segunda-feira, 30 de maio de 2016

SALMOS: Salmo 1

SALMOS PARA VIDA TODA
            Uma das coisas mais fascinantes do conjunto de salmos contido na Bíblia, conhecido também por Saltério,[1] é que a fé e/ou teologia dos salmistas não é abstrata, mas concreta; não é subjetiva, mas vivencial. A sua fé e/ou teologia permeia todas as instâncias da sua vida, de maneira que não existe nada nele ou que aconteça com ele, que não tenha haver com o Deus ao qual ele adora.
            Esta postura é totalmente estranha aos “cristãos/evangélicos” atuais, onde se expressa uma fé dicotômica, onde o que se crê e a forma como se crê (teologia) não necessariamente tem que ser manifesta na forma como se vive. É uma fé abstrata e uma teologia estéril – a razão pela qual as comunidades evangélicas (igrejas) se tornaram tudo, menos uma reunião de adoradores.

SALMO 1
            O Saltério abre-se com este pequeno e singelo salmo, que pode receber inumeráveis sub-títulos, pois nenhum deles fazia parte do texto original. Mas sua função é indicar para os leitores/cantores deste conjunto de música/orações que há dois caminhos, duas formas de se viver neste mundo. Com Deus ou sem Deus!
            Portanto não existe uma pluralidade de “caminhos”, segundo o salmista há apenas dois caminhos – o do justo e o do ímpio – o que passa disso é mera retórica ou ilusão.
            Deus é a fonte da vida e da alegria, ou seja, de uma vida que mesmo diante das maiores adversidades ainda vale a pena ser vivida. E o segredo desta vida abundante é a Lei ou o conjunto de Instrução que Deus propôs para as pessoas. Desta forma, a Lei/Instrução de Deus é o GPS que vai direcionar a pessoa não somente a encontrar o Caminho da Vida/Alegria, mas a se manter nele sem incorrer no equivoco de tomar um desvio por engano.
            O salmista indica alguns princípios, que se observados atentamente, nos possibilitara a nos mantermos na direção certa de uma relação positiva com Deus e a decorrente bênção advinda desta comunhão:
1. Uma relação correta entre a vontade (prazer) e a Lei/Instrução de Deus
            “Mas o seu prazer (vontade, desejo) esta na lei/instrução de Deus” – nesta relação harmoniosa entre o meu querer e a vontade de Deus está o segredo da genuína e permanente felicidade. Quando por qualquer razão há um conflito entre aquilo que me dá satisfação e a vontade de Deus, certamente acabarei tomando outro caminho e me distanciando da fonte da Vida, acarretando toda sorte de desprazer e o final será a completa infelicidade. Assim, o segredo para uma vida plena e feliz é a busca permanente na conciliação entre os meus desejos e a vontade de Deus.
2. Uma obediência prazerosa à Lei/Instrução de Deus
E preciso enfatizar aqui que a minha obediência à Lei/Instrução de Deus não pode ser resultante da coerção ou do medo (infortúnio ou do inferno), mas uma obediência prazerosa e alegre. A vontade de Deus é muito mais do que um frio conjunto de leis e normas que devem ser seguidas ou as severas penas sobrevirão sobre nossa vida. A vontade de Deus deve produzir em nós admiração e prazer, pois “a lei é o amor definido” (Festus). A pessoa piedosa é aquela que se sente completamente à vontade na vontade de Deus; que se sente plenamente realizada no seu relacionamento com Deus e que ainda que lhe seja custoso abrir mão do seu desejo/vontade, para harmonizar-se com o desejo/vontade de Deus, ela o faz sem ressentimentos. Há muitos “crentes” que “obedecem” a Deus, mas em seus corações estão armazenados toda sorte de ressentimentos para com Deus. Desta forma, em vez de serem “crentes felizes”, são “crentes infelizes”, de maneira que, em vez de abençoar a vida de outros, amaldiçoam; em vez de terem palavras que ressoem alegria e felicidade, emitem palavras de tristeza e infelicidade. Obedecer a Deus sem amor, até Satanás e os demônios obedecem, pois a vontade de Deus é Soberana sobre todos e sobre tudo. Somente o justo/crente tem a capacidade de se submenter amorosamente à vontade do Pai, assim como o Filho nos ensina na oração modelo: “Seja feito a tua vontade, assim na terra como no céu” e como exemplificou no Getsemeni – “Todavia, seja feito a Tua vontade e não a minha”.
3. Uma relação inteligente com a Lei/Instrução de Deus
            "Ele medita de dia e de noite na lei do Senhor”. A vontade de Deus não é algo misteriosa ou enigmática, mas perfeitamente possível de ser conhecida e apreendida por aqueles que assim o desejam. O justo/crente genuinamente piedoso é aquele que contempla a vontade de Deus e percebe a beleza e o valor imensurável que ela tem. E quanto mais ele a conhece, mais ele deseja conhecer. Não é suficiente apenas o conhecimento gramatical/exegético dos textos bíblicos; é preciso um conhecimento prazeroso e que nos faça perceber os detalhes e belezas que nos possibilitem a experimentarmos a largura, a profundidade e a multiformidade da lei, e a genuína liberdade que nos trás a paz na relação com Deus, conosco mesmos e com o nosso próximo.
            Como afirmamos acima, há somente dois caminhos ou duas formas de vivermos neste mundo tenebroso e corrupto – com Deus e sem Deus. Neste primeiro salmo eu e você somos desafiados a escolhermos um destes caminhos – da infelicidade ou da felicidade; da morte ou da vida. Não se iluda, pois jamais conseguiremos andar pelos dois caminhos ao mesmo tempo, pois ao escolhermos um abandonaremos o outro; uma vez iniciado a nossa caminhada, os resultados imediatos serão produzidos, assim também como o destino final de cada um destes caminhos está definido – morte ou vida!
O desejo de Deus é que você seja feliz, ou, bem-aventurado (felicíssimo), 
e o que você quer para sua vida??

Me. Ivan P. Guedes

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[1] (aram. pesanterîn; LXX psaltesrion) - Primariamente referes a um instrumento triangular de cordas, semelhante a arpa ou lira, com uma caixa de ressonância acima das cordas (Dn. 3.5, 7, 10, 15). Posteriormente passou a identificar o conjunto de 150 Salmos preservados na primeira parte da bíblia hebraica/cristã.

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