quarta-feira, 4 de junho de 2025

Salmo 51 – Desnudado Diante de Deus: O Contexto ou Ocasião

Para a grande maioria das pessoas a palavra “pecado” não significa nada. Até mesmo para uma crescente parcela de evangélicos pós modernista o termo parece bastante desgastado pelo tempo e já não incomoda a mente deles a ponto de tirar-lhes o sono.

Mas para o genuína crente, que tem como propósito maior da sua vida agradar a Deus e fazer a vontade dEle, o pecado foi, é e continuará sendo algo pernicioso e danoso; algo que deve ser evitado a todo custo; algo que quando por descuido ou displicência é praticado, deve ser imediatamente confessado e abandonado. Nada na vida de um crente é mais odioso do que o pecado, em quaisquer de suas nuances.

Uma das táticas do inferno é produzir na mente das pessoas de que o pecado é algo natural e até mesmo desejável na vida delas. É lhes bombardeado diariamente que não tem nada de mais um “pouquinho” de pecado em suas vidas cotidianas, tão chatas e rotineiras. O que você diria se lhe dissesse que um “pouquinho de veneno” diário não lhe fará mal algum?

O pecado será ilustrado nesse Salmo como sendo “células cancerígenas” que corrói e destrói as células saudáveis até levar a total falência dos órgãos morais e espirituais das pessoas. Mais ainda, o pecado apodrece os ossos; destrói o corpo e finalmente mata a alma.

Esse Salmo 51 é um momento em que o crente - uma vez confrontado com seu pecado - fica totalmente desnudado diante de Deus. Lança fora toda roupagem religiosa, toda autopiedade, toda transferência de culpa – e encara seu pecado de frente, ciente de suas consequências nefastas.

Para o salmista sua única saída é apelar para a misericordiosa graça de Deus! Qualquer outra solução é apenas paliativa; o único remédio que pode de fato e de verdade curar sua alma, mente e corpo – são doses homeopáticas do perdão gracioso de Deus.

Quero convidar você a iniciar com o salmista este tratamento radical do pecado em sua vida. Quero te convidar a se desnudar diante do Deus eterno que é onisciente e conhece cada um de seus pensamentos, que sabe tudo que você fez em todos os verões passados de sua vida desde seu nascimento até esse exato momento.

E assim, como o salmista, você vai descobrir o quão terrível e maligno é o pecado, mas também descobrirá a grandeza, profundidade e largura da imensurável graça perdoadora e revivificadora de Deus.

“pecado é qualquer falta de conformidade ou transgressão da Lei de Deus”

O título do Salmo nos dá o cenário.

Em nossas versões em português um título ou enunciado deste Salmo vem em destaque: “Salmo de Davi. Ao regente do coro. Escrito depois que o profeta Natã falou com Davi a respeito do pecado que este havia cometido com Bate-Seba”.

Desta forma os dois primeiros versos na bíblia hebraica, identifica o contexto do cântico, de maneira que o nosso verso um é o verso três na versão hebraica.

Todas as cópias hebraicas que hoje podem ser encontradas trazem esse enunciado/título, portanto, discutir a veracidade dele é uma falácia exegética completamente inútil. A realidade é que o Salmo descreve em pormenores essa terrível circunstância de pecaminosidade do rei Davi – aquele que é chamado um “homem segundo o coração de Deus” 1 Samuel 13.14.

E aqui termos um primeiro alerta para mim e para você, pois se Davi se deixou envolver por tão profundo lamaçal de pecado, o que não pode vir (ou quem sabe) já esteja acontecendo em a nossa própria vida?

Primeiramente é necessário não nos enganarmos, por causa do enunciado, de que se trata apenas e tão somente de um caso específico de pecado cometido por Davi, ou, por alguém que venha a cometer tal ação pecaminosa especifica. 

Este Salmo, bem como todos os 150 que compõem a totalidade do Saltério, foi elaborado e destinado para o uso comunitário. Era para ser entoado por todos que se apresentassem para adorar no templo, para ser usado na reunião pública do povo de Deus para adoração. Portanto, trata-se de uma forma didática pedagógica para ensinar princípios permanentes para uma vida de comunhão correta e abençoadora com Deus e com a comunidade adoradora.

O caso aqui ilustrativo do rei Davi é um modelo de como devemos lidar com nossos pecados. Mas todo pecado tem uma história e toda história tem um começo, que no caso prenuncia uma série de tragédias. Não há pecado que não gere consequências.

