SALMOS PARA VIDA TODA
Uma das coisas mais fascinantes do
conjunto de salmos contido na Bíblia, conhecido também por Saltério,[1] é que a fé e/ou teologia dos
salmistas não é abstrata, mas concreta; não é subjetiva, mas vivencial. A sua
fé e/ou teologia permeia todas as instâncias da sua vida, de maneira que não
existe nada nele ou que aconteça com ele, que não tenha haver com o Deus ao
qual ele adora.
Esta postura é totalmente estranha aos “cristãos/evangélicos” atuais, onde se expressa uma fé dicotômica, onde o
que se crê e a forma como se crê (teologia) não necessariamente tem que ser
manifesta na forma como se vive. É uma fé abstrata e uma teologia estéril – a
razão pela qual as comunidades evangélicas (igrejas) se tornaram tudo, menos
uma reunião de adoradores.
SALMO 1
O Saltério abre-se com este pequeno
e singelo salmo, que pode receber inumeráveis sub-títulos, pois nenhum deles
fazia parte do texto original. Mas sua função é indicar para os
leitores/cantores deste conjunto de música/orações que há dois caminhos, duas
formas de se viver neste mundo. Com Deus ou sem Deus!
Portanto não existe uma pluralidade de “caminhos”, segundo o salmista há apenas dois caminhos – o do justo e o do
ímpio – o que passa disso é mera retórica ou ilusão.
Deus é a fonte da vida e da alegria,
ou seja, de uma vida que mesmo diante das maiores adversidades ainda vale a
pena ser vivida. E o segredo desta vida abundante é a Lei ou o conjunto de
Instrução que Deus propôs para as pessoas. Desta forma, a Lei/Instrução de Deus
é o GPS que vai direcionar a pessoa não somente a encontrar o Caminho da
Vida/Alegria, mas a se manter nele sem incorrer no equivoco de tomar um desvio
por engano.
O salmista indica alguns princípios,
que se observados atentamente, nos possibilitara a nos mantermos na direção
certa de uma relação positiva com Deus e a decorrente bênção advinda desta
comunhão:
1. Uma relação correta entre a vontade (prazer) e a
Lei/Instrução de Deus
“Mas o seu prazer (vontade, desejo)
esta na lei/instrução de Deus” – nesta relação harmoniosa entre o meu querer e
a vontade de Deus está o segredo da genuína e permanente felicidade. Quando por
qualquer razão há um conflito entre aquilo que me dá satisfação e a vontade de
Deus, certamente acabarei tomando outro caminho e me distanciando da fonte da
Vida, acarretando toda sorte de desprazer e o final será a completa
infelicidade. Assim, o segredo para uma vida plena e feliz é a busca permanente
na conciliação entre os meus desejos e a vontade de Deus.
2. Uma obediência prazerosa à Lei/Instrução de Deus
E preciso enfatizar aqui que a minha obediência à Lei/Instrução de Deus
não pode ser resultante da coerção ou do medo (infortúnio ou do inferno), mas
uma obediência prazerosa e alegre. A vontade de Deus é muito mais do que um frio
conjunto de leis e normas que devem ser seguidas ou as severas penas sobrevirão
sobre nossa vida. A vontade de Deus deve produzir em nós admiração e prazer,
pois “a lei é o amor definido” (Festus). A pessoa piedosa é aquela que se sente
completamente à vontade na vontade de Deus; que se sente plenamente realizada
no seu relacionamento com Deus e que ainda que lhe seja custoso abrir mão do
seu desejo/vontade, para harmonizar-se com o desejo/vontade de Deus, ela o faz
sem ressentimentos. Há muitos “crentes” que “obedecem” a Deus, mas em seus
corações estão armazenados toda sorte de ressentimentos para com Deus. Desta
forma, em vez de serem “crentes felizes”, são “crentes infelizes”, de maneira
que, em vez de abençoar a vida de outros, amaldiçoam; em vez de terem palavras
que ressoem alegria e felicidade, emitem palavras de tristeza e infelicidade.
Obedecer a Deus sem amor, até Satanás e os demônios obedecem, pois a vontade de
Deus é Soberana sobre todos e sobre tudo. Somente o justo/crente tem a
capacidade de se submenter amorosamente à vontade do Pai, assim como o Filho
nos ensina na oração modelo: “Seja feito a tua vontade, assim na terra como no
céu” e como exemplificou no Getsemeni – “Todavia, seja feito a Tua vontade e
não a minha”.
3. Uma relação
inteligente com a Lei/Instrução de Deus
"Ele medita de
dia e de noite na lei do Senhor”. A vontade de Deus não é algo misteriosa ou enigmática, mas perfeitamente possível de ser conhecida e apreendida por
aqueles que assim o desejam. O justo/crente genuinamente piedoso é aquele que
contempla a vontade de Deus e percebe a beleza e o valor imensurável que ela
tem. E quanto mais ele a conhece, mais ele deseja conhecer. Não é suficiente
apenas o conhecimento gramatical/exegético dos textos bíblicos; é preciso um
conhecimento prazeroso e que nos faça perceber os detalhes e belezas que nos
possibilitem a experimentarmos a largura, a profundidade e a multiformidade da
lei, e a genuína liberdade que nos trás a paz na relação com Deus, conosco
mesmos e com o nosso próximo.
Como afirmamos acima, há somente
dois caminhos ou duas formas de vivermos neste mundo tenebroso e corrupto – com
Deus e sem Deus. Neste primeiro salmo eu e você somos desafiados a escolhermos
um destes caminhos – da infelicidade ou da felicidade; da morte ou da vida. Não se
iluda, pois jamais conseguiremos andar pelos dois caminhos ao mesmo tempo, pois
ao escolhermos um abandonaremos o outro; uma vez iniciado a nossa caminhada, os
resultados imediatos serão produzidos, assim também como o destino final de
cada um destes caminhos está definido – morte ou vida!
O desejo de Deus é que você seja feliz, ou, bem-aventurado (felicíssimo),
e o que você quer para sua vida??
Me. Ivan P. Guedes
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[1] (aram.
pesanterîn; LXX psaltesrion) - Primariamente referes a um instrumento
triangular de cordas, semelhante a arpa ou lira, com uma caixa de ressonância
acima das cordas (Dn. 3.5, 7, 10, 15). Posteriormente passou a identificar o
conjunto de 150 Salmos preservados na primeira parte da bíblia hebraica/cristã.
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