente,
o que não é encontrado no texto de Jonas; outra questão é que não há um
consenso entre os defensores desta proposta de qual seria a referência bíblica
para a elaboração do midrash no caso de Jonas (2Rs 14.25; 2Cr 33.19). Os
críticos desta proposta entendem que na narrativa de Jonas não se encontram os
detalhes pitorescos característicos do midrash e de que a noção de midrash como
um gênero específico é insuficientemente precisa ou insuficientemente entendida
para ser aplicada neste caso.
Sátiro: O comentarista bíblico McKenzie (2005, p. 1-21)
argumenta que várias características literárias na narrativa de Jonas apontam
para seu gênero e propósito geral como sendo de sátira e não especificamente
histórico. Ele destaca elementos de humor, exagero, ironia e até ridículo.
Desta forma eliminam-se as intermináveis discussões sobre se é possível uma
pessoa passar três dias e noites na barriga de um grande peixe ou se a
referência a Nínive no livro de Jonas é ou não um anacronismo histórico, o que
acabam minimizando a essência da mensagem do livro que tem a ver com o preconceito,
ódio, arrogância e intolerância em relação aos outros – no caso aqui
exemplificado na rejeição de Jonas em cumprir a ordem direta de Deus para
pregar a mensagem de arrependimento àqueles grupos que nós rejeitamos. A proposta
ainda que interessante exclui a literalidade histórica do livro.
Mítico: Este ponto de vista assume que a história inteira é nada
mais que um mito ou lenda que surgiu ao redor de algum incidente
na história de Israel. Entretanto, essa ideia perdeu apoio no transcorrer do
tempo, pois embora elementos da narrativa possam ser associados à linguagem
mítica, não existe uma trama mítica claramente reconhecível.
Histórico:
Esta interpretação assegura que a
narrativa descreve eventos que de fato aconteceram como explica Lasor:
As
indicações superficiais da narrativa levam naturalmente à interpretação histórica.
Jonas, filho de Amitai, de fato viveu nos dias de Jeroboão II. A história é
introduzida com a mesma formula padronizada de recepção: ‘Veio a palavra do
SENHOR a Jonas...’ (Jn1.1). A apresentação não é em forma de sonho ou visão,
mas numa situação em que se exige que Jonas se levante e siga para Nínive. O
relato da tempestade, a reação dos marinheiros, suas práticas pagãs e até seus
surpreendentes apelos e sacrifícios a Javé são contados como fatos históricos (1995,
p. 416).
Os
que contestam esta interpretação, o fazem principalmente com base no elemento
sobrenatural da narrativa (o incidente do "grande peixe", por
exemplo), mas nas Escrituras há inúmeros casos análogos como Ellisen
exemplifica: “Não aceitar essa história como verdadeira em
virtude dos seus elementos miraculosos é questionar toda a estrutura
sobrenatural da Bíblia. Os milagres de Moisés, Elias e Eliseu também teriam de
ser rejeitados, a julgar por esse prisma” (1991, p. 302).
Entretanto,
todos os detalhes do livro favorecem um fato histórico. a) Jonas era uma pessoa
histórica; b) Nínive foi uma cidade histórica; c) Os detalhes de comprar uma
passagem, subir a bordo do navio e a definição do seu destino; d) A narrativa
da tempestade, os marinheiros e suas reações, as suas práticas pagãs e sua
oração e posterior sacrifício à Javé, tudo parece ser histórico. Outro
argumento forte é que o livro inicia-se da mesma maneira que outras profecias.
"Agora a palavra de Deus veio a Jonas...” (Jn 1.1).
