Quando
pensamos no Natal a figura de Maria surge naturalmente como progenitora do bebe
Jesus! Quando as narrativas natalinas de Mateus eram as preferidas pelos
comentaristas bíblicos e os pregadores, por ser o primeiro evangelho da Segunda
parte da bíblia, sobressaia a figura de José, mas na medida em que as atenções
foram sendo direcionadas para as narrativas oferecidas por Lucas é a figura de
Maria que se impõe e permanece até os dias atuais.
Dois fatores extras bíblico contribuíram muito para
acentuar-se cada vez mais a figura de Maria em detrimento da figura de José. O
primeiro foi uma ênfase cada vez maior da Igreja Católica Romana na pessoa de
Maria ao ponto de coloca-la onde nenhum texto bíblico jamais imaginou
coloca-la, como intercessora junto a Deus em favor dos homens; o segundo fator
foi a revolução e/ou movimento feminino que alavancou a mulher a uma posição
cada vez mais proeminente na sociedade.
Historicamente podemos encontrar muitas ilustrações,
gravuras e quadros onde aparecia com abundancia a figura de José o menino
Jesus. Ele segurando o bebe nos braços, ou trabalhando em sua carpintaria com o
menino próximo observando-o, ou ainda o jovem Jesus ajudando José nas
atividades da carpintaria. Na medida em que Maria vai ocupando o papel de destaque,
a figura de José vai desaparecendo até que se desvanece por completo.
Mas quando optamos pela narrativa de Mateus a figura de
José recebe um tratamento tão carinhoso e proeminente quanto o de Maria. No
primeiro Evangelho José surge ainda na genealogia, não como pai de Jesus, mas
como o marido de Maria: “Jacó tornou-se o
pai de José, marido de Maria, de quem nasceu Jesus, chamado Cristo” (Mt
1.16). Coube a José o papel importante de tutelar o menino Jesus, participando
efetivamente de sua formação, mais ainda, como descendente da linhagem davídica
José outorgava legalmente a Jesus o direito ao trono de Davi.
Após a genealogia ficamos sabendo através da narrativa de
Mateus como Deus tratou José nesta questão tão delicada do nascimento virginal
de Jesus.
A primeira informação é que Maria estava desposada com
José, ou como falamos, estavam casados legalmente. Dentro do contexto histórico
da época este contrato de casamento era tão sério quanto da consumação na noite
nupcial. Era muito comum que mesmo estando legalmente casados ambos ainda por
algum tempo não vivessem conjugalmente, quer por razões econômicas ou até que
houvesse as condições para se realizar a festa das bodas, que eram sempre muito
custosas, mas também muito desejada pelos nubentes e seus familiares e amigos.
É justamente neste interim, entre o contrato de casamento
e a noite de núpcias, que Maria é comunicada pelo anjo Gabriel que ela ficara
gravida de forma sobrenatural. No relato de Mateus a gravidez dela já é um fato
consumado e José esta ciente da situação. Legalmente ele poderia simplesmente
anular o contrato de casamento e ir cuidar de sua vida, deixando Maria jogada
aos lobos que sempre estão à espreita para destruir a vida de outras pessoas.
Mas José era um homem justo e com certeza amava muito Maria e vai procurar uma
alternativa que fosse menos desgastante para ela “tinha em vista divorciar-se dela em silêncio”. A prova de que José
de fato amava Maria esta em que ele não olha para si mesmo, mas preocupa-se com
o bem estar ela; ele esta disposto a assumir parte do desgaste a que ambos
seriam submetidos, em uma época em que por muito menos disso a mulher seria
expostas a toda sorte de humilhação e aviltamento e no caso especifico de Maria
com uma gravidez fora do casamento uma morte por apedrejamento.
É com todas estas preocupações na mente que José vai
tentar dormir naquela noite, mas certamente o sono não lhe vem com facilidade.
O que fazer e como fazer? “Porém,
enquanto ele refletia sobre isto ... Um anjo do Senhor [seria o mesmo Gabriel?]
lhe apareceu durante um sonho e disse: José, filho de Davi, não hesites receber
Maria, tua esposa, em tua casa, porque o que foi gerado nela é do Espírito
Santo” (Mt 1.20).
“Não hesites, não
precisa ficar duvidoso ou temeroso”, pois tudo que esta acontecendo com
Maria e com você vem da parte de Deus! Você como um filho de Davi sabe muito
bem que Deus prometera que um descendente dele se assentaria no trono para
reinar novamente. As palavras angelicais demonstram o cuidado que Deus tem para
com José, assim como teve com Maria. Deus apazigua o coração e a mente de José,
pois seu papel é tão importante no desenrolar dos fatos, quanto o papel de
Maria.
As palavras seguintes, proferidas pelo anjo, define o
propósito de todo este transtorno na vida de José e Maria: “Ela dará à luz um filho, e chamarás o seu
nome Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados”. Aquela criança
que esta sendo gerada em Maria é a concretização de todo o propósito salvador
de Deus para o Seu povo e para todas as famílias da terra!
Despertado do sono e sonho revelador, José agiu como todo
crente deveria agir - obedeceu a tudo quanto o Senhor lhe falara! Leva Maria
para sua casa e quando o menino nasceu deu-lhe o nome de Jesus.
Nestes dias em que a figura paterna
anda tão desgastada, a narrativa de Mateus onde realça o papel firme e
decidido de José torna-se extremamente relevante! Nestes dias em que os homens
muitas vezes são omissos diante de suas responsabilidades, o exemplo de José
resplandece como luz nas trevas; nestes dias em que se busca antes de tudo o
seu próprio bem estar, a preocupação e o cuidado de José por Maria é algo
singular; nestes dias em que a maioria dos crentes ouve cada vez menos a voz de
Deus, o fato de José ouvi-la e obedecê-la se constituem em um grande exemplo e modelo
para todos os crentes.
Em nenhum outro tempo se faz mais necessário resgatarmos
o papel importante de José no desenrolar dos acontecimentos da natividade,
quanto nestes últimos dias. As esposas carecem de maridos que olhem para elas e
não apenas para si mesmos, os filhos necessitam de pais de caráter como José; a
sociedade precisa de homens que não se acovardam diante das adversidades que
surgem; as igrejas necessitam de homens que ouçam a voz de Deus e se disponham
a obedece-las, pagando o preço de realizarem em e através de suas vidas o
propósito de Deus!
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referência Bibliográfica
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William. Mateus, v.1 São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
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Joachim. Jerusalém no Tempo de Jesus: pesquisa de história
econômico-social no período neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus,
1983.RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus – comentário esperança. Tradução
Werner Fuchs. Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 1998.
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