O livro que iremos abordar faz parte daquele subgrupo
subestimado de forma geral pelos cristãos e em particular dos estudiosos e
comentaristas bíblicos. Outros livros que compõe esse subgrupo de literatura bíblico
inspirado, mas desapreciados são os profetas Ageu e Obadias, bem como Filemom,
a segunda e terceira epístolas de João e a de Judas.
De forma especifica uma das razões pela qual o livro referido
não atrai muitos fãs está em seu próprio título – Lamentações. Nesses dias de um evangelicalismo hedonista e
materialista, a única coisa que não interessa à maioria é um livro que se
constituiu em lamentos; um livro que trata de derrotas e destruição. A pseuda teologia
da prosperidade impregnou de tal forma na mente e coração dessas pessoas - a
felicidade está no sucesso material - de maneira que qualquer coisa que tenha
aparência de insucesso é automaticamente rejeitada – e o profeta Jeremias está
Lamentando a maior e mais trágica derrota sofrida pelos judeus em sua historia
bíblica (repetida definitivamente nos anos 70 d.C., quando os exércitos romanos
destruíram a cidade e o templo).
Todavia, dentro da literatura bíblica poucos são tão atuais
e necessárias de serem recuperadas pelos evangélicos brasileiros como esse
pequeno livro de lamentos poéticos. O Brasil nunca esteve tão próximo do fim,
como nos dias atuais; o cerco do mal está se fechando sobre a nação; nunca um
judiciário e um parlamento se depravaram e se prostituíram tanto quanto nessas
últimas três ou quatro décadas. As leis são elaboradas nas bigornas da
corrupção; a justiça é torcida pelas mentes bestiais que enaltecem a maldade e
a depravação, enquanto mantém a população sobre a tensão e o medo.
É preciso urgentemente nos voltar para esse pequeno
conjunto de cinco poemas de lamentações de Jeremias! É preciso resgatar sua
mensagem e fazermos uma profunda reflexão sobre o seu contexto histórico. O que
levou Deus a se irar a ponto de enviar sobre a cidade de Jerusalém os terríveis
exércitos babilônicos? O que aquelas pessoas fizeram para se tornarem alvos do
juízo divino? Estamos a poucos passos de como Jeremias, termos que rasgar as
nossas vestes e nos cobrir de saco e cinza e nos assentar e lamentar a eminente
destruição de nosso país, de nossa sociedade.
Por quarenta anos Jeremias pregou sua mensagem de
arrependimento e conversão ao Senhor, mas as pessoas tamparam seus ouvidos para
não ouvir, e fecharam seus olhos para não verem as realidades do eminente juízo
de Deus sobre eles, e cauterizarão suas mentes para não compreenderem a
mensagem do profeta. Então, assim como o profeta havia dito, os exércitos de Nabucodonosor
vieram sobre eles e a destruição foi total – a cidade e o templo destruídos completamente;
milhares morreram e outro tanto foram levados como escravos para a Babilônia e
os que sobreviveram ficaram em completo opróbrio e penúria.
Agora
somente resta ao velho e cansado profeta, o cobrir-se de cinzas e saco, e
chorar, e lamentar a ignorância e a estupidez de seu povo, que preferiu sofreu
as consequências do implacável juízo, do que se arrependerem e se converterem e
assim, usufruírem da misericórdia e graça de seu Deus. E se o juízo veio sobre
o “povo de Deus” daqueles dias, porque não sobreviria sobre o “povo de Deus”
dos dias atuais? A única coisa capaz de reverter o juízo eminente de Deus sobre
a nação brasileira é um arrependimento e conversão sincera daqueles que possuem
o conhecimento da palavra de Deus - nos humilhar, orar, e buscar genuinamente a
Deus. Caso contrário os exércitos corruptos do mal não deixaram pedra sobre
pedra desta nação.