E
mais ainda, Jesus citou os acontecimentos narrados como um fato histórico
(Mt.12.39-41; 16.4; Lc. 11.29-32):[7] a) assumindo que Jonas
verdadeiramente esteve dentro de um grande peixe durante três dias; b) assumido
que Jonas se constituiu num sinal genuíno para os habitantes de Nínive; c)
admitindo que os habitantes de Nínive se arrependeram, e estarão entre aqueles
que com Jesus julgarão outros no futuro; d) os habitantes de Nínive são
incluídas juntamente com outras figuras
históricas - a Rainha de Sabá e Salomão. Tudo isto corrobora para que a
interpretação histórica seja merecedora de ampla aceitação. E o fato de que
este livro deva ser considerado histórico, não significa que não haja nenhuma
lição parabólica ou espiritual a ser derivada dele.
Concluímos esta
questão da historicidade com as considerações finais do Professor Davidson (p. 1963,
p. 872):
“Qualquer
avaliação do caráter histórico do livro de Jonas precisa levar em consideração
os fatos seguintes. Primeiro, o próprio Jonas, sem dúvida alguma, foi um
personagem histórico, um profeta de Jeová em Israel (II Reis 14.25). Segundo, o
livro foi lavrado na forma de narrativa histórica direta, não havendo indicação
positiva que o livro deva ser interpretado doutra forma que não a literal.
Terceiro, se esse livro é uma parábola ou alegoria, então é único e sem
analogia entre os livros do Antigo Testamento. Quarto, nem os judeus nem os
cristãos, até recentemente, jamais consideraram que o livro de Jonas registra
outra coisa além de fatos reais, quaisquer que sejam as interpretações que
tenham emprestado à sua mensagem. Finalmente, nosso Senhor Jesus Cristo
claramente acreditava e sabia que o arrependimento dos homens de Nínive foi uma
ocorrência real e é muito natural considerar Sua alusão aos ‘três dias e três
noites no ventre do grande peixe’, da experiência de Jonas (Mt.12.40,41), do
mesmo modo. Em adição, pode-se argumentar que a força total da auto vindicação
de Jeová perante Jonas exige uma missão real a uma cidade pagã, um
arrependimento verdadeiro de sua parte, e haverem seus habitantes sidos
realmente ‘poupados’ pelo Senhor. Não é fácil acreditar que o desafio que diz.
‘E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive...?’ tenha sido
apresentado ao povo de Israel, por intermédio do escritor inspirado, mediante
uma consideração puramente hipotética”.
Integridade do Livro.
A questão que se coloca em relação ao livro de Jonas é
também a dos demais livros bíblicos, se foi produzido por um único escritor ou
se houve a participação de outros até que tomasse a forma final.
No transcorrer do século XIX, não somente o livro de
Jonas, mas praticamente todos os demais livros bíblicos foram rigorosa e
minuciosamente dissecados pelos estudiosos interessados na redação ou
composição deles. Nesta busca alguns estudiosos chegaram a encontrar vestígios
de até quatro diferentes escritores que teriam influenciado na forma final do
livro. Evidentemente, que grande parte de todas estas conclusões não encontra
consistência à luz das novas descobertas e informações atuais.
A
parte chamada “poética” (2.2-9) do livro de Jonas ainda hoje proporciona
calorosas discussões acadêmicas. Muitos entendem que há incongruências entre
este salmo e o restante do livro. Alguns optam pela autoria de Jonas, e que o
restante do livro é de autoria exílica. Outros defendem justamente o oposto, ou
seja, a parte em prosa é de autoria do próprio Jonas e parte salmódica é exílica.
Entretanto, os estudiosos modernos tem defendido uma integridade do livro
inteiro.
Concluo
este ponto com as palavras do eminente escritor C. S. Lewis quando expressa
suas reservas em relação aos críticos dos textos bíblicos, proferidas diante de
uma plateia de estudantes de teologia em Cambridge:
Quaisquer
que sejam esses homens como críticos bíblicos, desconfio deles como críticos.
Eles me parecem carecer de julgamento literário, imperceptíveis sobre a
própria qualidade dos textos que estão lendo. . . Esses homens me pedem para
acreditar que podem ler nas entrelinhas dos textos antigos; a evidência é
sua óbvia incapacidade de ler (em qualquer sentido que valha a pena discutir)
as próprias linhas. Eles afirmam ver sementes de samambaia e não pode ver
um elefante a dez jardas de distância em plena luz do dia.
