As Parábolas contadas pelo Senhor Jesus e registrada pelos evangelistas, exercem uma atração irresistível sobre todos os que leem.
É impossível a qualquer leitor dos Evangelhos permanecer
indiferente com sua beleza, plasticidade, singeleza e praticidade. Mais ainda,
é impossível ler essas parábolas e ao final não ficar a pensar nas implicações
da verdade nelas inseridas.
O termo parábola é de origem grega e etimologicamente significa
"a colocação de uma coisa ao lado da outra para fins de comparação".
É um símile[1] em
que se mostra certa analogia entre os fenômenos naturais e da vida cotidiana,
visando expressar elevados princípios ou ideais que se deseja ensinar aos que
as ouvem e/ou leem. As parábolas refletem o contexto rural e cotidiano da
Palestina no século I.
De forma básica a parábola é um instrumento didático que na boca
de Jesus alcançou seu ápice. É através delas que Jesus vai ensinar os
princípios espirituais mais elevados e que se constituem nos pilares de Seu
Evangelho do Reino de Deus.
Sob título escolhido “Três Vezes Amor” inserimos um subconjunto de
parábolas registradas pelo evangelista Lucas, que de forma maravilhosa
expressam o amor imensurável de Deus por todos aqueles que estão perdidos.
O convite está feito: Venha se encantar e maravilhar com o amor de
Deus por nós.
Me.
Ivan Pereira Guedes
Este capítulo do evangelho escrito por Lucas pode ser
tranquilamente chamado de “Departamento de Perdidos e Achados” de Deus. Nesses poucos trinta e dois versos são registrados três das
mais encantadoras parábolas contadas pelo Senhor Jesus Cristo. O tema único que
as vinculam é a determinação de Deus em buscar e restaurar o ser humano perdido
à comunhão consigo mesmo:
1. A ovelha perdida
(Lucas 15.3-7)
2. A moeda perdida (Lucas 15.8-10)
3. O filho perdido
(Lucas 15.11-32)
Segundo Lucas os primeiros ouvintes se constituem dos
discípulos e uma pequena multidão de pessoas das mais diversas e em sua maioria
eram desvalidos e párias sociais, mas também um diminuto número de religiosos
judaicos[2].
E Jesus que sempre vai além das aparências e sonda mentes e corações e tendo
consciência da dureza implacável destes religiosos que se consideram acima dos
demais (versos 1 e 2) deseja através desta parábola tripartida ensinar-lhes o
valor inestimável que uma única pessoa tem para Deus. O amor de Deus é
personalizado!
Veremos cada uma destas parábolas procurando realçar suas
peculiaridades e ratificando o ensino central que as unem – o amor
salvífico de Deus.
“O Filho do homem veio buscar e salvar o que se perdeu” (Lc 19.10).
A Ovelha Perdida
(Lc 15.3-7)
Então Ele lhes contou esta parábola,
dizendo...
Apesar de serem três parábolas elas
são coletivamente uma única parábola, subdividida em três ilustrações extraídas
por Jesus do cotidiano dos seus ouvintes. E para muitos comentaristas bíblicos,
dentre os quais R Kent Hughes, elas se constituem em "o coração do
Terceiro Evangelho"[3].
As
três parábolas nos dizem
não
tanto sobre uma ovelha perdida como um pastor em busca,
não
tanto sobre uma moeda perdida como uma mulher em busca,
não
tanto sobre um filho perdido como um pai amoroso.
E tudo isso fala de nosso Pai Celestial.
(Gary Inrig)[4]
A Perda
A parábola inicia com a nota da perda. Um pastor perde uma ovelha
de seu rebanho: (“Quem dentre vós, tendo cem ovelhas, se perdeu uma delas...”
v.
4). Esta pessoa
tenha um rebanho considerável. Na prática a perda de uma única ovelha não lhe
causaria um prejuízo irreparável.
A Busca
Todavia, o pastor imediatamente começa sua busca. Ele procura
porque se importava com suas ovelhas, pois sabia que por si mesma ela jamais
encontraria o caminho de volta ao aprisco seguro e seria uma presa fácil para
toda sorte de predadores implacáveis que a noite escondia.
A busca exige
dele determinação e perseverança. Ele empenha todos os seus esforços físicos e
mentais na tarefa, vasculhando os vales e
cumes das colinas íngremes e perigosas.
A busca é implacável, assim como no filme em
que um pai procura incansavelmente sua filha que fora raptada e seria vendida
como escrava. O pastor não se permite descansar – a ovelha perdida deve ser encontrada!
E quando finalmente a encontra - que alegria!
