Mundo Greco-Romano |
“Mas,
vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho...” (Gl 4.4).
De acordo com diversos
historiadores, como nenhum outro povo até então, coube aos romanos
desenvolveram um senso de unidade da humanidade sob uma lei universal. Deste
modo, a partir do século I a.C. até o século IV d.C., os
Imperadores romanos governaram o mundo antigo, criando como em nenhum outro
período histórico as condições favoráveis para a inserção e expansão do
Evangelho de Cristo e consequentemente da Igreja Cristã. Segundo o historiador Earle
E. Cairns o grande e imponente Império Romano sempre esteve à serviço aos
desígnios de Deus:
A
contribuição política anterior à vinda de Cristo foi basicamente obra dos
romanos. Esse povo, seguidor do caminho da idolatria, dos cultos de mistérios e
do culto ao Imperador, foi usado por Deus, a quem ignoravam, para cumprir a sua
vontade. Os Romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um senso
de unidade da humanidade sob uma lei universal. Esse senso de solidariedade do
homem no império criou ambiente favorável à aceitação do evangelho que
proclamava a unidade de espécie e que a todos era oferecida a salvação que os
integra num organismo universal, a Igreja, o corpo de Cristo. (1995, p.29).
Seguindo o roteiro proposto por
Cairns (2008) podemos nomear as seguintes contribuições dos romanos:
§O
Governo Internacional de Roma: Em seu apogeu eles conquistaram todos os povos
entre Roma e o Egito, portanto, circundaram o Mediterrâneo e assim contribuiu para que o cristianismo alcançasse inúmeros povos, com
seus costumes, línguas, religiões e tradições, mas que estavam debaixo de um
único governo. É
dentro deste amplo espaço geográfico,[1]
que constituía o Império Romano, que a partir de 50 d.C. que o Cristianismo
durante os três primeiros séculos da era cristã surgiu e se expandiu. Atualizando
a geografia do Império incluía o sul da Europa do Reno e do Danúbio, grande
parte da Inglaterra, o Egito e toda a costa norte da África, e uma grande parte
da Ásia desde o Mediterrâneo à Mesopotâmia.
§Lei
Romana: Evidentemente
que sempre houve sistemas legais, mas certamente foi com os romanos que o
Direito tornou-se efetivo e até hoje ainda se deriva dele inúmeras leis e
códigos legais. A lei romana era aplicada em todo o Império e responsabilizava
todas as pessoas, de maneira que transgredi-las implicava em sanções incluindo
a sentença de morte. Todo cidadão romano tinha direito de se defender e somente
poderia ser julgado em um tribunal romano. Essa foi a única saída de Paulo,
quando os judaizantes queriam julgá-lo e condená-lo em Jerusalém e ele então
apela para César, ou seja, como cidadão romano ele somente poderia ser julgado
e condenado por um tribunal romano. Na epístola aos Romanos o apóstolo Paulo
vai se utilizar da estrutura legal para exemplificar o processo da justificação
pela fé. Somente serão absolvidos diante do tribunal de Deus aqueles que forem
revestidos da justiça de Cristo, de maneira que agora diante da Lei estão
livres da condenação. É possível também que João estivesse pensando nesse contexto
do tribunal romano quando afirma que “temos um Advogado – Jesus Cristo”, de
maneira que quando pecamos, Ele nos representa diante do supremo Juiz.
§Fronteiras
Abertas: Com
o pleno domínio político-econômico, as fronteiras nacionais foram rompidas. Os
Romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da unidade
da espécie sob uma lei universal. Ainda segundo Cairns (2008, p. 32), essa
unificação foi possível graças à administração centralizada que Roma outorgava
aos povos sob seu domínio. Existiam províncias diretamente subordinadas ao
senado, ao Imperador. Um cidadão romano transitava livremente por todo o
Império sem qualquer restrição – Paulo tinha seu passaporte de cidadão romano e
aproveitou ao máximo esse status para percorrer o território romano para
implantar as comunidades cristãs.
§Construção
de Estradas: A sólida administração romana tornou mais fáceis e seguras as viagens e
as comunicações (OLIVEIRA, p. 04). Para manter um Império tão vasto os romanos precisavam
estruturar uma área fundamental – estradas - para otimizar o trânsito dentro dos limites imperiais, e que será um potencializador da
expansão do cristianismo.
Os imperadores não apenas investiram nas grandes
estradas que já existiam, mas abriram inúmeras outras que as interligavam.
Tanto bélica quanto comercialmente o ganho foi gigantesco. O mar já não era a
única opção para se viajar; as pessoas aprenderam a se locomover de uma cidade
para outra ou de um país para outro muito mais rápido do que qualquer outra
época anterior – o comércio e a comunicação intercontinental tornam-se
regulares, organizados e protegidos pelos "Grandes Poderes" - foi a
primeira experiência de uma globalização – as estradas eram uma espécie de
fibra ótica, interligando todo o Império. Como por elas trafegavam
continuamente as tropas romanas os ladrões e salteadores foram afastados
proporcionando uma segurança para os viajantes.
