20hs – 24hs - Quinta-feira -
14 de Nisan (2 de abril D.C. 33)
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As horas avançam rapidamente! Após cantarem um Salmo,
encerrando a refeição da Páscoa, Jesus lidera seus discípulos em direção ao
jardim do Getsêmani[1] - estava localizado ao pé
do Monte das Oliveiras, além do Cédron e do Vale Josafá[2], a
uma distância muito pequena dos muros de Jerusalém, percorrido em apenas alguns
minutos, local tranquilo que Jesus frequentava quando de passagem pela cidade
(Lc 22.39; Jo 18.2).
Chegando ao jardim Jesus se distancia do grupo dos discípulos,
levando consigo apenas Pedro e Tiago e João[3],
mesmo destes três se adianta um pouco mais para orar em particular ao Pai –
essa é a Sua luta – “Ele os poupa e
considera sua agonia” (Calvino) - Jesus sabe das limitações e fragilidades
destes homens, ainda não chegou a hora deles. Os discípulos não estranham essa
atitude de Jesus, pois em diversas ocasiões ele se retirou para orar sozinho.
Na medida em que ora Jesus é tomado por uma profunda e
dilacerante sensação de tristeza e angustia (no grego as duas palavras juntas
trás a ideia de progressão). O evangelista Marcos utiliza o termo “ekthambeo” – ser lançado ao terror,
alarmar, angustiar – é aqui no Jardim que a plenitude de sua Humanidade se
revela em toda sua fragilidade “se
possível passa de mim esse cálice”; mas é aqui no Jardim do Getsêmani que
Jesus VENCE, onde Adão falhou no Jardim do Éden – apesar de toda pressão
interna e externa Jesus vai fazer a Vontade do Pai, enquanto Adão preferiu
fazer a sua própria vontade – “não seja
como eu quero, mas como tu queres”.
A areia da ampulheta demarcando seu tempo está caindo
rapidamente. Ele se levanta vai encontrar os três discípulos dormindo;
acorda-os e exorta-os para que fiquem vigilantes. A grande diferença entre
Jesus e os discípulos é que ele ora (vigia) e os discípulos dormem. Somos
derrotados pela nossa própria displicência, pois enquanto dormimos o diabo
trabalha. A nossa natureza pecaminosa trabalha enquanto dormimos, e a nossa
nova natureza espiritual trabalha enquanto oramos – essa é a razão pela qual pecamos
no atacado e nos santificamos no varejo. Somente a nossa nova natureza tem
prazer em fazer a vontade do Pai, enquanto a velha natureza se satisfaz em
fazer a nossa própria vontade.
Jesus retorna para uma vez mais se prostrar com o rosto
em terra, não apenas ajoelhado, em completa e total submissão ao Pai – “humilhação suprema” (Bengel). Nem a mais
terrível angustia pôde romper Sua comunhão com o Pai. Sua oração é simples e
sem qualquer vestígio de contestação ou condicionamento – se possível passa de mim esse cálice - nessas palavras de Jesus não
encontramos apenas uma queixa, um grito de dor, mas uma genuína oração, uma
súplica ardente. Não há melhor Escola de Oração do que o Getsêmani – pois é na
natureza humana decaída que se encontra a fonte do pecado e somente quando
oferecemos essa natureza em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus é que
podemos experimentar, como Jesus, qual é a perfeita Vontade do Pai. Muito
poucos são aqueles que conseguem ser aprovados nessa Escola do Getsêmani.
Por
três vezes Jesus vem e Jesus os encontra (verbos no tempo presente)
descrevendo de forma vivida a reação dolorosa de Jesus diante da displicência
de seus discípulos mais chegados – em seus últimos momentos Jesus teve que
sofrer sozinho (Jo 16.32), e isso certamente fez seu cálice ainda mais amargo. "Não são capazes de orar comigo por algum tempo?" As palavras são dirigidas a todos, mas especificamente para Pedro, afinal não
foi ele que fez os maiores protestos de lealdade? As nossas palavras de
fidelidade na fé somente tornam-se consistentes quando somos aprovados no teste
do Getsêmani – de outra forma são apenas palavras vazias e espúrias e Pedro
experimentara isso em sua própria vida algumas horas mais tarde.