A Mensagem
Jesus estava dizendo, que assim como aquele
pastor procurou incansavelmente a ovelha que se havia perdido, Ele veio para
buscar o ser humano que se encontrava nesta mesma condição de perdição – mas
Jesus haverá de ir muito além, pois dará sua própria vida para salvar os
perdidos.
O conceito exposto aqui por Jesus é
revolucionário, pois os rabinos judaicos até concordam que Deus acolhe os
pecadores arrependidos, mas Jesus vai além ao ensinar que Deus empenha-se em
buscar o perdido (visto como no caso da ovelha, os pecadores jamais poderão
encontrá-lo por si mesmos).
A bíblia nos ensina que Jesus Cristo, o Senhor
do Universo, deixou sua glória e se revestiu da nossa miserável condição
humana, unicamente para nos buscar; Ele vem ao nosso encontro, ele nos procura
até encontrar. Não importa em que condição ou onde quer que estejamos Ele vai
nos encontrar. Como diria um bom mineiro – é amor demais da conta!
Pascal um grande cientista ouviu uma pregação
que abriu seu entendimento em relação a encontrar Deus: “Você não seria
procurando por mim se eu já não tivesse encontrado você.” Somente
encontramos a Deus porque Ele vem ao nosso encontro e se deixa ser encontrado
por nós. Como tão claramente afirma o hino:
A minha alma estava longe
Do caminho de Deus
Eu era cego e desprezível pecador
Mas Jesus já transformou
Minhas trevas em luz
Quando ele estendeu
sua mão para mim
Esta é a experiência de todas e cada pessoa que foi encontrada por
Cristo. Ele sabe onde estamos, sabe
nosso nome e nossa história desde quando estávamos sendo formado ainda no
ventre de nossa mãe. O apostolo Paulo
declara que mesmo ele sendo o maior dentre os pecadores Jesus veio ao encontro
dele no caminho de Damasco ... “Saulo, Saulo...”. Ele também vai
chamar você pelo nome!
Ele nos encontra em meio aos nossos fracassos; nos encontra em meio às nossas
crises; ele nos encontra quando nem mesmo encontramos a nós mesmos!
Em meio à toda desesperança do mundo, de toda dor e sofrimento que
nos acercam, saiba de uma coisa...Jesus vai te encontrar.
Alegria Por Encontrar
Uma característica marcante nas três histórias é que elas terminam
com um convite para uma celebração festiva: “Alegrai-vos comigo, porque
encontrei a minha ovelha que estava perdida” (vv. 5, 6).
Mas Jesus dá a dimensão eterna desta
festa: “Assim, eu vos digo, haverá mais alegria no céu por um pecador que se
arrepende do que por noventa e nove justos que não preciso de arrependimento”
(v. 7).
A alegria da salvação que se inicia na
terra se estende eternidade adentro. Cristo morreu e ressuscitou para que
tenhamos vida e vida eterna. Reflexões finais
As palavras do profeta Isaías são esclarecedoras: “Todos nós somos como ovelhas perdidas e sem direção”. Mas Jesus nos procura até encontrar e nos leva para estarmos com Ele para sempre.
A moeda perdida
(Lucas 15.8-10)
Então Ele lhes contou esta parábola,
dizendo...
Se um pastor de ovelhas não tinha
muito valor aos olhos dos fariseus e religiosos que estavam ouvindo Jesus,
quando ele utiliza a figura de uma mulher para ilustrar a segunda parábola
certamente eles se sentiram ainda mais irritados.
A
ênfase continua sendo a mesma: Deus valoriza cada pessoa. No caso da ovelha uma
em cem, e no caso da moeda uma em dez. E o mais extraordinário é que Deus busca
o perdido e não o contrário. Para os rabinos judeus e demais religiões isso é
inconcebível, pois as pessoas devem buscar a Deus e nunca o contrário. Todavia,
Jesus quer deixar claro que o amor e graça de Deus o move a buscar aquele que
está perdido senão ele continuaria irremediavelmente perdido.
Jesus novamente começa com uma
pergunta: “que mulher que ganhando dez dracmas [moedas de prata],
representando dez dias de trabalho, não acenderia uma lâmpada, pegaria uma
vassoura e varreria cuidadosamente toda a casa para encontrar a dracma que
faltava (verso 8)? Essa dracma equivale a um dia de trabalho duro. Quando
ela a encontra, ela convoca suas amigas e vizinhas para celebrarem juntas
(verso 9). O dinheiro é o que ela necessita para permanecer abrigada ou
alimentar sua casa. Ela e sua família sofreriam se a moeda permanecesse
perdida.
Jesus não separa a necessidade física
da necessidade espiritual – ambos estão amalgamados e constituem a totalidade
da vida humana. A dicotomia entre a vida física e a vida espiritual é que tonar
o ser humano sem direção ou perdido neste mundo.
