A
forma com que a primeira parte da nossa Bíblia foi organizada cria um fator não
facilmente perceptível, mas que acaba influenciando negativamente na
compreensão da mensagem dos profetas.
Os
primeiros livros são chamados Pentateuco (cinco livros) e reúnem todo material
elaborado por Moisés ou referido a ele, chamado também de Lei de Moisés e
posteriormente Torá, que significa lei, mas também instrução.
Logo
após temos os chamados livros históricos, iniciando com Josué que é uma
sequência natural, pois dá continuidade ao fluxo histórico encerrado com Moisés
e o último é o livro de Ester já dentro do contexto histórico do exílio de
Judá.
Então
nossa Bíblia trás um novo conjunto de livros denominados de Poéticos e/ou
Sabedoria, iniciando com a história de Jó, dentro do contexto histórico dos
Patriarcas (Gênesis), passando pelos cânticos dos salmistas, Provérbios e
Eclesiastes e concluindo com o livro de Cantares o mais belo de todos os
cânticos de amor.
Somente
depois deste “hiato” histórico temos o conjunto dos escritos proféticos
iniciando pelo profeta Isaías, o que não indica um critério cronológico, mas
apenas lógico, pois a mensagem proferida por Isaías é uma das maiores
registrada e preservada no rio profético dos judeus.
Mas
neste arranjo as mensagens dos profetas perdem seu contexto histórico. Quem
começa a ler Isaías ou qualquer outro destes livros deveria, mas na maioria das
vezes não fazem, perguntar – quando, a
quem, por que, onde o profeta anunciou sua mensagem? São perguntas
fundamentais para se compreender corretamente o que o profeta esta e por que
esta dizendo aquela mensagem.
Os
profetas bíblicos não falaram ao vento, mas dentro de um momento histórico,
onde acontecimentos estavam ocorrendo. Para compreendermos sem distorção a
mensagem dos profetas do Primeiro Testamento é necessário retornarmos aos
livros históricos e remontarmos em nossa mente o contexto no qual ele está inserido
e descobrirmos as questões concretas que ele esta vivenciando.
O
profeta proclama sua mensagem embrenhada de uma teologia plenamente conectada
com sua realidade. Ele não é um visionário, criando um mundo utópico. Para ele
o Reino de Deus é real e percebido e concretizado nas relações sociais,
políticas e religiosas. Ele não esta preocupado em construir pequenos feudos
para arrebanhar um grupo de seguidores que lhe dê sustentação. Seu propósito e
fazer com que todos se voltem para o Senhor no sentindo de obedecerem às
diretrizes estabelecidas por Deus registradas nas Escrituras, de maneira que a
Justiça prevaleça na terra.
O
que as igrejas cristãs evangélicas tem feito nada tem haver com a mensagem dos
profetas bíblicos. Elas vivem em função de si mesmas. Suas mensagens são
alienantes, pois não tratam das questões relevantes da sociedade em que estão
inseridas. A mensagem da Justiça de Deus e de Seu Reino está fora da pauta dos
seus pregadores. Algumas delas, se não todas, tem como preocupação maior a
construção de “templos” equivalente aos castelos feudais, para exibirem seu
“poder” e sua “prosperidade” à custa do espólio das multidões que afluem a elas
atraídas por uma mensagem de falsa prosperidade, exatamente como aconteciam em
relação aos falsos profetas dos dias bíblicos.
Mas
as outras, que fazem questão de serem chamadas históricas ou como esta na moda
atualmente – reformadas - mantém a mesma postura de não envolvimento. Se esta
liderança tivesse vivido na Idade Média, jamais teria ocorrido a Reforma
Protestante do século XVI. Pois Lutero, Zwínglio, Calvino e milhares de outros
cristãos enfrentaram de frente as questões não apenas religiosas, mas sociais,
políticas e econômicas de seus dias, inspirados e direcionados pela mensagem
provinda dos profetas bíblicos.
Com
sua ênfase de que o Reino de Deus tem que ser manifestado no meio desta
sociedade, a mensagem bíblica tem que ser Luz para direcionar as nações e Sal
para dar sabor e preservar da podridão as relações que regem a sociedade
humana. Deixar a sociedade à deriva é lança-la às hienas e predadores de todas
as espécies, que sem qualquer senso moral ou ético a devorarão até que nada
além de ossos secos sobrará.
Faz-se
urgente resgatarmos o poder transformador da mensagem profética contida no
Primeiro Testamento, se de fato aspiramos ver o Brasil transformar-se numa
grande nação. O silêncio e a indiferença da igreja condenará a sociedade
brasileira ao caos.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Geral
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