quarta-feira, 1 de abril de 2020

Profetas: Uma Mensagem Conectada com a Realidade


A forma com que a primeira parte da nossa Bíblia foi organizada cria um fator não facilmente perceptível, mas que acaba influenciando negativamente na compreensão da mensagem dos profetas.
Os primeiros livros são chamados Pentateuco (cinco livros) e reúnem todo material elaborado por Moisés ou referido a ele, chamado também de Lei de Moisés e posteriormente Torá, que significa lei, mas também instrução.
Logo após temos os chamados livros históricos, iniciando com Josué que é uma sequência natural, pois dá continuidade ao fluxo histórico encerrado com Moisés e o último é o livro de Ester já dentro do contexto histórico do exílio de Judá.
Então nossa Bíblia trás um novo conjunto de livros denominados de Poéticos e/ou Sabedoria, iniciando com a história de Jó, dentro do contexto histórico dos Patriarcas (Gênesis), passando pelos cânticos dos salmistas, Provérbios e Eclesiastes e concluindo com o livro de Cantares o mais belo de todos os cânticos de amor.
Somente depois deste “hiato” histórico temos o conjunto dos escritos proféticos iniciando pelo profeta Isaías, o que não indica um critério cronológico, mas apenas lógico, pois a mensagem proferida por Isaías é uma das maiores registrada e preservada no rio profético dos judeus.
Mas neste arranjo as mensagens dos profetas perdem seu contexto histórico. Quem começa a ler Isaías ou qualquer outro destes livros deveria, mas na maioria das vezes não fazem, perguntar – quando, a quem, por que, onde o profeta anunciou sua mensagem? São perguntas fundamentais para se compreender corretamente o que o profeta esta e por que esta dizendo aquela mensagem.
Os profetas bíblicos não falaram ao vento, mas dentro de um momento histórico, onde acontecimentos estavam ocorrendo. Para compreendermos sem distorção a mensagem dos profetas do Primeiro Testamento é necessário retornarmos aos livros históricos e remontarmos em nossa mente o contexto no qual ele está inserido e descobrirmos as questões concretas que ele esta vivenciando.
O profeta proclama sua mensagem embrenhada de uma teologia plenamente conectada com sua realidade. Ele não é um visionário, criando um mundo utópico. Para ele o Reino de Deus é real e percebido e concretizado nas relações sociais, políticas e religiosas. Ele não esta preocupado em construir pequenos feudos para arrebanhar um grupo de seguidores que lhe dê sustentação. Seu propósito e fazer com que todos se voltem para o Senhor no sentindo de obedecerem às diretrizes estabelecidas por Deus registradas nas Escrituras, de maneira que a Justiça prevaleça na terra.
O que as igrejas cristãs evangélicas tem feito nada tem haver com a mensagem dos profetas bíblicos. Elas vivem em função de si mesmas. Suas mensagens são alienantes, pois não tratam das questões relevantes da sociedade em que estão inseridas. A mensagem da Justiça de Deus e de Seu Reino está fora da pauta dos seus pregadores. Algumas delas, se não todas, tem como preocupação maior a construção de “templos” equivalente aos castelos feudais, para exibirem seu “poder” e sua “prosperidade” à custa do espólio das multidões que afluem a elas atraídas por uma mensagem de falsa prosperidade, exatamente como aconteciam em relação aos falsos profetas dos dias bíblicos.
Mas as outras, que fazem questão de serem chamadas históricas ou como esta na moda atualmente – reformadas - mantém a mesma postura de não envolvimento. Se esta liderança tivesse vivido na Idade Média, jamais teria ocorrido a Reforma Protestante do século XVI. Pois Lutero, Zwínglio, Calvino e milhares de outros cristãos enfrentaram de frente as questões não apenas religiosas, mas sociais, políticas e econômicas de seus dias, inspirados e direcionados pela mensagem provinda dos profetas bíblicos.
Com sua ênfase de que o Reino de Deus tem que ser manifestado no meio desta sociedade, a mensagem bíblica tem que ser Luz para direcionar as nações e Sal para dar sabor e preservar da podridão as relações que regem a sociedade humana. Deixar a sociedade à deriva é lança-la às hienas e predadores de todas as espécies, que sem qualquer senso moral ou ético a devorarão até que nada além de ossos secos sobrará.
Faz-se urgente resgatarmos o poder transformador da mensagem profética contida no Primeiro Testamento, se de fato aspiramos ver o Brasil transformar-se numa grande nação. O silêncio e a indiferença da igreja condenará a sociedade brasileira ao caos.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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