O início desta tragédia está registrada no segundo livro de Samuel em seu capítulo 11. Certa ocasião, na primavera, enquanto seus exércitos estavam em batalha, o rei Davi, que deveria estar liderando seu exército, andava ociosamente    pela varanda do palácio, quando seus olhos foram atraídos por uma cena – uma mulher se banhava. Imediatamente seus olhos acionaram todos os seus sentido sensoriais sexuais; ele ordena (somos rápidos em pecar) que aquela mulher (ele tinha outras mulheres no palácio) fosse trazida à sua presença. Ela foi levada a alcova real e ali se consumou o ato sexual ilícito/pecaminoso. Para agravar ainda mais o nome dela era Bate-Seba, e tratava-se da esposa de Urias, um de seus generais, que estava no campo de batalha (onde Davi também deveria estar). Todas as vezes que estamos onde não deveríamos estar, nos colocamos em risco de pecarmos contra Deus.

Com o passar dos dias Bete-Seba vem comunicar ao rei que está grávida – consequência direta do pecado. Era o momento de Davi reconhecer seu pecado e se arrepender, mas... suas próximas ações - engano/dissimulação e violência vão apenas avolumando pecado sobre pecado (um abismo chamando outro abismo).

O que Davi não contava era com a índole nobre de Urias, marido da mulher. Enquanto a atitude de Urias faz resplandecer a beleza do caráter dele, o de Davi vai desfalecendo até virar apenas uma caricatura do que deveria ser. Imagina o culto onde a Santidade de Deus fosse um enorme espelho que refletisse o caráter de cada um dos adoradores...como seria o seu reflexo?

Uma vez que suas ações iniciais não surtiram nenhum efeito para reverter aquela situação constrangedora (pecaminosa), Davi vai puxar um abismo ainda maior – assassinato. Davi ordena que Urias retorne ao campo de batalha e entregue um documento ao alto comando. No documento há a ordem de que se coloque Urias à frente da próxima batalha. Joabe obedeceu ao rei e depois da próxima grande batalha, Urias estava morto. Imediatamente o rei é comunicado. Ufa! Caso resolvido. Será?

A grande ilusão do pecador é que ele vai resolver o problema do pecado, pecando ainda mais.

Marido morto, marido posto. Passado os dias da viuvez, Bate-Seba é levada para o palácio real. No tempo próprio nasceu o bebê, resultante de um adultério e assassinato.

Davi em sua mente cauterizada pela concupiscência dos olhos e soberba da vida 1 João 2.16, pode ter pensado que sairia ileso de toda está horrível tragédia. Mas Deus vê todos os nossos pecados, mesmo aqueles que suspeitamos serem cometidos em segredo. Então, Deus envia seu profeta Natã para confrontar Davi com o pecado dele. Inicialmente Natã conta uma historinha aparentemente fictícia ao rei e conclui perguntando – o que o rei acha que se deveria fazer com tal pessoa tão maligna – e Davi cheio de si mesmo declara – deveria matar tal pessoa. Natã olha bem nos olhos de Davi e diz em alto e bom som – esse homem que fez todas essas atrocidades e que é digno de morte é você ó rei 2 Samuel 12!

Davi agora tinha que escolher (novamente) – continuaria no caminho dos pecadores? Mandaria silenciar o velho profeta de Deus?

Veremos no próximo artigo...

 

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas

CALVINO, João. Salmos v. 2. Tradução Valter Graciano Martins. Editora Fiel. São José dos Campos, SP, 2013.

CHOURAQUI, André. A Bíblia – louvores I (Salmos), v. 1. Tradução Paulo Neves. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1998. [Coleção Bereshit].

CONSTABLE, Thomas L. Expository Notes on Psalms. Disponível em:             http://www.soniclight.com/constablc/notcs.htm Acesso em: 30/01/2016.

HARMAN, Allan M.  Comentários do Antigo Testamento - Salmos. Tradução Valter Graciano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

KIDNER, Derek. Salmos 1-72 – introdução e comentário, v. 14. São Paulo: Sociedade Vida Nova e Mundo Cristão, 1981. [Série Cultura Cristã].

MONLOUBOU, L. (Org.). Os salmos e os outros escritos. Tradução Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. [Biblioteca de ciências bíblicas]

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Schõkel, Luís Alonso e Cecília Carniti. Salmos I: salmos 1-72. tradução, João Rezende Gosta; revisão H. Dalbosco e M. Nascimento - São Paulo: Paulus, 1996. (Coleção grande comentário bíblico)


domingo, 1 de junho de 2025

O Discipulado de Abrão - A Paciência de Deus (Gênesis 12.10-20)


Nos versos anteriores vimos como Deus pacientemente esperou e chamou novamente Abrão. Muitas vezes, confundimos a paciência de Deus com morosidade ou lentidão, mas, na verdade, se não fosse essa maravilhosa paciência divina, não apenas Abrão, mas todos nós seríamos reprovados no Vestibular do Discipulado de Deus.