A Busca
Persistente
As casas na
Palestina do primeiro século eram geralmente escuras, então ela começa sua
busca acendendo uma lâmpada. O piso mormente era de terra batida coberta de
juncos secos e corredeiras; e procurar uma moeda num chão como aquele era como
dizemos no popular, procurar uma agulha num palheiro. A mulher varre o chão na
esperança de que pudesse ver a moeda refletir à luz do lampião ou ouvir seu som
quando empurrada pela vassoura. Ela tinha que estar totalmente concentrada
nesta tarefa.
Observamos que os três verbos utilizado: acender, varrer
e procurar estão no tempo presente hebraico o que denota atividade
continua e ininterrupta. A mulher não deixou nada ao acaso. Ela
persistentemente vasculha cada centímetro do chão, remove qualquer objeto que
possa impedi-la de encontrar sua moeda perdida.
Uma pequena partícula é fundamental na narrativa: até. A determinação dela não era “se”, mas até
que encontrasse a moeda perdida, o que implica mais do que um mero olhar ou
busca superficial, inclui uma procura diligente, séria e tenaz, não poupando
esforços, pois o que se procura tem valor no mais alto grau. É no superlativo
que Deus procura até encontrar cada um de nós.
Alegria por
Encontrar
“E
quando a encontrou, chamou suas amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos
comigo; pois encontrei a moeda que tinha perdido.
Alegrar-se é uma ênfase nesta parábola tríplice. Assim como o
pastor antes e o pai na sequência são tomados de grande e esfuziante alegria
por encontrar o que estava perdido.
Infelizmente nos alegramos com coisas
de pequeno e até insignificante valor, mas não conseguimos nos alegrar
sobremaneira quando uma pessoa é encontrada por Deus.
O salmista Asafe se perdeu enquanto desejava a prosperidade dos
ímpios e somente recuperou a genuína alegria e felicidade quando foi encontrado
por Deus e então declarou a todas as pessoas: “O Senhor (Yahweh) é o meu bem
maior”.
Não se
contente com as migalhas que este mundo pode oferecer, mas se alegre com a
eternidade que somente Deus pode te dar.
O Filho Perdido
(Lucas 15.11-32)
Então Ele lhes contou esta parábola,
dizendo...
Concluindo
esta parábola tríplice Jesus conta a história de um jovem que cansado e
fadigado da casa do seu pai, solicita sua parte da herança e vai para uma terra
distante, rompendo desta forma seus laços familiares.
Entre todas as parábolas contadas por Jesus com certeza essa é uma das
mais conhecidas e populares. É impossível lermos este texto não pensarmos em
nós e nossas atitudes para com Deus – rompemos nossos laços filiais com Deus e
nos alienamos de sua presença.
Ao nos afastarmos de Deus
ficamos à mercê deste mundo tenebroso. E tudo que este mundo ilusoriamente
oferece transforma-se em miséria, sofrimento e morte.
Esta parábola de Jesus nos arremete aos primeiros capítulos de Gênesis,
onde o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus e vivendo no jardim
perfeito, escolhe deliberadamente afrontar a Deus, se rebelar contra a vontade
de Deus e como resultado torna-se alienado da presença amorosa do Criador e
passa a conviver entre espinhos e abrolhos.
Aquele jovem tinha tudo e ficou sem nada. Uma das cenas mais forte da
parábola é quando aquele rapaz assentado contempla os porcos (para os judeus
imundos) e deseja se alimentar da comida deles, mas nem mesmo isso lhe era
permitido fazer.
Mas foi somente então que
ele se lembra da fartura que tinha na casa do pai! O que eu fiz com minha vida?
E a partir de então ele faz uma retrospectiva da sua miserável história. Agora
ele tem duas alternativas: permanecer ali naquela vida deplorável até a morte,
ou, tomar uma outra atitude.
Motivado pela lembrança do
amor e bondade de seu pai, que até mesmo tratava seus mais humildes
trabalhadores com dignidade, aquele rapaz se levanta e toma uma extraordinária
decisão: “levantar-me-ei e irei para o meu pai”.
A expressão “se levantar”
está relacionada com a “ressurgir dentre os mortos”. É como se o jovem
entendesse que a saída da casa do pai gero a morte e que somente retornando a
casa do pai voltaria a ter vida.
E o discurso que ele
preparou para falar ao pai implica claramente que ele reconhece toda sua
indignidade e se rende totalmente ao amor bondoso e generoso do pai. Todo seu
discurso pode ser sintetizado na expressão: “não sou digno”. Não sou merecedor
de nenhuma manifestação amorosa e misericordiosa de Ti. Na minha ignorância e
arrogância rompi nossos vínculos familiares, portanto, se for possível me
receba como um de seus trabalhadores diaristas e ficarei satisfeito.