Lamentações 1
Como está
abandonada a cidade tão povoada! Assemelha-se a uma viúva a grande entre as
nações. Rainha entre as províncias, ficou sujeita ao tributo.
Ela chora pela noite adentro, lágrimas
lhe inundam as faces, ninguém mais a consola de quantos a amavam. Seus amigos
todos a traíram, e se tornaram seus inimigos.
Judá partiu
para o exílio em miséria e dura servidão. Habita entre as nações sem achar
repouso. Atingiram-no seus perseguidores entre as suas fronteiras.
Estão de luto os caminhos de Sião, e
ninguém mais vem às suas festas. Suas portas todas estão desertas, gemem seus
sacerdotes, afligem-se as virgens, e ela mesma vive na amargura.
Apossaram-se
dela seus opressores, e tranquilos vivem seus inimigos, pois o Senhor a aflige
por causa do número de seus crimes. Partiram cativos os seus filhos diante do
opressor.
Desapareceu da filha de Sião toda a
sua glória. Seus príncipes se tornaram como cervos que não encontraram
pastagens e que fogem, esgotados, diante dos que os perseguem.
Nestes dias de
males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos. Agora
que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem socorrê-la!
Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação.
Graves foram os pecados de Jerusalém:
ela ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a
nudez. E ela geme e esconde o rosto.
Vê-se sua
mancha sobre suas vestes. Ela não previra esse fim. É imensa a sua decadência,
e ninguém vem consolá-la. Olhai, Senhor, para a minha miséria, porque o inimigo
se ensoberbece.
O adversário lançou a mão sobre todos
os seus tesouros. E ela viu os pagãos penetrarem em seu santuário, aqueles dos
quais dissestes que não entrariam em vossa Assembléia.
Geme todo o
seu povo à procura de pão. Por víveres troca suas joias a fim de recuperar as
forças. Vede, Senhor, e considerai o aviltamento a que cheguei!
Ó vós todos, que passais pelo caminho:
olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta, a mim que o Senhor
feriu no dia de sua ardente cólera.
Até aos meus
ossos lançou ele do alto um fogo que os devora. Sob meus passos estendeu redes
e me fez cair violentamente, enchendo-me de pavor. Eu ando amargurado o dia
inteiro!
O jugo dos meus crimes está ligado
pelas suas mãos. Pesa-me ao pescoço um feixe que faz vacilar minha força. O
Senhor me entregou em mãos das quais não posso libertar-me.
Rejeitou o
Senhor todos os bravos que viviam em meus muros. Enviou contra mim um exército
a fim de abater minha jovem elite. O Senhor esmagou no lagar a virgem, filha de
Judá.
Eis o motivo por que choro; fundem-se
em lágrimas os meus olhos, porque ninguém a meu lado me consola, nem me alenta.
Vivem consternados os meus filhos, porque triunfa o inimigo.
Sião estende
as suas mãos sem que ninguém a console. Mandou o Senhor contra Jacó inimigos
sem conta. Jerusalém se tornou entre eles objeto de aversão.
O Senhor é justo, porque fui rebelde à
sua voz. Escutai todos vós, ó povos, e vede a minha dor. Minhas virgens e meus
jovens foram conduzidos para o exílio.
Implorei a meus
amigos e eles me iludiram. Meus sacerdotes e os anciãos pereceram na cidade
enquanto buscavam alimento para revigorar as forças.
Vede, Senhor, a minha angústia! Tremem
minhas entranhas, e meu coração está perturbado por causa de minhas revoltas.
De fora mata a espada, de dentro alastra a morte.
Meus suspiros
são ouvidos sem que ninguém me console. Meus inimigos, vendo minha ruína,
sentem-se felizes com a vossa intervenção. Fazei vir o dia por vós predito! Que
a mesma sorte lhes advenha!
Que todos os seus crimes vos estejam
presentes! Tratai-os como a mim me tratastes por todos os meus crimes! Porque
não cessam meus gemidos, e está doente meu coração.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia Protestante
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