Abrão recebeu o chamado de Deus em Ur dos Caldeus, onde vivia com seus familiares—pai, irmãos e sobrinhos. A ordem foi simples e direta: “Sai da tua terra e do meio da tua parentela e vai para uma terra que te mostrarei.”

Essa ordem exigia fé, e essa fé exigia a difícil separação dos vínculos familiares e sociais mais íntimos. Abrão obedeceu prontamente, mas não totalmente. Ele parou em Harã, cidade natal de seu pai, e ali permaneceu. Somente após a morte de seu pai, Deus tornou a falar com ele, repetindo a mesma ordem: “Sai da tua terra e do meio social/familiar e vai para uma terra que te mostrarei.”

Quantas vezes Deus se cala diante de nossa negligência! Agora, finalmente, Abrão segue em direção à terra de Canaã, mas leva consigo seu sobrinho , o que lhe causara muita dor de cabeça.

Como é difícil obedecer a Deus! E como Ele é paciente com nossa falta de fé e obediência!

O Perigo de Estar Fora do Centro da Vontade de Deus

Em Gênesis 12.10-20, vemos que a Bíblia relata a história real, sem retoques. Deus não usa photoshop para tornar os personagens bíblicos “perfeitos”. Mais uma vez, Abrão se desvia do propósito de Deus.

Diante de uma seca terrível, ele não consulta a Deus e decide sair de Canaã (o lugar da vontade de Deus) para ir ao Egito (fora da vontade divina). Quantas vezes tomamos decisões com base nas circunstâncias e não na vontade e propósito de Deus!

Ao se aproximar do Egito, Abrão combina com Sara para que, se forem questionados, ela diga que são irmãos, pois teme que o matem para tomá-la como esposa.

Embora tecnicamente não seja uma mentira, a omissão também é um pecado. Quantas vezes justificamos nossas ações de maneira semelhante, esquecendo que tanto mentir quanto omitir, que meia-verdade é uma mentira inteira aos olhos de Deus!

Na medida em que Abrão se afasta da vontade de Deus, sua história se complica. Como ele havia previsto, a beleza de Sara chamou a atenção dos servos do Faraó, que logo a levaram para o palácio.

Imediatamente, Faraó enviou um dote de compensação para Abrão, oficializando a transação cerimonial do casamento. Mas antes que Faraó consumasse essa união, Deus interveio enviando uma praga ao palácio real.

Faraó percebe que é um castigo divino e rapidamente devolve Sara a Abrão, questionando por que ele amaldiçoou sua casa.

A Ironia da Situação

Abrão foi chamado por Deus para abençoar todas as famílias da terra, mas, devido às suas atitudes erradas, tornou-se uma maldição na vida do povo de Faraó. Então, surge a pergunta essencial: Temos sido bênção ou maldição na vida das pessoas?

Lições da História de Abrão

Podemos destacar algumas atitudes negativas de Abrão e Sara:

·        Egoísmo – Abrão pensa apenas em si ao tomar certas decisões.

·        Conivência – Sara concorda com seus erros e, posteriormente, influênciara Abrão a gerar um filho com sua serva Hagar.

Mesmo diante da clara desobediência de Abrão, Deus usa a raiva de Faraó para expulsa-lo de volta a Canaã. Se não fosse isso, ele poderia ter ignorado o chamado divino e se estabelecido definitivamente no Egito.

Às vezes Deus tem que nos expulsar da nossa zona de conforto, para não perdermos o foco do Seu chamado e Propósito para as nossas vidas.

Mas uma lição preciosa está embutida nessa situação constrangedora de Abrão, e de todo crente genuíno. Deus é fiel, mesmo quando não somos. Como está escrito em 2 Timóteo 2.13: "Se somos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode negar a Si mesmo."

Nada do que Abrão e Sara fizeram pegou Deus de surpresa, mas Abrão precisava aprender sobre fé e obediência.

Assim como , que declarou ao final de sua jornada: "Antes eu conhecia Deus de ouvir falar, mas agora o conheço de fato e de verdade."

Ou como Paulo, que pediu três vezes para que Deus lhe tirasse o espinho na carne, e ouviu: "A minha graça te basta."

Deus Nunca Nos Abandona, apesar de nossas falhas!

Muitas vezes, Deus permite que passemos por momentos difíceis para entendermos Sua vontade e propósito. Mas em nenhum momento Ele nos abandona!

Que possamos confiar em Sua fidelidade e buscar obedecer a Ele com fé.

Vamos orar!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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