...
os acadêmicos, assim como os estudiosos, falam sobre ele com mais autoridade do
que qualquer outra pessoa. O cânone "Se milagroso, não histórico" é o
que eles têm aprendido/ensinado. Se alguém está falando de autoridade, a
autoridade unida de todos os críticos bíblicos do mundo conta aqui por nada.
Sobre isso eles falam simplesmente como homens; homens obviamente influenciados
pelo espírito da época em que cresceram, e talvez insuficientemente críticos
(apud, ALEXANDER, 1984, p. 1-2).
Mensagem do Livro.
Infelizmente, os ensinos preciosos do livro de Jonas têm
sido ofuscados pelas constantes disputas sobre o grande peixe, que é apenas um
dos vários eventos sobrenaturais do livro mencionados na narrativa. Os valores
perenes do livro são muito mais importantes e relevantes que a história do
grande peixe ou de qualquer outra atividade sobrenatural em si mesma. Campbell
Morgan sintetiza de forma singular esse ponto quando afirma que infelizmente,
as pessoas "olham tão
insistentemente para o grande peixe, que não conseguem olhar para o grande
Deus" (1960,
p. 69). Vejamos alguns aspectos contidos na mensagem desse precioso livro:
A. Enfatizar as
mudanças produzidas por um arrependimento genuíno, que é o cerne da mensagem
profética clássica. (Até mesmo uma nação pagã, pode experimentar tal
transformação). O arrependimento somente pode ocorrer mediante a pregação da
mensagem de Deus.
B. Enfatizar que o amor
gracioso de Yahweh abrange todo o gênero humano, incluindo até mesmo um povo
tão mau como Nínive, e não somente o povo de Israel. O que esta em perfeita consonância
com a última ordem de Jesus para seus discípulos – ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura.
C. Ensinar que a
Salvação depende exclusivamente de Yahweh, não havendo mérito alguma naqueles
que são salvos e muito menos do pregador, que no caso de Jonas o faz contra sua
própria vontade e esperando que seus ouvintes não venham a crer.
D. Para enfatizar a
necessidade de submissão à vontade de Deus, de modo a participarmos de seu
propósito soberano. O nosso modelo não é Jonas, mas Jesus Cristo – não a minha,
mas a tua vontade.
E. Para enfatizar que
Deus trabalha muitas vezes além de nossas próprias convicções teológicas, e não
esta limitada a elas. O poder não está vinculado ao pregador, mas emana
unicamente da Palavra de Deus na ação do Espírito Santo.
F. Para ensinar que
Deus é contra a arrogância e o orgulho espiritual. Os motivos pelos quais Jonas
se recusa a pregar em Nínive são indignos de um profeta de Deus, mas com
certeza o seu nacionalismo estreito é o mais execrável. O comentarista bíblico
Feinberg coloca muito bem este aspecto: “Em
4.2 o profeta diz-nos qual foi o motivo de sua fuga. temia que a mensagem de
Deus fosse bem-sucedida entre os ninivitas. O coração humano prefere
naturalmente o juízo contra outros, em vez da manifestação da graça e
misericórdia de Deus” (1988, p.134).
G. Para ensinar que
Deus é compassivo para todos aqueles que venham a se arrepender, sem, todavia,
alterar um milímetro a sua Justiça no que concerne a condenação do mal.
Cristologia em Jonas.
Através de Jonas, Cristo é
retratado em sua ressurreição (Mt. 12.40); visto como um profeta às nações
(embora obviamente não relutantemente como Jonas); e como o Salvador das
nações. E na vida de Jonas, Ele é visto como o Salvador e Senhor (2.9).
