Introdução
Um filme sem apelação comercial e por
isso pouco conhecido trás um tema instigante – “Coisas que perdemos pelo
caminho”. Sem entrar no mérito do filme o tema reflete bem a nossa vida, pois
todos nós continuamente perdemos coisas na trajetória de nossas vidas. Não
perdemos apenas coisas irrelevantes e desnecessárias, mas muitas vezes perdemos
coisas de valor incalculável e fundamentais.
Como cristão perdemos muitas coisas
preciosas no transcorrer de nossa caminhada cristã. Uma dessas lamentáveis
perdas é o conhecimento dos chamados Atributos de Deus. A bíblia jamais tem a
pretensão de definir Deus, pois se assim o fizesse colocaria um limite em Deus
e nada e ninguém pode limitar o que Deus é.
Todavia,
Deus não nos deixou ignorante sobre si mesmo. Ele vai se revelando
progressivamente nas páginas das Escrituras. Na proporção que vamos estudando a
Bíblia tomamos conhecimento de muitas das características que Deus possui e que
na somatória nos permite conhecermos, dentro de nossas limitações, o que
podemos chamar de Caráter de Deus. Evidente que jamais o conheceremos em sua
totalidade, mas aquilo que podemos apreender das Escrituras são suficientes
para nos habilitar a um correto relacionamento com Deus, com temor e
tremor.
A
irreverência crescente com que incrédulos e até mesmo grande parcela do
cristianismo atual tratam a questão de Deus demonstra apenas a ignorância que
possuem sobre quem Ele é. Está é uma das razões pela qual a mensagem cristã tem
sido esvaziada em seu poder de impactar a vida das pessoas.
Sem
duvida alguma um dos atributos de Deus que foi propositalmente perdido pelo caminho
dos séculos foi o da Sua Ira. Atualmente, mas em construção há muito tempo, se
construiu uma imagem falsa de Deus, como sendo um deus (com letra minúscula mesmo)
bonachão e fofinho, que passa a mão na cabeça do ser humano independentemente
do que fazem. Nesta construção infernalmente elaborada, deus torna-se uma
figura patética e completamente esvaziado de poder e glória, um personagem figurativo
que pode ser facilmente manipulado ao bel prazer dos seres humanos. Um deus com
apelo religioso comercial, para se construir templos cada vez mais luxuosos e
produzir milhares de títulos editoriais. Tornou-se um tabu referir-se a Ele
como um Deus de ira. O deus ficcional manifesta apenas graça, amor, perdão,
jamais haverá de manifestar juízo e ira. Grande parte da juventude cristã do
século XXI jamais ouviu falar da Ira ou do Juízo de Deus. Não se razão temos
uma das piores gerações humana de todos os tempos.
Uma
grande e crescente parcela da chamada geração evangélica tratam as questões
relacionadas ao céu ou inferno como se fossem tão somente histórias da
carochinha criadas para explicar às crianças cousas que elas ainda não podem
compreender. Tais pessoas não querem pensar sobre a Ira de Deus, preferindo
apenas pensar e falar do amor de Deus. Aqueles que acreditam que Deus é um Deus
de ira como também um Deus de amor preferem pensar sobre Sua ira apenas
como uma manifestação do passado. Muitos parecem acreditar que a ira de Deus é
uma verdade apenas do Primeiro Testamento, e que com a vinda de Cristo, podemos
pensar em termos de Deus apenas em amor e graça.
O
exímio comentarista bíblico e teólogo A.
W. Pink, já em séculos anteriores, escrevendo sobre os Atributos de Deus faz
uma peculiar observação:
É triste
ver tantos cristãos professos que parecem considerar a ira de Deus como uma
coisa pela qual eles precisam pedir desculpas, ou, pelo menos, parece que
gostariam que não existisse tal coisa. Conquanto alguns não fossem longe o
bastante para admitir abertamente que a consideram uma mancha no caráter
divino, contudo, estão longe de vê-la com bons olhos, não gostam de pensar
nisso e dificilmente a ouvem mencionada sem que surja em seus corações um
ressentimento contra essa ideia. Mesmo dentre os mais sóbrios em sua maneira de
julgar, não poucos parecem imaginar que há na questão da ira de Deus uma
severidade terrificante demais para propiciar um tema para consideração
proveitosa. Outros dão abrigo ao erro de pensar que a ira de Deus não é
coerente com a Sua bondade, e assim procuram bani-la dos seus pensamentos.