§Intensificação
das Correspondências: Outro fator importante era a agilidade das correspondências. Ao
longo das principais vias foram estabelecidos postos de correios, onde os
“carteiros” trocavam seus cavalos para que as correspondências chegassem mais
rapidamente ao destinatário. Aqui também ficava sempre uma guarnição de
soldados, de maneira que além da agilidade havia também segurança. Aqui também
acabaram sendo construídas pequenas estalagens que ofereciam um mínimo de
conforto para os transeuntes, que na maioria das vezes faziam seus percursos a
pé. Paulo e seus companheiros transitaram
por todas essas vias e certamente pernoitaram nesses postos. E certamente nenhum
outro líder cristão do primeiro século utilizou mais e melhor o sistema de
postagem romana do que o apóstolo dos gentios. O epistolário contido na Bíblia
certamente não contém todas as cartas escritas e enviadas pelo apóstolo, visto
que esse era o meio mais rápido e eficiente que ele possuía para orientar as
comunidades cristãs localizadas em os mais diversos e distantes locais do mapa geográfico
romano.
§Política
Religiosa: Os
Romanos seguiram a mesma política dos gregos e mantiveram seu panteão de
desuses e sua religião familiar, mas concomitantemente permitiam que os demais
povos conquistados mantivessem suas próprias religiões, com a ressalva de tais
religiões não trouxessem transtornos políticos ao Império. Os judeus sempre
foram uma pedra na bota dos romanos justamente porque sua religião era um pavio
curto para a explosão de rebeliões periódicas na região da Palestina, tanto que
a capital Jerusalém e o seu famoso Templo foram destruídos no ano 70 d.C.. Os
cristãos, por sua vez, primeiramente foram perseguidos pelos próprios judeus e
somente posteriormente vieram a entrar no radar político romano, quando
passaram a serem vistos como um problema de Estado, inicialmente com
perseguições localizadas e em alguns momentos as perseguições tornaram-se mais
violentas e generalizadas com formulações de leis que os enquadrassem como
revolucionários (cf. aconteceu com Daniel na Babilônia).
§Desenvolvimento
das Cidades: Ainda
que o conceito de cidade (polis) seja grego, foram os romanos que de fato
iniciaram um projeto de urbanização, estabelecendo e construindo cidades por
todo o império. Os romanos intensificaram as trocas comerciais, fomentaram a
circulação da moeda, trouxeram o arado de madeira, as forjas, os lagares, os
aquedutos, as estradas e as pontes. As povoações, até aí predominantemente nas
montanhas, passaram a surgir nos vales ou planícies, habitando casas de tijolo
cobertas com telha. Tudo isso fomentou a formação de cidades cada vez maiores e
mais urbanizadas. Roma, com uma população aproximada de um milhão de pessoas,
era a cidade mais importante do império, tanto em termos políticos como
econômicos. Apesar de grande parte de a riqueza ter fluído para o centro, as
províncias também prosperaram. O Império trouxe uma época de paz que permitiu o
crescimento econômico de cidades como Éfeso, Pérgamo, Esmirna, Sardes e Mileto;
portos como Dion, Pela, Tessalônica e Cassandra prosperaram; cidades como Antioquia,
Alepo, Palmira e Damasco cresceram a ponto de tornarem-se os principais centros
comercias da Síria Romana. Foram nesse cinturão de cidades que as comunidades
cristãs prosperaram rapidamente.
Em sua estratégia missionária o apóstolo Paulo privilegiava
centros urbanos maiores para partindo destes se alcançar outros centros urbanos
menores e as vilas mais interioranas. O melhor exemplo dessa estratégia é a sua
permanecia de quase três anos ensinando na cidade populosa de Éfeso, o
principal porto do Império Romano no Mar Egeu, e que se constituía na época em um
entroncamento comercial internacional. Quantas pessoas aprenderam as verdades
do Evangelho, estando de passagem nesta cidade portuária, e depois retornaram
para seus lares, vilas ou cidades e ali proclamaram o que haviam aprendido e
formaram comunidades cristãs. Foi desta forma que o cristianismo alcançou o
mundo conhecido da época.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências
Bibliográficas
ANDRADE, Claudionor de. Geografia Bíblica: a
geografia da Terra Santa é uma das maneiras mais emocionantes de se entender a
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STEGEMANN,
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TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da
Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
[1]
Não devemos esquecer que nesse momento histórico havia inúmeras regiões do
mundo fora do domínio do Império Romano e que veriam a serem reconhecidos
muitos séculos depois.
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