sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Jeremias: O Profeta e Sua Poesia – Lamentações


            O livro que iremos abordar faz parte daquele subgrupo subestimado de forma geral pelos cristãos e em particular dos estudiosos e comentaristas bíblicos. Outros livros que compõe esse subgrupo de literatura bíblico inspirado, mas desapreciados são os profetas Ageu e Obadias, bem como Filemom, a segunda e terceira epístolas de João e a de Judas.
            De forma especifica uma das razões pela qual o livro referido não atrai muitos fãs está em seu próprio título – Lamentações. Nesses dias de um evangelicalismo hedonista e materialista, a única coisa que não interessa à maioria é um livro que se constituiu em lamentos; um livro que trata de derrotas e destruição. A pseuda teologia da prosperidade impregnou de tal forma na mente e coração dessas pessoas - a felicidade está no sucesso material - de maneira que qualquer coisa que tenha aparência de insucesso é automaticamente rejeitada – e o profeta Jeremias está Lamentando a maior e mais trágica derrota sofrida pelos judeus em sua historia bíblica (repetida definitivamente nos anos 70 d.C., quando os exércitos romanos destruíram a cidade e o templo).
            Todavia, dentro da literatura bíblica poucos são tão atuais e necessárias de serem recuperadas pelos evangélicos brasileiros como esse pequeno livro de lamentos poéticos. O Brasil nunca esteve tão próximo do fim, como nos dias atuais; o cerco do mal está se fechando sobre a nação; nunca um judiciário e um parlamento se depravaram e se prostituíram tanto quanto nessas últimas três ou quatro décadas. As leis são elaboradas nas bigornas da corrupção; a justiça é torcida pelas mentes bestiais que enaltecem a maldade e a depravação, enquanto mantém a população sobre a tensão e o medo.
            É preciso urgentemente nos voltar para esse pequeno conjunto de cinco poemas de lamentações de Jeremias! É preciso resgatar sua mensagem e fazermos uma profunda reflexão sobre o seu contexto histórico. O que levou Deus a se irar a ponto de enviar sobre a cidade de Jerusalém os terríveis exércitos babilônicos? O que aquelas pessoas fizeram para se tornarem alvos do juízo divino? Estamos a poucos passos de como Jeremias, termos que rasgar as nossas vestes e nos cobrir de saco e cinza e nos assentar e lamentar a eminente destruição de nosso país, de nossa sociedade.
            Por quarenta anos Jeremias pregou sua mensagem de arrependimento e conversão ao Senhor, mas as pessoas tamparam seus ouvidos para não ouvir, e fecharam seus olhos para não verem as realidades do eminente juízo de Deus sobre eles, e cauterizarão suas mentes para não compreenderem a mensagem do profeta. Então, assim como o profeta havia dito, os exércitos de Nabucodonosor vieram sobre eles e a destruição foi total – a cidade e o templo destruídos completamente; milhares morreram e outro tanto foram levados como escravos para a Babilônia e os que sobreviveram ficaram em completo opróbrio e penúria.
Agora somente resta ao velho e cansado profeta, o cobrir-se de cinzas e saco, e chorar, e lamentar a ignorância e a estupidez de seu povo, que preferiu sofreu as consequências do implacável juízo, do que se arrependerem e se converterem e assim, usufruírem da misericórdia e graça de seu Deus. E se o juízo veio sobre o “povo de Deus” daqueles dias, porque não sobreviria sobre o “povo de Deus” dos dias atuais? A única coisa capaz de reverter o juízo eminente de Deus sobre a nação brasileira é um arrependimento e conversão sincera daqueles que possuem o conhecimento da palavra de Deus - nos humilhar, orar, e buscar genuinamente a Deus. Caso contrário os exércitos corruptos do mal não deixaram pedra sobre pedra desta nação.
Lamentações 1
Como está abandonada a cidade tão povoada! Assemelha-se a uma viúva a grande entre as nações. Rainha entre as províncias, ficou sujeita ao tributo.
Ela chora pela noite adentro, lágrimas lhe inundam as faces, ninguém mais a consola de quantos a amavam. Seus amigos todos a traíram, e se tornaram seus inimigos.
Judá partiu para o exílio em miséria e dura servidão. Habita entre as nações sem achar repouso. Atingiram-no seus perseguidores entre as suas fronteiras.
Estão de luto os caminhos de Sião, e ninguém mais vem às suas festas. Suas portas todas estão desertas, gemem seus sacerdotes, afligem-se as virgens, e ela mesma vive na amargura.
Apossaram-se dela seus opressores, e tranquilos vivem seus inimigos, pois o Senhor a aflige por causa do número de seus crimes. Partiram cativos os seus filhos diante do opressor.
Desapareceu da filha de Sião toda a sua glória. Seus príncipes se tornaram como cervos que não encontraram pastagens e que fogem, esgotados, diante dos que os perseguem.
Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos. Agora que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem socorrê-la! Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação.
Graves foram os pecados de Jerusalém: ela ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a nudez. E ela geme e esconde o rosto.
Vê-se sua mancha sobre suas vestes. Ela não previra esse fim. É imensa a sua decadência, e ninguém vem consolá-la. Olhai, Senhor, para a minha miséria, porque o inimigo se ensoberbece.
O adversário lançou a mão sobre todos os seus tesouros. E ela viu os pagãos penetrarem em seu santuário, aqueles dos quais dissestes que não entrariam em vossa Assembléia.
Geme todo o seu povo à procura de pão. Por víveres troca suas joias a fim de recuperar as forças. Vede, Senhor, e considerai o aviltamento a que cheguei!
Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta, a mim que o Senhor feriu no dia de sua ardente cólera.
Até aos meus ossos lançou ele do alto um fogo que os devora. Sob meus passos estendeu redes e me fez cair violentamente, enchendo-me de pavor. Eu ando amargurado o dia inteiro!
O jugo dos meus crimes está ligado pelas suas mãos. Pesa-me ao pescoço um feixe que faz vacilar minha força. O Senhor me entregou em mãos das quais não posso libertar-me.
Rejeitou o Senhor todos os bravos que viviam em meus muros. Enviou contra mim um exército a fim de abater minha jovem elite. O Senhor esmagou no lagar a virgem, filha de Judá.
Eis o motivo por que choro; fundem-se em lágrimas os meus olhos, porque ninguém a meu lado me consola, nem me alenta. Vivem consternados os meus filhos, porque triunfa o inimigo.
Sião estende as suas mãos sem que ninguém a console. Mandou o Senhor contra Jacó inimigos sem conta. Jerusalém se tornou entre eles objeto de aversão.
O Senhor é justo, porque fui rebelde à sua voz. Escutai todos vós, ó povos, e vede a minha dor. Minhas virgens e meus jovens foram conduzidos para o exílio.
Implorei a meus amigos e eles me iludiram. Meus sacerdotes e os anciãos pereceram na cidade enquanto buscavam alimento para revigorar as forças.
Vede, Senhor, a minha angústia! Tremem minhas entranhas, e meu coração está perturbado por causa de minhas revoltas. De fora mata a espada, de dentro alastra a morte.
Meus suspiros são ouvidos sem que ninguém me console. Meus inimigos, vendo minha ruína, sentem-se felizes com a vossa intervenção. Fazei vir o dia por vós predito! Que a mesma sorte lhes advenha!
Que todos os seus crimes vos estejam presentes! Tratai-os como a mim me tratastes por todos os meus crimes! Porque não cessam meus gemidos, e está doente meu coração.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia Protestante

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