Sim,
muitos há que fogem de visualizar a ira de Deus, como se fossem intimados a ver
alguma nódoa no caráter divino, ou algum defeito no governo divino. Mas, o que
dizem as Escrituras? Quando a procuramos nelas, vemos que Deus não fez
tentativa alguma para ocultar a realidade da Sua ira. Ele não se envergonha de
dar a conhecer que a vingança e a cólera Lhe pertencem (PINK, 1985, p.85).
Quando
fazemos uso de uma concordância bíblica séria facilmente perceberemos que o
tema da ira de Deus não é apenas um pequeno e imperceptível tópico, mas é princípio
fundamental e proeminente nas Escrituras, em todas as suas partes. Não faltam
exemplos práticos da manifestação da ira Divina sobre toda sorte de pecados e malefícios:
o dilúvio, Sodoma e Gomorra, os povos canaanitas, bem como os próprios israelitas
e judeus que sofrem os terríveis desterros, em decorrência de seus pecados. Veremos também que nas páginas do Segundo Testamento
não faltam ilustrações da manifestação do juízo de Deus sobre todos aqueles que
escolhem permanecerem na incredulidade e rebelião contra Deus: o próprio Jesus
trata sobre isso; nas correspondências paulinas encontramos esse tema e no
último livro que encerra o cânon de toda Escritura encontramos as mais
terríveis descrições do juízo implacável de Deus sobre todo pecado e mal que se
manifesta cada vez mais abertamente contra Cristo e Sua Igreja.
A ira é um atributo de
Deus tanto como qualquer outro atributo, um atributo sem o qual Deus seria
menos que Deus.
A ira de Deus é tanta uma perfeição Divina como
é Sua graça, fidelidade, poder ou misericórdia. Deve ser assim, para que não
exista nenhuma lacuna, nenhum defeito no caráter de Deus.
Mas o que vem a ser a ira de
Deus? Uma vez mais utilizaremos a obra de Pink, quando ele procura definir o
que seja a ira de Deus:
A ira de
Deus é a Sua eterna ojeriza por toda injustiça. É o desprazer e a indignação da
divina equidade contra o mal. É a santidade de Deus posta em ação contra o
pecado. É a causa motora daquela sentença justa que Ele lavra sobre os
malfeitores. Deus está irado contra o pecado porque este é rebelião contra a
Sua autoridade, um ultraje à Sua soberania inviolável. Os insurgentes contra o
governo de Deus saberão um dia que Deus é o Senhor. Serão levados a sentir quão
grandiosa é aquela Majestade que eles desprezaram, e como é terrível aquela ira
de que foram ameaçados e a que não deram a mínima importância. Não que a ira de
Deus seja uma retaliação maldosa e mal-intencionada, infligindo agravo só pelo
prazer de infringi-lo, ou devolver a ofensa recebida. Não; embora seja verdade que Deus vindicará o
domínio como Governador do universo, Ele não será revanchista (PINK, 1985, p.85).
Quando procuramos em um
dicionário uma definição de ira encontraremos que ela é: cólera, raiva contra
alguém; indignação; desejo de vingança. Mas para alinharmos com o propósito
deste pequeno artigo uma definição mais concisa seja suficiente:
A ira Divina é a
indignação e o castigo íntegro de Deus, provocado pelo pecado.
OBS.: Em próximos artigos veremos – a Ira de Deus no Primeiro Testamento e/ou Antigo Testamento e Segundo Testamento e/ou Novo Testamento (Jesus Cristo é aquele que sofre a plenitude da ira de Deus; mas também será aquele que executara a ira de Deus no tempo do julgamento derradeiro.
Utilização livre desde que citando a fonteGuedes, Ivan PereiraMestre em Ciências da Religião.Universidade Presbiteriana Mackenzieme.ivanguedes@gmail.comOutro BlogHistoriologia Protestante
Referências Bibliográficas
DEFFINBAUGH,
Robert. Let Me See Thy Glory - A Study of the Attributes of God.
Biblical Studies Press, 1995.
TOZER,
A. W. The Knowledge of the Holy. New York: Harper and Row, Publishers,
1961.
PINK, A.W.
Os Atributos de Deus. São Paulo: ed. PES, 1985.
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