RESUMO DO LIVRO
|
|
Texto.
|
4 Capítulos
|
Tempo.
|
Adotamos a provável data entre 785-760 a.C.
|
Resumo.
|
Jonas claramente demonstra que o Deus de
Israel sempre esteve interessado no mundo inteiro, e que sua soberania se
estende tanto sobre a natureza quanto à história humana. Jonas demonstra também
que “a salvação pertence ao Senhor” (2.9), e que nem mesmo o preconceito
nacionalista de seu profeta poderia frustrar o propósito salvador de Deus.
|
Palavras Importantes
|
Uma palavra que é repetida em vários tempos
e que enfatiza a soberania de Deus é “preparar/dispor.” Deus prepara. o
vento, a tempestade, o peixe, a planta, o verme, e um vento oriental. Um
conceito central pode ser arrependimento e/ou conversão.
|
Capítulo
Central.
|
O terceiro capítulo destaca-se de forma
maravilhosa, pois, registra um dos mais extraordinários movimento de
arrependimento da história humana.
|
Versos Centrais.
|
2.8-9 “Os
que se entregam à idolatria vã abandonam aquele que lhes é misericordioso.
Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei
pagarei. Ao SENHOR pertence a salvação!
3.10
“Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se
arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez”.
4.2
“E orou ao SENHOR e disse. Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando
ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia
que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em
benignidade, e que te arrependes do mal”.
|
Esboço.
I. A Fuga de Jonas (1.1-17)
A. A Razão para sua fuga (1.1-2)
B. A Rota de sua fuga (1.3)
C. Os Resultados de sua fuga
(1.4-17)
II. A Oração de Jonas (2.1-10)
A. As Características da
Oração (2.1-9)
B. A Resposta da Oração (2.10)
III. A Pregação de Jonas (3.1-10)
A. Deus ordena a Pregação (3.1-3)
B. O Conteúdo da Pregação de
Jonas (3.4)
C. As Conseqüências da
Pregação de Jonas (3.5-10)
IV. A Aprendizagem de Jonas (4.1-11)
A. Jonas se Queixa a Deus (4.1-3)
B. Deus ensina Jonas (4.4-11)
Utilização livre desde que citando a
fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia Protestante
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Testamento
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Referências Bibliograficas
ALEXANDER,
T. Desmond. Jonah and genre. Tyndale Bulletin 36 (1985) 35-59.
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Publishing Group, 1995. [The new American commentary, v. 19].
WILKINSON, Bruce & BOA, Kenneth. Talk
Thru The Bible. Nashville. Thomas Nelson Publishers, 1983.
[1] Os “Doze” ou “Rolo dos Doze”, pois
todos os escritos deles cabiam em um único rolo, enquanto que as literaturas de
Isaías necessitavam de dois rolos inteiros.
[3] A seriedade com que a tradição
judaica considera a história de Jonas é atestada por seu uso na sinagoga no Yom
Kippur (dia da expiação), o mais solene dos grandes dias sagrados até os dias
de hoje.
[4] As datas dos reis de Israel e dos
respectivos profetas são as adotadas no Quadro Cronológico dos Reis e
Profetas do Primeiro Testamento, mas a cronologia reflete apenas uma dentre
várias possíveis - https://reflexaoipg.blogspot.com/2016/08/o-periodo-classico-do-profetismo-no-at.html
[5] "Gênero", emprestado do
francês, é um termo usado para se referir ao tipo ou categoria de uma peça de
literatura. Existem muitos gêneros literários.
[6] Para uma relação mais ampla das
propostas literárias de Jonas, incluindo uma bibliografia sobre cada proposta,
veja o excelente artigo: M. Burrows, “The
Literary Category of the Book of Jonah,” in Translating and Understanding
the Old Testament, ed. 11. T. Frank and W. L. Reed (Nashville: Abingdon, 1970),
p.89.
[7] O esforço para se afirmar que Jesus
em sua humanidade (esvaziado de sua glória divina) aceitou certas opiniões
prevalecentes em seus dias, acarretam implicações que não podemos aceitar.
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