Somente quando olhamos
para nós mesmos e vemos o quão miserável pecador somos – somente quando olhamos
para o mundo como uma vara de porcos – é que estaremos prontos para
compreendermos e recebermos com humildade e gratidão o amor imensurável e a
graça indescritível do nosso Deus e Pai celestial.
A maioria dos ouvintes de
Jesus se reconhecem na miserabilidade deste jovem e desejam tomar a mesma
decisão que ele tomou, mas os fariseus cheios de si mesmo e dominados pela
arrogância, se colocam acima do jovem da parábola e por conseguinte da maioria dos
desvalidos e parias sociais que ali se encontram ouvindo as palavras de Jesus.
Na medida em que o jovem
se aproxima da casa do pai, mil coisas lhe passam pela mente. Sua única
esperança e que fortalece seus pés para que não parem e voltem para a companhia
dos porcos, é o amor bondoso do pai.
E quando ainda distante
ele contempla o portão da casa do pai, seu coração dispara...chegou a
hora...pela última vez repassa mentalmente o discurso preparado para o
reencontro: “pai não sou digno ...”.
Mas para indescritível
surpresa daquele jovem maltrapilho e fedendo a porcos eis que o velho pai vem
correndo (não andando) em sua direção e antes mesmo que possa dizer-lhe o
discurso preparado, o pai o abraça e beija, coloca-lhe o anel no dedo (sinais de
filiação) roupas novas e sandálias nos pés (sinal de dignidade) e começa a
gritar: “Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi
achado)...a pequena multidão de desvalidos e desesperançados vibram e gritam o
coro proferido pelo pai: “Estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado!”.
E ao entrarem para a festa oferecida pelo pai
pelo retorno do filho, a pequena multidão continuam entoando o cântico de
gratidão daquele pai: “estava morte e reviveu, estava perdido e foi encontrado”,
e nos céus os seres celestiais e as miríades de anjos e de todos aqueles que já
foram encontrados fazem coro e eco: “estava morto e reviveu, estava perdido e foi
encontrado”. Aleluia e glória a Deus hoje e por todos os séculos.
O que você está esperando? Levante-se! Ouça o convite de
Jesus:
“Venha
a mim!”.
Deixe imediatamente a companhia dos porcos e volte agora mesmo para o seu e nosso Pai Celeste.
Conclusão
Por que a maioria das pessoas são indiferentes
para com a mensagem do Evangelho?
Porque elas se assemelham aos fariseus que mesmo ouvindo Jesus contar
essas três pequenas histórias não compreenderam, e mais ainda, se indignaram
com Jesus. Tais pessoas não admitem que estão perdidas. Jesus é muito claro: “eu vim buscar
(encontrar) e salvar os que estão perdidos”.
Se você entende que está perdido, pode ter certeza de que Jesus vai encontrá-lo quando e onde você estiver. É assim que a graça salvadora de Deus funciona.
[1] SÍMILE - Lat. simifis, semelhante. Figura de pensamento, até certo ponto sinônimo de comparação, o símile dela se distingue na medida em que se caracteriza pelo confronto de dois seres ou coisas de natureza diferente, a fim de ressaltar um deles. Dicionário de termos literários - Massaud Moisés.
[2] Os fariseus e escribas e demais similares judaicos não apenas repudiavam os ouvintes de Jesus, eles estavam continuamente resmungando (tempo imperfeito), “Este recebe pecadores e come com eles” (v. 2).
[3] Hughes, R. Kent. Luke : that you may know the truth. Crossway is a publishing ministry of Good News Publisher, 2015.
[4] Gary Inrig, The Parables: Understanding What Jesus Meant. Editora Our Daily Bread Publishing, 2011.
©IVAN
P. GUEDES
Direitos
reservados
Proibida
a reprodução por quaisquer meios
sem
a autorização expressa do autor
Sobre
o Autor
Mestrado em Ciências da Religião (Universidade
Presbiteriana Mackenzie)
Pós-Graduação em História do Cristianismo
(Universidade Metodista)
Bacharel em Teologia (Seminário Presbiteriano
"José Manoel da Conceição")
Atividade Docente
Faculdade Paschoal Dantas – Curso de Teologia
Seminário Bíblico do Brasil
Seminário de Teologia Latino-Americano (Jovens da
Verdade)
Obra Publicada
O Protestantismo na Cidade de São
Paulo - Presbiterianismo: Primórdios e desenvolvimento do presbiterianismo
(2014)
Ivan Pereira Guedes
CPF:***.641.238.***
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