O
mal e os malefícios de nossa natureza pecaminosa somente podem ser contidos
pela oração vigilante. Quando falhamos na oração a nossa vida cristã fica
completamente escancarada para toda sorte de pecaminosidade. Os frutos da carne
somente serão submetidos aos frutos do espírito quando oramos; a nossa natureza
depravada somente será contida enquanto mantivermos uma vida de oração. A
grande mentira que Satanás sussurra nos ouvidos dos crentes medíocres é que
eles podem vivenciar a fé e os valores cristãos sem a oração – mas assim como Pedro
e seus colegas tais crentes também falharão tristemente. A vontade de Deus
somente será feita na vida daqueles que se prostrarem em genuína oração!
As
palavras finais de Jesus aos discípulos também se dirigem à grande maioria dos
crentes de hoje: “podem continuar a
dormir”; Jesus pediu a seus discípulos que vigiassem com ele (Mt 26.38); ele
os repreendeu por sua sonolência (26.40), exortou-os em vista da tentação que
os ameaçava (26.41); os inimigos estão se aproximando e eles continuam dormindo!
O
evangelista Mateus deixa claro que Jesus teve ao menos três momentos intensos e
prolongados de oração e a cada um deles acrescentava-se maior tensão. O
evangelista Lucas descreve que a tensão prolongada chegou ao ponto de
transformar as gotas de suor em gotas de sangue. Ali no Getsêmani Jesus
antecipa espiritual, mental e fisicamente toda dor e sofrimento que lhe será infringido
nas horas que seguirão – o cálice será terrivelmente amargo. Não foi na cruz
que Jesus venceu Satanás, mas no Getsêmani; não foi na cruz que Jesus nos
salvou, foi no Getsêmani; não foi na ressurreição que Jesus venceu a morte, foi
no Getsêmani.
A hora chegou! Ao longe Jesus escuta o som da turba que vem para
prendê-lo; o clarão de suas tochas rasga a escuridão da noite e se aproximam
rapidamente. O plano forjado nas sombras furtivas do Sinédrio, com a aquiescência
da ação traidora de Iscariotes e a complacência das autoridades romanas está
para ser concretizada.
Meu orgulho me tirou do
jardim
Tua humildade colocou o
jardim em mim
Se eu vendesse tudo que
tenho em troca do amor
Eu falharia
Pois o amor não se
compra
Nem se merece
O amor se ganha
De graça o recebe
Eu quero conhecer Jesus
Quero conhecer Jesus
E ser achado nele
Ser achado nele
Yeshua ah ah ah ah
Yeshua ah ah ah ah
Meu amado é o mais belo
Entre milhares e
milhares
Não nasci pra encher o
bolso de dinheiro
Eu não nasci pra encher
igreja
Eu nasci pra conhecer
Jesus
(Quero Conhecer Jesus - Alessandro
Vila-Boas)
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
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Referências Bibliográficas
ÁLVARO BARREIRO, SJ. O
itinerário da fé pascal. São Paulo: Edições Loyola, 2005. (4ª edição –
revista e ampliada).
ASH, Anthony Lee. O
Evangelho Segundo Lucas. Tradução Neyd V. Siqueira. São Paulo: Editora
Vida Cristã, 1980.
BINZ, Stephen J. The
Passion and Resurrection Narratives of Jesus. , Collegeville
(Minnesota): The Liturgical Press, 1989.
CARSON D. A., DOUGLAS, J.
Moo & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:
Vida Nova, 1997.
CHAMPLIN, Russell
Norman. O Novo Testamento Interpretado – versículo por versículo.
São Paulo: Millenium, 1987.
DOUGLAS, J. D. O
Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
HENDRIKSEN, William. Comentário
do Novo Testamento – Marcos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
JEREMIAS, Joachim. Jerusalém
no Tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período
neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1983.
MAGGIONI, Bruno. Os
relatos evangélicos da Paixão. Tradução Bertilo Brod. São Paulo: Paulinas,
2000. (Coleção: Espiritualidade sem fronteiras).
Walker, Peter. Pelos
Caminhos de Jesus. São Paulo: Ed. Rosari, 2007.
[1] Esse nome provavelmente corresponde
ao hebraico Gath-schemen, que significa prensagem a óleo. Era um jardim
particular, provavelmente de algum conhecido de Jesus – Arimateia, Nicodemos ou
algum outro morador abastado da cidade e que mantinha o local para seu lazer e
descanso. Judas conhecia bem o lugar.
[2] Vale de Josafá ou
“baixada de Josafá”– Emek Yehoshafat (em hebraico: עמק יהושפט), que
significa "O vale onde Deus julgará" (Vale do
Julgamento) - (Joel 3.12).
[3] Esse trio havia testemunhado o
momento glorioso da transfiguração (Mt 17.1-8) e agora testemunham o momento da
mais profunda angustia do Mestre (Lc 22.44, 53).
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