Quando
os salmos foram escritos? Esta questão tem sido amplamente debatida nos meios
acadêmicos. [1]
O
Cânon dos livros do Primeiro Testamento fechou-se com o ministério de
Malaquias, o último dos profetas. O Talmud[2] observa: “Depois dos profetas posteriores Ageu, Zacarias, e Malaquias, foi que o
Espírito Santo partiu de Israel”. Consequentemente qualquer livro que foi
escrito depois das 400 a.C. não pode ser considerado como parte do Cânon da
primeira parte da Bíblia Judaica/Cristã. Esta é uma das razões pelos quais os
chamados livros Apócrifos, que foram escritos depois de 400 a.C., não foram
incorporados nas atuais bíblias judaicas e cristãs protestante.
Porém,
os críticos modernos designaram datas mais recentes para todos os livros
Poéticos do Primeiro Testamento, fazendo a suposição de que o Cânon dos livros
da terceira divisão (os Escritos) só foram consolidados no Conselho de Jânia (Jabne)[3]
em 90 d.C. Qualquer livro achado nesta divisão, dizem eles, não foram escritos
e incorporados antes de 200 a.C.
Seus argumentos são:
(a) O livro de Jó é indicado como tendo
sido escrito sua maior parte, provavelmente ao redor de 605-580 a.C. e a sua
forma final apenas em aproximadamente 200 a.C. É reivindicado que a alta
freqüência de palavras emprestadas do aramaico e o nível alto de puro
monoteísmo refletido no livro indicam uma data de composição pós-exílica.
(b) Um grande número dos Salmos é colocado pelos críticos liberais, dentro do período pós-exílico (depois de 536 a.C.) e
até mesmo durante o período dos Macabeus (entre 200 - 165 a.C.).[4] É
reivindicada que a presença de aramaísmo em alguns salmos é evidência de uma
data recente.
(c) de acordo com Eissfeldt o livro de
Provérbios reflete uma forte influência grega e deste modo, não poderia ter
surgido antes do 4º século a.C.[5]
(d) Muitos acreditam que o livro de
Eclesiastes foi escrito aproximadamente em 200 a.C., uma vez que deduzem sinais
inconfundíveis de influência grega e semelhança com o Mishná [6]. Outros
preferem colocá-lo tão tarde quanto 100 a.C. e Graetz [7] considera o livro como pertencendo ao tempo
de Herodes, o Grande.
(e) É discutido que Cantares, como temos,
tem que vir do 3º século a.C. por causa da presença de certas palavras de
empréstimo.
(f) Os Críticos apoiam (d) e (e) citando
certas referências dentro do Talmud sobre as questões levantadas no Conselho de
Jânia relativo a canonicidade de Ester, Eclesiastes e Cantares.
Em resposta a toda esta
pesada argumentação é preciso declarar que:
(a) Os argumentos lingüísticos para
recentes datas dos livros poéticos demonstram serem limitados em seus efeitos.
(i) A presença de aramaísmo não significa
uma composição tardia. Aramaico mais antigo é encontrado em inscrições do
primeiro milênio a.C., e já estava em uso nos contatos comerciais dos povos
sírios (cf. Gen 31:47).
(ii) O comércio extenso que Israel
desfrutara durante o tempo de Salomão, explica a inclusão de termos persas e
palavras emprestadas do grego nos livros Poéticos.
(b) As teorias dos críticos modernos (como
lançar Salmos no período dos Macabeus e enfatizar a influência grega)
demonstram-se realmente subjetivo e extravagante (como tão bem coloca Young em
seu comentário).[8]
(c) Fragmentos de todos os livros Poéticos
foram achados entre os chamados Rolos do Mar Morto que são datados aos 1º e 2º
séculos a.C.
(i) Isto indica que estes livros foram
escritos antes de 200 a.C.
(ii) Os Rolos do Mar Morto também revelam
que não havia nenhuma diferença relevante na organização dos livros e suas
divisões no Cânon do Primeiro Testamento.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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[1]. Este assunto é
exaurido no amplo trabalho de Harris, da qual fazemos apenas uma adaptação
sucinta: HARRIS, R. Laird. Inspiration and Canonicity
of The Bible.
Michigan, ed. Zondervan Publishing House, 1969.
[2] É o “corpus Juris”,
o código básico da lei civil e canônica do judaísmo pós-biblico. A palavra
Talmud é derivação da raiz hebraica Lamod (estudo), e uma abreviatura de Talmud
Torá (estudo da Torá).
[3] “Havia uma escola
rabínica em Jabne (cidade próxima à costa mediterrânea ocidental, um pouco ao
norte de Jerusalém) que assumiu os poderes legislativos do Sinédrio após a
queda de Jerusalém em 70 d.C.” LASOR, William S. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: ed. Vida Nova, 1999 [p.653].
[4] Em consideração aos
Salmos Wellhausen diz: "Desde que o
Saltério é o livro de hinos da congregação do Segundo Templo, a pergunta não é
se há ou contém qualquer salmo pós-exílio, mas se existe ou contém qualquer
salmo pré-exilio" (Bleek's "Introduction", ed. 1876, p.
507). Hitzig ("Begriff der Kritik", 1831) avalia que os Livros III-V
estão inteiramente no período dos Macabeus (168-135 a.C.). Olshausen ("Die
Psalmen", 1853) coloca muitos dos salmos no período da dinastia Hasmonean,
no reinado de John Hyrcanus I (Sumo Sacerdote e governante da nação Judaica de
135/134 até 104 a.C. Sob seu reinado, a dinastia Hasmoneana da Judéia, na
Palestina antiga, atingiu poder e grande prosperidade, e os Fariseus ganharam
apoio popular, e os Saduceus, uma seita aristocrática e sacerdotal, definiu com
clareza as Festas religiosas). Duhm ("Die Psalmen", 1899, p.
xxi-xxiii) admite muitos poucos salmos pre-macabeus e consigna os Salmos ii,
xx, xxi, lxi, lxiii, lxxii, lxxxiv (e ) cxxxii [ii, xix, lx, lxii, lxxi,
lxxxiii (e) cxxxi] aos reinados de Aristobulus I (105-104 a.C.) e seu irmão
Alexander Jannaus (104-79 a.C.); de modo que o Cânon do Saltério não foi
fechado até 70 a.C. Entretanto, os argumentos apresentados por todos eles é em
sua maioria muito frágeis.
[5]
EISSFELDT, Otto. The Old Testament: An
Introduction. Trans. P.R. Ackroyd. London: Harper & Row, 1965. Pbk. pp.861.
[6] Mishná deriva do
verbo “shano” (estudar), e ao mesmo tempo do número “shnaim” (dois). Como parte
constitutiva do Talmud, a Mishná é o conjunto das decisões, doutrinas e leis
religiosas que têm como base a Torá e que, por sua vez, serve como base para a
Guemara. Assim como a Bíblia é o objeto da Mishná, essa é o objeto para a
interpretação talmúdica, a Guemara. Abrange um período de quase 400 anos.
[7] GRAETZ, Heinrich,
um historiador judeu adiante dos tempos modernos, nasceu em Posen em 1817 e
morreu em Munique em 1891. Graetz atingiu reputação considerável como crítico
bíblico. Ele foi autor de muitas conjecturas corajosas sobre a data de Rute,
Eclesiastes, Ester e outros livros bíblicos. A edição crítica dele dos Salmos
(1882—1883) foi a contribuição principal dele à exegese bíblica.
[8]
YOUNG, E. J. Introduction to The Old
Testament. Michigan: ed. Eerdmans Publiching Company, 1964.
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