Síntese do Capítulo 1
O fundamento de uma fé cristã genuína está no
conhecimento daquilo que Deus se revela e de uma comunhão pessoal com Ele. O
escritor do primeiro livro bíblico inicia com um relato geral da atividade
criadora de Deus, emoldurando essa atividade em etapas que perfazem um dia da
semana. Ao final das atividades criadoras e ter formado o ser humano (macho e
fêmea) à sua imagem e semelhança, Deus contempla e se alegra com toda Criação por
Ele trazida à existência e declara, e o escritor utiliza um superlativo, que
tudo quanto Ele criou é muito bom, ou seja, bom em todos os
sentidos: útil, ajustado à medida, adequado ao fim a que se
pretende, reto, ético, formoso, amável. Tudo quanto Deus criou é
perfeitamente harmonioso e habilitado para executar seus propósitos eternos. É
neste palco que se desenvolvera a História humana.
Reflexões
do Capítulo 1
v Esse primeiro capítulo em perfeita harmonia com o restante da
narrativa e com todas as literaturas do Primeiro e Segundo Testamento, nega
veementemente o ateísmo, pois ele declara
a existência de Deus; nega o politeísmo em suas várias formas e mais
particularmente o conceito de dualidade de poderes eternos equivalentes (bem e
mal), pois declara que há um único Criador Eterno; nega o materialismo, pois afirma que Deus existe antes da Criação (matéria); nega o panteísmo, pois ensina que Deus existia antes de criar todas as coisas, e
vive independentemente dela; nega o fatalismo, pois envolve a
liberdade do Ser Eterno.
v A leitura desse primeiro capítulo de Gênesis é uma brisa
refrescante para a mente e o coração do crente. No meio deste aparente caos em
que vivemos há um Deus que não apenas trouxe a existência, mas continua agindo
e interagindo com sua criação e com a História humana.
v No verso 26 desse capítulo temos o plural majestoso indicando a
participação efetiva da Trindade (Pai, Filho e Espírito) na formação do ser
humano. E que somente esse ser humano, entre tudo que foi criado, é capaz de se
relacionar com Deus, pois somente o ser humano foi feito à imagem e semelhança do
Criador. Os dois termos utilizados juntos faz entender que o ser humano, antes
da queda, reflete de fato o seu original que é o próprio Deus. O ser humano,
sem a deformidade produzida pelo pecado, reflete Deus em tudo (sua sabedoria,
sua capacidade de decisão, seu domínio da criação, sua bondade, seu amor).
Todas as características espirituais e morais do ser humano refletem em seu
semblante como um espelho da alma. A História humana somente encontra sentindo
nesse diálogo aqui iniciado entre Deus e aqueles que são capacitados para
compreender o projeto Dele e comprometer-se com Ele.
v Na grande maioria das religiões o ser humano é um subproduto, algo
que foi criado para ser subjugado pelos deuses e servi-los em suas necessidades
cotidianas (inclusive sexuais), mas aqui em Gênesis o ser humano é formado para
“reinar”, ser “corregente” sobre toda a criação (o Ap. Paulo resgata essa ideia
ao declarar que em Cristo seremos coerdeiros de todas as coisas); ser um “parceiro”
ou como Abraão foi chamado – um “amigo” de Deus.
v A raça humana, não é resultante de um processo aleatório e
acontecimentos fortuitos, mas Adão e Eva foram formados de acordo com a vontade
premeditada e expressa de Deus – “façamos”. Por está razão a nossa vida não se
constitui de acidentes aleatórios (sorte, azar) mas estamos inseridos dentro do
propósito eterno de Deus, que se revela plenamente em Cristo Jesus.
v No ato da criação Deus imprimiu sua imagem e semelhança igualmente
no homem e na mulher – ontológica e biológica. São três frases em que se usa
seguidamente o verbo “bara” utilizado com
muita economia em toda a Escritura, portanto, sua repetição enfatiza a
singularidade absoluta do ser humano, como algo distinto do restante da criação.
Ambos provem igualmente de Deus e tem a mesma dignidade do perfeito reflexo de
Deus. Nesses dias em que o ser humano se rebaixa se assemelhando aos animais e
chamando-os de irmãos, no texto bíblico o ser humano é elevado em grau máximo à
semelhança com Deus. E João escreve sua carta declarando que aqueles que creem
já são tornados filhos de Deus, mas ainda não sabemos como seremos, mas quando
Ele vier (Parousia) seremos semelhantes a Ele, pois finalmente o veremos como
Ele realmente é (I João 3.2).
v “Macho e fêmea Ele os criou” – somente na completude do casal há geração
de vida e a transmissão da imagem e semelhança com Deus. Sem qualquer um deles
não haveria História humana. “Deus os abençoou” e continuou abençoar (ideia do
verbo) igualmente, pois sem um o outro não pode gerar vida. Essa geração não é
decorrente da semelhança com Deus, mas sim provém da bênção dispendida por
Deus. Por esta razão, nos dias antigos de Israel, o fato do casal não poder
gerar filhos passou a ser interpretado como “maldição” ou “desaprovação”
divina, mas é uma distorção do contexto bíblico, pois a causa da esterilidade é
a consequência da entrada do pecado e consequente queda da raça humana. Deus se
especializou em vivificar úteros mortificados – fazendo lembrar que a vida é
decorrente de sua bênção e não somente da capacidade reprodutiva humana.
v Descansou Deus de tudo quanto havia feito. Tudo está concluído no que concerne à Criação (nos
faz lembrar as palavras de Jesus na cruz – tudo
está consumado – concernente à Nova Criação). Terminada a atividade
criadora Deus continua ativo e em perfeita inteiração com tudo que foi criado
por meio de Sua providência (Meu Pai
trabalha até agora, disse Jesus – João 5.17). E como nosso modelo devemos ser
seres ativos, mas reservarmos um tempo para descanso, onde nos voltamos para o
nosso Deus em adoração e louvor.
v Ao menos dois sentimentos devem ser produzidos em nós quando lemos
esse primeiro capítulo de Gênesis: a) privilégio
- somos a obra prima da Criação efetuada por Deus; b) humildade - somos totalmente dependentes da vida que vem de Deus.
A nós
somente cabe fazer parte do coral celestial:
"Ó Senhor, digno é de receber a glória, e a
honra, e o poder,
porque o Senhor criou todas as coisas.
Elas foram criadas e chamadas à existência
por um ato da sua vontade" (Ap 4.11).
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em
Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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do Antigo Israel: Uma Revisão desde a Divisão do Reino – Judá
Referências
Bibliográficas
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LIVINGSTON,
George Herbert. O livro de Gênesis.
Tradução Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico
Beacon, v. 1].
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